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ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM PORTUGAL

II.2.1 Alterações Climáticas e Adaptação.

A comunidade científica internacional reconhece que há evidências de que as Alterações Climáticas (AC) são influenciadas pelas atividades humanas e que as emissões de Gases com Efeito Estufa (GEE), sobretudo de dióxido de carbono (CO2), para a atmosfera têm aumentado desde a era pré-industrial. Por isso, as AC são, atualmente, consideradas pelos governos (mundiais, nacionais, locais) como uma preocupação e um problema global que é preciso atender de diversas formas (IPCC, 2014).

Importa clarificar que a variabilidade climática é induzida por fatores naturais internos ao sistema climático, ao passo que as AC são induzidas, direta ou indiretamente, pelas atividades humanas. A crescente concentração de GEE tem tido consequências no sistema climático global, contribuindo para a ocorrência de fenómenos extremos (ondas de calor, secas, inundações, ciclones, incêndios florestais, entre outros) graves, generalizados e, em muitos casos, irreversíveis para as comunidades e ecossistemas (IPCC, 2013 e 2014a). Relativamente ao aquecimento global, a comunidade internacional identificou a necessidade de manter a temperatura abaixo de 2º C. até ao final do século, em comparação com a temperatura registada na era pré-industrial. Os 2º C. são o limiar a partir do qual se reconhece que existe um risco muito elevado do sistema climático sofrer alterações graves com repercussões intrincadas sobre os sistemas humanos e naturais (European Comission, 2016).

Precisamente porque os efeitos esperados das AC não têm uma distribuição espacial uniforme, o “lugar” é um dos principais determinantes da exposição ao risco ambiental (Hess, Malilay, Parkinson, 2008). As AC exigem que se pesem as interações complexas entre o clima e os sistemas socio-ecológicos. A transição para a resiliência climática implica, pois, trajetórias de desenvolvimento que combinem medidas de adaptação que respondam aos impactes das AC, medidas essas onde se incluem: a utilização de recursos hídricos de forma mais eficiente; arquitetura e construção bioclimática, refletindo as alterações climáticas futuras e eventos climáticos extremos; desenvolvimento de culturas tolerantes à seca; escolha de espécies vegetais e práticas agro- florestais menos vulneráveis a tempestades e incêndios; entre outras. Em conjunto com medidas de mitigação para prevenir as AC (ex: redução das emissões de GEE), tais estratégias permitirão alcançar o desenvolvimento sustentável (Denton, et al., 2014; European Comission, 2016).

Por adaptação entende-se o processo de adaptação aos efeitos do clima atual ou previsto, sendo que nos sistemas humanos a adaptação tem como objetivo não só moderar ou evitar prejuízos, mas também explorar as oportunidades e os benefícios que podem estar na base da adaptação. Por sua vez, nos sistemas naturais, a intervenção humana pode facilitar a adaptação aos efeitos previstos do clima (IPCC, 2014b).

Os governos nacionais desempenham um papel-chave no planeamento e implementação das estratégicas de adaptação, através da coordenação de políticas públicas. Por sua vez, os governos locais e o setor privado, embora diferentes e variando regionalmente de dimensão e função, são atores cada vez mais reconhecidos e chamados a trabalhar o progresso da adaptação. A maioria das iniciativas de adaptação serão tomadas ao nível regional ou local, pela maior capacidade de gestão da informação e financiamento e pela capacidade de mobilizarem as famílias, as comunidades e a sociedade civil, porque a capacidade adaptativa também acaba por diferir entre as populações, setores económicos e regiões na Europa. (IPCC, 2014a; European Comission, 2016).

As AC, enquanto processo em curso e dinâmico, têm particular relevância nos países do sul da Europa, considerados os países mais vulneráveis. As projeções e cenários climáticos para Portugal (SIAM I, 2002; SIAM II, 2006; APA, I.P., 2016) apontam para um aumento significativo da temperatura média em todas as regiões até 2100, com tendência para o aumento do número de “dias de verão”, “noites tropicais” e “ondas de calor”. Relativamente à precipitação, os cenários apontam para uma redução em todo o território, sobretudo na região do Alentejo, e com especial incidência durante as estações da primavera e outono. Os episódios de precipitação acumulada e intensa centrar-se-ão no inverno, o que agravará as situações de cheias e inundações. As alterações no regime das chuvas e o aumento da temperatura terão influência no ciclo da água e nas atividades socioeconómicas em Portugal, requerendo medidas de adaptação setoriais, nomeadamente ao nível dos recursos hídricos, zonas costeiras, nas pescas, na agricultura, entre outros.

II.2.2 Adaptação às Alterações Climáticas em Portugal.

O Quadro político e institucional que acolhe a Política Climática em Portugal revê-se nas seguintes políticas (APA, I.P. 2016):

 Quadro Estratégico para a Política Climática (QEPiC) – determina a resposta climática política portuguesa a nível nacional relativamente à União Europeia para o horizonte 2020 e propostos para 2030. No quadro nacional interno, o Compromisso para o Crescimento Verde define a articulação dos instrumentos de política climática para o período 2020/2030. O QEPiC inclui os instrumentos de política nacional, quer de mitigação, quer de adaptação, nomeadamente o Programa Nacional para as Alterações Climáticas 2020/2030 e a Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas 2020.

 Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) - Promove a integração dos objetivos de mitigação nas políticas setoriais, ao definir linhas orientadoras para a redução de emissões de GEE em setores importantes, tais como transportes, energia, agricultura e floresta.

 Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (ENAAC) – a ênfase deste instrumento está na adaptação baseada na promoção do conhecimento técnico-científico e em boas práticas.

Uma Primeira fase da PNAC – 2006 relativa à redução de emissões de GEE resultou em medidas de âmbito setorial, que depois foram revistas em alta pelo Governo em 2007. A PNAC 2020 (período 2013-2020) em curso tem como objetivo a execução das metas nacionais quanto às AC nos sectores que não estão no âmbito do Comércio Europeu de Licenças de Emissão, mas que estão envolvidos com Roteiro Nacional de Baixo Carbono (APA, I.P., 2016).

Relativamente ao esforço de adaptação em Portugal, a primeira fase foi concebida pela ENAAC no período 2010-2013, (Resolução do Conselho de Ministros n.º 24/2010, de 18 de março). Os principais objetivos foram a divulgação de informação e conhecimento; a redução de vulnerabilidade e o aumento da capacidade de resposta de adaptação; participação, sensibilização e divulgação das AC e os seus impactes e; cooperação a nível internacional (ex: CPLP) (APA, I.P., 2016).

Os setores estratégicos da ENAAC são nove e cada um desenvolveu-se sob a alçada de organismos públicos especializados: Agricultura, Florestas e Pescas (GPP- Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral), Florestas (ICNF- Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), Biodiversidade (ICNF), Energia (DGEG- Direção-Geral de Energia e Geologia), Ordenamento do Território e Cidades (DGT-Direção-Geral do Território), Recursos Hídricos e Zonas Costeiras (APA – Agência Portuguesa do Ambiente, I.P.), Saúde (Direção-Geral da Saúde), Segurança de Pessoas e Bens (ANPC- Autoridade Nacional de Proteção Civil) e Turismo (Turismo de Portugal, I.P.) (APA, I.P., 2016).

A ENAAC 2020 (Resolução do Conselho de Ministros n.º 56/2015, de 30 de Julho) revê-se no QEPiC, ou seja, nos objetivos da política climática nacional no horizonte 2030, visando o desenvolvimento uma economia competitiva, mais resiliente e de baixo carbono em Portugal (APA, I.P., 2016). A ENAAC 2020 institui os objetivos, as atividades, o modelo de organização e operacionalização. A coordenação geral da aplicação da ENAAC 2020 compete à Agência Portuguesa do Ambiente (APA, I.P.) e os objetivos estratégicos, as seis áreas temáticas e os grupos de trabalhos setoriais (GT Sectoriais) estão identificados na estrutura organizacional da ENAAC 2020 na Figura 2.1 (APA, I.P., 2016).

Figura 2.1 – Estrutura organizacional da ENAAC 2020.

Fonte: APA, I.P., 2016.

Relacionando as estratégias e os planos de mitigação e de adaptação ao nível municipal em Portugal, a Câmara Municipal de Almada, a Câmara Municipal de Cascais e a Câmara Municipal de Sintra desenvolveram as primeiras iniciativas, no âmbito da integração da Adaptação nos Instrumentos de Gestão Municipal (Almada) e na elaboração de Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas - EMAAC (Cascais e Sintra) (ClimAdaPT.Local, 2016), que merecerão o devido enquadramento no âmbito da AAC e na análise do Projeto ClimAdaPT.Local no próximo capítulo.