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Acreditação de laboratórios de ensaio

O desenvolvimento das vias de informação e de comunicação obrigaram a maioria das empresas a estar no mercado globalizado. Este trouxe potenciais clientes mas também maior concorrência, com empresas de dimensões e contextos diferentes. As empresas bem- sucedidas apostaram na competitividade e na satisfação dos seus clientes, através do aumento da qualidade dos produtos ou serviços oferecidos (Khodabocus 2011; Tawfik e Abdel-Fatah 2011). Também os governos têm dado maior importância à qualidade, essencialmente por motivos de segurança, nomeadamente na alimentação, na saúde ou no ambiente. Por sua vez, as empresas são obrigadas a demonstrar a qualidade dos seus produtos ou serviços (Carneiro e Vasconcelos 2011; Chung et al. 2006). O interesse da sociedade pela qualidade conduziu ao desenvolvimento de métodos que indicam quais as entidades que oferecem esse requisito. Assim, surgiram ferramentas da qualidade tais como a certificação e a acreditação. A distinção entre certificação e acreditação reside no facto da certificação garantir apenas a conformidade de um sistema de gestão da qualidade, enquanto a acreditação também indica a existência de competência técnica. O recurso à certificação e à acreditação por parte das organizações é voluntária, sendo, portanto, uma opção de estratégia (Cortez 1999; EURACHEM/WELAC 1993; NP EN ISO 9000:2005; NP EN ISO 9001:2008; NP EN ISO/IEC 17000:2004)

No âmbito dos laboratórios de ensaio, a demonstração da prestação de serviços de qualidade é realizada através da acreditação. Neste contexto, a acreditação é o reconhecimento formal por uma autoridade habilitada da competência técnica de um laboratório na realização de ensaios ou calibrações (ISO/IEC, 1996). O termo competência refere-se à capacidade de um laboratório de produzir resultados de confiança que satisfaçam as necessidades do cliente, com o cumprimento do que foi acordado entre estes (contrato) (Fisicaro et al. 2006). É importante referir que se encontra mencionado com frequência de forma errada a expressão laboratório acreditado, pois um laboratório só pode acreditar os seus métodos de ensaio e calibração.

A acreditação das metodologias de laboratórios de ensaio e de calibração resulta da verificação do cumprimento dos requisitos da norma internacional, a ISO/IEC 17025. Esta norma foi transposta para a realidade portuguesa sob a denominação NP EN ISO/IEC 17025. A acreditação é uma das melhores ferramentas de publicidade porque aumenta a reputação do laboratório e melhora a confiança e a satisfação dos clientes. O aumento da satisfação dos clientes deve-se a uma abordagem que incentiva o envolvimento do cliente na definição das suas necessidades e dos métodos de trabalho a utilizar, resultando numa maior eficácia no cumprimento dos seus requisitos (Halevy, 2003). A acreditação é ainda uma forma de aceder a novos mercados. Noutras situações a acreditação é uma obrigatoriedade devido à sua área de atividade e por imposição legal, só podem recorrer a determinadas solicitações laboratórios que tenham ensaios acreditados. Também empresas exportadoras podem reduzir custos recorrendo a serviços acreditados, porque estes são reconhecidos internacionalmente, evitando que as empresas tenham de voltar a analisar os produtos no país importador (Cortez, 1999; ILAC, 2010; Lopes, Santos, Pereira, Vaz, & Alves, 2014). No plano interno, os laboratórios com metodologias acreditadas têm uma menor dificuldade na manutenção do sistema de gestão da qualidade e no cumprimento dos requisitos técnicos, porque têm colaboradores com melhor preparação técnica e com mais conhecimentos em matérias como validação dos métodos, manutenção e calibração dos equipamentos, rastreabilidade das medições e estimativa da incerteza (Almeida 2006; ILAC 2010; Konieczka e Namiesnik 2009). No entanto o processo de acreditação pode ser moroso e ter elevados custos financeiros. Os maiores custos estão associados com o início do processo, uma vez que a elaboração e a implementação de um sistema de gestão e de todos os seus documentos, obrigam ao dispêndio de bastante tempo e dinheiro. Também a

fase de manutenção de um sistema de acreditação tem dificuldades, pois as atividades necessárias à acreditação como as calibrações de equipamentos, a aquisição de padrões de referência, a formação dos trabalhadores, as avaliações periódicas por parte da entidade auditora, entre outros, requerem grande disponibilidade financeira. As exigências do sistema de gestão podem também conduzir para um aumento de burocracia e de trabalho técnico a realizar (De Bièvre 2008; Khodabocus 2011; Tawfik e Abdel-Fatah 2011), contribuindo assim para a dificuldade do processo. No entanto, o sistema de gestão da qualidade só será eficaz de for suficientemente dinâmico, e assim mais benéfico do que prejudicial.

Antes de iniciar o processo de acreditação o LCA já cumpria na prática com a maioria dos requisitos técnicos, participava em ensaios de comparação interlaboratoriais e já possuía vários impressos para receção de amostras e de envio de resultados obtidos. O histórico de resultados dos ensaios de comparação interlaboratorial já demonstrava a competência técnica do LCA. A implementação de um sistema de gestão da qualidade (SGQ) e um maior rigor a nível burocrático foram as maiores valias que o processo de acreditação trouxe para o LCA. Apesar de alguns aspetos menos positivos que um processo de acreditação possa ter, no LCA verificou-se um aumento do número de clientes, nomeadamente aqueles que procuravam métodos acreditados; a existência de um maior controle dos processos; uma maior rastreabilidade dos resultados das análises e uma melhor reputação no que diz respeito à qualidade dos serviços disponibilizados.

Em suma, todo o processo de acreditação apresenta mais vantagens do que desvantagens para os laboratórios, sendo na maioria dos casos uma boa estratégia a seguir, quer para a sociedade, quer para o país. Para o país a atividade de acreditação é benéfica, porque, para além de garantir a segurança e a qualidade dos produtos e serviços, permite que o Estado possa descentralizar tarefas em terceiros. A acreditação contribui para a racionalização dos recursos e ainda assegura que existe no território nacional tecnologia credível e qualificada, o que por sua vez promove a captação de investimento de alto valor acrescentado [4].

I.8. A implementação da norma NP EN ISO/IEC 17025 nas