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4 O CONTEXTO HISTÓRICO E O CENÁRIO ATUAL DA ASSISTÊNCIA

6.1 A visão dos usuário

6.1.2 Acesso e presteza no atendimento aos usuários

Quanto ao acesso e presteza no atendimento aos usuários, o roteiro de entrevista, como instrumento de pesquisa, sobre este segundo eixo, abordou

questões sobre ao tempo de espera, modo como foi feita a internação e acesso de acompanhantes. Os resultados são resumidos no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Acesso e presteza no atendimento aos usuários

Quanto aos itens, 66,7 % (2/3) dos usuários classificaram como bom ou ótimo o tempo de espera para o atendimento. O modo como foi feita a internação da criança também foi classificado como bom por metade dos entrevistados e como ótimo por 30 % deles, o que corresponde a 80 % das opiniões como bom ou ótimo. Apenas 10 % dos usuários classificaram como ruim o modo como foi feita a internação. Pode-se dizer que um número significativo da composição da amostra estava satisfeito com o tempo de espera para o atendimento, bem como com a maneira que a internação foi feita.

Pode-se, então, inferir que a política de humanização a estes critérios, deve ser avaliada positivamente nesta instituição. É importante salientar que a unidade de pediatria do HBL, lócus deste estudo, atende mensalmente uma média de 5.264 crianças, com idade de zero a 12 anos. Ainda assim, apesar da grande demanda, agrada ao usuário quanto ao tempo de espera e forma de atendimento.

Trata-se, então, de um importante achado de pesquisa dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, da efetividade da política de humanização. Não que

encontrar estes dados seja uma surpresa, pois é esperado que a proposta seja evidenciada pelos sujeitos, mas é exatamente este o ponto importante: os usuários percebem e recebem a teoria da humanização na prática mediante suas respostas. Ao expressarem satisfação, com o tempo de espera e forma de internação, infere-se que os indivíduos sentem-se, de acordo com o que Honneth debate, em certos

níveis, reconhecidos, respeitados e estimados, favorece sua integração de maneira

plena na vida social da comunidade.

Santos-Filho (2009) também trata sobre esta responsabilização e o vínculo efetivo dos profissionais para com o usuário; o seu acolhimento em tempo compatível com a gravidade de seu quadro, reduzindo filas e tempo de espera para atendimento.

Em relação ao acesso de acompanhantes à criança, 66,6 % considerou como bom ou ótimo o acesso, enquanto que 33,4 % classificaram como ruim ou regular. Mais uma vez, é significativa a amostra que expressou satisfação com este quesito. Vale ressaltar que a enfermaria, local de aplicação dos formulários de entrevista desta pesquisa, conta com 56 leitos, sendo 8 para recém-nascidos externos, 10 para diarréia e 38 para pediatria geral. Conta com UTI “aberta”, ou seja, é a única do SUS que oferece alojamento para as mães, em frente a mesma, possibilitando o acompanhamento dos seus filhos 24 horas por dia. O acompanhamento das crianças tem início na maternidade que possui alojamento conjunto para os bebês a termo, e o alojamento canguru para bebês prematuros.

Apesar da resposta em escala não oferecer a possibilidade da exposição do por que pelos usuários, pode-se concluir que ações como acima ressaltadas, tenham favorecido a satisfação dos mesmos. O cuidado com os vínculos, o manifesto em possibilitar este contato com o outro significativo na vida é uma expressão de humanização em saúde.

Silva (2008) postula sobre a importância do outro e discute sobre o estar em sociedade, partindo dos contatos estabelecidos nos espaços que transitam, focalizando a respeito do campo das relações pessoais, sejam elas amorosas ou familiares, como de suma importância para a constituição do sujeito. Para a autora, apoio, amor, presença física e estímulos são para que a pessoa suporte o acometimento da doença e as situações advindas a partir desta. É considerável sua afirmação sobre as categorizações sociais suportando emoções. Retoma-se, assim,

na discussão destes resultados, a importância da alteridade para a constituição da identidade, ou seja, para tomadas de posição em relação ao outro.

Não se pode pensar numa teoria social que não seja pela noção de intersubjetividade. Tomando por base colocações de Honneth, quando valoriza o bem estar do sujeito a este nível, pensa-se, também, em evitar o sentimento de desrespeito social, suscitando-lhe raiva e indignação. Valoriza-se o sentimento do sujeito ao ponto de atuar para evitar sentimentos negativos onde não se viola a

“norma moral” da importância da convivência familiar. A resposta mediante a

pergunta seria, então, fruto do sentimento ao qual o sujeito foi submetido.

Ainda sobre a importância de favorecer os relacionamentos, relembre-se que para Honneth, três seriam os níveis dos sentimentos morais formados pelos sujeitos. Cada esfera corresponde a um tipo de sentimento intersubjetivo: o amor, o reconhecimento jurídico e a solidariedade. Focando no primeiro, concorda-se com o

autor que acredita ser este um dispositivo de proteção intersubjetiva – sentir-se

amado, inclusive, dentro da instituição - que assegura condições da liberdade interna e externa, das quais depende o processo de uma articulação e de uma

realização espontânea de metas individuais de vida. Para Honneth (2009), o

movimento socializador do reconhecimento, toma feição diferente sem os limites particulares inicialmente traçados pelos vínculos emocionais da família.

É sabido que, em relação ao amor, este é a primeira forma de reconhecimento e, por sua própria natureza, não leva à formação de conflitos sociais. Com base nos dados desta pesquisa, esta é uma das formas de fazer humanização.

O acesso do acompanhante à criança no HBL sinaliza a concretização das políticas por meio de ações concretas de sujeitos sociais e de atividades institucionais, tornando-as realidade em cada contexto em que são implementadas e condicionando seus resultados. Tal avaliação contribui com a discussão que tece Lucchese (2010), políticas públicas são exatamente isto: um conjunto de disposições, medidas e procedimentos que refletem a posição política do Estado, objetivando regular as atividades governamentais relacionadas às atividades de interesse público.