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Uma análise do segurado especial no regime geral da Previdência Social: a necessária proteção do trabalhador do campo

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Academic year: 2021

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

MAX GUILHERME ROEPKE

UMA ANÁLISE DO SEGURADO ESPECIAL NO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL:

A NECESSÁRIA PROTEÇÃO DO TRABALHADOR DO CAMPO

Ijuí (RS) 2017

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MAX GUILHERME ROEPKE

UMA ANÁLISE DO SEGURADO ESPECIAL NO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL:

A NECESSÁRIA PROTEÇÃO DO TRABALHADOR DO CAMPO

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho a todos que, de uma forma ou outra, me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem.

A minha orientadora, Profa. Nelci Meneguzzi, por sua dedicação, disponibilidade e compreensão em minhas inúmeras dúvidas.

A minha família, que sempre me apoiou e acreditou nesse sonho.

A minha tia e tio, Graciane e Anderson, por terem me acolhido durante esses anos.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

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“O passado serve para evidenciar as nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise de como se deu o surgimento do direito que ampara o segurado especial, com enfoque para o trabalhador rural e posterior evolução até chegar aos dias atuais. Aborda, primeiramente, os valores e princípios basilares da Previdência Social, com pequenos comentários que possibilitam a identificação do segurado especial no ordenamento jurídico brasileiro. Discute, também, a legislação que precedeu a Constituição Federal de 1988, buscando demonstrar as primeiras garantias elencadas aos segurados especiais. Após, denomina-se o segurado especial dentro da Constituição Federal de 1988 e a legislação infraconstitucional, que tratou de regulamentar os benefícios instituídos a esta gama de segurados. Por fim, conceitua o segurado especial e explicita o seu modelo contributivo, alguns benefícios que goza esta classe de trabalhadores e também as inovações legislativas que deram maior liberdade ao segurado para prover seu sustendo e gerar renda sem perder a qualidade de segurado especial. A metodologia utilizada no presente trabalho foi o método hipotético-dedutivo, desenvolvido diretamente, por meio de doutrinas, publicações, legislação, revistas especializadas, artigos, teses de natureza acadêmica. Palavras-Chave: Direito Previdenciário. Segurado Especial. Evolução. Garantias. Benefícios. Inovações.

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ABSTRACT

The present term paper makes an analysis of how the emergence of the law that protects the special insured, with focus for the rural worker and posterior evolution until the present days. First, it approaches the basic values and principles about the Social Security with little comments that allow the identification of the special insured in the Brazilian legal order. It also discuss the previous legislation that preceded the Federal Constitution of 1988 and the below the constitution legislation that treated of regulating the instituted benefits to this gamma of insureds. Lastly, it conceptualizes the special insured and explicit its contributory model, some benefits that this working class enjoys as well as the legislative innovations that gave greater freedom to the insured to provide its sustenance and generate income without losing the quality of special insured. The methodology used in the present work is the hypothetical-deductive method, developed directly, through doctrines, publications, legislation, specialized journals, articles, theses of academic nature.

Keywoords: Social Security Law. Special Insured. Evolution. Guarantees. Benefits. Innovations.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 08

1 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO SEGURADO ESPECIAL ... 10

1.1 Valores e princípios basilares da previdência social rural ... 11

1.2 A Legislação pátria relativa ao segurado especial que precedeu à Constituição Federal de 1988 ... 18

1.3 O segurado especial na Constituição Federal de 1988 e a legislação posterior ... 22

2 IDENTIFICAÇÃO DO SEGURADO ESPECIAL E SEU MODELO CONTRIBUTIVO ... 27

2.1 Caracterização do segurado especial e seu modelo contributivo ... 27

2.2 Principais benefícios do segurado especial: uma análise do benefício da aposentadoria por idade e a chamada aposentadoria “híbrida” ... 36

2.3 Adaptações legislativas às novas realidades ... 39

CONCLUSÃO ... 44

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INTRODUÇÃO

A presente monografia faz uma análise do tratamento dado ao segurado especial no Regime Geral da Previdência Social com o enfoque à necessária proteção destes segurados, tendo em vista as peculiaridades da atividade desenvolvida por esta categoria profissional. Para tanto, analisa-se a efetividade da legislação previdenciária destinada a esses segurados.

Este estudo tem motivações diversas. A escolha do tema justifica-se pelo fato de o pesquisador residir no meio rural, ser filho de agricultores, o que, por si só, já gera o interesse no aprofundamento do tema, assim como o cenário atual da sociedade, pois se está localizado em uma região de muitos trabalhadores rurais. O tema também tem grande interesse jurídico, pois, constantemente, é discutido pelos tribunais, sendo plausível a análise mais profunda desta classe.

O Regime Geral da Previdência Social concede ao trabalhador rural um tratamento diferenciado por compreender as especificidades das atividades desenvolvidas diariamente por este, especialmente se comparado ao trabalhador urbano. As diferenciações compreendem desde a forma de contribuição até as formas de beneficiamento. No entanto, resta a indagação quanto à forma do tratamento disposta nos instrumentos legais ser suficientemente eficaz para assegurar a qualidade de vida aos segurados, assim como os direitos e garantias dispostos para a proteção dos idosos.

Para responder a indagação, o trabalho foi estruturado em dois capítulos. O primeiro capítulo versa sobre a evolução legislativa que o segurado especial contou até a sua inclusão na Constituição Federal de 1988. São, também, apontados os valores e princípios basilares da Previdência Social rural que norteia todo o sistema. No segundo capítulo, identifica-se o

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segurado especial e seu modelo contributivo, e, ao final, destacam-se os benefícios da aposentadoria e as modificações legislativas que ocorreram ao longo dos anos.

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1 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO SEGURADO ESPECIAL

O segurado especial trabalhador rural, durante sua vida, contribui, e alguns muito, para a Previdência Social. Sua atividade laboral exige demasiado esforço físico que, ao longo do tempo, começa a surtir efeitos na saúde. Durante muitos anos, o trabalhador rural ficou esquecido pela legislação brasileira. Precisava “custear” sua aposentadoria por conta própria, sem qualquer amparo, em caso de doença ou incapacidade que impossibilitava de realizar suas atividades laborais, e, consequentemente, seu sustento.

Antes de adentrar mais profundamente no tema do surgimento do segurado especial, é importante tecer breve relato acerca do surgimento da seguridade social. Santos (2016, p. 40) ensina que:

O seguro social nasceu da necessidade de amparar o trabalhador, protegê-lo contra os riscos do trabalho. [...] necessário um sistema de proteção social que alcançasse todas as pessoas e as amparasse em todas situações de necessidade, em qualquer momento de suas vidas.

Berwanger (2016), ao citar Augusto Ribeiro Garcia, diz que o mundo é visto a partir do urbano, que se divide em três grandes segmentos, nos quais se manifestam os interesses jurídicos da sociedade civilizada: o comércio, a indústria e os serviços. O mundo rural é visto como o “resto”.

Para Garcia (apud BERWANGER, 2016, p. 71-72), “Nessa dicotomia virtual, o mundo rural sempre foi visto em segundo plano, como se a sociedade campesina constituísse uma classe de segunda categoria. Essa é a razão pela qual a legislação relativa ao trabalho rural retardou muito nesse país”. Dessa forma, o trabalhador rural apenas “contribuía” para a previdência de forma indireta, visto que era um grande consumidor dos produtos oferecidos nas cidades e, assim, ajudava a manter os demais regimes previdenciários.

É importante mencionar que até 1963 não houve legislação que incluía o trabalhador rural em nenhum sistema previdenciário brasileiro. Berwanger (2016, p. 75) diz que:

A primeira tentativa de inclusão dos trabalhadores rurais no sistema previdenciário, ou melhor, da criação de um sistema específico, foi o Estatuto do Trabalhador Rural, criado pela Lei 4.214 de 02.03.1963. E não passou de tentativa, porque o Estatuto, criado a partir do projeto de lei que teve como um dos autores Fernando Ferrari, não

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chegou nem a ser regulamentado, E, mas uma vez, os camponeses estavam desprotegidos, embora com lei “protegendo-os”.

Diante dessa breve exposição acerca do surgimento da seguridade social no Brasil, passa-se a analisar, primeiramente, os valores e princípios aplicáveis à Previdência Social, visando o segurado especial e, posteriormente, a primeira legislação que introduziu o segurado especial na Previdência Social.

1.1 Valores e princípios basilares da previdência social rural

Antes de tratar a fundo a questão legislativa do segurado especial, é importante tecer quais valores e princípios constitucionais são aplicáveis à Previdência Rural.

Os valores e princípios, segundo Berwanger (2015, p. 100),

[...] não contêm uma ordem ou uma proibição e sim uma valoração, que pode ser de tipo comparativo de dois objetos. Um bem tem maior valor do que outro, expressando-se, assim, juízos de preferência ou equivalência. O modo de interpretar o valor é, então, mediante juízo comparativo (juízo de ponderação). Trata-se de estabelecer uma medida, equilíbrio. Já os princípios jurídicos estabelecem comandos, proibições e permissões, o que não ocorre com os valores, sendo que estes também enfrentam um juízo de ponderação destinado a estabelecer o peso de cada um no caso concreto.

É fundamental diferenciar os valores dos princípios. Os princípios estão entranhados no ordenamento de jurídico brasileiro, ao modo que, ditam as normas básicas a serem seguidas. Como se sabe, a norma jurídica pode ser revista e depende da interpretação do julgador. Já os princípios, em tese, não podem ser violados, e não cabe ao julgador escolher se irá aplicá-los ou não. Os princípios constitucionais guiam as demais legislações ordinárias.

O valor do bem-estar social é trazido por Berwanger (2015) como um objetivo fundamental da República, que, conforme o artigo 3º da Constituição Federal, é o ideal da solidariedade, um princípio que tem motivado, desde os primórdios da humanidade, iniciativas e políticas de Seguridade Social.

Com essa explicação, é fácil perceber que a Previdência Social carrega muito os traços valorais do bem-estar, pois é ela que sustenta a maioria da população brasileira na velhice. Também é a Previdência Social que ampara o trabalhador em caso de acidente ou

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incapacidade para a vida laboral. Dessa forma, pode-se dizer que o bem-estar, dentro da Previdência Social, foi preocupação do legislador ao normatizá-la, pois este tomou certo cuidado quando da criação dos benefícios que seriam concedidos aos trabalhadores. Como exemplo, tem-se a situação do segurado que foi acometido por algum acidente, seja de trabalho ou no lazer, e que tenha ocasionado alguma deficiência física. Visando reinseri-lo novamente ao mercado de trabalho, a Previdência custeia seu tratamento de saúde para que possa ter sua vida normalizada.

O trabalho também é tido como um valor social, diga-se de passagem, que é só abrir a Constituição Federal que ver-se-ão vários dispositivos constitucionais que tratam do trabalho humano.

Veja-se, ainda, que a Constituição se reporta ao trabalho, e não restritivamente ao emprego. Assim, é a Previdência no Brasil, que, ao longo de sua evolução, foi contemplando também os trabalhadores não empregados, incluído até mesmo os empresários como segurados. (BERWANGER, 2015, p. 106).

Desse modo, pode-se observar que a Previdência Social protege também aquele que, de uma forma ou outra, gera emprego e que, em algum momento, precisaria de amparo. Portanto, até mesmo o empresário que administra sua própria empresa pode ser acometido de alguma enfermidade e passar a usufruir dos benefícios que a Previdência Social oferece. Claro que, para perceber certos benefícios, é necessário que este faça suas contribuições, conforme seu enquadramento como segurado.

Cabe ressaltar que a inclusão do segurado especial como segurado da Previdência Social resulta, essencialmente, de seu trabalho.

O trabalho é o elemento central da Previdência Social, na medida em que vincula o segurado, na condição de obrigatório, ao regime previdenciário. Os regimes previdenciários contemplam, primeiramente, aqueles que exercem atividade remunerada. [...] os segurados especiais nada mais são do que trabalhadores. E a sua inclusão como sujeitos protegidos da Previdência Social (e não da Assistência) decorre do valor social do trabalho. (BERWANGER, 2015, p. 107-108).

A segurança jurídica também é tida como um valor. Esta é de vital importância para a segurança de um ordenamento jurídico democrático.

[...] a primeira noção que a segurança jurídica nos dá e a previsibilidade, ou seja, a possibilidade de calcular as medidas e comportamentos do poder público, em suas

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três funções (Executivo, Legislativo e Judiciário). Mas para prever é preciso saber. Assim, é fundamental, para a segurança, que se conheça dos processos e decisões. Para tanto, toma importância vital a publicidade dos atos e sua motivação, bem como a transparência das ações. Espera-se, também, a estabilidade, a continuidade, regularidade das relações, traduzidas nos institutos da coisa julgada, direito adquirido e proteção da confiança. (BERWANGER, 2015, p. 108).

É de suma importância que todos os poderes sejam transparentes em seus atos para os cidadãos poderem fiscalizar, e, assim, se ter uma sociedade democrática, justa, que atenda aos preceitos constitucionais e as necessidades do povo, pois de nada adianta se ter legislação que assegure direitos à população se os operadores do direito não observarem tais direitos. Do mesmo modo, o Estado for contrariamente administrado, visando a outros fins.

A dignidade da pessoa humana é, também, um princípio constitucional, porém, além de princípio, sua importância é tanta que se pode classificá-la como um valor. Em um breve resumo, Berwanger (2015, p. 110), ao citar Immanuel Kant, traz a ideia de dignidade. “Uma coisa que tem um preço pode ser substituída por qualquer outra coisa equivalente; pelo contrário, o que está acima de todo preço e, por conseguinte, o que não admite equivalente, é o que tem uma dignidade.”

Por último, tem-se o valor da segurança alimentar. Berwanger (2015) diz que nenhum país será livre se não possuir autossustentação alimentar. Também não há desenvolvimento se a população não conseguir fazer as refeições básicas para sobreviver com o mínimo de dignidade.

A Previdência Social tem um papel importantíssimo para o bem-estar social no quesito fome. O problema maior não está na produção, mas na capacidade de aquisição dos alimentos, e aqui entra o papel da Previdência, qual seja, o de garantir aos seus segurados condições para aquisição de alimentos para suas refeições.

A importância da Previdência é tanta que o valor de seu menor benefício, na faixa de um salário mínimo, possui um reajuste calculado, entre outros índices, com base no preço médio dos alimentos. Portanto, fica nítida a preocupação do Estado em garantir o sustento alimentar da população previdenciária brasileira.

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Além dos valores que guiam a Previdência Social no Brasil, há também os princípios instituídos no artigo 194 da Constituição Federal de 1988, que serve de base para a Seguridade Social, no qual está compreendida a Previdência Social. Além de comentá-los, também serão destacados outros princípios que estão implícitos no ordenamento jurídico brasileiro.

O princípio da solidariedade é tido como um dos princípios mais importantes da Seguridade Social, assim o é classificado pela doutrina. Segundo Berwanger (2015, p. 119),

Almansa Pastor entende a solidariedade como fundamental para a relação jurídica de Seguridade Social, com dupla função: no interior da relação, como veículo de coesão dos elementos relacionados e, no exterior, individualiza e distingue especificamente a relação jurídica frente a outras de contornos similares. Para o autor, os contornos da Seguridade são em nível exíguo. Ele aponta como perspectivas avanços jurídico-normativos, assentados em fundamentos solidaristas, estender ao máximo o âmbito material de valores, ao maior contingente possível de sujeitos, para que se sintam envolvidos por uma comunicação de valores.

Da citação anterior, compreende-se que, “estender ao máximo o âmbito material de valores, ao maior contingente possível de sujeitos” (BERWANGER, 2015, p. 119), só será possível em um Estado que conta com um eficiente sistema de assistência social, cujos benefícios independem de contribuições. Para garantir que a Assistência Social alcance a todos, basta que estes cumpram os requisitos para os benefícios tutelados a esta gama.

A solidariedade é também fundamental para um modelo de Previdência Social que visa atender a todos de forma eficiente e igualitária.

Não se pode cogitar de um sistema de Seguridade Social sem a força do princípio da solidariedade, pois teríamos apenas um sistema de capitalização ou poupança individual que não daria conta das demandas e necessidades sociais, não atingiria os valores estabelecidos pela Constituição Federal e não atenderia, certamente, a dignidade da pessoa humana. (BERWANGER, 2015, p. 121).

A Constituição Federal de 1988 também incluiu alguns princípios que visam nortear a seguridade social. Diferentemente da Assistência Social, a Previdência Social atende as pessoas de forma limitada.

Veja-se, primeiramente, o princípio da universalidade da cobertura e do atendimento. A cobertura diz respeito aos benefícios prestados, dependendo das situações em que se

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encontram os segurados, e os requisitos para os benefícios variam de acordo com o regime do segurado. Já o atendimento diz respeito à abrangência dos titulares do direito, de certa forma, todos podem fazer parte da Previdência Social. Aqueles que não são segurados obrigatórios podem ingressar como segurados facultativos.

Outras mudanças legislativas também foram feitas ao longo dos anos para incluir, cada vez mais, segurados na Previdência Social. Como exemplo, podem ser citadas as reduções das alíquotas dos trabalhadores domésticos sem remuneração, que, atualmente, contam com uma alíquota de 5% do salário mínimo.

Santos (2016) também fala dos princípios que norteiam o sistema previdenciário brasileiro, entre eles, o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços.

Tem-se a uniformidade dos planos de proteção social entre as classes rurais e urbanas, que serão os mesmos para ambos. Por equivalência entende-se:

o valor das prestações pagas a urbanos e rurais deve ser proporcionalmente igual. Os benefícios devem ser os mesmos (uniformidade), mas o valor da renda mensal é equivalente, não igual. É que o cálculo do valor dos benefícios se relaciona diretamente com o custeio da seguridade. [...] urbanos e rurais têm formas diferenciadas de contribuição para o custeio. (SANTOS, 2016, p. 47-48).

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Berwanger (2015) diz ainda que este princípio não possui avanços significativos quando aplicado ao segurado especial, abrangendo apenas o trabalhador rural. Esse sim possui os mesmos benefícios do trabalhador urbano.

Os avanços da atual legislação são inegáveis, se a compararmos com a ínfima proteção conferida pela anterior, em especial, pela Lei Complementar 11/71. Porém, na prática, ainda há diferença em ambos os aspectos, ou seja, nem todas as contingências cobertas na área urbana tem obedecido os mesmos parâmetros. Os empregados rurais encontram-se em situação de equivalência, pois lhes aplicam as mesmas regras (ressalvados períodos de transição) que os trabalhadores urbanos. Porém, para ter direito à aposentadoria por tempo de contribuição, os segurados especiais precisam recolher contribuições facultativas, conforme prevê o artigo 39, inciso II da Lei 8.213/91, que também são necessárias, para que possa ter direito a beneficio superior ao salário mínimo.(BERWANGER, 2015, p. 125).

Outro princípio que engloba a Previdência Social do meio rural é o princípio da seletividade e distributividade, princípio, este, que tem um papel muito importante dentro do sistema, visto que, deve levar em consideração as necessidades reais dos beneficiários assim como as condições financeiras do sistema. Segundo Martins (2016, p. 110),

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A seleção (escolha) das prestações vai ser feita de acordo com as possibilidades econômico-financeiras do sistema da Seguridade Social (arts. 40 e 201 da Constituição). Nem todas as pessoas terão benefícios: algumas o terão, outras não, gerando o conceito de distributividade.

Seguindo o estudo dos princípios, tem-se o princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios. De forma clara, ao elencar esse princípio, a Constituição Federal de 1988 se preocupou em garantir a manutenção do estilo de vida diante da inflação, e, por isso, a lei infraconstitucional regulamentou o reajuste.

O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios possui estreita relação com o Direito do Trabalho, na medida em que os salários são irredutíveis, bem como os vencimentos de magistrados. A Constituição Federal não só garante a irredutibilidade do valor nominal, impedindo que haja redução do valor do benefício que o segurado vem recebendo, como, também, prevê que deve ser mantido o valor real. (BERWANGER, 2015, p. 127).

A Lei nº 8.213/91 estabeleceu que o reajuste dos benefícios se dará de forma anual e, na mesma data do reajuste do salário mínimo.

A discussão que se faz quando se trata da correção dos benefícios remonta desde antes da Constituição Federal. Martins (2016, p. 111-112) argumenta que:

No seio da Assembleia Constituinte houve muita preocupação com a redução dos benefícios previdenciário, pois, no decorrer dos anos, o beneficiário vinha perdendo o poder aquisitivo que tinha quando se aposentou. A legislação salaria, ou correção do salário-mínimo, nunca implicou a preservação real dos benefícios previdenciários. Nem a atual lei de benefícios (Lei n. 8.213/91) irá proporcionar a manutenção do poder aquisitivo real dos benefícios, pois perdas salariais ocorrem costumeiramente. Antes de 1988, o governo estabeleceu artifícios na correção dos benefícios, que os reduziam. Nesse sentido, foi editada a Súmula 260 do TFR, determinando que “no primeiro reajuste do beneficio previdenciário, deve-se aplicar o índice integral do aumento verificado, independentemente do mês da concessão, considerado, nos reajustes subsequentes, o salário-mínimo então atualizado”. A seguir, elenca-se o princípio da equidade da forma de participação no custeio. Alguns doutrinadores trazem esse princípio como desdobramento do princípio da igualdade. Assim é o entendimento de Martins (2016, p. 112) sobre esse princípio:

Apenas aqueles que estiverem em iguais condições contributivas é que terão de contribuir da mesma forma. É uma forma de justiça fiscal. O trabalhador não pode contribuir da mesma maneira que a empresa, pois não tem as mesmas condições financeiras. Dever-se-ia, porém, estabelecer certas distinções também entre as empresas, pois é sabido que empresas maiores têm melhores condições de contribuir do que as microempresas. No entanto, essa diferenciação na foi feita pela legislação

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ordinária, porque a forma de custeio é atribuída ao que estiver disposto na lei ordinária.

Dessa forma, percebe-se que a maior parte do custeio virá daqueles que possuírem maior poder econômico, ou seja, as empresas contribuirão mais que os trabalhadores.

Diversidade da base de financiamento é outro princípio elencado, princípio este, que busca diferentes formas para o custeamento da Previdência Social e visa dar maior segurança ao sistema, pois, ao diversificar as fontes de obtenção de renda, reduz oscilações orçamentárias, que podem ocorrer quando certas classes de contribuintes enfrentem dificuldades econômicas e, também, os riscos de “quebrar” com o sistema.

Berwanger (2015, p. 132) cita algumas fontes de obtenção de renda:

Na legislação tributária, além das contribuições estritamente previdenciárias, elencadas na Lei 8.212/91 (contribuição dos empregados, das empresas, sobre a produção rural comercializada, receitas decorrentes de prognósticos e dos importadores de bens e serviços do exterior) estão previstas várias fontes de custeio da Seguridade, como: COFINS, PIS/PASEP, CSLL e ainda CONFINS-Importação e PIS/PASEP-Importação.

O último princípio constitucional trazido no artigo 194 é o princípio do caráter democrático e descentralizado da Administração. Originalmente, a redação do inciso VII dispunha que a gestão administrativa previdenciária seria descentralizada e contaria ainda com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados. Em 1998, a Emenda Constitucional nº 20 alterou este dispositivo e passou a adotar a gestão quadripartite, que incorporou a participação nos órgãos colegiados, além do governo, dos trabalhadores, dos empregadores e dos aposentados. Esse princípio busca inserir na gestão administrativa todos aqueles que contribuem para a seguridade social, ou dela usufruem.

Por fim, e não menos importante, está o princípio do mínimo existencial. Este princípio não possui previsão expressa na Constituição Federal, mas está difundido em vários outros princípios. Berwanger (2015, p. 145) diz que “No Direito Previdenciário, ele justifica a instituição de formas e bases contributivas compatíveis com as possibilidades econômicas, fundando, por exemplo, a contribuição da dona de casa de baixa renda e do micro empreendedor individual.”

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Passar-se-á, nos próximos itens, a analisar a legislação que precedeu à Constituição Federal de 1988, desde o surgimento das primeiras legislações, em seus primórdios e, posteriormente, a legislação que protege, atualmente, os segurados especiais.

1.2 Legislação pátria relativa ao segurado especial que precedeu à Constituição Federal de 1988

O segurado especial, compreendido como produtor rural ou pescador artesanal, já possuía um tratamento distinto perante a Previdência Social antes mesmo da Constituição Federal de 1988 inserir garantia específica a estes segurados. O que ocorria anteriormente à Constituição Federal de 1988 era que este tratamento diferenciado era dado pela legislação ordinária e assim, o legislador poderia a qualquer momento restringir certos benefícios.

Embora o segurado especial contou com seus direitos na legislação brasileira de forma tímida, não conseguindo, efetivamente, grandes garantias com a primeira lei que tratou de protegê-los. Em um primeiro momento, foi conceituado apenas como trabalhador rural. Apareceu, pela primeira vez, na Lei nº 4.214, de 02 de março de 1963, no Estatuto do Trabalhador Rural, que instituiu o chamado FUNRURAL, e que passou a assegurar o trabalhador rural e seus dependentes.

O Estatuto do Trabalhador Rural trouxe os trabalhadores rurais como segurados obrigatórios do FUNRURAL, assim como

os colonos ou parceiros, bem como os pequenos proprietários rurais, empreiteiros, tarefeiros e as pessoas físicas que explorassem as atividades como trabalhadores que residissem só ou com sua família em moradia fornecida pelo empregador, desde que em número inferior a cinco. (SANTOS, 2016, p. 438).

Berwanger (2016, p. 90) comenta que:

[...] o estatuto do Trabalhador Rural é a primeira norma de proteção previdenciária, estabelecendo a criação do Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural. A lei estabeleceu destinação de 1% (um por cento) do valor dos produtos agropecuários, a ser recolhido pelo produtor, quando da primeira operação, ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), pois até então não havia sido criada entidade específica para administrar essa contribuição.

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Pode-se dizer, então, que o legislador, ao criar o FUNRURAL, em seus primórdios, trouxe os trabalhadores rurais como segurados obrigatórios e deu a estes um tratamento distinto do segurado urbano. Porém, não foi criada uma entidade que administrasse a contribuição feita pelo trabalhador rurícola, ficando a cargo do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI) prestar os serviços criados pela Lei nº 4.214/63, pois naquele período ainda estava em discussão no Congresso a unificação da Previdência Social para trabalhadores urbanos e rurais.

A lei dividiu os segurados em obrigatórios e facultativos. Classificou como obrigatórios os trabalhadores rurais, os colonos os parceiros, bem como os pequenos proprietários rurais, empreiteiros, tarefeiros e as pessoas físicas que explorem atividades agrícolas, pastoris ou na indústria rural, em caráter temporário ou permanente, diretamente ou através de prepostos, desde que com menos de cinco empregados a seu serviço. A expressão trabalhadores rurais, nesse dispositivo, refere-se apenas a empregados. (BERWANGER, 2015, p. 58).

Estava previsto que o IAPI prestaria serviços aos segurados rurais e seus dependentes, tais como: auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria por velhice, abono de maternidade, assistência médica, assistência à maternidade e auxílio-funeral. Alguns benefícios, porém, foram revistos.

A pequena arrecadação em três anos e a consequente insuficiência de recursos fizeram com que o governo modificasse as prestações a serem abarcadas pela Previdência Social Rural, deixando de manter benefícios como aposentadorias e pensões e restringindo-se à assistência médica. (BERWANGER, 2016, p. 91). É inevitável que, para um instituto recentemente criado e que abarcava uma gigantesca gama de trabalhadores, tais benefícios fossem revistos e adequados dentro do orçamento conseguido com a arrecadação.

O Decreto-Lei 276/67 manteve a mesma contribuição na alíquota de 1% (um por cento) sobre a produção, devida pelo produtor. Contudo o recolhimento não mais seria feito pelo agricultor e sim, pelo adquirente da produção. Trata-se de responsabilidade tributária, constituindo-se o adquirente como responsável pelo cumprimento da obrigação. (BERWANGER, 2016, p. 91-92).

Esse modelo de arrecadação se faz presente até os tempos atuais, sendo que tal prática facilitou não só ao destinatário da contribuição, mas também ao segurado que comercializa sua produção para as empresas, pois este fica livre da parte burocrática.

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De plano, é percebível a incompatibilidade em se garantir o mesmo tratamento para ambas as classes, pois, como será visto posteriormente, o trabalhador rural não dispõe das mesmas condições de trabalho do trabalhador urbano, bem como, nem sua remuneração é feita da mesma forma, pois o fato gerador que enseja a contribuição é diferente do fato gerador do trabalhador urbano e, assim, lhe é dado um tratamento diferenciado quando falado em amparo previdenciário do trabalhador rural. Mas, para assegurar que a contribuição do trabalhador rural fosse recolhida corretamente.

Às empresas transportadoras (rodoviária, ferroviária, marítima ou aérea) foi determinado que não transportassem produtos agropecuários sem a comprovação do recolhimento da contribuição. [...] essa exigência mostrava-se fora da realidade, porque não era possível esperar o recolhimento da contribuição para realizar o transporte, especialmente tratando-se de produtos perecíveis, o que acabaria por ocasionar o seu descumprimento. (BERWANGER, 2016, p. 91).

Mais tarde, o Estatuto do Trabalhador Rural foi revogado pela Lei nº 5.889, de 1973, que atualizou os direitos dos trabalhadores rurais, dando-lhes condições de igualdade com os trabalhadores urbanos, abrangendo o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, Previdência Social, entre outros direitos assegurados, posteriormente, pela Constituição Federal.

Em 1971, surge a Lei Complementar nº 11, de 25 de maio, que instituiu o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (PRORURAL). A execução do PRORURAL ficou a cargo do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), que está diretamente vinculado ao Ministro do Trabalho e Previdência Social. A referida lei também estabelecia os seguintes benefícios: a) aposentadoria por velhice; b) aposentadoria por invalidez; c) pensão; d) auxilio-funeral; e) serviço de saúde; f) serviço social. Tinha como beneficiários os trabalhadores rurais e seus dependentes.

A aposentadoria por velhice era concedida ao trabalhador que completasse 65 anos de idade e que fosse o chefe da família. Este receberia 50% do salário mínimo vigente. Como chefe de família, entendia-se aquele ao qual recaía os cuidados de manter a família, geralmente do sexo masculino, sendo que apenas a mulher gozaria do benefício, no caso de o homem estar em lugar incerto, preso ou interditado. Já a aposentadoria por invalidez era concedida ao trabalhador portador de doença que lhe incapacitasse totalmente para desenvolver a atividade, dependendo de perícia médica para sua concessão. O benefício

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poderia ser revisto até que o segurado completasse 55 anos e caso fosse constatada sua recuperação.

A pensão por morte era concedida no valor de 30% do salário mínimo aos dependentes do trabalhador rural e, divididas em partes iguais. A Lei Complementar nº 16/73 alterou o valor do benefício para 50% do salário mínimo.

O auxílio-funeral era pago em uma única parcela, no valor de 50% do salário mínimo regional e devido, em caso de morte do chefe de família.

Os benefícios instituídos pelo programa do PRORURAL não eram os mesmos que gozavam os trabalhadores urbanos, embora se tenha dado aos segurados especiais inúmeros benefícios que foram trazidos do sistema urbano, alguns ainda ficaram de fora. Os segurados especiais não contaram com a instituição do auxílio-doença, o que deixou esses segurados muito vulneráveis quando acometidos por alguma incapacidade, visto que, totalmente desamparados, não possuíam condições para adquirir medicamentos e, assim, não contavam com uma rápida recuperação, demorando para retornarem às suas atividades. Apenas, em 1987, com a Lei nº 7.604/87, foi instituído tal benefício, juntamente com o benefício do auxílio-reclusão, ambos no valor de 50% do salário mínimo.

Com base na lei complementar que instituiu o PRORURAL,

[...] se criou um sistema totalmente diferente, muito mais tímido e restrito à Lei 4.214/63. Eram protegidos os empregados rurais e produtores em regime de economia familiar, porém a aposentadoria era concedida apenas ao chefe ou arrimo de família. Aos demais, garantia-se apenas a pensão por morte. (BERWANGER, 2016, p. 92).

Com a nova lei, passou-se também a assegurar o trabalhador que desempenha atividades rurais, mas que não é o proprietário da área, como os arrendatários, os meeiros e os que trabalham em sistema de parceria. Como se pode perceber, esse sistema se assemelha à legislação atual, como será visto adiante.

A perda da qualidade de segurado especial, nesse sistema, também era semelhante ao sistema atual, deixando de ser enquadrado como segurado especial o segurado que passasse a desenvolver outra atividade, fora do meio rural.

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O artigo 15 da Lei Complementar nº 11, de 1971, já com a redação dada pela Lei Complementar nº 16, de 1973, estabelecia que o custeio dos benefícios e serviços prestados pelo PRORURAL seria feito pelo trabalhador rural na quantia de 2% (dois por cento) sobre o valor comercial da sua produção e recolhida pela empresa adquirente, ou, se fosse o caso, pelo próprio produtor, quando a venda fosse realizada diretamente ao consumidor final.

A Lei Complementar 11/71 instituiu o “Programa de Assistência ao Trabalhador Rural”, ou seja, deu ao PRORURAL título de assistência. Entretanto, se, por um lado, o Programa previa prestações a todos independentemente de contribuições, por outro, as previu em valor de meio salário. [...] o PRORURAL difere do seguro, não tanto pelo cunho de “assistência” e por não chamar os contribuintes de segurados, quanto por não haver relação direta entre ser contribuinte e beneficiário. Entende-se, assim, que o PRORURAL pode ser tido por um misto de seguro – na medida em que prevê contribuições – e de assistência – por não exigir contribuições para conceder benefícios. (BERWANGER, 2016, p. 93).

Outras alterações foram feitas até a promulgação da Constituição Federal, em 1988, porém algumas mais voltadas ao trabalhador rural empregado e não aqueles compreendidos como segurados especiais. Alguns benefícios também foram instituídos posteriormente à Lei Complementar nº 11/71, como já citado anteriormente, o benefício do auxílio-doença e auxílio-reclusão, contudo, logo adveio a Constituição Federal e, posteriormente, as leis que regulamentaram a Previdência Social, em 1991, que passar-se-á a tratar a seguir.

1.3 O segurado especial na Constituição Federal de 1988 e a legislação posterior

De acordo com Berwanger (2011, p. 53),

A Constituição Federal de 1988 foi concebida num momento histórico de ampliação de direitos, do Estado do Bem-Estar Social, que chegava ao Brasil com atraso. Nesse sentido, a seguridade teve grande relevância, ocupando um espaço mais amplo que nas Constituições anteriores. Tratou-se de inserir na Carta Maior os direitos antes previstos em legislação ordinária, como uma espécie de garantia permanente. Foi com a Constituição Federal de 1988 que o segurado especial conseguiu o tratamento diferenciado que estes trabalhadores deveriam ter, conforme redação dada pelo artigo 195, § 8º:

Art. 195. [...]

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§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. (BRASIL, 1988).

Ficou a cargo da legislação ordinária estabelecer as normas e critérios para aplicação de tal determinação Constitucional.

Embora a Constituição Federal não tenha denominado o segurado especial, contribuiu com os principais elementos para o conceito com o qual a lei veio a instituí-lo como segurado da Previdência Social. Assim, não deixou totalmente a critério do legislador infraconstitucional conceituar segurado especial. (BERWANGER, 2015, p. 149).

É importante mencionar que a Constituição Federal de 1988 assegurou aos trabalhadores rurais a uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços, tanto para os trabalhadores urbanos quanto para os rurais.

Está claro que o Constituinte de 1988 preocupou-se em diferenciar o modelo contributivo entre os urbanos e rurais, pois, como a legislação infraconstitucional anterior dispos, o legislador não estava muito preocupado em tratar em pé de igualdade os trabalhadores rurais e urbanos. Também, não é todo o trabalhador do meio rural que está inserido obrigatoriamente no Regime Geral da Previdência Social, pois o segurado especial engloba, de certa forma, os “mais vulneráveis” que, ao longo desses anos, sofreu com a discriminação legislativa.

A vontade do Constituinte foi de tal forma detalhada que criou uma lógica totalmente diferenciada da tradicional relação tributária-previdenciária dos trabalhadores urbanos, deixando claro, para a efetividade da inclusão dessa população rural, que eram necessárias outras regras, especialmente ampliando o público a ser abrangido. Parece que o Constituinte não confiou que o legislador faria a tão esperada inclusão dos trabalhadores rurais no sistema previdenciário. (BERWANGER, 2015, p. 149).

Garantido tratamento isonômico aos trabalhadores urbanos e rurais, a Constituição Federal de 1988 cuidou, ainda, das peculiaridades dos trabalhadores do campo quando observou a forma diferenciada de contribuição do segurado especial, deixando a cargo da legislação específica determinar o quantum contributivo e os requisitos para a concessão dos benefícios.

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A lei infraconstitucional que regulamentou a Previdência Social no Brasil surgiu três anos após a promulgação da Constituição Federal. Foram aprovadas as Leis nº 8.212/91 e 8.213/91, que organizaram o Sistema de Seguridade Social, o Plano de Custeio e o Plano de Benefícios da Previdência Social.

A Lei nº 8.213/91 passou a tratar o segurado trabalhador rural da mesma forma que o urbano, conforme redação do artigo 12 da referida lei:

Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:

I – Como empregado:

a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado; [...].

Mais tarde, apresentar-se-á mais detalhadamente o empregado rural. Por ora, apenas cabe ressaltar que os benefícios concedidos a este são iguais aos concedidos aos trabalhadores urbanos, porém, com apenas uma diferenciação, a idade para conceção da aposentadoria é de 60 anos, se homem, e 55 anos, se mulher, ou seja, com uma redução de 5 anos como exigência.

Aquele que presta serviços no meio rural, de forma eventual para empresas, sem relação de empregado, foi enquadrado na Lei nº 8.212/91, como autônomo, sendo, mais tarde, qualificado como contribuinte individual, conforme redação dada pelo artigo 12 da Lei nº 9.876/99.

A Lei nº 8.213/91 define segurado especial como:

O produtor, o parceiro, o meeiro, e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxilio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo. (BRASIL, 1991a).

Porém, em 2008, a Previdência Social sofreu algumas alterações pela Lei nº 11.718/08, que, após essas modificações, passou a conceituar o segurado especial da seguinte forma:

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Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:

VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxilio eventual de terceiros, na condição de: a) produtor, seja proprietáritiro, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: 1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; ou

2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2o da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b) pescador artesanal ou a este assemelhado, que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. (BRASIL, 1991a). Até aqui foram duas as mudanças trazidas pela nova lei. A principal mudança foi a limitação da área em até quatro módulos fiscais, sendo que, para a lei anterior, não havia essa limitação. Outra mudança foi a conceituação do regime de economia familiar, descrito da seguinte forma:

Art. 11. [...]

§1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. (BRASIL, 1991a).

Não há, portanto, mais a proibição de contratação de mão-de-obra fora dos períodos de safra. Agora, a nova redação dada ao § 7º, do artigo 11, da Lei nº 8.213/91, prevê expressamente essa possibilidade de contratação em qualquer época, porém ainda precisa ser observado o tempo máximo de que se poderá utilizar essa mão-de-obra. A lei prevê que:

[...];

§ 7º O grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou de trabalhador de que trata a alínea g do inciso V do caput, à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho, não sendo computado nesse prazo o período de afastamento em decorrência da percepção de auxílio-doença. (BRASIL, 1991a).

Alguns anos após as mudanças trazidas pela Lei nº 11.718/08, sobreveio a Medida Provisória 619, que foi convertida na Lei nº 12.873/13 e que também trouxe mudanças para o segurado especial.

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No capítulo seguinte, identifica-se o segurado especial na legislação atual, trazendo conceitos que, ao longo do tempo, foram sofrendo mudanças e se adequando à realidade. Não se pode também deixar de falar da contribuição do segurado especial, que remonta décadas atrás. A aposentadoria do segurado especial também é objeto desse estudo. Tratar-se-á da aposentadoria por idade e da aposentadoria por idade híbrida, ambas possuem um papel importantíssimo na vida do segurado, afinal, todos trabalham para um dia se aposentar.

Novas alterações também surgiram ao longo do tempo. Desde a criação do segurado especial, novas tendências surgiram ao longo dos anos e, consequentemente, a legislação tratou de promover as mudanças necessárias.

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2 IDENTIFICAÇÃO DO SEGURADO ESPECIAL E SEU MODELO CONTRIBUTIVO

Após ter tratado do surgimento do segurado especial na legislação brasileira, passa-se a identificá-lo. A Constituição Federal, bem como a Lei nº 8.213/91, como já dito anteriormente, trouxe o segurado especial como segurado obrigatório, portanto, contribuintes do sistema através do tributo. Isto se dá através do fato gerador, qual seja, a prestação do trabalho remunerado, no caso do empregado rural, ou na comercialização de sua produção, no caso do produtor rural. Para Castro e Lazzari (2016, p. 157),

[...] não há como o empregado (urbano, rural ou doméstico), o trabalhador avulso, o contribuinte individual ou o segurado especial “optarem” por não contribuir, como equivocadamente se diz no ideário popular. A participação no sistema previdenciário, sendo compulsória, acarreta também de modo obrigatório, o pagamento do tributo respectivo – a contribuição incidente sobre os ganhos do trabalho, seja ele assalariado, pago de forma avulsa, decorrente de prestação autônoma de serviço ou, ainda, como produtor rural enquadrado como segurado especial.

O fato gerador que enseja o recolhimento da contribuição do produtor rural ocorre tão somente no momento em que este comercializa sua produção, seja com a exportação de sua produção, varejo, venda para o consumidor pessoa física ou a outro produtor rural. Essa forma de contribuição diferenciada caracteriza o segurado especial, pois a ele não se pode exigir uma contribuição mensal. Muitas vezes, isso estaria fora de seu alcance, visto que se deve considerar os períodos de safra, no caso dos agricultores; da pesca, para os pescadores; engorda de gado, para os pecuaristas etc., o que não ocorre em todas as épocas do ano.

2.1 Caracterização do segurado especial e seu modelo contributivo

Caracteriza-se como segurado especial aquele descrito no artigo 11, VII da Lei 8.213/91, como já citado no capítulo anterior, devendo, ainda, residir em imóvel rural próprio (ou de terceiros, que irá se utilizar da área por meio de contratos, seja de parceria, meação, comodato ou arrendamento) ou em aglomerado urbano e rural, individualmente ou em regime de economia familiar, podendo se valer de auxílio eventual de terceiros, de forma temporária. Portanto, estão inseridos no conceito do segurado especial aqueles que desenvolvem atividade rural, compreendidos como “[...] pessoa que, sendo proprietária ou não, desenvolve atividade agro-pastoril ou hortifrutigranjeira por conta própria, individualmente ou em regime de economia familiar.” (MARTINS, 2016, p. 178).

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Nesse sentido, Berwanger (2011, p. 94) diz que:

[...] não há qualquer amparo legal para descaracterizar o segurado especial pela área ou pela quantidade de produção. Ora, isso se justifica porque em uma área de extensão maior podem estar produzindo várias famílias, conjuntamente, e, por outro lado, em uma área menor, pode, eventualmente, existir a participação de empregados em número significativo. Ou seja, além da falta de previsão legal, a utilização desses critérios pela Jurisprudência demonstra desconhecimento da realidade.

Berwanger (2015, p. 177) justifica a citação acima da seguinte forma:

A quantidade ou valor da produção agrícola não devem mesmo ser considerados na análise da condição de segurado especial. Primeiro, porque isso afronta o princípio da legalidade, pois não são critérios expressos na legislação. Não se deve estabelecer regras para o caso concreto, pois, se assim fossem, cada um, quer seja servidor do INSS, administrativamente, ou juiz, em caso de processo judicial, traçaria os limites que entenderia, dentro ou fora conceito de regime de economia familiar. Segundo, porque a produção seria um critério relativo. Se a quantidade de produção for elevada e o preço não for bom, a renda será baixa. Se o custo do plantio e cultivo for elevado, a rentabilidade é pequena. Um conceito jurídico não pode conter elementos subjetivos e variáveis, de modo que provoque a perda de sua unidade.

Ainda, dentro do conceito de segurado especial, existem aqueles que exercem atividades por meio de contrato de parceria e meação, que, na concepção de Martins (2016, p. 178),

Parceiro é a pessoa que celebra um contrato com o proprietário da terra ou dos animais, desenvolvendo a atividade agropecuária, dividindo os lucros de seu mister com o proprietário do imóvel na proporção estipulada no contrato. Meeiro é a pessoa que pactua com o proprietário da terra um contrato de meação para a consecução de atividade agropecuária, partilhando os rendimentos obtidos.

O parceiro e o meeiro se distinguem pela divisão da obtenção dos lucros e rendimentos. “O rendimento tem acepção mais ampla que lucro, que é o resultado positivo obtido no exercício. [...] O lucro compreende não tudo o que foi recebido, mas apenas o resultado do período menos as despesas incorridas.” (MARTINS, 2016, p. 178).

Além daqueles que exploram atividades por meio de contratos de meação e parceria, existem aqueles que arrendam propriedades de terceiros para exploração. Martins (2016, p. 178) descreve como: “a pessoa que usa a propriedade pagando um aluguel ao proprietário do imóvel rural, para desenvolver atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira.”

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Também não se pode deixar de citar aqueles que desenvolvem atividade, utilizando-se da propriedade pertencente a terceiros através do comodato, de forma gratuita, por tempo determinado ou determinado.

Por último, há de se falar do pescador artesanal e assemelhados. Martins (2016, p. 178) define da seguinte maneira:

O pescador artesanal é aquele que tem por atividade a pesca, mediante recursos rudimentares, para obter subsistência. Pode ter ou não embarcação própria, de até duas toneladas brutas, fazendo da pesca sua própria profissão habitual ou meio de vida, estando matriculado na Capitania dos Portos e no Instituto do Meio Ambiente (Ibama). São assemelhados ao pescador artesanal: o mariscador, o caranguejeiro, o eviscador (limpador de pescado), o observador de cardumes, o pescador de tartarugas e o catador de algas. São considerados segurados especiais, como assemelhados: o faiscador, o catador e o seringueiro.

O segurado especial, para manter essa condição, deverá exercer suas atividades individualmente ou em regime de economia familiar. O conceito de economia familiar pode ser obtido na própria legislação, no artigo 11, § 1º, da Lei nº 8.213/91, como:

[...] a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável a própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconómico do núcleo familiar é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. (BRASIL, 1991a).

O grupo familiar pode ser composto pelo cônjuge ou companheiro, pelos filhos maiores de 16 (dezesseis) anos e os equiparados a filho, inscritos junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), bem como, o enteado maior de 16 (dezesseis) anos, que deverão ter participação ativa nas atividades rurais do grupo familiar.

É importante frisar que a Lei nº 11.718/08 permitiu ao grupo familiar contratar mão- de-obra por prazo determinado, sendo permitido, no máximo, 120 (cento e vinte) pessoas/dias por ano e independente do período trabalhado, seja corrido ou intercalado.

A Lei 8.213/91 também estabeleceu situações que não descaracteriza o segurado especial dessa condição, trazendo, em seu artigo 11, § 8º, incisos I a VII, tais hipóteses.

A primeira hipóte, inciso I, garante a qualidade de segurado especial ao trabalhador que realize:

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[...].

I – a outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meação ou comodato, de até 50% (cinquenta por cento) de imóvel rural cuja área total não seja superior a 4 (quatro) módulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individualmente ou em regime de economia familiar. (BRASIL, 1991a).

Aqui, está se tratando do proprietário que deixa de explorar parte de sua propriedade e a cede para terceiro, seja por contrato de parceria, meação, arrendamento ou comodato. Para manter ainda a qualidade de segurado especial, este precisa continuar explorando, ao menos, 50% (cinquenta por cento) do imóvel que lhe restou, devendo comprovar sua atividade.

O inciso II permite “a exploração da atividade turística da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por não mais de 120 (cento e vinte) dias ao ano.” (BRASIL, 1991a).

O inciso II é claro e objetivo quando trata da atividade turística. Assim, segundo Berwanger (2015, p. 211), “Entendemos que a intenção do legislador é preservar a predominância da atividade agrícola sobre a turística, e assim, manter a essência do conceito de segurado especial, que é exercício da atividade rural em regime de economia familiar”. Já o inciso III traz “a participação em plano de previdência complementar instituído por entidade classista a que seja associado em razão da condição de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar.” (BRASIL, 1991a).

A participação em planos de previdência privada vem ganhando incentivo do Governo Federal. Dessa forma, “O Governo Federal vem promovendo, há alguns anos, a instituição de planos de previdência complementar, quer seja através de incentivos fiscais como de programas de educação previdenciária.” (BERWANGER, 2015, p. 211).

A quarta hipótese, prevista no inciso IV, é a do segurado “ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar que tenha algum componente que seja beneficiário de programa assistencial oficial de governo.” (BRASIL, 1991a).

Se, por um lado, a lei está ampliando o conceito de subsistência para desenvolvimento socioeconômico do grupo familiar, [...] não está excluindo aqueles que ainda precisam de programas assistenciais, inclusive porque essas políticas de inclusão objetivam não somente dar dignidade a essas pessoas que vivem em miséria, mas também transformá-los agricultores com condições de se sustentar e de produzir excedente. (BERWANGER, 2015, p. 216-217).

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Santos (2016, p. 194) simplifica a quinta hipótese trazida no inciso V, artigo 11, § 8º, da Lei nº 8.213/91, o qual remete ao § 11, artigo 25, da Lei nº 8.212/91 da seguinte forma:

[...] a utilização pelo próprio grupo familiar, na exploração da atividade, de processo de beneficiamento ou industrialização artesanal realizado diretamente pelo próprio produtor rural pessoa física, desde que não esteja sujeito à incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Mantém ainda a qualidade de segurado especial o segurado que se associar em cooperativa agropecuária ou de crédito rural, conforme a nova redação dada pelo inciso VI, § 8º, artigo 11, da Lei nº 8.213/91, que foi alterada pela Lei nº 13.183/15, a qual, anteriormente, previa apenas a associação em cooperativa agropecuária, deixando de fora a associação em cooperativa de crédito rural.

Por fim, o inciso VII, incluído pela Lei nº 12.873/13, que diz respeito à incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI sobre o produto das atividades desenvolvidas quando

o segurado especial participar em sociedade empresária, em sociedade simples, como empresário individual ou como titular de empresa individual de responsabilidade limitada de objeto ou âmbito agrícola, agroindustrial ou agroturístico, considerada microempresa nos termos da Lei Complementar n. 123/2006, desde que, mantido o exercício da sua atividade rural como segurado especial, a pessoa jurídica componha-se apenas de segurados especiais e tenha sede no mesmo Município ou em Município limítrofe àquele em que eles desenvolvam suas atividades. (SANTOS, 2016, p. 195).

Além das hipóteses do § 8º, artigo 11, da Lei nº 8.213/91, há situações em que o segurado poderá auferir renda através de outros rendimentos, sem perder a condição de segurado especial. Essas hipóteses também estão contidas no artigo 11 da referida lei, em seu § 9º, incisos I a VIII. Assim, a redação do § 9º prevê a perda da qualidade de segurado especial o membro familiar que possuir outra fonte de renda, exceto se oriunda de:

1. benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não supere o do menor benefício de prestação continuada da Previdência Social.

2. benefício previdenciário pela participação em plano de previdência complementar instituído nos termos do inciso IV do § 8º do artigo 11 da Lei nº 8.213/91

3. exercício de atividade remunerada em período não superior a 120 (cento e vinte) dias, corridos ou intercalados, no ano civil, observado o disposto no § 13 do artigo 12 da Lei nº 8.212.

4. exercício de mandato eletivo de dirigente sindical de organização da categoria de trabalhadores rurais

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5. exercício de mandato de vereador do Município em que desenvolve a atividade rural ou de dirigente de cooperativa rural constituída, exclusivamente, por segurados especiais.

6. parceria ou meação outorgada na forma e condições estabelecidas no inciso I do § 8º do artigo 11 da Lei nº 8.213/91.

7. atividade artesanal desenvolvida com matéria-prima produzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser utilizada matéria-prima de outra origem, desde que a renda mensal obtida na atividade não exceda ao menor benefício de prestação continuada da Previdência Social.

8. atividade artística, desde que em valor mensal inferior ao menor benefício de prestação continuada da Previdência Social. (BRASIL, 1991a).

Como se pode perceber, o segurado especial é caracterizado, principalmente, como trabalhador rural que trabalha em regime de economia familiar.

A Constituição Federal, ainda, em seu § 8º, artigo 195, autorizou a União a instituir o tributo sobre a produção do produtor rural, tendo a Lei nº 8.212/91 usado critérios semelhantes à Lei Complementar nº 11/71 quando esta instituiu o FUNRURAL.

O artigo 25 da Lei nº 8.212/91, que regula o custeio da Previdência Social através da contribuição do empregador rural e do segurado especial, prevê que contribuição se dará da seguinte forma:

Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial, referidos, respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei, destinada à Seguridade Social, é de:

I - 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção;

II - 0,1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção para financiamento das prestações por acidente do trabalho. (BRASIL, 1991b).

O percentual adotado de 2% remonta desde a instituição do FUNRURAL, em 1971, e é adotado até os dias atuais, porém, a Medida Provisória nº 793, de 31 de julho de 2017, alterou a alíquota prevista no inciso I, artigo 25, da Lei nº 8.212/91, que passará a exigir, em 01 de janeiro de 2018, 1,2% da receita bruta da comercialização da produção do produtor rural.

Para fins de contribuição, por produção entende-se que: Art 25.

[...]

§ 3º Integram a produção, para os efeitos deste artigo, os produtos de origem animal ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou industrialização rudimentar, assim, compreendidos, entre outros, os processos de

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lavagem, limpeza, descaroçamento, pilagem, descascamento, lenhamento, pasteurização, resfriamento, secagem, fermentação, embalagem, cristalização, fundição, carvoejamento, cozimento, destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduos obtidos através desses processos. (BRASIL, 1991b). Os produtos e as formas de beneficiamento da produção rural, contidos no § 3º da Lei 8212/91, não são taxativos. A lei permite que sejam utilizadas, também, outras formas de beneficiamento. Assim, o referido parágrafo possui ampla interpretação, podendo serem compreendidas outras formas de beneficiamento da produção rural, como por exemplo, os produtos de origem animal, que englobam, além do animal in natura, produtos como o leite e os ovos. Embutidos e derivados de leite são subprodutos que também devem compreender a produção rural.

Como processos de beneficiamento, Berwanger (2015, p. 330) destaca que:

Compreendem-se como processos de beneficiamento e industrialização rudimentar de produtos de origem vegetal descascamento (de arroz, por exemplo), descaroçamento (retirada de caroço de um produto rural) e cristalização (de frutas), lenhamento (corte de lenha) e carvoejamento (produção de carvão) de árvores plantadas, moagem, secagem de cereais (soja, milho, ...), lavagem (da batata, por exemplo, em que se retira fragmentos de terra), limpeza e embalagem de hortifrutigranjeiros, pilagem e torrefação de café. A fermentação é processo utilizado para fabricação de pães e assemelhados, obtidos a partir da farinha (que é produto de origem vegetal).

O critério abordado anteriormente diz respeito ao critério material, que nada mais é que a produção do segurado especial, abrangida por todos os produtos imagináveis que possam ser extraídos da terra no meio rural.

Outro critério que se leva em conta para determinar a contribuição do segurado especial é o critério espacial, que estabelece os locais em que o fato deve ocorrer. Para determinar o critério espacial, a lei é bem genérica, não especificando local exato ou área específica para sua ocorrência. Para tanto, basta que ocorra a venda da produção. Já o critério temporal aduz que o fato jurídico gerador da contribuição se dará no momento da entrega da produção, e a respectiva emissão de nota de compra e venda. Porém, esses momentos nem sempre ocorrem de forma conjunta, podendo a entrega ocorrer muito tempo antes da comercialização final, já que é pratica costumeira na agricultura a entrega da produção pelo produtor para que sua produção seja armazenada em cooperativas e demais cerealistas do ramo.

(35)

Berwanger (2015, p. 335) exemplifica o critério temporal da seguinte forma:

[...] como exemplo, a venda de seja, um dos produtos agrícolas mais cultivados no Brasil. Se na colheita o produtor constata que o valor de mercado está baixo da sua expectativa, ou até mesmo não necessita do dinheiro para pagar as despesas de custeio, pode optar pela entrega do produto na empresa adquirente, mas não efetuar a venda, ainda. Mais tarde, quando precisa, solicita que seja realizada a operação de compra-e-venda, com o pagamento do valor de mercado, e é esse pagamento que caracteriza o critério temporal do tributo, gerando a obrigação tributária.

Além dos critérios citados, há o critério pessoal, que diz respeito ao sujeito ativo e passivo da contribuição. Neste caso, a responsabilidade de arrecadar a contribuição previdenciária recai sobre inúmeras pessoas, incluindo o próprio segurado especial.

O artigo 30, da Lei nº 8.212/91, dispõe sobre alguns sujeitos passivos dessa relação, quais sejam:

Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas:

[...]

III - a empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa são obrigadas a recolher a contribuição de que trata o art. 25 até o dia 20 (vinte) do mês subsequente ao da operação de venda ou consignação da produção, independentemente de essas operações terem sido realizadas diretamente com o produtor ou com intermediário pessoa física, na forma estabelecida em regulamento; IV - a empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa ficam sub-rogadas nas obrigações da pessoa física de que trata a alínea "a" do inciso V do art. 12 e do segurado especial pelo cumprimento das obrigações do art. 25 desta Lei, independentemente de as operações de venda ou consignação terem sido realizadas diretamente com o produtor ou com intermediário pessoa física, exceto no caso do inciso X deste artigo, na forma estabelecida em regulamento;

[...]

X - a pessoa física de que trata a alínea "a" do inciso V do art. 12 e o segurado especial são obrigados a recolher a contribuição de que trata o art. 25 desta Lei no prazo estabelecido no inciso III deste artigo, caso comercializem a sua produção: a) no exterior;

b) diretamente, no varejo, ao consumidor pessoa física;

c) à pessoa física de que trata a alínea "a" do inciso V do art. 12; d) ao segurado especial;

[...]. (BRASIL, 1991b).

As empresas ou cooperativas adquirentes de que trata os incisos III e IV são obrigadas a proceder o recolhimento da contribuição e somente estas responderão pela importância recolhida irregularmente, não podendo recair tais obrigações sobre o segurado especial, caso a empresa deixe de recolher a contribuição, pois, nestes casos, a empresa ou cooperativa são os sujeitos passivos do tributo e as únicas responsáveis pela arrecadação deste, responsabilidade

Referências

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