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1.2 Desenvolvimento da Organização do Apego em Adolescentes

1.2.1 Características Gerais da Adolescência

A palavra adolescente tem origem no latim e é derivada do verbo adolescer, sendo um dos seus significados o crescimento para o status adulto. De acordo com Blos (1994), a adolescência é uma segunda fase de individuação, na qual os relacionamentos são definidos em termos de padrão,

afinidades, diversidade e intimidade. Levisky (1998) acrescenta que a adolescência pode ser entendida como um processo que ocorre durante o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado por uma revolução biopsicossocial, sendo o biológico, o psicológico e o social, distintos e interatuantes na ação de maturação para a adultez. Assim, a adolescência caracteriza-se por ser um período de transição e pode ser entendida como um construto social (Grotevant, 1998). Na perspectiva da TA, a adolescência se caracteriza por um período no qual a motivação social impera (Brown & Wright, 2001).

Ao longo da história, a adolescência tem sido caracterizada de diversas formas. Esta fase é entendida como um importante estágio do ciclo vital, marcado pela emocionalidade, instabilidade e turbulentos desejos sexuais, que se inicia sob a influência de aspectos biológicos, na puberdade, e termina de acordo com os pressupostos da cultura (Conger & Petersen, 1984). Apesar dessa caracterização da adolescência ser fortemente ligada a estereótipos e estigmas de que essa etapa é marcada por tormentos e conturbações vinculadas à emergência da sexualidade, essa é uma concepção predominante atualmente na psicologia (Ozella, 2002). Como saída teórica a esta visão naturalizante (supremacia dos condicionamentos biológicos) e patologizante da adolescência – adolescer/adoecer – essa fase também tem sido compreendida como uma criação histórica do homem, enquanto representação e enquanto fato social e psicológico, em que as mudanças no corpo e no desenvolvimento cognitivo são marcadas, destacadas e significadas pela sociedade (Ozella, 2002).

Zagury (1996) realizou uma pesquisa no Brasil em que entrevistou adolescentes de diversas etnias e classes sociais, derrubando vários mitos acerca do comportamento e do pensamento adolescente sobre diversos assuntos. Os temas tratados abrangeram questões sobre drogas, sexo, felicidade, relação com irmãos, com pais e com amigos. A partir dos resultados da pesquisa de Zagury (1996) pode-se observar o que pensam e sugerem os adolescentes sobre esses assuntos, dando-se alternativas para os radicalismos sobre a etapa de passagem para a vida adulta. No livro O

adolescente por ele mesmo, que trata sobre essa pesquisa, um relato de um dos adolescentes

participantes revela uma excelente descrição da adolescência: “Na adolescência, precisamos de um tempo para pensar, para rever nossas crenças e concepções, antes exercida apenas por conta do modelo familiar. O tamanho desse tempo é pessoal, varia de indivíduo para indivíduo, de jovem para jovem. Aos poucos teremos condições de decidir por nós mesmos se a nossa fé é a mesma do modelo familiar e de que forma queremos professar. Precisamos desse momento para emergirmos como indivíduos...” (Zagury, 1996, p.221).

O desenvolvimento na adolescência envolve uma série de passagens da imaturidade para a maturidade, que podem ser diferenciadas em adolescência inicial, período entre os onze e os catorze

anos; adolescência intermediária, entre os 15 e os 18 anos; e adolescência final, dos 18 aos 21 anos (Steinberg, 1989). Esta divisão consiste em idades aproximadas, que marcam o sistema educacional, alguns ritos de passagem e diferentes aspectos da adolescência. Além disso, Blos (1994) aponta que essas diferenciações são decorrentes do fato de que realmente existe uma seqüência ordenada de desenvolvimento psicológico na adolescência que pode ser descrita em termos de fases mais ou menos distintas. Um pré-requisito para o ingresso na fase adolescente é a consolidação do período da latência, que proporciona à criança um preparo, em termos de desenvolvimento do ego, para os incrementos emocionais desencadeados com a puberdade (mudanças biológicas).

Para Steinberg (1989), existem três mudanças fundamentais na adolescência, que são as mudanças biológicas, as mudanças cognitivas e as modificações sociais. Os contextos em que o adolescente viverá essas modificações são na família, no grupo de pares, na escola e, em alguns casos, no seu local de trabalho. Os aspectos psicológicos e os problemas do adolescente envolvem a formação de uma identidade, de autonomia, de intimidade, da iniciação à prática sexual, de aquisições e a ocorrência de problemas como gravidez, uso de drogas e álcool, delinqüência, depressão, entre outros (Steinberg, 1989).

Crittenden (2003) aponta que na adolescência novas competências se fazem presentes servindo de passagem para o mundo adulto. Entre estas, estão incluídas o raciocínio abstrato, as habilidades sexuais e o comportamento reprodutivo. O desejo sexual, com o resultado de reprodução que o acompanha e o conforto ou redução de tensão possibilitada na prática sexual, é um dos aspectos principais da adolescência, já que é nesse período que as escolhas de parceiros serão exercitadas, assim como as primeiras experiências sexuais.

Durante a adolescência é realizada a aprendizagem de como se seleciona uma parceria com a qual possa-se sentir seguro, confortável e desejar-se a realização de planos futuros. Conger e Petersen (1984)argumentam que a aprendizagem de administração de relacionamentos recíprocos e simétricos de apego é uma das tarefas centrais da adolescência. Nesta etapa, a sexualidade configura-se ativamente, implicando uma escolha de gênero, acompanhada pelos ritos de passagem e modificações da puberdade, com a formação de novos relacionamentos entre pares junto à iniciação às relações românticas. Os resultados positivos, nesse processo, geram um aumento na auto-estima, na auto-eficácia e na rede de apoio social, em relação ao seu melhor uso. No entanto, esse processo pode ainda ser influenciado por rupturas e/ou lapsos vividos nas experiências primárias de apego, as quais, nessa fase, estão em ação tanto para a modificação quanto para a repetição de padrões anteriores.

No período desenvolvimental da adolescência, as possibilidades de operações formais aumentadas podem permitir que as representações primárias se modifiquem, através de insights e

reflexões, enquanto que na infância mudanças concretas nas experiências são necessárias para que ocorram modificações nos níveis representacionais e subjetivos do indivíduo (Furmam, Simon, Shaffer & Bouchey, 2002). Em função dos adolescentes terem um número menor de experiências interpessoais, em relação aos adultos, os modelos de relacionamentos com os cuidadores têm um papel particularmente importante sobre a formação, as expectativas e as demandas nas interações características dessa fase.

As tarefas que marcam a adolescência como o estabelecimento de uma identidade, desenvolvimento da autonomia e formação de relacionamentos íntimos (Cunliffe, Lee, Bashe & Elliott, 1999), abrangem não somente componentes de ideologia ou de domínio ocupacional, religioso ou político, mas também elementos característicos dos relacionamentos interpessoais nos domínios da amizade, relações românticas, papéis e escolhas sexuais, assim como, em atividades recreativas. Toda a exploração nessa fase serve como precursor para a confiabilidade nos relacionamentos íntimos futuros.

Neste sentido, os pais ou cuidadores têm um papel crucial de auxilio para a regulação das emoções dos adolescentes. Entretanto, Crittenden (2001) ressalta que na adolescência as relações com as figuras de apego sofrem mudanças drásticas. Estas modificações habilitam o adolescente para relacionamentos fora do seu círculo familiar, sendo que os novos movimentos interpessoais são influenciados pela forma de interação moldada com os cuidadores na infância. Neste contexto, o relacionamento com os cuidadores pode ser contingente de todas as ansiedades provenientes dessas transformações ou ser um fator de complicação para o desenvolvimento destas mudanças.