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e, se o céu está plácido, a colheita é feita quase num só dia.

5.2 Adequação do desenvolvimento sustentável ao Nordeste

As idéias e propostas nascidas na Conferência Internacional sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semi-Áridas – ICID103, realizada em Fortaleza em 1992, tornaram-se um marco metodológico referencial para a elaboração das políticas públicas que versam sobre o modelo de desenvolvimento sustentável.

O evento de Fortaleza, assim como o seu produto final – o Projeto Áridas - foi aos poucos desencadeando na sociedade local e regional o novo modelo, que precisava se estabelecer em bases sustentáveis do ponto de vista

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Uma das reuniões preparatórias da Conferência Rio-92. A Conferência Internacional sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semi-Áridas – ICID desencadeia uma série de outras Conferências no Nordeste e implementa o Projeto Áridas, que propõe mudanças nos rumos do desenvolvimento, com vistas à redução da pobreza e à melhoria da qualidade de vida. A Conferência foi divulgada internacionalmente e envolveu desde o Ministério das Relações Exteriores, até os meios acadêmicos. A ICID contou com a cooperação técnica, de instituições como: Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - IPEA, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, Secretaria de Ciência e Tecnologia - MCT, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, Universidade Federal do Ceará, Museu Emílio Goeldi e a Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ. Estas Instituições foram responsáveis por organizar os grupos de trabalho que trataram dos estudos de casos brasileiros. Foram mais de 1000 participantes de 45 países discutindo os aspectos relativos aos problemas climáticos, sociais e de desenvolvimento sustentável das principais regiões semi-áridas do planeta. Seus principais resultados constituíram a Declaração de Fortaleza. Estes documentos foram encaminhados à Rio'92, com vistas a subsidiar as discussões relevantes sobre as regiões semi-áridas. VER: Fundação Grupo Esquel Brasil na home Page: http://www.rebidia.org.br/esquel/esquel.htm

social, econômico e ambiental se desdobrando em condições para maior flexibilidade e descentralização.

A idéia surgida na Conferência foi se corporificando e sendo introjetada por pesquisadores, professores, formuladores de políticas públicas e organizações, além dos governos estaduais, inicialmente os do Ceará e Bahia, através das suas secretarias.

O Projeto Áridas se consolidou como um programa de trabalho que envolveu parcerias de entidades públicas e privadas e técnicos do país e estrangeiros, cuja pretensão era identificar instrumentos que viessem, de forma definitiva, erradicar a pobreza e garantir o desenvolvimento sustentável. A metodologia do projeto se propunha a avaliar a sensibilidade da economia regional à variabilidade climática, bem como identificar os impactos sobre a agropecuária, os recursos hídricos e seus usos, a oferta e a demanda de energia, os diversos tipos de unidades de produção agrícola e outros empreendimentos dependentes do clima e dos recursos hídricos (Projeto Áridas, 1993).

A meta de construir estratégias de desenvolvimento para o Nordeste foi aos poucos fornecendo subsídios para a elaboração dos planos estaduais de desenvolvimento sustentável e ainda, fortalecendo o discurso da descentralização e da gestão participativa. Para esta última, os projetos precisavam integrar-se efetivamente às comunidades, consultando-as de forma permanente para conhecer e incorporar as suas percepções e demandas, estabelecendo os meios necessários para que a mesma participasse da implementação das medidas propostas.

Adota-se a consciência de que a nova política territorial impõe diferente significado à presença da sociedade civil, que é convocada a participar da gestão do território.

Além da ênfase no poder local, o Áridas destaca a importância das dinâmicas sociais e econômicas específicas dos diversos tipos de comunidades a serem envolvidas no Projeto (ibid, 1993). Neste específico, subscreve-se a manifestação do caráter empreendedor da comunidade.

No caso do estado do Ceará, em 1995, o governo Tasso Jereissati apresentou à sociedade o Plano de Desenvolvimento Sustentável para o período 1995-1998, cujas bases foram formuladas como uma experiência piloto

a partir do Projeto Áridas. Destaca-se que o papel do Estado deveria ser muito mais de colaborador e incentivador das iniciativas do setor privado, das comunidades e dos governos municipais, do que um papel de realizador de políticas. Por essa abordagem, a capacidade de realização dos projetos pode ser potencializada, à medida que o Estado se torna capaz de induzir ações de outros agentes da sociedade, mais como um incentivador do que como um executor (Ibid).

No plano de governo deste estado para os anos de 2003-2006 dá-se ênfase à organização das comunidades rurais. O documento assinala que a promoção da organização dos produtores rurais e da sociedade local dará maior efetividade e eficiência às ações do governo.

A construção de parcerias em prol do desenvolvimento rural, contempladas em planos municipais e aprovadas pelos Conselhos locais e por outros agentes públicos e da sociedade civil representa a contrapartida dos parceiros às iniciativas do Estado.

O aspecto importante a ser considerado a partir do Áridas é que sua consolidação como referencial metodológico para as estratégias de desenvolvimento regional no Nordeste norteou diferentes planos de governos estaduais e municipais no Brasil afora, nos marcos do desenvolvimento sustentável, apoiados pelas agências multilaterais de financiamento e ‘cooperação’. A proposta de realização das diretrizes do desenvolvimento sustentável foi se expressando em metas, ações, empreendimentos, que podem ser constatadas em diferentes programas e políticas públicas.

Dentro dessa modalidade, para responder a legitimidade do discurso do desenvolvimento local sustentável, optamos por continuar o estudo dos projetos apoiados pelo Programa de Combate à Pobreza Rural do Banco Mundial (PCPR), que será apresentado a seguir. Para tanto, considera-se que embora o PCPR tenha sido pensado como programa compensatório, quando se materializa em projetos específicos, suas ações, de acordo com os planos de governo vêm garantir apoio ao desenvolvimento sustentável104.

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Por sua vez, nota-se o uso do termo sustentável de forma generalizada nas políticas públicas de assistência aos pobres, como uma estratégia capaz de gerar consenso junto à sociedade civil.

5.3 O Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR): o lugar da