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1.2 Desenvolvimento da Organização do Apego em Adolescentes

1.2.3 Adolescentes em Situação de Risco Social

Os eventos de vida negativos podem influenciar diretamente a estabilidade do apego e posterior formação de vínculos (Bowlby, 1979/2001). Entre esses eventos, considerados como situações de risco social, estão: morte de um dos pais, divórcio parental, baixas condições econômicas, pais solteiros, desordem psiquiátrica parental, abuso de álcool ou drogas e experiência infantil de abuso físico ou sexual e de institucionalização (Halpern, 1990). Assim, considera-se que a organização do apego e a caracterização do working model da criança estão relacionadas com a disponibilidade e a responsividade dos pais/cuidadores, perante esses eventos (Waters & Cummings, 2000). Isto é sustentado pela idéia de que a sensibilidade dos cuidadores primários é influenciada por fatores diversos, externos, oriundos dos seus contextos social e econômico.

Entre os aspectos de risco social, a pobreza aparece como uma das causas de maior exposição aos fatores de risco, segundo Halpern (1990), pois o micro-ambiente familiar é transpassado/influenciado diretamente pelos fatores econômicos que caracterizam o seu contexto. As forças atuantes através da pobreza englobam a impossibilidade de moradia adequada, de aquisição de medicamentos, de nutrição e de um ambiente seguro e adaptado à fase desenvolvimental da criança. Tais eventos são correlacionados com um aumento na distância

emocional, nas restrições e nas punições, menor espontaneidade e menor responsividade parental. As estratégias adotadas frente à condição de pobreza, geralmente, são severas em função de poucos recursos disponíveis para o manejo parental. As explicações para esse tipo de conduta referem-se a uma maior exposição a riscos, que não são controlados e que exigem dos cuidadores esse manejo mais rígido, como, por exemplo, o pertencimento a uma vizinhança violenta (McLoyd, 1998). Assim, as chances de que situações de risco ocorram são acentuadas na pobreza. Contudo, a utilização da rede de apoio fomenta esses aspectos e possibilita a não ocorrência de situações de risco repetidamente. Halpern (1990) aponta que, neste sentido, as características dos cuidadores têm importância central na condução da exposição, ou não, a maiores fatores de risco, e nas repercussões disso no desenvolvimento da criança. E, sobre esse aspecto, a situação econômica fica em segundo plano, ou seja, as estratégias usadas para lidar com a realidade são mais importantes do que os percalços do mundo real.

Entre as características do funcionamento psicológico dos cuidadores, a depressão, a ansiedade, os distúrbios somáticos, os problemas alimentares e do sono, além dos distúrbios de personalidade, são apontados como exemplos de condições que podem aumentar a exposição e a vivência de situações de risco e desencadear resultados menos adaptativos (McLoyd, 1998). As conseqüências desse funcionamento emocional agem diretamente sobre o desenvolvimento da criança ou do adolescente e nas interações em que estão submetidos. A inter-relação destas condições com as características particulares da criança ou do adolescente pode, por sua vez, significar maior risco ou proteção para o desenvolvimento.

Os fatores de risco que são importantes na consideração da saúde individual na adolescência envolvem os hábitos alimentares, a prática de exercícios físicos regulares, falhas nos cuidados primários com a saúde, história familiar de doenças físicas crônicas e transtornos mentais (Simeonsson, 1994). Entre os transtornos mentais, o déficit de atenção e transtorno de hiperatividade, os desvios de conduta e a desordem desafiante oposicional, são apontados por Short e Brokaw (1994) como distúrbios de externalização. Geralmente, essas perturbações aparecem em casos de rejeição precoce, comportamentos agressivos e hostis nas interações sociais, sendo que o cuidado parental caracteriza-se por uma prática inconsistente e de disciplina punitiva (Short & Brokaw, 1994).

As características pessoais prevalentes na incidência desses distúrbios de externalização envolvem o surgimento precoce de resistência às medidas disciplinares, irritabilidade, dificuldades cognitivas e de linguagem e comportamentos agressivos. Assim, considerações a respeito do temperamento, do funcionamento neurobiológico, da autopercepção e do desenvolvimento social estão relacionados ao surgimento dessas desordens de comportamento (Short & Brokaw, 1994).

Estas características provavelmente estão associadas com um aumento de comportamentos negativos e com características da interação com os cuidadores, professores e pares que, muitas vezes, exacerbam o problema.

Além das desordens de externalização, existem os transtornos de internalização que acometem crianças e jovens, como, por exemplo, solidão, evitação social, desordens depressivas, transtornos de ansiedade, falha escolar, suicídio, entre outros (Bucy, 1994). A incidência desses transtornos está associada a fatores de risco como: pertencimento a minorias étnicas, baixo nível sócio-econômico, nível sócio-econômico elevado, cuidadores com depressão ou transtorno do pânico, ou de ansiedade, ter vivenciado depressão de um dos pais antes de ter 20 anos, doença afetiva maternal ou paternal, divórcio parental, problemas gestacionais maternos, residência com outros indivíduos que não os pais naturais, exposição a eventos de vida estressantes (terremotos, pobreza, por exemplo), rejeição entre os pares e apego inseguro, comportamento inibido e atrasos de desenvolvimento (Bucy, 1994). Esses aspectos são freqüentemente considerados como preditores de psicopatologia na vida adulta, de acordo com Bucy (1994).

Sroufe e Fleeson (1986) ressaltam que as experiências de internalização, que resultam nos

working models, são edificadas em relacionamentos afetados por outros relacionamentos que

constituem um todo, que pode ser positivos para o desenvolvimento ou representar riscos. Neste sentido, a identificação de fatores de risco na adolescência requer um exame global de inúmeros aspectos que fazem parte do contexto ecológico do adolescente (Simeonsson, 1994). Isto significa que os relacionamentos são mais do que uma simples combinação de características individuais das pessoas e envolvem o contexto ecológico em que as interações ocorrem. Assim, a incidência de problemas na adolescência como gravidez, crimes e vandalismo, abuso de substância, déficit escolar, acidentes e hospitalização, dependem do nível de saúde do funcionamento familiar, individual e da comunidade em que o jovem está inserido (Simeonsson, 1994).

Conforme teoriza Bronfenbrenner (1979/1996), existe uma importante relação entre o comportamento e os ambientes, sendo que os eventos desenvolvimentais que têm maior influência no desenvolvimento de uma pessoa são as ações que outras pessoas fazem com ela ou em sua presença em um determinado contexto. Pensar que o desenvolvimento ocorre em contextos e que existe uma ecologia da vida diária dos adolescentes, significa que as ações individuais são sempre realizadas em settings psico-sociais que, com suas características e peculiaridades, oferecem às potencialidades individuais altas ou baixas possibilidades de serem expressas e desenvolvidas (Ryan & Adams, 1999).