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Na perspectiva de compreender o processo de evolução da prática da administração escolar no contexto da educação brasileira são resgatados alguns aspectos referentes à sua trajetória enquanto exercício profissional e campo disciplinar, objetivando oferecer uma compreensão mais aprofundada sobre o seu processo de evolução.

Segundo Catani e Gilioli (2004, p.95) José Querino Ribeiro e sua equipe afirmaram no Simpósio Interamericano de Administração Escolar realizado em Brasília no ano de 1969, que a expressão administração escolar foi utilizada pela primeira vez na nossa história, nos pareceres e projetos escritos por Rui Barbosa em 1883, e que, somente cinqüenta anos depois, em 1933, o manifesto dos pioneiros da escola nova a menciona com um significado mais adequado.

O manifesto dos pioneiros aponta como um dos problemas da educação da época que esse foi escrito, a falta de planos e iniciativas que determinassem as bases filosóficas e sociais da educação, a inexistência de organização escolar, e a ausência de espírito filosófico e científico na resolução dos problemas da administração escolar.

É com a reforma do ensino do Distrito Federal iniciada por Anísio Teixeira em 1933, incluindo a Administração Escolar no currículo do curso pedagógico do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, que a administração escolar começa a ter o status de disciplina teórica.

Com a criação da Universidade do Brasil em 1939, a disciplina administração escolar é incluída no curso de pedagogia da faculdade de filosofia e, em 1943, a administração escolar como disciplina passou a integrar o curso especializado de administradores escolares do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo, a qual teve como seu primeiro professor Roldão Lopes de Barros, que introduziu as idéias de Fayol nos estudos de administração escolar (cf. CATANI e GILIOLI, 2004).

Em 1953 foi realizado o primeiro concurso para ocupar a cátedra de administração escolar da Universidade de São Paulo ao mesmo tempo em que a disciplina administração e legislação escolar faziam parte do grupo das disciplinas que deveriam ser estudadas pelos que optaram pelo curso destinado a formação de diretores e inspetores de ensino primário.

Como se pode perceber, o curso de administração escolar começou a ser organizado no Brasil, na década de 1930, e até 1950 os administradores escolares não eram habilitados para a função, e só em 1960 algumas universidades estabelecem centros de estudos para administração escolar (cf. CATANI e GILIOLI,2004, p.101).

O caminho percorrido pela Administração Escolar no Brasil está intimamente ligado a experiência da criação da disciplina de administração escolar dos cursos de pedagogia nas faculdades de filosofia, cujos desafios, estavam situados na perspectiva de construção de um campo teórico disciplinar com o propósito de preparar profissionais para exercerem a função de diretores de escolas.

Os professores da disciplina Administração Escolares pertencentes às várias faculdades de filosofia, tiveram um papel importantíssimo na construção, definição e demarcação de seu campo teórico disciplinar, marcadamente técnico e de caráter tecnicista.

As funções de diretores escolares, até o início da década de 1960 do século passado eram ocupadas por professores, com a tendência da massificação da educação, nesta mesma década, aumenta a demanda de profissionais preparados para exercerem essas funções denominadas à época de burocráticas (cf. CATANI e GILIOLI, 2004).

Entre os tantos fatores que impulsionaram o crescimento da administração escolar no Brasil na década de 1960, pode-se destacar o propósito de atender o maior acesso da população a escola. Diante de tal desafio, acreditava-se que a ampliação do então sistema escolar brasileiro passava pela incrementação da administração escolar, para tanto, seria adaptados conhecimentos da administração geral para administração escolar, de modo que, dessa forma se promoveria a racionalização no sistema escolar brasileiro, ou seja, buscava-se resolver um problema de natureza político educacional, pois se tratava da ampliação da oferta do ensino, com soluções técnicas, importadas da administração geral.

A idéia era preparar administradores escolares para suprirem as supostas deficiências dos professores, uma vez que não conseguiam preparar professores em quantidade e qualidade suficientes para atenderem as necessidades educacionais do momento. Como se ver, buscava- se resolver um problema através de soluções inadequadas; não dando a administração escolar, nem ao professor o seu lugar merecido, além do que, por mais bem preparado que seja um administrador escolar, não é tarefa sua suprir as deficiências do sistema educacional, como estava posto à época.

Na década de 1960, aconteceram quatro simpósios brasileiros e um simpósio Interamericano de Administração Escolar que serviram de marco histórico e teórico para este campo no Brasil. Esses simpósios representaram grandes esforços no sentido de definir a

administração escolar, a partir da administração geral, como pode ver na afirmação de Querino Ribeiro, (1962, p.41), citado por Catani e Gilioli (2004, p.25), ao referir-se a administração escolar: „[...] chegamos à conclusão que administração mesmo, especificamente no seu sentido mais moderno, resume-se em: planejamento, organização, assistência à execução, avaliação de resultados e prestação de contas ou relatórios [...]‟.

Pode-se observar nessa compreensão de administração escolar, alem de uma visão que reduz a administração a aspectos meramente burocráticos; a presença de elementos comuns à administração geral ou clássica. No entanto, alguns desses elementos foram incorporados a novas concepções e prática de administração escolar ao longo das últimas décadas, todavia, novos elementos também vêm sendo agregados às novas concepções de administração escolar, como a preocupação com a melhoria da qualidade do ensino, com o acesso a escola por parte das camadas populares. O advento da participação dos membros da escola nas suas decisões a partir da promulgação da Constituição de 1988 contribui para uma atmosfera propícia ao que se denomina atualmente de gestão escolar democrática, possibilitando a escola, ampliar seus objetivos sociais, os quais, na visão de Paro, (2001, p.34) “se sintetiza na educação para a democracia”, considerado pelo autor como o elemento que faltava na discussão sobre a qualidade do ensino.

Segundo Hora (2007, p.51), a gestão democrática rompe paradigmas, concepções e posturas, na perspectiva de transformar as relações intersubjetivas, buscando identificar necessidades, e acrescentando elementos como a negociação de propósito, definição de objetivos e estratégias de ação, mediação de conflitos, tendo em vista a transformação social, realizada através de metas de inclusão social.

Compreende-se que seria impossível pensar a administração escolar ou a gestão democrática escolar como tem sido denominadas nas últimas três décadas no Brasil, sem considerar os fatores, sociais, econômicos e políticos determinantes desta e de outras práticas sociais.

3 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA

ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA

3.1 MARCO LEGAL DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO E DA ESCOLA