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4 O CONTEXTO HISTÓRICO E O CENÁRIO ATUAL DA ASSISTÊNCIA

4.1 O Hospital Barão de Lucena: um breve histórico

O Hospital Barão de Lucena nasceu do sonho do usineiro José Pessoa de Queiroz que, diante da imensa dificuldade de oferecer assistência médica aos trabalhadores rurais, vislumbrou a necessidade da construção de um hospital para atender tal demanda. O mesmo não só se deparou com dada realidade, mas passou a tentar convencer demais usineiros da região, com iguais dificuldades de saúde dos trabalhadores em suas propriedades, a contribuírem com uma pequena quantia em dinheiro proporcional a cada saco de açúcar produzido para angariar os recursos necessários ao empreendimento.

José Pessoa de Queiroz nasceu em 09 de outubro de 1881 e, oriundo de uma realidade de vida árdua desde a infância, começou cedo sua vida profissional, aos 13 anos. Aos 23 anos, em 1909, já era dono do próprio negócio, conseguindo fazê-lo prosperar, junto aos irmãos João e Francisco, em meio à Guerra Mundial. Transformaram-se em uma das famílias mais influentes em Pernambuco. Na década de 40, José Pessoa de Queiroz, o então presidente da Cooperativa dos Usineiros, iniciou um importante trabalho social na área de saúde com a Fundação da Sociedade Beneficente Hospitalar das Usinas de Açúcar.

Os passos iniciais para as obras de construção do projeto hospitalar foram dados em 04 de julho de 1948, pelo Presidente da República Eurico Gaspar Dutra. No entanto, a construção só foi iniciada efetivamente, em 1953, quando seu idealizador acreditava já ter arrecadado quantia que permitisse levar a obra até o fim.

Quase dez anos depois, em 18 de janeiro de 1958, o Hospital Barão de Lucena (HBL) foi inaugurado pelo então Presidente da República Juscelino

Kubitschek, demonstrando o interesse da Associação – e por que não dizer dos

governantes – na real efetivação do grandioso projeto de benefício à população. A

escolha deste nome foi uma homenagem ao político e magistrado Dr. Henrique Pereira de Lucena, fundador da primeira escola de obstetrícia do Brasil.

Vale ressaltar que o HBL também atenderia toda categoria empresarial ligada à cana-de-açúcar e a sociedade pernambucana em geral, cujos andares superiores existiam os apartamentos luxuosos e os inferiores, dotados de instalações mais simples, para a população menos assistida. Com 450 leitos, modernos laboratórios e bloco cirúrgico, o Barão de Lucena foi pioneiro em diversas áreas da medicina, além de ser considerado o melhor Hospital de Pernambuco (PERNAMBUCO, 2004).

Apesar do passo da inauguração, o HBL teve dificuldades em atingir o objetivo para o qual foi criado. A história informa que a ocorrência de queda no preço do açúcar fez com que a contribuição da Sociedade dos Usineiros ficasse bastante defasada. A direção do HBL, então, tentou convênios e parcerias com entidades públicas além de, conforme Oscar Coutinho Neto, em sua conferência em menção aos 50 anos do Barão de Lucena (2008), tentar trazer os melhores médicos para oferecerem seus serviços no local, internando pacientes e instalando consultórios no Hospital, o que não se concretizou neste momento. Tais dificuldades prejudicavam o funcionamento da Instituição, comprometendo-a também quanto à implicação de recursos humanos, já que construir um hospital exige além de recursos financeiros para erguer a estrutura física, demanda de profissionais especializados para oferta de serviços de qualidade à população.

Contudo, iniciativas semelhantes a do Sr. José Pessoa de Queiroz, de fundar uma Instituição hospitalar para atendimento de trabalhadores rurais, mostra que, a essência humana não se perdeu. De acordo com Boff (2007), o cuidado faz surgir os seres humanos sensíveis, solidários, complexos e conectados com tudo e todos no universo.

Apenas em 1973, com o precário funcionamento do Hospital, o mesmo foi negociado com o Instituto Nacional da Previdência Social em troca das dívidas existentes. Em 1990, o Barão de Lucena passa para gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), como Hospital Terciário da Rede Estadual de Saúde.

O HBL possui, atualmente, uma área construída de 28.784m, 314 leitos, distribuídos em diversas especialidades e 19 salas de cirurgia em três centros cirúrgicos (ambulatorial, obstétrico e geral). Sua principal vocação assistencial é a materno-infantil (atendimento médico-hospitalar, ambulatorial e emergencial), sendo referência para gestante de alto risco e soropositivo ao HIV, possuir banco de leite, incentivando a amamentação, recebendo em setembro de 1998 da UNICEF-MS por

sua atuação nessa área, o título de “Hospital amigo da criança”. Conta ainda, com um atendimento de alta complexidade em oncologia e terapia renal substitutiva, funcionado como central reguladora do Estado na área de diálise (PERNAMBUCO, 2004).

Assim sendo, o Hospital Barão de Lucena (HBL) é parte integrante da rede estadual de saúde de Pernambuco, com 100 % dos seus leitos dedicados ao SUS. Caracteriza-se como hospital de grande porte, com atendimento emergencial nas áreas de obstetrícia e pediatria, disponibilizando ainda, 33 ambulatórios nas diversas áreas médicas. Tem uma média/mês de 8.746 atendimentos nas diversas especialidades médicas. Está localizado na cidade do Recife, convivendo com graves problemas sociais, econômicos e financeiros.

Segundo dados fornecidos pelos recursos humanos do HBL, esse conta com os serviços de 2071 funcionários, dos quais 284 são terceirizados e 172 contratados por tempo determinado. São eles distribuídos em diversas categorias funcionais e vinculados a vários empregadores.

O Hospital possui vocação para a área de ensino, existindo residências nas áreas médicas, de enfermagem e de nutrição, além de servir de campo de estágios para os estudantes de nível médio e superior nas demais áreas de atenção à saúde, como psicologia, serviço social, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, biomedicina,farmácia, patologia clinica e imagenologia.

A unidade de pediatria do HBL, lócus deste estudo, atende mensalmente uma média de 5.264 crianças com idade de zero a 12 anos, dos quais 2.946 atendimentos provenientes da emergência, 1.222 atendimentos de origem ambulatorial e 1.096 internamentos. O ambulatório é constituído por várias clínicas especializadas (nefrologia, cardiologia, endocrinologia, neurologia, neurocirurgia, cirurgia pediátrica, reumatologia, pneumologia e Alergia, ecocardiografia pediátrica, terapia ocupacional e fisioterapia respiratória), além da pediatria geral. Existe, ainda, um centro de infusão para pacientes com doenças lisossômicas, único no Estado, que funciona como hospital-dia. A pediatria ainda possui enfermaria (local de aplicação dos formulários de entrevista desta pesquisa) com 56 leitos, sendo 8 para recém-nascidos externos, 10 para diarréia e 38 para pediatria geral. Conta com UTI “aberta”, ou seja, é a única do SUS que oferece alojamento para as mães em frente à mesma, possibilitando o acompanhamento dos seus filhos 24 horas por dia. O

acompanhamento das crianças tem início na maternidade que possui alojamento conjunto para os bebês a termo, e o alojamento canguru para bebês prematuros.