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Adolescência, Ato Infracional e Medidas Socioeducativas

O Estatuto da Criança e Adolescente prevê a garantia de proteção a esse grupo social, mas também enfatiza a aplicação de Medidas Socioeducativas aos jovens autores de atos infracionais. Essas medidas podem ser cumpridas de duas maneiras: em meio aberto (advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida) e a outra forma seria em meio privativo de liberdade (semiliberdade e internação). Embora essas medidas não sejam percebidas como penalidades e se expressarem com predominância inclusivas, os adolescentes autores de ato infracional estão obrigados a cumpri-las, caso contrário, estão sujeitos a sanções previstas no ECA (VOLPI, 2006). As medidas socioeducativas são aplicáveis em adolescentes na faixa etária entre 12 e 18 anos incompletos que cometem atos infracionais e estão previstas no artigo 112 do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

No processo judicial, o juiz poderá aplicar, por intermédio de sentença, uma das medidas socioeducativas observando o contexto pessoal do adolescente, sua possibilidade em cumpri-la, as condições e a gravidade da infração. O adolescente em conflito com a lei recebe do juiz a medida socioeducativa, e após este encontro ele é

encaminhado aos órgãos executores, que são instituições que receberão o adolescente autor de ato infracional e que viabilizarão o cumprimento da medida. As medidas socioeducativas são executadas na seguinte ordem: A advertência – é executada diretamente pelo juiz da VIJ em audiência. A obrigação de reparar o dano é cumprida pela intermediação da VIJ entre o adolescente e a vítima. A medida socioeducativa prestação de serviços à comunidade é executada de modo compartilhado pela Secretaria da Criança e entidades públicas e privadas conveniadas para este fim. A liberdade assistida é executada pelos Núcleos de Liberdade Assistida. A semiliberdade é executada pelas Unidades de Semiliberdade – USLI. A internação é executada pelo Centro de Atendimento Juvenil Especializado – CAJE, pelo Centro de Internação de Adolescentes, Granja das Oliveiras – CIAGO, pelo Centro de Internação de Adolescentes em Planaltina – CIAP, e pelo Centro Socioeducativo Amigoniano – CESAMI (neste a internação é provisória e só poderá ocorrer por, no máximo, 45 dias).

O adolescente, para iniciar o cumprimento da medida em um Núcleo de Liberdade Assistida mais próximo à sua residência, durante o período em que estiver cumprindo a LA, deverá ser matriculado em escola e programa de profissionalização, além de receber atendimentos de Núcleos individuais ou com a família (BRASIL, 2010[a]).

O cumprimento da LA é de no mínimo 06 (seis) meses. A alteração do prazo dependerá do comprometimento e envolvimento do adolescente na realização dos objetivos estabelecidos em seu processo. Caso o adolescente apresente bom rendimento dentro do programa, os executores do Núcleo de LA poderão sugerir ao juiz da Vara da Infância e Juventude do DF a sua liberação.

O órgão que acompanha a LA no Distrito Federal é a Secretaria da Criança, por meio dos Núcleos de Liberdade Assistida. Os Núcleos devem contar com uma equipe composta de psicólogos, pedagogos e assistentes sociais que atendam os adolescentes, estabelecendo um Plano Individual de Atendimento (PIA). Além desse acompanhamento, é previsto para o adolescente em LA, o apoio da VIJ, do Centro de Assistência Judiciária do DF (CEAJUR), da família e da comunidade.

Na situação da LA, o adolescente não fica privado de liberdade durante o cumprimento da medida. Ele permanece em liberdade, em sua residência, na companhia de seus pais ou responsáveis, e deve seguir as exigências do programa, tais como: manter frequência escolar e participar das atividades propostas pelos orientadores do

Núcleo de Liberdade Assistida. O juiz será informado pelos Núcleos de Liberdade Assistida, por meio de relatórios semestrais se o jovem está cumprindo a medida. Será comunicado sobre o grau de desempenho do adolescente no programa. A SEMSE Seção de Medidas Socioeducativas da 1ª VIJ é responsável pela fiscalização da LA, com a meta de verificar como são cumpridas as determinações judiciais pelos adolescentes. Caso a orientação não seja cumprida, o adolescente será responsabilizado pela falta de compromisso com a medida socioeducativa (BRASIL, 2010[a]).

O adolescente em liberdade assistida será responsável por: comparecer ao Núcleo de LA para atendimento nos dias e horários marcados; frequentar a unidade de ensino e apresentar rendimento escolar; participar dos cursos profissionalizantes encaminhados pelo orientador; não usar drogas; solicitar autorização judicial para mudança de endereço, ou ausentar-se da cidade; cumprir com o horário de retorno para a residência fixado pelo Núcleo de LA; Não frequentar lugares como bares, casas de show, etc., e por fim, comunicar ao juiz, previamente, a mudança de endereço dentro do DF. Caso o adolescente não cumpra o programa imposto pelo Núcleo de Liberdade Assistida, sua situação será revista pelo juiz, podendo o adolescente ser advertido, prorrogado o prazo da LA, substituição da LA por outra medida, ou ser determinada a sua internação. Esta medida só ocorrerá após a realização de audiência de justificação e sua decretação não ultrapassará três meses (BRASIL, 2010[a])

Pimentel, (2010) destaca que as medidas socioeducativas em meio aberto mais aplicadas no DF são Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade. A autora menciona que os adolescentes que cumprem essas medidas são em sua maioria do sexo masculino e têm entre 16 e 17 anos. Frisa que esses adolescentes em conflito com a lei estudam aproximadamente até a 5ª série do Ensino Fundamental e vivem em famílias monoparentais com renda em média de um salário mínimo mensal.

A figura a seguir, apresenta o índice da aplicação das medidas socioeducativas no Distrito Federal.

Evidencia-se no quadro acima, a diminuição na aplicação das medidas de Semiliberdade e Internação, assim como um aumento significativo na aplicação das medidas em meio aberto de Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida nos anos de 2007, 2008 e 2009. Essa diferença na aplicação dessas medidas é positiva, pois está relacionada ao fato de que o adolescente cumpre a medida em meio aberto, de modo que não se afasta do seio de sua família, como também do espaço escolar.

As medidas socioeducativas possuem um duplo caráter, como punição e possibilidade de reparo do ato infracional, mas também, funcionam como condição para a não-reincidência e com caráter educativo, cujo objetivo seria de reordenar os valores e os padrões de conduta do adolescente transgressor (FRANCISCHINI e CAMPOS 2005). A autora aponta também que não se deve esquecer que as medidas possuem uma dimensão educativa, o que significa que através delas pretende-se oferecer ao adolescente infrator uma possibilidade de inclusão social. As medidas enquanto ações educativas e socializadoras para o adolescente impõem regras de convivência no seio do grupo social que convém que sejam assumidas pelos diversos segmentos da sociedade envolvidos na inclusão social do adolescente.

As medidas e seus aspectos socioeducativos, abrangem, necessariamente, uma atenção aos elementos afetivos que a compõem. Nesse sentido, Nardi (2010) destaca que é crucial o fortalecimento dos vínculos afetivos, até mesmo com a instituição que aplica a medida e com seus profissionais, pois esses podem ser fonte de apoio psicossocial.