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3. ANTECEDENTES DA PARTICIPAÇÃO

3.3. Proposta de Modelos de Participação em Mercados Preditivos

3.3.1. Adoção Inicial do MP

O processo envolvendo a participação inicial em um Mercado Preditivo é muito semelhante à decisão de adoção de um novo sistema ou de uma nova tecnologia. Um MP pode ser entendido como um sistema de informação do qual as pessoas decidem participar ou não. Por esse motivo, um dos principais e mais parcimoniosos modelos de aceitação tecnológica identificados na literatura, isto é, o modelo TAM (DAVIS, 1989; DAVIS et al, 1989), foi escolhido como ponto de partida para a construção do modelo a ser testado neste estudo. As hipóteses de pesquisa listadas a seguir derivam exatamente do modelo TAM:

Confirmação Utilidade Percebida

Satisfação Continuidade Intenção de de Uso + + + + +

o HB1.1: A Utilidade Percebida (UP) tem efeito positivo direto na Intenção de Participação (IP).

o HB1.2: A Facilidade de Uso Percebida (FUP) tem efeito positivo direto na Intenção de Participação (IP).

o HB1.3: A Facilidade de Uso Percebida (FUP) tem efeito positivo direto na Utilidade Percebida (UP).

A versão original do modelo TAM tem como foco os aspectos utilitários de determinado sistema. Porém, essa versão vem evoluindo e sofrendo adaptações para diferentes situações. Uma das principais adaptações diz respeito ao estudo de sistemas hedônicos, isto é, sistemas cuja utilização é predominantemente orientada por aspectos relacionados ao prazer de uso. Nesses sistemas, como, por exemplo, aplicações baseadas na World Wide Web, softwares envolvendo atividades de lazer, jogos, etc., o aspecto utilitário tende a ser menos relevante.

Um Mercado Preditivo possui características de um jogo, no qual os participantes competem entre si para ver quem é capaz de fazer melhores previsões. Ademais, o “prazer” foi o item mais frequente na lista de fatores determinantes da participação em iniciativas de

Crowdsourcing (Capítulo 3.1). Portanto, o aspecto hedônico do MP também foi contemplado

no modelo. Para tanto, optou-se por seguir a mesma adaptação sugerida e testada por Heijden (2004), a qual adiciona ao modelo original as seguintes hipóteses:

o HB1.4: O Prazer Percebido (PP) tem efeito positivo direto na Intenção de Participação (IP).

o HB1.5: A Facilidade de Uso Percebida (FUP) tem efeito positivo direto no Prazer Percebido (PP).

O próximo passo de construção do modelo de aceitação inicial do MP envolveu retomar a análise dos fatores que influenciam a participação em crowdsourcing, apresentada detalhadamente no Capítulo 3.1, a fim de adicionar ao modelo os construtos de maior relevância. A Tabela 4 relaciona os fatores previamente identificados. Optou-se por incluir apenas aqueles que foram encontrados em mais de 25% dos trabalhos analisados (10 ou mais trabalhos). Entretanto, os fatores “Reputação e Carreira” e “Social” não foram considerados,

haja vista o Mercado Preditivo criado para a presente pesquisa não contemplar aspectos sociais, conforme explicado na delimitação do estudo (Capítulo 1.1).

Tabela 4 - Fatores Identificados na Literatura de Crowdsourcing e Construtos do Modelo

Fator Classificação Trabalhos Total de trabalhos % dos Construto do Modelo

1º Prazer Intrínseca 23 64% Prazer Percebido (PP) 2º Recompensa Extrínseca 22 61% Recompensa Percebida (RP) 3º Autodesenvolvimento Ambas 18 50% Aprendizado Percebido (AP) 4º Reputação e Carreira Extrínseca 18 50% Não incluídos pois o aspecto social não foi contemplado no

MP da pesquisa

5º Social Ambas 15 42%

6º Altruísmo Intrínseca 10 28% Altruísmo Percebido (ALP) 7º Simplicidade Ambas 10 28% Facilidade de Uso Percebida (FUP) 8º Significado da tarefa Intrínseca 9 25%

Não incluídos por serem menos relevantes (apareceram

em menos de 10 trabalhos) 9º Autonomia Intrínseca 7 19%

10º Possui habilidade Intrínseca 7 19% 11º Confiabilidade Ambas 7 19%

12º Feedback Extrínseca 7 19%

13º Interesse Intrínseca 6 17% Interesse pelo Tema (IT) FONTE: Elaborado pelo autor.

Observa-se na Tabela 4 que dois dos principais fatores já estão presentes no modelo TAM adaptado para sistemas hedônicos (HEIJDEN, 2004). São eles, o “Prazer”, que equivale ao construto Prazer Percebido (PP) e a “Simplicidade”, que está relacionada à Facilidade de Uso Percebida (FUP). Considerando o critério adotado, restou incluir no modelo, portanto, apenas os fatores “Recompensa”, “Autodesenvolvimento” e “Altruísmo”.

O fator “Recompensa” foi contemplado por meio do construto Recompensa Percebida (RP). Pelo fato de a recompensa ser uma motivação extrínseca, entende-se que ela está relacionada à Utilidade Percebida (UP). Assim, foi definida a seguinte hipótese:

o HB1.6: A Recompensa Percebida (RP) tem efeito positivo direto na Utilidade Percebida (UP).

O fator “Autodesenvolvimento”, por sua vez, foi adicionado ao modelo sob a forma do construto Aprendizado Percebido (AP). Nesse caso, trata-se de um fator que pode ser

classificado como uma motivação intrínseca, quando o aprendizado é um fim em si mesmo, ou como uma motivação extrínseca, quando o aprendizado é visto como um meio de se conseguir algo, como, por exemplo, um novo emprego. Assim, considerou-se que o Aprendizado Percebido pode ter relação tanto com aspectos utilitários quanto hedônicos, de modo que foram formuladas as seguintes hipóteses:

o HB1.7: O Aprendizado Percebido (AP) tem efeito positivo direto na Utilidade Percebida (UP).

o HB1.8: O Aprendizado Percebido (AP) tem efeito positivo direto no Prazer Percebido (PP).

O construto referente ao fator “Altruísmo” foi denominado Altruísmo Percebido (ALP). Por se tratar de uma motivação basicamente intrínseca, foi estabelecida uma hipótese de pesquisa relacionando esse construto ao Prazer Percebido (PP). De fato, pode-se imaginar que o ato desinteressado de ajudar outras pessoas ou uma comunidade proporciona prazer ao indivíduo (GODBOUT, 1992, p. 106). Portanto:

o HB1.9: O Altruísmo Percebido (ALP) tem efeito positivo direto no Prazer Percebido (PP).

Por fim, apesar de o fator “Interesse” ter sido o último da lista apresentada na Tabela 4, entende-se que as características específicas de um Mercado Preditivo podem potencializar a relevância desse fator. Isso porque um MP existe para fazer previsões sobre determinados assuntos e é natural supor que ele atraia justamente as pessoas interessadas nas temáticas abordadas pelo mercado. Dessa forma, o construto Interesse pelo Tema (IT) também foi adicionado ao modelo. A hipótese associada a esse construto estabelece que o interesse nos temas das previsões exerce um efeito direto na intenção de participação:

o HB1.10: O Interesse pelo Tema (IT) tem efeito positivo direto na Intenção de Participação (IP).

A Ilustração 4, apresentada a seguir, resume as hipóteses supracitadas e proporciona ao leitor uma visão geral do modelo a ser testado para explicar a participação inicial em Mercados Preditivos.

Ilustração 4 - Modelo Proposto para a Participação Inicial em Mercados Preditivos

FONTE: Elaborado pelo autor com base em Davis et al (1989) e Heijden (2004).

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