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Paulo F de Oliveira Fontes, Carla Santos e Cátia Tuna

1. Pequenos Apóstolos

“Uma das dimensões mais admiradas pelas crianças e adolescentes é a dimensão da fraternidade”

A celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II foi motivo para visitar alguns docu‑ mentos que saíram daquele “novo Pentecostes”, como afirmou o papa João XXIII. Dentro desse conjunto de pérolas encontra‑se o decreto dedicado aos Leigos, Apostolicam Actuo‑

sitatem. Relativamente a este documento existem dois números que expressam muito bem

que isto de fazer apostolado, ser anunciador do projeto de Deus, começa desde criança. Diz o número 12 “Também as crianças têm a sua própria atuação apostólica. Segundo

as suas forças, são em verdade testemunhos vivos de Cristo entre os companheiros”.

Mais adiante, o número 30 do mesmo documento reafirma essa posição “A forma‑

ção para o apostolado deve começar desde os princípios da educação infantil… As crianças devem ser educadas de tal modo que, transcendendo os limites da família, se abram tanto às comunidades eclesiais como às civis. Sejam de tal modo integradas na comunidade local da paróquia que nela possam tomar consciência da sua qualidade de membros vivos e ativos do Povo de Deus… Os seus membros, constituindo pequenos grupos com os companheiros e amigos, consideram os métodos e os frutos da sua atividade apostólica, e confrontam com o Evangelho a sua vida quotidiana… Cada um deve preparar‑se ativamente para o aposto‑ lado…”

Esta nota inicial serve de introdução e confirmação do papel que as crianças e ado‑ lescentes são chamados a ter na Igreja e no mundo. Esta tomada de consciência faz‑se quando em grupo têm oportunidade para desenvolver o que dentro de cada um Deus semeou.

A consciência das próprias crianças e o acolhimento, por parte de quem faz cami‑ nhada de aprendizagem com elas, das suas vidas e inspirações podem revelar desconcer‑ tantes e surpreendentes sinais da presença de Deus.

Neste sentido o Movimento de Apostolado de Adolescentes e Crianças é um espaço onde, apesar de todas as fragilidades, tem sido possível essas vivências.

Semana a semana reúnem‑se crianças e adolescentes, em pequenos grupos, nas suas comunidades locais. Transportam para aí muito da sua vida, por vezes tão ferida e aba‑

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fada. Esses encontros são, em muitas situações, lugares de libertação mas também de cons‑ trução de uma certa forma de estar na vida. É um caminho de paciência e de conversão.

A descoberta do seu papel e da importância da sua palavra, bem como o respeito pelas suas decisões leva a assumirem as suas responsabilidades.

Isto torna‑se tão claro quando em grupo decidem projetos a favor da comunidade: quer de solidariedade, de sensibilização de alguma causa, de celebração, de discussão de uma temática ou de outra iniciativa a favor da comunidade. Projetos esses que passam por uma preparação prévia no grupo, de preferência através da Revisão de Vida.

Colocam aí muitas das suas energias porque fazem um percurso de descoberta do outro, do que está para além de si. Embora seja um caminho por vezes árduo e sem resul‑ tados evidentes, o importante é que algo mais foi acrescentado às suas vidas. Entre tensões internas, de alegria por levarem a cabo uma ação e algumas deceções do que daí resulta, vão amadurecendo e dando fruto, mesmo que isso não seja muito compreendido por eles próprios.

O desenvolver de dons, tantas vezes adormecidos, de cada membro do grupo e colo‑ cados em favor do bem comum revela a verdadeira dimensão do apostolado, de alguém que vai anunciar uma boa nova, porque de vida e de futuro.

Uma das dimensões mais admiradas pelas crianças e adolescentes que fazem parte do MAAC é a dimensão da fraternidade. É de uma alegria transbordante os encontros que reúnem gente de várias partes onde o MAAC está presente. Mas não se trata só de se juntarem para fazer festa e conviverem. Trata‑se também de “fazer‑se ao largo”. Quanto de inquietante tem essa frase dita por Jesus aos seus discípulos.

A fraternidade implica sair de si e ir ao encontro do desconhecido para aí soltar‑se das amarras da timidez, do individualismo, das seguranças que impedem de crescer. Há uma consciência evolutiva da partilha e do próximo, inclusive da distribuição dos bens pessoais, postos ao serviço de todos.

Trabalha‑se com muita persistência o sentido da mesa comum, onde a partilha do que cada um leva para se alimentar traduz‑se em abundância quando posto na mesa comum, a mesa da fraternidade. Até que se chegue a esse entendimento percorre‑se um grande caminho, e estamos a falar de alguma coisa que parece tão simples, tão fácil de concretizar. Em cada gesto, em cada passo que é dado há todo uma pedagogia a fazer‑se para que cada criança possa sentir que não foi ultrapassada e perceba a razão de colocar o que é seu ao dispor de todos.

O sentido da fraternidade universal é outra das tarefas que o Movimento sente‑se res‑ ponsável por ajudar a tornar presente na prática comum das suas atividades. A dimensão internacional de apostolado das crianças e adolescentes torna aceso o desejo de conhecer o que está para além das fronteiras físicas, mesmo que as possibilidades de encontro sejam muito reduzidas. Não podemos esquecer que o nascimento do MAAC é fruto desta dimensão internacional, que por sua vez é um dos frutos do Concílio Vaticano II. Este ano, 2013, o Movimento Internacional de Apostolado de Adolescentes e Crianças (MIDADE – siglas em francês) está a viver os seus 50 anos de existência.

O tempo que é percorrido pelas crianças e adolescentes quando muito é de 11 anos (6‑16). E neste percurso uma das maiores alegrias que sinto é o compromisso que muitos vão assumindo, quer no grupo, na comunidade e quanto ao que fazer após a etapa do

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MAAC. Neste sentido alguns decidem ser Acompanhantes. Aqui é evidente o desejo de dar continuidade a um projeto que eles construíram e querem continuar a fazê‑lo e anun‑ ciá‑lo a outros, para que façam seu esse tesouro. É um apostolado feito de testemunho e palavra (AA 13).

Em todo este trajeto, misturado com tudo o resto, está a descoberta de Jesus, não de uma forma sistemática, mas que acompanha as manifestações da vida transmitida pelas crianças e adolescentes. Os ritmos das orações, das formações da fé, das celebrações criam uma dinâmica que passa a fazer parte dos trabalhos quer do pequeno grupo semanal, quer de atividades diocesanas, interdiocesanas ou nacionais. Há pequenas maravilhas, feitas de palavras e gestos, que são verdadeiros hinos ao Evangelho.

A dimensão vocacional é posta à prova, porque cada um é chamado a exercitar o seu interior, a “despejar” os dons que tem dentro de si.

As crianças e adolescentes são “uma carta de Cristo, escrita não com tinta, mas com o

Espírito do Deus vivo” (2ª Cor 3,3).

[Pe. Emanuel Vaz. Membro do clero diocesano de Angra do Heroísmo e membro da Associação dos Padres do Prado, Assistente Nacional da LOC‑MTC (Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos) de 2000 a 2014, acumulando o cargo de Assistente Nacional do MAAC a partir de 2006].