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Os acordos firmados entre a USAID e o Ministério da Educação, no Brasil, ocorreram após o Golpe de 1964. Segundo Arapiraca (1982), esses acordos de cooperação podem ter sido decorrentes do espírito da Carta de Punta Del Este inseridos na diplomacia da Boa Vizinhança e no ideal desenvolvimentista da Aliança para o Progresso com a finalidade de “modernizar” o sistema educacional brasileiro.

A proposta era de que o ensino primário e médio seriam transformados, ou seja, “unificou- se o ensino primário com o ginásio e profissionalizou-se o colégio” (ARAPIRACA, 1982, p. 111). O conceito de escola se modificou, tendo nos padrões norte-americanos um modelo a ser seguido.

As autoridades brasileiras responsáveis pela educação, formadas pelo Conselho Federal da Educação (MEC) e da Diretoria do Ensino Secundário (DES), entenderam que os consultores norte-americanos poderiam contribuir para o planejamento do ensino estadual. Nesse sentido, o MEC requisitou a cooperação técnica e os financiamentos da USAID e, a partir dessa solicitação, foi assinado o Acordo de Consultoria de Serviços para a Educação Secundária e Industrial, em 1965. Com esse acordo, a USAID providenciou a vinda de consultores especializados no sistema universitário do Estado da Califórnia (EUA), representando pela San Diego State College

Foundation, para o planejamento do ensino secundário federal e estadual.

Os consultores norte-americanos somados aos educadores brasileiros formaram a uma equipe de planejamento para o ensino médio, cuja função seria prestar apoio aos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco para a elaboração dos planos

educacionais. A USAID forneceu empréstimos ao planejamento educacional desses Estados, para a construção de prédios e para a expansão do ensino médio.

Em 1969, teve início o treinamento dos educadores brasileiros com os consultores dos Estados Unidos para atingir os objetivos do acordo MEC – USAID que eram: criação de aperfeiçoamento quantitativo, através de novas e rápidas atividades de treinamento de professores; modernização de currículos; administração educacional; criação de escolas-modelo e suprimento de equipamentos escolares e material didático (MEC/USAID apud ARAPIRACA, 1982, p.169). Como resultado desses acordos, implantou-se a Escola Polivalente, nos moldes dos Estados Unidos, para reformular o ensino médio e expandir o ensino público. Na avaliação de Arapiraca (1982), a modernização do ensino médio com o exemplo das Escolas Polivalentes, buscou adaptar o aparelho escolar à lógica da empresa através do conteúdo profissionalizante. A formação do capital humano, através do sistema educacional, teve a finalidade de atender às necessidades do setor secundário e terciário rumo ao desenvolvimento do país.

Os acordos no setor educacional estiveram direcionados para o treinamento de professores no Brasil e no exterior, com a concessão de bolsas de estudos aos professores e equipamentos para as escolas. O entendimento era que, através das consultorias técnicas prestadas, bolsas de estudo, doações e empréstimos concedidos pela USAID, o país caminharia rumo ao progresso, à modernização e ao desenvolvimento, ou seja, divulgou-se a idéia de que a educação, vinculada à assistência técnica, teria um papel fundamental no processo de desenvolvimento. De acordo com Francis Mary Nogueira, a USAID foi pioneira, até o final dos anos 1960, no Brasil, na concessão de empréstimos e doações “para a cooperação financeira, assistência, assistência econômica, cooperação técnica e assistência para o setor social, particularmente para a educação escolar” (NOGUEIRA, 1998, p.107).

USAID US$ 43.038.610 BID US$ 4.000.000 FUNDAÇÃO FORD US$ 10.405.400 UNESCO US$ 606.010 UNICEF US$ 970.400 OIT US$ 19.800

Prog. Ampliado de Assistência Técnica US$ 193.600

Total US$ 59.233.820

Quadro 1. Recursos para a educação.

Resumo das dotações recebidas pelo Brasil, no período de 1960-1965, segundo as principais agências financiadoras.

Fonte: BRASIL apud NOGUEIRA, 1989, p.108.

O Ministério da Educação assinou acordos com a USAID para a Reforma Universitária51 de 1968, prevista nos planos da Aliança para o Progresso. A reforma esteve diretamente relacionada com a necessidade do regime militar em conquistar o apoio das camadas médias. Todos os programas de ajuda estiveram atrelados ao modelo econômico que se consolidou a partir de 1964, comprometido com o capitalismo internacional (ARAPIRACA, 1982). Assim,

Com o acesso ao ensino superior ampliado, as camadas médias acreditavam que estavam garantidas a ascensão e a manutenção social, ou seja, através das medidas econômicas do chamado “milagre econômico” o governo militar proporcionou a esta fração da classe trabalhadora o aumento do consumo dos bens materiais e intelectuais, estes últimos presentes na reforma do ensino (SANTOS, 2005, p.105)

Romanelli (1980) considera que todos os acordos de cooperação tiveram como pretexto a crise no sistema educacional, no qual defendiam a necessidade de reformular o sistema de ensino para assegurar o desenvolvimento econômico. A intervenção da USAID era feita com uma

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As intervenções norte-americanas no ensino superior brasileiro remontam ao início do século XX, com a Fundação Rockefeller e suas relações filantrópicas com a Universidade de São Paulo entre as décadas de 1930 e 1950.

aparente neutralidade com o discurso da eficiência técnica, porém esse discurso e a intervenção se vinculavam ao discurso ideológico.

A influência do modelo norte-americano de universidade sobre as instituições brasileiras verificou-se a partir de bolsistas que retornavam dos Estados Unidos e pelos contratos de assistência técnica e financeira decorrentes do Ponto IV e da USAID (CUNHA apud SANTOS, 2005).

Segundo Santos (2005), a estratégia da USAID, antes do Golpe de 1964, se concentrou no ensino primário e na educação das massas cujos empréstimos eram dez vezes maiores do que os empréstimos para o ensino superior. A partir de 1963, essa orientação começou a mudar para a educação das elites. Nesse ano, uma equipe de profissionais da educação dos Estados Unidos esteve no Brasil para avaliar a situação das universidades e constataram que elas não se enquadravam nos padrões de uma sociedade moderna que estava se consolidando nos quesitos: estrutura física, corpo docente, grade curricular e outros. As atividades do grupo foram interrompidas devido ao Golpe de 1964 e, até esse momento, a USAID concedia três milhões de dólares às universidades brasileiras. A principal instituição assistida com os acordos, mesmo após o Golpe, foi a Universidade de Brasília. A USAID que trabalhava com instituições superiores isoladas passou a atuar diretamente no Ministério da Educação e seus respectivos conselhos.

Outro ramo em que a USAID atuou foi no mercado editorial, com o acordo entre USAID/MEC/COLTED/SNEL, para a publicação de 51 milhões de livros com distribuição gratuita e a tradução de livros em inglês para o português. A criação da Editora da Fundação Getúlio Vargas é um exemplo resultante dos acordos da época (ROMANELLI apud SANTOS, 2005).

Por fim, pode-se considerar que os acordos MEC – USAID estiveram inseridos num contexto em que a educação seria uma condição para o desenvolvimento econômico. Os diagnósticos produzidos pelos consultores norte-americanos influenciaram o processo de reforma da educação brasileira no período do regime militar. Assim, além de formar um quadro de profissionais alinhados com a política norte-americana, as medidas adotadas no período revelaram a intenção velada de criar um meio de controle “sobre a comunidade estudantil e o operariado, possíveis opositores ao regime, a fim de garantir a ampliação da gestão de capital dos grupos hegemônicos que constituíram o apoio civil ao golpe, nomeadamente alguns setores da burguesia nacional e grupos estrangeiros” (AZEVEDO e PELEGRINI, 2006).