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Brasília 0 50km Sede do Município Comunidade

Sergipe

Brasil

Fonte: http://mapas.ibge.gov.br/divisão/viewer.htm (adaptado)

Foram observados três projetos, sendo dois de construção de sanitários domiciliares e um de construção de um centro de múltiplo uso. Nos projetos em Pernambuco, nota-se que a prioridade dos recursos é para o atendimento a infra-estrutura básica. A ênfase é dada à construção de banheiros domiciliares

e de prédios para as Associações Comunitárias Rurais que na especificidade da comunidade Estancinha, recebe o nome de Centro de Múltiplo Uso.

Evidentemente, não se pode deixar de salientar que apenas os estados brasileiros incluídos na histórica zona de pobreza (o Nordeste árido) são contemplados com o PCPR. Atualmente estão utilizando os recursos desse programa os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Bahia, e ainda o estado de Minas Gerais, por sua inserção na zona árida, considerada pobre.

A definição das localidades visitadas nos três estados (Ceará, Pernambuco e Sergipe) foi feita a partir da leitura realizada sobre o Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR) nestes estados. Nas leituras sobre este programa identificou-se que os projetos territorializados são as principais referências das ações do PCPR, fato comprovado e reforçado pelos representantes das Secretarias, os responsáveis pela administração do PCPR, assim como pelos representantes das Empresas de Consultorias que atuam junto aos programas.

As entrevistas desenvolvidas foram realizadas com gestores do programa, tanto nas Secretarias de Governo dos três estados, como nas Empresas de Consultorias. Foram também realizadas entrevistas nos órgãos gestores nos municípios (Conselhos de Desenvolvimento Sustentável ou Conselho de Desenvolvimento Municipal e Associações) assim como nas próprias comunidades. Nas comunidades, as entrevistas nem sempre seguiram o roteiro previamente elaborado, pois a realidade, no dizer de Tompson (1995) exigiu do pesquisador alguma forma de convivência com a realidade. Esta percepção não reduziu o valor das entrevistas formais, sempre úteis para a aquisição de dados gerais, mas permitiu constatar que é preciso ir sempre muito além dela.

Os questionários foram elaborados de maneira diferenciada, por tipo de Projeto financiado pelo PCPR. Foi aplicado o mesmo modelo de questionário para os moradores beneficiados com projetos de aglomerações produtivas, como nos casos do Arranjo Produtivo Local de cajucultura no Ceará e da Agroindústria de fitoterápicos em Pernambuco. Um segundo modelo de questionário foi aplicado nas comunidades atendidas com infra-estrutura básica, tendo sido visitadas duas comunidades em Sergipe, as comunidades

Brasília e Estancinha no município de Lagarto e uma no estado de Pernambuco, a comunidade Engenho Diamante no município de Palmares.

Além dos trabalhadores do campo, que buscam nas Associações Rurais uma saída para a viabilização das suas conquistas, foram realizadas entrevistas junto às Unidades Técnicas que administram e acompanham as atividades das Associações. São elas: o Projeto São José/CE, o Projeto Renascer/PE e o Projeto Santa Maria/SE7.

Foram também realizados levantamentos junto aos acervos públicos, em documentos das Associações, tanto nas comunidades, como nas Unidades Técnicas e ainda nas Secretarias de Governo e em Cartórios.

Como a riqueza subjetiva é algo não linear e contraditório, o contexto social e histórico não pôde ser visto apenas como um enfeite eventual, mas como constitutivo de sua gênese, uma vez que é o próprio contexto histórico em ocorrência no mundo, no país e na região, cujo sentido é dado pelo estágio do desenvolvimento capitalista, que explica a realidade dos atores sociais e as políticas para eles determinadas.

Neste estudo, a dialética se apresenta como um instrumento de reflexão teórico-prática, colocada para que a realidade aparente possa ser superada, pois se acredita, assim como Henri Lefebvre, que o sujeito e o objeto “age e reage continuamente um sobre o outro; eu ajo sobre coisas, exploro-as, experimento-as; elas resistem ou cedem à minha ação, revelam-se; eu as conheço e aprendo a conhecê-las” (1975, p. 49).

A interpretação da realidade a partir da postura dialética abre uma nova perspectiva para a Geografia. Rompe-se com a postura positivista do desenvolvimento linear desenvolvida pelos clássicos, sem correspondência com a totalidade das relações. O materialismo dialético permite orientar o pensamento para a ação, num esforço de compreender o conteúdo teórico da sociedade em seu processo contraditório de humanização/desumanização do homem em suas condições concretas de existência. A sociedade não é passiva

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No estado do Ceará, a Unidade Técnica Projeto São José está na Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional (SDLR); em Pernambuco, o Projeto Renascer é parte da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania, e em Sergipe, a Unidade Técnica, Projeto Santa Maria é administrado pela Empresa de Desenvolvimento Sustentável do estado de Sergipe. As Unidades Técnicas e seus respectivos projetos financiados com recursos do PCPR estão alocados em diferentes secretarias nos seus respectivos estados.

diante da natureza: existe um processo dialético entre ambas que reproduz, constantemente, espaço e sociedade. Nesse sentido o espaço é humano, não porque o homem o habita, mas porque o produz. Um produto desigual e contraditório. Por sua vez, o homem é visto enquanto sujeito no processo histórico e não mais como membro de uma coletividade, integrante de um grupo homogêneo (CARLOS, 2002).

E, se a lógica formal se mostra insuficiente para esta tarefa, parece possível buscá-la pelo caminho das contradições. Nesse caminho, a investigação indica que para pensar a realidade é preciso refletir sobre ela até chegar ao concreto, que é uma compreensão mais elaborada do objeto. O objeto, por sua vez, deve ser apresentado conforme sua própria dinâmica, ou seja, no seu movimento. Isso porque a matéria em movimento é a base de tudo o que existe e “todo pensamento verdadeiro é pensamento de um movimento, de um devir” (ibid, p. 90).

Ao apresentar a realidade social construída pela espacialização das relações sociais, a Geografia deve contribuir para um projeto político emancipatório. Para Harvey (2004), não há sentido em permitir que a sociedade se renda ao “utopismo degenerado do neoliberalismo” e ao poder do capitalismo de elaborar a sua auto-reprodução.

O homem, inserido na sociedade de classes, encontra-se imerso nas contradições dessa sociedade e sua condição o obriga a assumir o papel de sujeito no processo histórico do qual é parte. É preciso que ele tome o papel de sujeito social e histórico “que produz o mundo e a si próprio, num processo amplo de reprodução, ultrapassando a mera reprodução biológica e material” (CARLOS, 2002, p. 165). O homem pensado assim, não é apenas o sujeito que ocupa espaço e sim aquele que o produz, reproduz e deve transformá-lo, humanizando-o, como assinala Lefebvre, para quem “a verdadeira superação é obtida não através da amortização das diferenças (entre as doutrinas e as idéias), mas, ao contrário, aguçando essas diferenças” (1975, p. 229).

Faz-se crer, desse modo, que as políticas públicas que tendem (na sua concepção e prática) a apenas reforçar e consolidar as forças de mercado, sem levar em conta a presença de um contexto heterogêneo e desigual, podem dar lugar a impactos negativos sobre as condições de vida e de trabalho da

população, notadamente nas regiões mais atrasadas tradicionais e de ‘menor capacidade de competitividade’.

Com o objetivo de produzir um quadro de reflexão sobre o discurso do desenvolvimento, implícito nas políticas de desenvolvimento regional no Nordeste, este estudo trás o debate sobre a ideologia do discurso do desenvolvimento que garante a espacialização de políticas públicas sem, no entanto, apresentar uma sustentação empírica de um estado de bem-estar para as populações.

Para a crítica deste discurso e dos seus desdobramentos no espaço foram traçados quatro capítulos. O primeiro retoma a questão dos pressupostos fundamentais do desenvolvimento, discutindo o crescimento econômico como o núcleo fundante desta ideologia. A questão que orienta o capítulo indaga a possibilidade de equilíbrio da economia capitalista mundial a partir da superação dos desajustes do subdesenvolvimento, que é concebido por nós, na sua relação com o desenvolvimento, como uma unidade de contrários. O segundo examina o pensamento social que elaborou a região Nordeste e o sentido da questão regional na sua funcionalidade para a inserção dessa região no circuito do capital. O terceiro discute o processo histórico-social que faz do Banco Mundial a instituição chave do ajuste estrutural e o papel dele enquanto construtor da ideologia do desenvolvimento local sustentável, que no contexto da realidade estudada expressa o uso do território para a exploração capitalista como manifestação do desenvolvimento regional, no momento atual da acumulação. O quarto e último capítulo situa as políticas de alívio à pobreza ou desenvolvimento regional como políticas instrumentais para operar as contradições da exclusão estrutural engendradas pelo processo de mundialização do capital.

Enfim, o aprofundamento do movimento dialético entre a teoria e a prática de campo, vivenciada sobremodo por quem conviveu no espaço lugar produzido pela política estatal para a reprodução do capital, possibilitou sustentar a utopia do pensar para além do capital e tecer as nossas Considerações Finais.

2. A trajetória do discurso do desenvolvimento e sua inserção

no modelo da economia brasileira

É urgente,