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ADMINISTRATIVOS CONCESSÃO DE AJG À PESSOA FÍSICA E JURÍDICA REQUISITOS FIRMA INDIVIDUAL CONFUSÃO

PATRIMONIAL COM A PESSOA FÍSICA. 1. Conforme parâmetros adotados por esta Câmara Cível, para concessão do benefício da AJG para a pessoa física, deve estar comprovado que o interessado recebe mensalmente valor inferior ao equivalente a 06 (seis) salários mínimos. No caso, a pessoa física, agravante possui bens de cuja soma importa em considerável valor, consoante se denota da DIRPF acostada às fls. 76 e seguintes. Ainda, pelo mesmo documento, percebe-se que faz uso de empréstimos com elevadas quantias, o que pressupõe boa rotatividade de valores em sua vida financeira, o que impede a concessão do benefício. 2. Em se tratando de firma individual, não há falar em distinção patrimonial entre a sociedade e o empresário, tendo em vista que, na espécie, a sociedade nada mais é do que a própria pessoa natural no exercício da atividade empresarial. Em assim sendo, possuindo a pessoa física recursos, descabe o deferimento da AJG à pessoa jurídica, por se operar a confusão patrimonial de ambas. Precedentes. À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Agravo de Instrumento n.º 70075032045. (BRASIL, 2017). (Grifou- se).

Nesse curioso caso compulsado, nota-se que para além do equívoco de pretensão de deferimento do beneplácito da justiça gratuita para pessoa física e jurídica decorrente de um Empresário Individual, ainda é possível verificar outro erro no que tange à distinção patrimonial entre a suposta sociedade e o empresário. É incabível, na espécie, denominar de sociedade o labor solitário de um Empresário Individual, evidenciando, assim, a incorreta alusão no aresto.

No próximo caso, é de se atentar à justificativa escolhida pelo relator para autorização da constrição de ativos nas contas da parte requerida:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL.

PENHORA DE VALORES EXISTENTES NAS CONTAS

BANCÁRIAS DE PESSOA JURÍDICA. POSSIBILIDADE.

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. Viável, ainda que de forma excepcional, penhorar valores existentes em contas bancárias de pessoa jurídica para saldar dívida de titularidade da pessoa física, considerando a confusão patrimonial existente entre aquela e esta, bem como levando em consideração o longo tramitar do feito executivo, sem êxito na localização de bens particulares do devedor. Agravo de instrumento provido. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Agravo de Instrumento n.º 70054280052. (BRASIL, 2013). (Grifou-se).

Em cognição cautelosa, nessa decisão flagra-se que foi articulada toda uma justificativa plausível para ensejar azo ao deferimento da medida constritiva, sendo que, em verdade, bastava a inclusão do número do CNPJ em conjunto com o número do Cadastro de Pessoa Física ao sistema de bloqueio on-line para perfectibilizar a tentativa de penhora de valores. Destaca-se, que, mais uma vez, foi ignorado o fato de que não há pessoa jurídica, e, portanto, apenas o patrimônio totalmente passível de penhora.

Na contramão de todos os casos referentes ao Empresário Individual, é visível que, quando se trata de EIRELI, não pairam quaisquer dúvidas quanto à inexistência de confusão patrimonial, visto que, nesse caso, a criação de uma personalidade jurídica é inequívoca:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROPRIEDADE INDUSTRIAL E INTELECTUAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EIRELI. MICROEMPRESA. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO À PESSOA DO SÓCIO. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. 1. Na empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), a responsabilidade do sócio é restrita ao valor do patrimônio social, por interpretação conjugada do art. 980-A, caput e parágrafo 6º, e 1.052, do Código Civil, não havendo confusão patrimonial. 2. Nas hipóteses de fraude, para fins de direcionamento da penhora do valor executado à pessoa física, sócia da empresa, mister a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do art. 50 do Código Civil. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Agravo de Instrumento n.º 70082868787. (BRASIL, 2019). (Grifou-se).

Conforme muito bem explicitado no aresto ponderado, a responsabilização da EIRELI, bem como a sua consequente afetação patrimonial em decorrência de dívidas, é limitada à integralidade de seu capital, não sendo possível, sem o prévio incidente de desconsideração da personalidade jurídica, atingir patrimônio de seu representante legal. Todavia, menciona-se a existência de um sócio, e, na realidade, há somente a figura do titular único.

Em desfecho, restou comprovado que, por se tratar de uma matéria densa e de difícil compreensão, o Direito Empresarial é corrompido pela falta de domínio de seus institutos, concretizando a necessidade de uma atualização teórica dos juristas que nessa área laboram, visando evitar, alfim, a continuidade de acometimento dos erros acima discriminados.

Destarte, é válido aclarar que mesmo havendo tantas incongruências relacionadas ao Direito Empresarial, sobretudo, no seu domínio prático e teórico, a possiblidade de compreensão de seus institutos, assim como o entendimento de seus regramentos, decorre, em última análise, do esforço individual de cada jurista em acompanhar as transformações evolutivas desse ramo do direito, pois, é de muito sabido, que, acaso o operador do direito quede estagnado no tempo, o seu conhecimento restará tão defasado quanto as legislações já não mais vigentes.

Sendo assim, é imprescindível que todo e qualquer operador do direito não se conforte no marasmo da falsa ideia de plenitude de conhecimento, uma vez que as

gerações posteriores de juristas estão em constante formação, e, tão logo possam atuar juridicamente, estarão preparadas para desconstituir veementemente todas as decisões proferidas com base em entendimentos errôneos ou ultrapassados pela evolução jurídica.

CONCLUSÃO

Infere-se da presente pesquisa que as relações comerciais ensejam em rápidas alterações de costumes, catalisando a defasagem da legislação, que, de fato, não consegue acompanhar essas mudanças, restando muitas vezes obsoletas e desprezadas tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência.

Nessa senda, a problemática da incapacidade do sistema legislativo manter a sua eficácia prática pelas suas estáticas disposições perdura até os tempos hodiernos, em que, teoricamente, há muito mais transitabilidade no tocante ao acesso informacional e possibilidade de conhecimento de práticas já ultrapassadas reguladas pelas normas vigentes.

Por essa razão, em virtude de que o Brasil importou muito de suas legislações, verifica-se que os mesmos problemas ocorridos nesses outros países afligiram de idêntica maneira o Direito Comercial pátrio, fomentando nas mesmas necessidades de rápidas mudanças calcadas na intenção de unificação da legislação civil e comercial.

Com esse cenário em pauta, o marco principal da evolução do Direito Comercial brasileiro se deu com a vigência do Código Civil de 2002, que, dentre diversos outros avanços significativos, unificou o direito civil e o comercial, sem descaracterizar a essência e individualidade de ambos, aportando uma salutar coesão normativa, bem como trazendo uma nova perspectiva com relação à atividade denominada empresa.

Outrossim, na análise das duas espécies de sujeito de empresa compulsadas pela pesquisa, notou-se que os erros mormente no que se refere às afetações patrimoniais são corolários da falta de atualização teórica dos operadores do direito, uma vez que restaram estagnados no tempo enquanto as evoluções ocorriam alterando todos os panoramas comerciais de outrora vigentes.

Destarte, aclara-se em evidência que a inovação, assim com a criação de institutos, serviu de maneira substancial para aperfeiçoar a sistemática do Direito Empresarial, e, a sua utilização de maneira incorreta impossibilita a subsunção de modo justo, implicando em inequívoca insegurança jurídica.

Por derradeiro, a falta de habilidade na ponderação da realidade em conflito com as normas apostas no ordenamento jurídico maculam o sistema da jurisdição, ferindo, inclusive, prerrogativas constitucionais pela incapacidade estatal de promover a solução desses impasses tal como preconiza a legislação.

REFERÊNCIAS

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