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Acompanhamento do prestador pela equipe técnica do setor psicossocial na

Após serem determinados os modos da execução penal alternativa, o acompanhamento dos prestadores pelos profissionais competentes é de grande importância para que a execução de penas alternativas tenha eficiência, na medida em que prestam a assistência psicossocial e jurídica necessárias ao caso concreto de cada pessoa.

A eficiência pregada é configurada na mudança de comportamento e conscientização social que implique na ressocialização. Antes disso, nós apontamos que o tratamento digno, humanitário e dentro dos parâmetros dos direitos fundamentais destinados aos prestadores de penas alternativas vem a concretizar a ideia do menor sofrimento e, por consequência, pode resultar numa garantia de integração às regras sócio-jurídicas e, posteriormente, numa ressocialização.

A Central de Penas Alternativas conta com três visões profissionais: a do Direito, a do Serviço Social e a da Psicologia. Esses olhares científicos se inter- relacionam na prática e fazem com que cada um contribua de maneira direta e indireta, no desempenho do outro, assim compondo o perfil da equipe.

O profissional da área jurídica que se insere no funcionamento da Central é o Defensor Público. Este esclarece dúvidas quanto aos direitos e deveres dos

prestadores, bem como assessora àqueles em todos os procedimentos jurídicos que venham a ser necessários no decorrer da execução penal: audiências, solicitação de mudança de instituição, pedido de extinção de punibilidade resultante do cumprimento da execução, informação sobre descumprimento da pena aplicada, etc. A Assistente Social cuida das entrevistas para avaliar o perfil do prestador, conhecendo a realidade social do mesmo para assim poder sugerir ao Juiz da Vara de Execução Penal o encaminhamento do prestador de serviço às instituições conveniadas mais apropriadas, além de fiscalizar e acompanhar a prestação.

Também, esse profissional busca realizar parcerias com instituições públicas e assistenciais e manter contato permanente com as entidades conveniadas, pois é um dos intentos do Programa de Penas Alternativas trabalhar a sensibilidade junto às instituições a fim de diminuir a discriminação sofrida pelo prestador e esclarecer os objetivos de reinserção presente na política penitenciária nacional.

É ainda atribuição do assistente social, comunicar ao juiz possíveis irregularidades cometidas pelo prestador na instituição; solicitar a frequência mensal; solicitar à Vara de Execução Penal a transferência de local caso não haja adaptação de alguma das partes (prestador e entidade receptora); realizar oficinas, cursos e palestras para os prestadores, almejando uma efetiva reeducação e ressocialização daqueles, bem como auxiliar na qualificação profissional necessária à reinserção no mercado de trabalho.

Já o papel do Psicólogo é ajudar o prestador a cumprir sua função de caráter pessoal e social, pautando as atividades deste no respeito à dignidade e integridade humana e melhoria da sociedade. Com essa assessoria, o profissional da Psicologia oferece sua contribuição para diminuir a marginalização e promover a ressocialização, também quando acompanha o desenvolvimento do prestador no cumprimento da sua pena na instituição para onde foi encaminhado.

A entrevista inicial que o psicólogo realiza com o prestador traça um perfil psicológico – avalia traços de personalidade, aptidão e qualificação para que sejam inseridos em trabalho compatível com suas características e para avaliar problemas psicosóciopatológicos, que possam prejudicar a comunidade. Assim, é importante trabalhar a autoestima do infrator, estimulando projetos de convivência saudáveis numa vida em sociedade.

O primeiro contato com o Núcleo Psicossocial da CEFAPA/PB ocorre com a entrevista realizada antes mesmo da definição do local de prestação. Neste

momento são adquiridos e registrados dados pessoais e de relacionamento familiar e social dos prestadores, que servirão de parâmetro para o monitoramento da execução penal. Também nesse momento, os futuros prestadores têm a oportunidade de sugerir e opinar sobre possíveis locais de prestação, os quais inseridos no parecer do setor psicossocial e encaminhados para a aprovação do Juiz60.

O cumprimento da prestação se inicia quando a equipe psicossocial encaminha o prestador à instituição conveniada, a qual irá dispor da mão-de-obra ou perceber a prestação pecuniária. Esses locais são previamente consultados sobre a disponibilidade de vagas (e em quais funções) e/ou de materiais necessários à doação no momento da realização do convênio da instituição com o Programa de Penas e Medidas Alternativas.

Esse cuidado do setor psicossocial da CEFAPA/PB favorece a distribuição dos prestadores de acordo com suas habilidades e contexto da pena, mostrando-se adequado à perspectiva da individualização da pena, prevista na Constituição Federal e na Lei de Execução Penal.

As instituições que aceitam auxiliar na execução penal alternativa recebem esclarecimento de que são também responsáveis pela fiscalização do cumprimento da pena. Para tanto, quando são destinados prestadores às entidades conveniadas, os dias e horários de comparecimento para a realização da prestação de serviço são acordados entre as partes (prestador e entidade receptora). Desta forma, a instituição pode contribuir com o exercício do senso de responsabilidade do prestador desde a avaliação do cumprimento dos horários definidos.

O monitoramento auxiliar prestado pelas instituições conveniadas acontece através da designação de algum funcionário – que geralmente é alguém ligado ao setor de recursos humanos ou a própria diretoria da instituição – para tutelar os aspectos de urbanidade, de obediência, de atenção às atividades que configuram a prestação da pena no ambiente da entidade conveniada.

No caso da prestação de serviço à comunidade, é possível ao prestador ter uma alteração eventual no seu horário de cumprimento de pena. No entanto, essa mudança deve ser justificada e combinada com o funcionário que o fiscaliza. Tal

60 Ver no Anexo B o formulário da entrevista de triagem que norteia os pareceres da Psicóloga e da

providência dos aplicadores das penas alternativas reafirma a sensibilidade ao caso concreto, com vistas à humanização do sistema penitenciário.

Apesar desse importante papel social das instituições conveniadas, ressaltemos que esse monitoramento é auxiliar e não prescinde da atuação dos técnicos do Programa de Penas Alternativas. Mas, diante do observado na pesquisa, não é frequente o comparecimento in loco das profissionais do Serviço Social e da Psicologia no ambiente das prestações.

Devido ao número reduzido de profissionais no Núcleo Psicossocial da CEFAPA/PB, o atendimento realizado através de visitas às entidades e ao domicílio dos prestadores, bem como da realização de cursos e palestras está estagnado.

A comunicação das instituições para com a Central se dá principalmente através dos relatórios mensais de frequência, encaminhados ao Setor Psicossocial (muitas vezes pelas mãos dos próprios prestadores) ou por contatos telefônicos. Da mesma forma, quando os prestadores necessitam de alguma orientação, ou de fazer alguma reclamação, isso ocorre por telefone ou visita ao Fórum (local onde se encontra o Núcleo Psicossocial).

A fiscalização é o meio essencial de se garantir o caráter de prevenção (geral e específica) que tem a pena. No caso particular das penas alternativas, podemos verificar que a ideia de responsabilidade social e de ressocialização estão ressaltadas. Assim, além da busca por inserir os infratores em atividades comunitárias, de estimular doações a instituições filantrópicas ou destinar um valor para auxiliar nos custos das políticas criminais, por exemplo, é relevante intervir nos modos de recepção dessas pessoas pela comunidade.

É importante que as pessoas vinculadas às instituições conveniadas, bem como as que circulam pela mesma, tenham um tratamento digno e humanitário direcionado a quem cumpre a pena alternativa. Esse comportamento é o que vem fortalecer o combate ao estigma e à discriminação para com os apenados de penas alternativas. Por isso, a forma como o infrator é chamado no momento do cumprimento da pena alternativa também é levada em consideração pelos profissionais e cientistas envolvidos com essa execução penal.

Observamos que, na execução de pena alternativa, o infrator, antes chamado de apenado ou beneficiário, agora é denominado de prestador. Essa preocupação, que para alguns pode parecer algo banal, pode vir a amenizar o sofrimento que o estigma social proporciona aqueles sujeitos.

A pena alternativa traz a vantagem de o indivíduo receber sua punição sem que seja privado de seu direito de liberdade e sem ter vivência nos degradantes ambientes prisionais. Mas, como dito antes, a pena em questão não é um benefício. É uma punição alternativa à prisão que, nos moldes como é proposta, fica visível a tentativa de humanização, de respeito, de amenização dos estigmas sociais direcionados aos que cometem infrações penais.

Em sendo uma punição, caso ocorra o descumprimento injustificado do acordado para execução da pena, a legislação determina que a pena alternativa seja revertida em privativa de liberdade. Porém, diante dessa perspectiva de garantia dos direitos humanos do prestador, e então, do menor sofrimento necessário no desenvolvimento da execução penal, antes da conversão da pena substitutiva, deve- se possibilitar ao condenado a ampla defesa de seus direitos, com a observância do contraditório, pois este princípio também deve ser considerado na execução penal, durante a qual subsiste o devido processo legal.

Faz parte do caráter humanitário da execução das penas alternativas que os profissionais do sistema consultem os prestadores para compreender os motivos que o levaram ao descumprimento da pena.

Muitas vezes esse desrespeito à decisão judicial é consequência de dificuldades econômicas ou de desinformação. Por exemplo, um prestador falta com o pagamento mensal da sua prestação pecuniária e não percebe ser necessário informar ao Núcleo Psicossocial da CEFAPA que está em dificuldades financeiras, por ter perdido o emprego recentemente. Em havendo esse aviso, a defensora poderia solicitar ao Juízo outros meios de cumprimento da pena (como um maior parcelamento) – isso considerando que a maioria dos prestadores é atendida pelos serviços da profissional da Defensoria Pública que atua na Central de Penas Alternativas.