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3. ANTECEDENTES DA PARTICIPAÇÃO

3.2. Modelos de Aceitação Tecnológica

Dois tipos de modelos de aceitação tecnológica foram considerados: i) os que contribuem para explicar a aceitação inicial de sistemas de informação; ii) e os que tratam do uso continuado.

3.2.1. Modelos para Explicar a Adoção Inicial

Como argumentam Davis et al (1989), a tecnologia não pode melhorar o desempenho das organizações se ela não for utilizada pelas pessoas. Entretanto, é bastante comum a resistência ao uso de novas tecnologias e, em particular, de novos sistemas de computador. Essa resistência pode ser encontrada mesmo quando um novo sistema proporciona muitas vantagens para seus usuários.

Por esse motivo, há muita pesquisa tentando prever, explicar e aumentar a aceitação dos usuários de sistemas. Dentre todos os modelos teóricos propostos para explicar os antecedentes dessa aceitação, o modelo TAM (Technology Acceptance Model) proposto por Davis et al (1989) é um dos mais bem sucedidos e mais estudados na literatura acadêmica mundial.

A fundamentação teórica do modelo TAM tem origem na psicologia social, mais especificamente em uma teoria conhecida como TRA (Theory of Reasoned Action) (AJZEN; FISHBEIN, 1980). Essa teoria propõe um modelo para explicar comportamentos e intenções de forma genérica, ou seja, pode ser aplicada em um número variado de contextos. Já o modelo TAM, apesar de ser fundamentado nas ideias da TRA, foi customizado de modo que sua aplicação restringe-se ao contexto de aceitação de novas tecnologias.

Possivelmente, uma das razões do sucesso do modelo TAM é sua simplicidade. Ele postula que o uso real de um sistema pode ser explicado pela intenção de uso. Já a intenção tem como antecedentes a utilidade percebida e a facilidade de uso percebida, conforme Ilustração 2.

Ilustração 2 - Modelo TAM

FONTE: Adaptado de Davis et al (1989).

Originalmente, o modelo TAM sugerido por Davis et al (1989) possuía também um construto denominado “atitude para utilização” que mediava os efeitos da utilidade e facilidade percebida na intenção de uso. Todavia, Davis et al (1989, p. 999) encontraram evidências de que esse construto possui pouca influência e que essa mediação era, na melhor das hipóteses, apenas parcial. Assim, em estudos posteriores (VENKATESH; DAVIS, 2000; VENKATESH, 2000), o construto atitude para utilização foi eliminado, o que tornou o modelo mais parcimonioso.

Os dois construtos que explicam a intenção de uso são estudados detalhadamente por Davis (1989) que, além de defini-los, descreve o procedimento de criação de uma escala para mensurá-los. Para o autor, o construto utilidade percebida representa o grau em que uma pessoa acredita que a utilização de um sistema em particular aumentaria seu desempenho no trabalho. Já a facilidade de uso percebida é o grau em que uma pessoa acredita que a utilização do sistema é livre de esforços. Assim, quanto maior a percepção de utilidade e facilidade, maior será também a intenção de se utilizar determinado sistema (DAVIS, 1989).

Com o avanço das pesquisas, o modelo evoluiu para explicar os antecedentes da utilidade percebida (VENKATESH; DAVIS, 2000) e também os antecedentes da facilidade de uso percebida (VENKATESH, 2000). Essa geração de modelos ficou conhecida como TAM 2. A geração posterior, que integrou em um único modelo os antecedentes desses dois construtos, é denominada TAM 3 (VENKATSH; BALA, 2008).

Facilidade de Uso Percebida Utilidade Percebida Intenção

Um outro modelo também é bastante conhecido e utilizado. Trata-se do UTAUT (Unified

Theory of Acceptance and Use of Technology) de Venkatesh et al (2003). Ele foi construído a

partir de uma ampla revisão da literatura sobre aceitação tecnológica e combina características de alguns dos modelos analisados pelos autores.

Dentre todos os modelos supracitados, o TAM (DAVIS et al, 1989) foi escolhido como ponto de partida para a proposição de um modelo concebido especificamente para explicar a participação inicial em um Mercado Preditivo. Essa escolha é justificada pelo fato de o TAM ter sido amplamente validado e replicado na literatura acadêmica e principalmente, por ser o mais parcimonioso de todos. Como serão agregados outros fatores que também podem ser relevantes para a participação, ter como base um modelo muito detalhado poderia tornar o resultado final excessivamente complexo.

Com a evolução dos sistemas de computadores, percebeu-se que o fator hedonismo também poderia ser importante para explicar a intenção de utilização. À medida que os sistemas tornaram-se mais amigáveis, além de uma perspectiva meramente funcional, os novos sistemas podiam ser avaliados também por uma perspectiva que considera o quão agradável e prazerosa é sua utilização.

Naturalmente o modelo TAM evoluiu para considerar essa nova e importante dimensão (HEIJDEN, 2004; MOON; KIM, 2001; DAVIS et al, 1992). Além dos construtos utilidade e facilidade de uso percebida, foi incluído um terceiro construto denominado “prazer percebido” que é definido por Davis et al (1992, p. 1113) como o grau em que a utilização do sistema é percebida como agradável por si só, sem considerar qualquer consequência por desempenho que possa ser antecipada. Esse fator também influencia positivamente a intenção de uso.

O Quadro 6 apresenta uma visão geral dos principais modelos de aceitação tecnológica analisados. Devido à importância que a dimensão prazer pode ter para a participação em iniciativas de crowdsourcing (KAUFMANN et al, 2011), a versão do modelo TAM adaptado para sistemas hedônicos (HEIJDEN, 2004) mostrou-se a mais adequada para servir de referência ao modelo proposto neste estudo (Capítulo 3.3.1).

Quadro 6 - Principais Modelos de Aceitação Tecnológica

Modelo Descrição Autores

TAM explicada pela utilidade percebida e facilidade de uso percebida. Na primeira geração do modelo TAM, a intenção de uso é Essa intenção pode prever o uso real de determinado sistema.

Davis (1989) Davis et al (1989) TAM 2 A segunda geração do modelo TAM estuda, separadamente, os antecedentes dos construtos utilidade percebida e facilidade de

uso percebida.

Venkatesh e Davis (2000) Venkatesh (2000) TAM 3 modelo, os antecedentes dos construtos utilidade e facilidade de A terceira geração do modelo TAM integra, em um único

uso percebida. Venkatesh e Bala (2008) UTAUT

Este modelo foi criado a partir de uma ampla revisão da literatura. Para explicar a intenção e o uso real de um sistema, o

modelo UTAUT utiliza, além de dois construtos análogos à utilidade e facilidade, os construtos influência social e condições facilitadoras. São utilizadas ainda variáveis moderadoras como gênero, idade, experiência e uso voluntário.

Venkatesh et al (2003)

TAM adaptado para sistemas

hedônicos

A versão original do modelo TAM é estendida para incluir o construto prazer percebido, que se mostra bastante relevante

para explicar o uso dos sistemas atuais.

Heijden (2004) Moon e Kim (2001) FONTE: Elaborado pelo autor.

3.2.2. Modelos para Explicar o Uso Continuado

Os modelos discutidos na seção 3.2.1 tratam de variáveis que motivam os indivíduos a aceitarem novas tecnologias ou sistemas de informação. Como eles focam na aceitação inicial de novos sistemas, a princípio esses modelos não são plenamente adequados para explicar o uso continuado ou, em outras palavras, para entender o que motiva a participação após o primeiro acesso.

Apesar de muitos estudos ignorarem essa questão e aplicarem os modelos de aceitação inicial para descrever também o uso continuado, alguns autores perceberam a necessidade de modelos específicos para essas situações. Bhattacherjee (2001) argumenta que os modelos de aceitação inicial fornecem apenas uma explicação limitada, e muitas vezes contraditória, do comportamento observado após o primeiro uso. O autor propõe, então, um modelo de uso continuado de sistemas de informação baseado na Teoria da Desconfirmação das Expectativas (OLIVER, 1980).

Essa teoria é muito utilizada na área de marketing para estudar o comportamento do consumidor. A partir do estudo de Oliver (1980), Bhattacherjee (2001) argumenta que o

processo pelo qual os consumidores formam sua intenção de recompra acontece da seguinte maneira. Antes da compra, os consumidores formam uma expectativa inicial sobre um determinado produto ou serviço. Em seguida, eles efetuam a compra e experimentam o item adquirido durante um tempo, período no qual desenvolvem uma percepção sobre seu desempenho. A partir desse momento, eles comparam o desempenho percebido com a expectativa original e determinam até que ponto suas expectativas foram confirmadas ou não. Então, os consumidores determinam sua satisfação, baseados no nível de confirmação e nas expectativas iniciais. Finalmente, aqueles consumidores satisfeitos formam uma intenção de recompra, enquanto os insatisfeitos deixam de consumir o respectivo produto ou serviço.

Segundo Bhattacherjee (2001), as similaridades entre a decisão de recompra dos consumidores e a decisão de continuar utilizando determinado sistema são evidentes. Nos dois casos essas decisões: i) ocorrem após uma tomada de decisão anterior, ou seja, após a primeira compra ou o primeiro uso; ii) são influenciadas pela experiência inicial; iii) podem potencialmente levar à reversão da primeira decisão. Apesar disso, Bhattacherjee (2001) sugere alguns refinamentos na Teoria da Desconfirmação das Expectativas (OLIVER, 1980), visando a uma melhor adaptação do modelo ao contexto dos sistemas de informação.

No modelo proposto pelo autor (Ilustração 3), os seguintes construtos são relevantes para entender a intenção de continuidade de uso: i) a utilidade percebida, que é definida por Bhattacherjee (2001) como sendo as percepções do usuário sobre os benefícios esperados com o uso do sistema; ii) a confirmação, que é a percepção do usuário a respeito da congruência entre a expectativa de uso do sistema e seu real desempenho; iii) a satisfação, definida como o sentimento do usuário, após o uso inicial.

As relações entre esses construtos, representadas na Ilustração 3 pelas setas, dizem respeito às hipóteses testadas e confirmadas empiricamente por Bhattacherjee (2001). Observa-se que a intenção de continuidade de uso é positivamente associada tanto à utilidade percebida quanto à satisfação. O nível de satisfação, por sua vez, tem relação direta e positiva com a utilidade percebida e a confirmação. Por fim, a utilidade percebida também está positivamente associada à confirmação das expectativas.

Pelo fato de incluir variáveis de pós aceitação (satisfação e confirmação), o modelo de Bhattacherjee (2001) é mais adequado para explicar as decisões dos usuários após o uso

inicial. Além disso, trata-se de um modelo parcimonioso, bastante aceito na literatura, e que já foi testado e expandido para diferentes contextos (HONG et al, 2006; LIMAYEM; CHEUNG, 2008; BAKER-EVELETH; STONE, 2015). Por esses motivos, ele foi escolhido como referência para o modelo de uso continuado de MPs (Capítulo 3.3.2).

Ilustração 3 - Modelo de Uso Continuado de Sistemas de Informação

FONTE: Adaptado de Bhattacherjee (2001).

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