• Nenhum resultado encontrado

O Brasil é um país marcado por processos políticos autoritários, podendo ser destacado dois períodos, o primeiro iniciado com o golpe 1937 até por volta de 1945, denominado de Estado Novo. Embora entre 1946 e 1964 a sociedade brasileira tenha convivido com a existência de alguns partidos políticos e com a realização de eleições, período considerado como retomada do processo democrático interrompido com o golpe que originou o Estado Novo, esses fatos não foram suficientes para institucionalizar a democracia política, como expressa a afirmação de Tótora (1997, p.1),

Mesmo considerando o período de 1945 a 1964, em que bem ou mal se conviveu com o pluralismo partidário e com representantes eleitos pelo sufrágio universal, não se pode falar em institucionalização da democracia política.

A sociedade civil conquistou alguns avanços no período subsequente à ditadura do Estado Novo e antecedente à ditadura militar, denominado período populista, notadamente, no crescimento dos movimentos de trabalhadores rurais, movimento sindical urbano e movimento estudantil. Embora fosse notória a defesa da democracia por algumas frentes de lutas, inclusive expressas através de diferentes documentos de natureza científica e política, a exemplo do Manifesto dos Mineiros publicado em 1943, Francisco Filho. (2006, p.103), como exigência pela democratização do país.

Apesar dos avanços conquistados, no período denominado populista, “a sociedade civil existente ainda não era consolidada e efetivamente organizada e por isso permitiu que o conjunto das classes dominantes rompessem com qualquer formalidade democrática durante muitos anos”. (HORA, 2007, p.27)

O segundo momento de natureza marcadamente autoritária, vivido pela sociedade brasileira, foi o período da ditadura militar ocorrido entre 1964 e meados da década de 1980. A população teve seus direitos políticos cerceados, com a então frágil democracia duramente golpeada e o próprio debate sobre ela impedido de ser realizado publicamente, além da

repressão a todas as formas de manifestações contrárias aos interesses militares e/ou em defesa de mudanças sociais.

Na verdade, apesar do debate sobre democracia na época da ditadura militar ter sido publicamente abafado, continuou sendo gerado no interior das organizações populares, dos movimentos sindicais, dos movimentos sociais populares e das agremiações partidárias de esquerda que, a despeito de toda política militarista repressiva, resistiam e lutavam em defesa da coisa pública.

A sociedade que parecia atônita frente ao golpe militar, no início da ditadura, reage por meio de diferentes forças e movimentos sociais, que impulsionados pelos ideais democráticos, se articulam em torno de alguns movimentos pela redemocratização do país, merecendo destaque o movimento de expressão nacional, que defendia eleições diretas para o cargo de presidente da república, denominado de movimento pelas Diretas Já.

Ao longo da ditadura militar, a escola pública, que só a partir da década de 1930, havia começado a ser acessada pelos pobres, embora sem garantia de permanência, segundo Francisco Filho (2006, p.107) sofreu um profundo retrocesso no que se refere, aos poucos avanços conseguidos até início dos anos de 1960, haja vista as limitações impostas pelo governo a todas as instâncias e organizações de cunho democrático nos quais se vislumbrava a participação popular.

A luta pela educação pública empenhada pela categoria do magistério, segundo Mello (1988, p.58), “foi decisiva na luta pela redemocratização deste país”. Essa compreensão coaduna com o entendimento de Fávero e Semeraro, citado por Hora (2007, p.21)

Ao lado de outras forças sociopolítico-culturais que vêm transformando o Brasil, a luta por uma escola pública, universal e de qualidade empreendida pelos educadores brasileiros representa uma expressão peculiar e inseparável da educação, ao mesmo tempo em que se torna uma poderosa contribuição para o processo de democratização do país.

A luta dos educadores brasileiros pela universalização e pela qualidade da escola pública tem sua importância por um lado, como expressão da organização do segmento e/ou categoria da educação, e por outro, a própria universalização da escola pública representa uma grande contribuição ao processo de democratização da sociedade.

É relevante salientar, que apesar da importância da luta dos educadores brasileiros, o processo de democratização vem se dando graças aos esforços de diferentes forças e movimentos sociais, políticos e culturais emergentes na década de 1980.

Na compreensão de Hora (2007), a sociedade civil brasileira sai do período chamado populista menos organizada e fortalecida do ponto de vista social e político, do que do período da ditadura militar. Isto pode ser observado na sua afirmação abaixo, quando se refere à força com que as classes dominantes romperam com as formalidades democráticas durante o período militar.

O Brasil emerge da ditadura militar como uma sociedade do tipo ocidental, em que a sociedade civil é bem mais forte e articulada do que aquela que havia antes do golpe, visto que, paradoxalmente, entre final da década de 1970 e a primeira metade dos anos de 1980, cresceu significativamente o número de associações de moradores, a sindicalização urbana e rural. (HORA, 2007, p.27)

Este novo cenário, caracterizado como o início da redemocratização do regime autoritário implantado no Brasil desde 1964, abre espaços de discussão e debate sobre direitos individuais e coletivos, sobre cidadania, democracia, contribuindo de tal modo com as condições objetivas para o debate na sociedade civil, na classe política e entre ambas, possibilitando um amplo movimento em defesa da democracia que culminou com a elaboração da Constituição Brasileira de 1988.

A chamada constituição cidadã, marcada fortemente pelos ideais democráticos, amplia os direitos dos cidadãos e cidadãs, estabelece princípios capazes de contribuir para o processo de democratização das instituições públicas; entre estas, a instituição escolar, objeto do nosso interesse neste trabalho.

É pertinente ressaltar que, enquanto no Brasil se vivia a retomada da democracia, a ordenação e assunção do Estado Democrático de Direito, conferindo a este, direitos e deveres para com a sociedade civil e política, e garantindo-lhes algumas possibilidades de efetivação de controle social, sobre as ações daquele, em várias partes do mundo o que se via era o crescimento da globalização da economia que refutava a participação do Estado na economia e na garantia dos direitos sociais.

Se por um lado, como diz Tótora (1997), não podemos nos orgulhar de sermos herdeiros de formas de convívio, instituições e idéias democráticas, por outro, entende-se que não se pode negar a incansável resistência de setores organizados da sociedade civil que,

graças à sua ação foi possível se chegar ao fim da ditadura militar e a instalação de um regime civil, denominado pela literatura política de Nova República.

É, dentro desse contexto que na década de 1990, começa a haver uma mudança no âmbito da gestão da educação nacional, influenciada pela Constituição e pela LDB; alguns municípios começam a criar os Sistemas de Ensino, os quais definem entre outras coisas, as novas formas de administração escolar que passam a ser denominadas legalmente de gestão democrática escolar, inaugurando um novo capítulo na história da educação.

Capítulo este que está só começando a ser escrito. Para Lück (2001), Não se trata apenas da troca de termos, mas da abordagem de um novo conceito de organização educacional, que compreende a dinâmica e dimensão do trabalho escolar como prática social. Mais importante do que as mudanças de terminologia, estão às mudanças de concepção sobre o trabalho do diretor e da comunidade escolar na perspectiva de colaborar com a construção de uma instituição escolar comprometida com uma sociedade em franco processo de democratização.

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DA ADMINISTRAÇÃO