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Paulo F de Oliveira Fontes, Carla Santos e Cátia Tuna

2. Ser Acompanhante

“Como adulta, sinto‑me privilegiada em poder acompanhar crianças e adolescentes”

Conheci o MAAC em 1992 e percebi a importância deste Movimento na minha vida e na vida das crianças.

Trabalhei na paróquia como catequista, onde fiz um caminho de conhecimento de Jesus e do caminho que Ele nos aponta para sermos felizes. Amadureci a minha fé mas senti que faltava qualquer coisa que seja um interiorizar a mensagem que é transmitida e agir de acordo com a mesma.

No MAAC descobri a profundidade e aplicação na vida desses valores essenciais que nos fazem viver cada dia como se fosse o último, com otimismo e alegria para resolver todas as crises, emocionais, físicas e até as económicas. Como adulta, sinto‑me uma pri‑ vilegiada em poder acompanhar crianças e adolescentes, que ao longo destes 20 anos se cruzaram comigo neste Movimento, que lhes dá oportunidade de se expressarem ao seu jeito, sem recriminação dos adultos.

É certo que nós somos muito daquilo que a junção do espermatozoide e o óvulo dá, fica quase determinada a nossa personalidade, mas, também, é certo que o meio em que crescemos, com as diferentes pessoas que se cruzam connosco e os espaços que frequen‑ tamos durante a nossa vida acabam, também, por deixar marcas na nossa forma de estar na vida.

É muito importante que as crianças tenham um espaço onde possam partilhar o que lhes vai na alma, de bom e de menos bom.

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Os espaços que nos são oferecidos no nosso crescimento servem de ferramentas, que depois são usadas de acordo com o que cada um de nós entende. Não podemos esque‑ cer as palavras de Jesus ao falar da terra onde podem cair as sementes que são lançadas. Muitas das crianças que cresceram no MAAC têm demonstrado uma atitude diferente de outros jovens da sua idade, quer ao nível da fé e vivência em Igreja, quer ao nível social e envolvimento cívico.

Ao falar com alguns jovens que passaram e viveram o espírito do Movimento e que hoje já têm filhos na escola, eles ainda têm muito presente as revisões de vida feitas no grupo, sobre as preocupações do momento, as iniciativas que tomaram e as ações que rea‑ lizaram, o conhecimento que adquiriram, como por exemplo: Aprender a ver o problema, vê‑lo com a ajuda do olhar do outro que tem muitas vezes uma perspetiva diferente da nossa e do olhar de Jesus, o olhar cristão, que tem a capacidade de ver aquilo que os nossos olhos não são capazes de ver.

Falam da forma como em Movimento procuravam encontrar a resolução para o problema que identificaram, as discussões sobre as várias propostas, os valores que apren‑ deram a viver, como o diálogo, o respeito, a tolerância, a amizade, a aceitação da diferença como um bem maior e não como um alvo a abater.

As ações que desenvolveram e os passos que deram para as concretizar como: ter que fazer um ofício a uma determinada entidade, dirigir‑se de forma adequada a alguém para sugerir alguma proposta ou pedir algum favor, aprenderam a dificuldade em ser ouvidos por algumas entidades ou instituições e a alegria da ação transformadora que depois de avaliada levava ao desejo de uma oração espontânea, concreta de agradecimento a Deus por aquilo que conseguiram transformar.

Falam da importância da vivência da democracia nas eleições para os cargos no grupo e o zelo com que assumiam as suas responsabilidades “a oportunidade de ser eleito era uma alegria enorme, sentir que os amigos confiavam em nós e nos davam um voto de confiança, apesar de algumas traquinices”.

Falam ainda da descoberta dos verdadeiros encontros com Deus nas celebrações por elas preparadas, dentro da casa da Igreja e no meio da natureza e a forma simples como se apresentavam diante de Deus para O ouvirem e Lhe falarem da sua vida.

Falam‑me da importância de registar as suas vivências em Movimento, no livro das atas,

“foi no MAAC que aprendi a registar as vivências, faz história… tem sido uma ferra‑ menta muito útil na minha vida”.

“Aprendi a importância de participar, desenvolvi a capacidade de diálogo e o desejo de agir depois de refletir”.

Tenho uma visão diferente do Ser Igreja, não é só conhecer Jesus e a sua mensagem é muito mais que isso, é viver os seus ensinamentos, é descobri‑Lo em tudo e em todos, procurar ter a mesma atitude que Ele teve perante as situações da vida. O MAAC fez‑me descobrir que ser discípulo de Jesus não é só dizer que sou cristão, é sê‑lo mesmo, estando atento ao mundo que me rodeia, envolver‑me, participar, construir pontes de união entre os vizinhos, ou os amigos da escola vivendo nos pequenos gestos de cada dia o verdadeiro Amor.

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Houve crianças e adolescentes que passaram pelo Movimento e que têm demonstrado enquanto adultos uma participação ativa como cidadãos, participando em associação de pais, recreativas, desportivas, de moradores, autarquias, em campanhas solidárias, etc. Ficaram mais despertos para os problemas sociais e ao seu envolvimento na resolução dos mesmos.

Na Igreja, muitos deles continuam envolvidos em atividades paroquiais, como cate‑ quistas, leitores, acólitos, grupo da JOC, ou como acompanhantes.

Houve, porém, jovens que passaram pelo Movimento e não os vemos ter qualquer aproximação à Igreja e mesmo ao envolvimento cívico.

[Manuela Leal. Acompanhante do MAAC na diocese do Porto, desde 2000; atualmente, auxiliar educativa numa instituição social].