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Na escola secular, o livro orientador para o desenvolvimento do ensino, chama-se livro didático. As críticas que lhe são feitas, não tem eliminado sua presença na vida escolar. Ao contrário, ele está cada vez forte em sua utilidade. O livro didático é um instrumento orientador e motivador do processo de ensino. Ele serve, tanto o aluno, quanto ao professor. [...]

De maneira semelhante, a Bíblia é o livro didático para o aprendizado da vida cristã. Nela encontramos os requisitos para a orientação e motivação do aprendizado da fé.497 O pensamento adulto de professores/as via de regra julga que o adolescente que está na sala de aula na ED não quer participar ou não tem muita vontade de acordar no domingo, logo de manhã cedo, para ir a aula. Bastam as aulas da semana. Não é o que mostra a pesquisa. Dos/as entrevistados/as 24, 5% afirmam que querem mais estudos bíblicos. Como já foi registrado muitos alunos acham pouco o tempo de aula. E quando perguntados sobre os assuntos que mais gostariam de estudar na ED, afirmaram que o estudo bíblico é algo que vale a pena. O percentual mostra o valor que eles/as atribuem a Bíblia. O documento supracitado afirma que a Bíblia é um livro didático que ajuda a formação cristã e, pode-se acrescentar ainda a importância dela para a educação e formação cidadã do/a adolescente na ED.

495 Cânones da Igreja Metodista, 2002, Op. Cit., p. 127. 496 Cânones da Igreja Metodista, 2002, Op. Cit., p. 45.

497 Igreja Metodista, Colégio Episcopal, Os juvenis, Biblioteca Vida e Missão, Minis térios, Belo Horizonte,

Arthur T. Jersild, considerado uma autoridade na década de setenta em psicologia do desenvolvimento da infância e adolescência, afirma:

O background religioso e os ensinamentos da religião a respeito da natureza e do destino do homem desempenham um importante papel na determinação da concepção que o adolescente tem acerca de quem e do que é, bem como na elaboração das suas aspirações.498

O ser humano procura dar sentido à vida. A procura pelo sagrado ajuda as pessoas a se encontrarem existencialmente. No presente, as incertezas a respeito da vida atingem a maio ria das pessoas e classes sociais. O adolescente se depara com esta realidade e procura por algo que lhe dê “garantia” de tempos melhores. O adolescente que freqüenta uma igreja julga que Deus está no centro de sua perspectiva de vida. As celebrações litúrgicas, o encontro com os “irmãos e irmãs”, os cânticos, os sermões, a ED ajudam o/a adolescente a dar sentido à vida.

A crise de identidade descrita por Erikson pode ser “amenizada” na relação ser humano e Deus. Nas palavras de Fowler “o comprometimento com Deus e a auto-imagem correlata podem exercer um poderoso efeito ordenador sobre a identidade e a perspectiva de valores do adolescente”.499 Tal relação se torna bússola para a caminhada que estes necessitam para direcionar suas vidas numa perspectiva cristã. Ela pode apontar para algumas certezas entre tantas incertezas, pode definir “os alicerces para uma fé a que possa se apegar, o sustentáculo de suas esperanças”, afirma Jersild.500

Neste contexto o estudo bíblico pode acontecer sob a ótica de dois aspectos: as

Revistas da Escola Dominical e temas geradores a partir da realidade social atual e da

realidade dos próprios adolescentes. O modelo de educação proposto por Paulo Freire tem sentido quando entendemos que a prática educativa na educação cristã tendo a Bíblia como base só pode acontecer embasado em um diálogo professor/a e aluno/a. Freire em Pedagogia

do Oprimido afirma: “o diálogo é uma exigência existencial”.501 Para o trato com a adolescência, o caminho mais importante é o ato dialógico pois, “é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado”.502 De acordo com a pedagogia freireana não se pode educar por ato depositário, “nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes”.503

498 GERSILD, Arthur Thomas, Psicologia da adolescência, 5a ed., brasileira, 1a reimpressão, São Paulo,

Companhia Editorial, Nacional, 1973, p. 488.

499 FOWLER, James, Op. Cit., p. 132.

500 GERSILD, Arthur Thomas, Op. Cit., p. 488. 501 FREIRE, Paulo, Op. Cit., p. 93

502 Id. Ibid., p. 93.

O modelo de Freire ganhou notoriedade por levar em consideração o que os próprios educandos trazem consigo como particularidade cultural, daí surgiam as palavras geradoras, como por exemplo, das necessidades fundamentais, tais como, a) habitação, b)alimentação, c) vestuário, d) saúde, e) educação. Na pesquisa, os adolescentes levantaram vários temas que gostariam de discutir, tais como, drogas, sexualidade, o jovem e sua relação com o mundo de hoje, relacionamentos, profissões, missão da igreja na cidade e no mundo, relacionamento pais e filhos, além dos assuntos levantados pela questão: que (quais) assunto/os você prefere

estudar na ED: doutrinas, história bíblica, vida familiar, política, sociedade. Se o/a professor/a

conseguir em sala junto aos alunos/as fazer um levantamento de palavras que sirvam de temas gerados para serem discutidos à luz da Bíblia (estudos bíblicos) no semestre ou no ano, em outros momentos de reunião com o grupo de alunos, poderá ser de grande proveito para o crescimento educacional e cristão dos juvenis.

O objetivo destes estudos carece de ser entendido como um caminho pelo qual o próprio adolescente ajuda na construção e, deve ser visto como objeto da revelação da ação de Deus na vida do próprio aluno. Todavia, é necessário mostrar para o adolescente que ele é importante para preparar a discussão. Ele é agente e sujeito. É a partir dele e não da história do/a professor/a que se dará a discussão, de modo que a fé “produza a ação libertadora”.504 Esta afirmativa de Schipani se encontra numa perspectiva de relação entre ser humano e Deus, o que gera autoconfiança. Freire, em sua definição pedagógica como já discutido no terceiro capítulo, diz que a relação deve se dar entre sujeito (o/a educador/a), sujeito (educando/a) e

mundo. O educador não tem o papel de depositário que dá conhecimento e experiência de

mundo para o educando, contudo, ambos se encontram como sujeitos no mundo. Ambos têm experiências de vida para construírem um caminho educativo à luz das Escrituras Sagradas.

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