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A Previdência Social sofre mudanças constantemente, visando a adequar-se cada vez melhor às necessidades de seus segurados.

A mais nova alteração que afetou o segurado especial se deu por volta de 2013, com o advento da Lei nº 12.873/13, que alterou diversos dispositivos da legislação previdenciária no

que se refere ao enquadramento do segurado especial. Uma das inovações trazidas pela nova lei é a contratação de mão-de-obra por 120 dias.

Art. 11. [...].

§ 7º. O grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou de trabalhador de que trata a alínea g do inc. V do caput, à razão de no máximo cento e vinte pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho, não sendo computado nesse prazo o período de afastamento em decorrência da percepção de auxílio-doença. (BRASIL, 1991a, grifo nosso).

Aqui, se pode perceber a subtração da expressão “em períodos de safra”, que, desde a edição da Lei nº 11.718/08, já era permitida a contratação de mão-de-obra, porém, a alteração trazida foi apenas para retirar a exigência desse período se dar em épocas de safra. Dessa forma, o segurado especial pode se valer da contratação de mão-de-obra em qualquer época do ano, seja, por exemplo, contratando um empregado a cada trinta dias, ou até mesmo um diarista.

A alteração da lei se deu no sentido de flexibilizar a contratação da mão-de-obra, pois está cada vez mais difícil conseguir trabalhadores no meio rural devido ao êxodo rural que tem se acentuado cada vez mais. Nesse caso, cabe ao segurado especial empregador rural manter o empregado devidamente registrado junto ao Ministério do Trabalho, bem como, realizar o recolhimento dos valores das contribuições devidas à Previdência Social e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.

Também os períodos de safra e entressafra, hoje em dia, estão cada vez mais disformes, não necessitando mais todo aquele período de preparo do solo, que, graças ao plantio direto foi drasticamente reduzido, do mesmo modo, cada vez mais o trabalho braçal vem sendo substituído pelo trabalho mecânico. Anos atrás, eram necessários vários trabalhadores para fazer a colheita. Hoje em dia há maquinas que realizam esse serviço de forma muito mais rápida e eficiente.

Outra alteração trazida pelo artigo 11, da Lei nº 12.873/13, foi a autorização para contratar de mão-de-obra por prazo maior que 120 dias quando o segurado se encontrar em gozo de auxílio-doença. Nesse caso, ao trabalhador incapacitado, não possuindo alguém que possa lhe substituir, é mais do que justo que possa se valer da mão-de-obra de um terceiro.

Ainda, a nova lei estabeleceu a exclusão da delimitação de períodos em que o segurado especial poderia exercer outra atividade remunerada, como consta no parágrafo 9º, artigo 11, da Lei nº 8.213/91, que dispõe que não é segurado especial o membro familiar que possuir outra fonte de renda, exceto se decorrente de atividade remunerada por período não superior a 120 dias, agora podendo ser corrido ou intercalado.

Como dito em parágrafos anteriores, a dificuldade de delimitar os períodos de entressafra foi uma das causas que levou o legislador a permitir que o segurado especial tenha um trabalho remunerado, em qualquer época do ano, mas que não ultrapasse os 120 dias. Como exemplo, se pode citar o produtor rural que, durante a espera do plantio de sua cultura, ajuda outro produtor que produz culturas diferentes, em períodos de safras diferentes, e vice- versa.

A Lei nº 12.873/13 inovou ao introduzir o § 12, no artigo 11, da Lei nº 8.213/91, nos seguintes termos:

Art. 11. [...]

§12. A participação do segurado especial em sociedade empresaria, em sociedade simples, como empresário individual ou como titular de empresa individual de responsabilidade limitada de objeto ou âmbito agrícola, agroindustrial ou agroturístico, considerada microempresa nos termos da Lei Complementar 123 de 14.12.2006, não excluí de tal categoria previdenciária, desde que, mantido o exercício da sua atividade rural na forma do inc. VII do caput e do § 1º, a pessoa jurídica componha-se apenas de segurados de igual natureza e sedie-se no mesmo Município ou em Município limítrofe àquele em que eles desenvolvem suas atividades. (BRASIL, 1991a).

O legislador foi mais além ao permitir a criação de empresas rurais com atividades agrícolas. Passou, também, a aceitar o segurado especial que fizer parte de tais empresas, desde que dentro dos requisitos exigidos pela lei, quais sejam:

a) A atividade da empresa em questão deve ser de objeto ou âmbito agrícola, agroindustrial ou agroturístico;

b) Deve ser mantido o exercício da sua atividade rural em regime de economia familiar;

c) A pessoa jurídica deve compor-se apenas de segurados especiais;

d) A pessoa jurídica deve estar sediada no mesmo Município ou em Município limítrofe àquele em que as atividades são desenvolvidas. (BERWANGER, 2016, p. 26-27).

É compreensível que o legislador tenha permitido ao segurado especial estabelecer personalidade jurídica. Em alguns casos, é necessária essa condição para a comercialização de sua produção, pois algumas empresas simplesmente dão preferência à aquisição de produtos de empresas e não de pessoas físicas. Porém, não são todas as empresas no meio rural que foram incluídas pela nova lei.

Quando a lei refere empresa de âmbito agrícola, é possível parecer que o conceito engloba qualquer empresa que se localize no meio rural. Se assim fosse, nesse dispositivo estariam incluídas empresas que não tivessem por objeto a comercialização ou industrialização de produtos agrícolas – como, por exemplo, bares, minimercados ou lojas de vestuário. Contudo, aparentemente o legislador não foi tão longe. Embora tenha usado as expressões objeto e âmbito, entende-se que ambas se referem a produtos vinculados à agricultura, à agroindústria ou ao turismo rural. Duas são as razoes para essa interpretação: a primeira, é que não há âmbito (enquanto sinônimo de espaço ou local) agroindustrial ou agroturístico. Não se tratam de lugares, mas de atividades; é uma referência dinâmica e não estática. A outra razão é a intenção clara do legislador – como vem fazendo desde a Lei 11.718/08 – de incentivar a geração de mais renda no meio rural por meio da industrialização artesanal da produção agrícola. (BERWANGER, 2016, p. 27). A inovação trazida apenas refere a possibilidade de o empresário poder continuar inscrito na Previdência Social como segurado especial, devendo, para tanto, continuar a exercer a atividade rural, que é o cerne para a caracterização do segurado especial.

Ainda tratando das inovações trazidas pela Lei nº 12.873/13, temos a alteração do inciso I do artigo 39 da Lei nº 8.213/91. Vejamos abaixo a nova redação dada ao referido artigo.

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão:

I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio- reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido; ou

II - dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a forma de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente para a Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade Social. (BRASIL, 1991a, grifo nosso).

Como se pode perceber, o direito ao auxílio-acidente não constava expressamente em lei, porém tal benefício já era concedido ao segurado especial pelo INSS, independente de contribuições facultativas. Em comparação à redação anterior, o artigo 39 da Lei nº 8.213/91

excluía o benefício do auxílio-acidente, deixando margens para interpretações diversas. A Lei nº 12.873/13 apenas regulamentou aquilo que já vinha sendo aplicado na prática.

Diante de tais inovações, percebe-se a preocupação do legislador em garantir amparo previdenciário eficaz ao segurado especial, antes esquecido pela legislação. Os motivos que levam o legislador a promover constantes modificações são amplos. Em um mundo globalizado, as diferenças entre grupos de trabalhadores vêm diminuindo e, consequentemente, o tratamento dado as estas classes estão cada vez mais equiparadas.

CONCLUSÃO

O presente estudo abordou a classe trabalhadora rural inserida na Previdência Social, como segurados especiais. Os trabalhadores rurais foram, ao longo do tempo, esquecidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e, apenas, em 1971, alguns benefícios foram instituídos.

Percebe-se, num primeiro momento, que a legislação se preocupou apenas em garantir benefícios ao chefe de família e, ainda, tais benefícios eram em valor reduzido frente aos trabalhadores urbanos. O chefe de família era o que recebia a aposentadoria na velhice aos 65 anos e somente ele recebia benefícios em caso de incapacidade. Porém, em 1988, a Constituição Federal tratou de acabar com as diferenças entre trabalhadores urbanos e rurais, instituindo princípios que deveriam ser seguidos para minimizar as diferenças entre as classes. O princípio da uniformidade e equivalência, que prevê que os benefícios serão os mesmos para ambas as classes e equivalentes, é um exemplo de princípio que visa a neutralizar as diferenças beneficiárias entre as classes. Entretanto, por mais que os benefícios fossem os mesmos, a contribuição e os requisitos seriam diferenciados. Ao instituir a idade mínima para aposentadoria, o legislador cuidou de analisar o desgaste sofrido pelo trabalhador rural ao longo de sua vida, pois este está, constantemente, exposto às intempéries do tempo e, certamente, sofrerá um desgaste maior daquele que realiza seu trabalho abrigado.

No que se refere à contribuição, o legislador não poderia exigir do trabalhador rural a mesma contribuição do urbano, pois é nítida a diferenciação de produção das classes. O produtor rural exerce sua contribuição de forma simplificada, na maioria dos casos. Cabe ao destinatário final recolher a contribuição devida pelo segurado quando da comercialização da produção.

Aos segurados especiais, também é concedida aposentadoria a todos os que estão incluídos no grupo familiar, exigindo apenas que o segurado cumpra os requisitos previstos em lei. Cabe exaltar que a aposentadoria por idade também pode ser obtida realizando a soma de períodos que não sejam exclusivamente na atividade rural. A lei, ao se deparar com o êxodo rural, percebeu que muitos segurados ficariam desamparados por passarem a fazer parte de outra classe e tratou de prover mudanças para aceitar a soma períodos distintos.

Algumas alterações também ocorreram recentemente e visaram facilitar a vida do segurado especial, dando-lhe condições de realizarem atividades que antes caracterizava a perda da qualidade de segurado. Constantemente, a legislação previdenciária vem sofrendo alterações para, cada vez mais, se adequar à realidade. Muitas alterações apenas regularizam o que já é feito na prática, passando cada vez mais a englobar segurados.

Perante o que foi discorrido neste trabalho, percebe-se que a legislação tentou, de todas as formas possíveis, amparar o segurado especial. Tratou de propiciar os mesmos benefícios dos trabalhadores urbanos e também a remuneração que será feita com a concessão destes. Ainda, verifica-se que, com o advento da Constituição Federal de 1988, a legislação que tutela o segurado especial sofre constantemente alterações e, como se pode ver, sempre busca se adequar à realidade atual. Assim, os benefícios instituídos dão conta de suprir ao menos as necessidades básicas que esta gama de trabalhadores irá enfrentar em sua vida.

REFERÊNCIAS

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