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As formas e possibilidades de afetação e responsabilização patrimonial

2 DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E DA EIREL

2.2 As formas e possibilidades de afetação e responsabilização patrimonial

personalidade jurídica.

2.2 As formas e possibilidades de afetação e responsabilização patrimonial

Em princípio, passa-se à atenta análise da responsabilidade do Empresário Individual no adimplemento de suas obrigações contraídas, haja vista que essa ponderação é habitual em sede judicial, precipuamente, nos feitos de caráter executivo, uma vez que diversos juristas não têm por definido os traços e as normas regimentais dessa estruturação de afetação, perfazendo, em muitos casos, erros crassos quando da persecução das dívidas exequendas por intermédio da expropriação patrimonial.

Nessa senda, é válido destacar - mais uma vez -, agora, nas palavras de FARIA (2014, p. 2) que o “[...] empresário individual, conquanto esteja inscrito no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, não é considerado pessoa jurídica, pois equivale a um comerciante exercendo atos de comércio individualmente”.

Por esse prisma, em razão de que o exercício da empresa pelo Empresário Individual não pode ser vinculado à ideia de criação de uma pessoa jurídica distinta da física, é que ocorre a famigerada confusão patrimonial, à vista de que todos os bens em nome desse empreendedor são passíveis de afetação, inexistindo limitação quanto a orbita empresarial ou particular, em regra, podendo todo esse montante responder pelas dívidas contraídas.

No mesmo sentido, alude FARIA (2014, p. 2):

Desta ilação se conclui que a responsabilidade do empresário individual é ilimitada, podendo seus bens pessoais serem atingidos por qualquer ato da firma individual. Esta responsabilidade ilimitada do empresário individual foi fundamento da criação pelo legislador do empresário individual de responsabilidade limitada - EIRELI, evitando assim, que os bens do empresário individual fossem atingidos no caso de constrição judicial.

Oportunamente, salienta-se que quando há referência à afetação patrimonial, é elementar compreende-la como a possibilidade de credores, tanto na esfera judicial quanto extrajudicial6, se valerem da expropriação – de maneira compulsória

ou voluntária – dos bens encontrados em nome do devedor para a solvência de suas dívidas e remição7 de eventual débito inadimplido.

Nesse passo, mister aludir que as notificações extrajudiciais, assim como a citação judicial, podem ser perfectibilizadas sem sequer mencionar a existência de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), importando na qualificação apenas o apontamento do Cadastro de Pessoa Física (CPF), visando o afastamento de casos de homonímia. Portanto, irrelevante se o ato contiver apenas a informação de número do CNPJ ou do CPF, sendo preferível o último, conforme explicitado.

É válido rememorar, ainda, que, conforme esclarece FARIAS (2014, p. 2):

Não se cuidará de desconsideração da personalidade jurídica, conforme art. 50 do Código Civil ou art. 592, II, do Código de Processo Civil, porquanto na desconsideração se pressupõe a existência da pessoa jurídica, que é um instrumento técnico-jurídico desenvolvido para facilitar a organização da atividade econômica, o que, como visto acima, não é o caso, já que o empresário individual permanece sendo pessoa física. De igual maneira, não será o caso de redirecionamento da execução, porquanto o redirecionamento, também pressupõe a existência de pessoa jurídica.

6 Reporta-se como exemplo pertinente de afetação patrimonial na esfera administrativa os casos de

alienação fiduciária de bens imóveis que, quando do inadimplemento da contraprestação aventada, pode-se haver um procedimento de venda extrajudicial desses bens através de arremates em leilão, prescindindo ação judicial, revertendo-se a quantia percebida para resolução do pacto, e eventual sobra, restituída ao devedor.

7 Remição pelo viés do verbo remir, enquanto uma forma de pagamento de dívidas oriundas

Consigna-se a necessidade de utilização desse instrumento de desvio temporário8 da personalidade jurídica nos casos em que a obrigação inadimplida

decorra de uma EIRELI, e não de um Empresário Individual, evidenciando mais uma explanação das diferenças de ambas as espécies de sujeitos de empresa.

Em prosseguimento, guinando da responsabilização do Empresário Individual para a exploração das modalidades de afetação patrimonial (assim como suas limitações) atinentes à EIRELI, é necessário ter em mente que a criação dessa espécie e, também, a sua justificativa existencial, provém da primazia da necessidade de proteção do patrimônio do pequeno sujeito empresário.

Para tanto, não se pode olvidar que os terceiros (sejam sujeitos ativos ou passivos das relações negociais) também necessitam de segurança jurídica para haver por concretizado bilateralmente o princípio da confiança9, e em razão disso, o

legislador atribuiu à EIRELI uma característica peculiar, traduzida pelo tabelamento de um capital mínimo enquanto requisito formal para validação de sua existência e eficácia no mundo jurídico.

Dessa maneira, em primeira cena, tem-se que o patrimônio padrão afetável da EIRELI é, primordialmente, o seu capital constituinte, equivalente a cem vezes o salário mínimo vigente no momento de sua criação, inobstante o fato de que ela concomitantemente possa ser proprietária de diversos outros bens que guarneçam o seu estabelecimento, acaso exista.

Nesse cenário, destaca XAVIER (2013, p. 201, apud ANDRADE 2014, p. 59) que:

Diante disso, a responsabilidade patrimonial está afeta à empresa individual, e não ao empresário, uma vez que ela tem patrimônio próprio que responde por suas obrigações. No entanto, segundo José Tadeu Neves Xavier, a lei 12.441/11 ao conceber a figura da

8 Insurge-se como temporário, uma vez que frente a terceiros não haverá a desconsideração da

personalidade jurídica, sendo válida tão somente no caso sub judice, perfazendo efeitos inter partes.

9 Tal princípio é consagrado tanto pela doutrina, quanto pela jurisprudência, como sendo um dos

EIRELI se aproxima mais ao modelo do patrimônio separado do que o de afetação, mas com características próprias, diferenciando da sociedade unipessoal. Esse autor esclarece que o patrimônio de afetação destaca bens do patrimônio de determinado sujeito de direito, atribuindo-lhe um regime jurídico diferenciado do restante do patrimônio, mas sem modificar a titularidade, e o patrimônio separado também de destaca uma parte dos bens, dando-lhe determinada finalidade, mas com nova titularidade, sendo este o caso da sociedade unipessoal.

Ademais, explica TOMAZZETE (2012, p. 61, apud ANDRADE 2014, p. 59) que:

Será desconsiderada a personalidade jurídica, aplicando subsidiariamente as regras imputadas às sociedades limitadas, nos casos de distribuição fictícia de lucros com prejuízo do capital social (art. 1.059 do CC), deliberação infringente do contrato social ou da lei (art. 1.080 do CC), superavaliação de bens para formação do capital social (ar. 1.055, §1º do CC).

Frisa-se, ainda, que a pessoa física e a pessoa jurídica responderão com a integralidade de seus bens, acaso sejam flagrados negócios realizados em incompatibilidade com a legislação em vigor, ensejando em hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, à luz do artigo 1080 do Código Civil brasileiro.

Em idêntico contexto, alude REQUIÃO (2013, p. 117, apud ANDRADE, 2014, p. 60) que é de grande importância a identificação ou especialização do objeto da empresa individual de responsabilidade limitada, pois tudo o que o empresário fizer que não estiver contido no objeto, pode, inclusive, ser motivo que autoriza a afetação do patrimônio privativo do titular dessa espécie de sujeito de empresa.

Por derradeiro, é visível que mesmo havendo o véu fictício que separa o patrimônio da pessoa jurídica de seu titular (sendo ele necessariamente uma pessoa física), ainda assim, é possível que haja a subversão dessa proteção, quando verificadas as irregularidades acima discriminadas.

Pelo todo explanado, verdadeiramente há uma gigantesca diferença entre um Empresário Individual e uma EIRELI, e, mesmo com todas as características

específicas de cada espécie, ainda há confusão entre as duas, motivo pelo qual se passa aos esclarecimentos teóricos – e no que couber, práticos – dos principais fatores que levam até mesmo juristas renomados a quedarem em equívoco.

2.3 Ponderações zetéticas acerca dos erros teóricos jurisprudenciais

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