• Nenhum resultado encontrado

C APÍTULO III: R ESULTADOS

3.1.3. D ADOS DAS S ESSÕES : P RIMEIRA P ARTE

Por uma questão de estruturação, os resultados foram analisados à luz de cada fase de implementação do programa. A primeira fase de sessões teve, tal como sugerido pelos autores supramencionados, os principais objetivos de, por um lado, treinar a fotografia,

43

na sua captação e leitura, apreendendo algumas competências chave, por outro, promover a interligação e a coesão ente o grupo.

A primeira sessão aconteceu a 29 de abril. As dinâmicas inicialmente pensadas tiveram que ser, desde logo, ajustadas ao grupo. Tornaram-se evidentes algumas dificuldades de memória ao nível da atenção e da retenção, bem como da evocação. Não obstante, os participantes mantiveram-se aparentemente motivados e divertidos, principalmente depois de experienciarem em conjunto estes primeiros jogos. No que toca à explicação da metodologia e debate sobre possíveis objetivos de um programa de Photovoice, o entendimento enalteceu algumas limitações: os participantes ouviam com atenção, mas não era óbvio que compreendessem efetivamente o que lhes estava a ser dito/pedido. Nesta sessão, o uso de fotografias captadas por vários autores como exemplo e enquanto indutor de identificações proporcionou momentos de grupo criativos. Não obstante, as respostas de todos os participantes ao longo de toda a sessão mantinham-se pouco desenvolvidas, e muito similares entre si (como, por exemplo, relativamente ao “mais importante” da sessão, todos

deram respostas semelhantes, no domínio de «é estar aqui»). O participante A2 evidenciou maior facilidade em compreender o que estava a ser pedido, tal como traços de maior autonomia em relação aos colegas; a participante C2 mostrou maiores dificuldades de compreensão.

A segunda e terceira sessão aconteceram a 5 e 12 de maio, respetivamente. Ambas decorreram com leveza e os elementos aderiram bem às propostas. Da primeira para a segunda sessão, apenas o Participante A2 cumpriu conscientemente os dois objetivos, sendo o primeiro tirar retratos a outras pessoas e o segundo fazer um autorretrato; os restantes três cumpriram apenas o primeiro desafio, não ficando claro se por perceberem que esse era o desafio, se por sua própria vontade.

Figura 4 - Participantes da primeira implementação do projeto de Photovoice na ADSFAN, fazendo "caretas" durante a primeira sessão

44

Esta sessão aconteceu dentro dos mesmos moldes que a primeira, aproveitando-se para se treinar aquele que seria o desafio seguinte (fotografar um mesmo objeto de diferentes maneiras, na figura 5) no final. Este exercício prático em sessão mostrou-se eficaz, mas não voltou a ser repetido.

Figura 5 - Exemplo do Desafio 2: mesmo objeto, diferentes maneiras de fotografar “Era uma prenda que ofereceram à minha mulher… … e eu lembrei-me de fazer aquilo. A primeira vez tirei em cima da cama. E depois continuei… em cima da cadeira… em vários sítios” (cit. Participante A2)

O Participante A2 voltou a cumprir o desafio com sucesso, a C2 também mas com o apoio da Animadora. Um dos objetivos foi aqui evidente: treinar o ato de fotografar. Aproveitou-se, então, ao visualizar as fotografias que foram captadas entre sessões, não só para debater aspetos éticos relacionados com a imagem, como para dar exemplos do que funciona, ou não, em fotografia. Alguns erros (figura 6 como exemplo) surgiram com frequência, não só ao nível dos enquadramentos mas, por exemplo, os dedos à frente da lente ou a gravação de vídeo ao invés do modo de captação instantânea.

45

Relativamente aos temas fotografados, a maioria das vezes, mas principalmente nesta fase inicial, os participantes escolhiam os colegas de grupo para os retratos. Muitas vezes, e ao longo de toda a intervenção, as colegas da própria equipa eram fotografadas. Sempre que possível, era a família o alvo de eleição de retratos. Segundo os próprios, foram começando a ganhar o hábito de pedir autorização para fotografar. Para além dos retratos e do que era pedido através dos desafios, naturalmente os participantes foram, também, fotografando o seu quotidiano.

Figura 7 - Exemplos de fotografias de retratos tirados durante a fase inicial

De forma geral, nesta primeira fase deu-se, assim, primazia à aprendizagem e à ligação com a máquina fotográfica, bem como à interação entre os sujeitos. As dinâmicas e jogos tornam-se momentos de particular pertinência neste género de trabalho com grupos (Lima, 2004) e, desde logo, estes momentos foram intencionalmente estimulados. Mas esta fase inicial foi também significativa pelo seu impacto na vida diária, não só dos participantes, mas de todo o lar. Ao longo destas três/quatro primeiras semanas, a própria casa ganhou uma dinâmica nova. Principalmente o Participante A2 e a Participante C2 andavam sempre «de máquina em riste», disparando em todos os sentidos. Pediam ajuda à equipa, pediam igualmente ajuda entre si, por vezes, pediam ajuda até a pessoas que vinham visitar outros utentes. Equipa e familiares faziam «pose», como se

mostra nas figuras 7 e 8. Figura 8 - Fotografias ilustrativas das novas dinâmicas

46

Ao nível das técnicas fotográficas, notou-se já nesta fase uma evolução, principalmente no uso mais consciente dos enquadramentos, bem como da intenção fotográfica em si. Fez parte dos objetivos desta terceira sessão a introdução da ideia de fotografia como forma de comunicação de emoções. No entanto, continuou a notar-se dificuldade no desenvolvimento do pensamento abstrato e do raciocínio crítico. Isto tornava-se evidente, por exemplo, quando os participantes não conseguiam verbalizar ideias para fotografar sentimentos básicos, tais como alegria, raiva ou tristeza, além do diretamente lógico (alegria = sorrir / tristeza = chorar).

Relativamente aos objetivos do programa, em termos de investigação do bem-estar, notou-se, que os elementos do grupo recusavam frequentemente responder a tais questões, afirmando-se incapazes de dizer o que para eles seria importante e, muito menos, de o fotografar. Tomando imagens, captadas tanto pelos próprios como por outros autores, como exemplo, foi-se trabalhando a noção de fotografia enquanto metáfora de uma mensagem. Apesar deste esforço, os participantes permaneciam a dar respostas no domínio do pensamento concreto, que se caracteriza pelo predomínio de um raciocínio lógico, mas não do abstrato (Papalia, Olds & Feldman, 2006).

Esta fase terminou com uma sessão extra, dirigida pela Professora Maria Kowalski. O objetivo passou por proporcionar um momento de aprendizagem com alguém profissional, bem como de partilha das vivências e das dificuldades sentidas até ali. Os participantes puderam, assim, ver as suas fotografias mostradas, pela primeira vez, a uma pessoa externa à Associação, receber o seu feedback e acolher algumas indicações técnicas de base. A sessão incluiu o aprofundar do desafio três: fotografar emoções.