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C APÍTULO III: R ESULTADOS

3.2.3. R ESULTADOS JUNTO DA COMUNIDADE

O impacto do programa junto da comunidade e a provocação de transformação social não é algo que seja, provavelmente, possível de avaliar num tão curto espaço de tempo. O estereótipo de que as pessoas idosas são demasiado velhas para aprenderem ainda representa um enorme obstáculo a esta perspetiva de aprendizagem ao longo da vida (Moody, 2002). Indubitavelmente, a implementação do programa, a responsabilização dos participantes e a sua aprendizagem enquanto fotógrafos proporcionaram, tanto no lar

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como junto de famílias e visitantes, novas dinâmicas, potencialmente proporcionadoras de maiores crenças no potencial que a pessoa idosa mantém para apreender competências e se envolver em atividades associadas a linguagens artísticas.

Alguns pontos devem ser considerados junto do grupo (PhotoVoice.org, s.d.), nomeadamente, orçamento, o que exibir, tema, espaço, forma de exposição e disposição das fotografias, público-alvo, datas, publicidade e divulgação, inauguração, responsabilidades e avaliação dos seus resultados. É essencial garantir que a exposição tenha cobertura jornalística. Os apoios das entidades parceiras adquirem aqui real significado. Ao se proporcionar a divulgação do programa, espera-se vir a conseguir uma maior credibilização deste projeto em particular, bem como de outros do género, que estimulem e redirecionem o investimento político – pelo menos, o local – em matéria de envelhecimento. Este será um ponto a aperfeiçoar.

A fotografia é hoje cada vez mais acessível a todos e por quase todo o mundo usada, mas nenhuma destas pessoas havia mexido numa máquina fotográfica antes de tal oportunidade ser proporcionada em lar. Se ao nível da investigação das dimensões do bem-estar os resultados podem ser considerados de parca inovação, é indiscutível a demonstração de que estes participantes provaram de que é possível aprender-se a tirar fotografia e a usá-la como comunicação, mesmo tendo uma idade avançada, sendo-se proveniente de meios rurais e detendo pouco desenvolvimento escolar e cultural.

3.3.C

ONSIDERAÇÕES

G

ERAIS

-L

IMITAÇÕES DO ESTUDO

Segundo Meirinho (2012), este tipo de projeto acaba por espelhar um instrumento de expressão que opera no sentido da reflexão identitária e do resgate da autoestima dos seus participantes, estimulando-se o diálogo e as relações de confiança, permitindo discussões mais aprofundadas sobre as suas estruturas identitárias e reflexões pertinentes sobre as suas necessidades e problemas. De uma forma geral, acredita-se que a envolvência no projeto e na exposição, por si só, terá sido extremamente importante para os utentes. Como previsto (e.g.: PhotoVoice.org, s.d.), a participação, especialmente na inauguração, terá elevado a sua sensação de satisfação com a vida e aumentado a sua autoestima. Até que ponto terá existido uma efetiva melhoria na sensação de bem-estar de cada participante pela sua integração no projeto, não é conclusivo. Algumas limitações podem

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ser facilmente apontadas ao projeto aqui descrito e a sua avaliação será uma delas. Possuir dados comparativos que possibilitassem acreditar que a participação destas pessoas terá sido, para elas, benéfica, teria sido pertinente. De qualquer forma, num grupo tão reduzido, seria impensável atentar generalizar tais resultados. Este género de investigação promulga-se qualitativo e atende muito mais à procura de um melhor entendimento da situação particular. Não obstante, considera-se que teria sido possivelmente benéfico conseguir um grupo ligeiramente maior, como forma de aumentar a probabilidade de partilhas, de maiores aprofundamentos e de diferentes dinâmicas entre o próprio grupo. Reforçado pelos próprios participantes, teve este programa como pontos negativos a falta de saídas/atividades em conjunto para treinar a fotografia e de uma ou mais idas a exposições – o que teria sido particularmente importante na fase em que aconteceu alguma desmotivação. De facto, com uma população tão inexperiente, será importante aprofundar mais a prática em si, o que aliás se poderá espelhar não necessariamente num aumento das sessões mas num planeamento de atividades prévias ao início do programa. Para além do mais, este planeamento pode igualmente atender, avaliar e antecipar a estimulação do raciocínio crítico e do pensamento abstrato e metafórico, precapacitando, assim, melhor os participantes para os desafios que se seguirão.

A determinada altura considerou-se vantajoso diminuir o espaçamento entre sessões. O quotidiano de pessoas a residir em ERPI é necessariamente particular, a ocupação e a autonomia para se envolverem em atividades prazerosas são reduzidas, o isolamento é tendencialmente maior e, por estas razões, é de considerar que o ritmo dos dias seja percebido de diferente maneira, comparando com pessoas em idade ativa. Assim sendo, uma semana pode parecer muito tempo e, aliado à falta de acompanhamento entre sessões, este distanciamento pode tornar-se desmotivante e deve ser considerado.

Como defende Paúl (1997), numa análise global é inconcebível não atender às características individuais da pessoa idosa, só percetíveis no entendimento do seu curso de vida e na sua adaptação à sua realidade atual. As dificuldades associadas às características da idade têm de ser sempre tidas em conta. Auxiliares de memória, preferencialmente, que não impliquem a leitura, devem ser preparados para ajudar ao cumprimento dos desafios.

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As limitações financeiras não deixam de ter o seu impacto, principalmente ao nível da escolha dos materiais e da montagem da exposição. As necessidades logísticas, além de planeadas, devem ser adaptadas ao longo do tempo de forma flexível e ajustada, para que não se gerem entraves desnecessários; a maioria das necessidades percebidas foi atendida ao longo do projeto (cadeiras, audição, visualização, entre outras…).

Considera-se ser de extrema importância que os objetivos do projeto sejam debatidos e decididos com o grupo desde o início, para que estes os percebam com clareza e para que o facilitador procure consenso na sua definição, podendo começar-se por questionar o que os participantes gostariam de fotografar (PhotoVoice.org, s.d.). Este foi um ponto difícil de atender nesta implementação do projeto e pode ter decorrido de diversos fatores, que vão desde as características dos participantes à intervenção do próprio dinamizador. É fundamental que, sem pressões, se faça atenção a este aspeto no futuro.

O facto de não serem os próprios participantes a selecionar, autonomamente, as fotografias a levar para a sessão é uma limitação a ser reconhecida, e existirão perdas que decorrerão de os mesmos não passarem por este processo cognitivo de escolha e de exclusão. Claramente, não se pode tornar esta condicionante num impedimento.

No trabalho com pessoas idosas, é frequente algumas situações inesperadas surgirem e alterarem o curso dos projetos. Nenhum mal grave aconteceu aos participantes durante a implementação das sessões. No entanto, constrangimentos súbitos impediram um melhor acompanhamento dos mesmos, especialmente, numa fase tão importante como a final, de preparação da exposição.

Teria sido particularmente pertinente, percebeu-se, uma maior observação do que foi para os utentes voltarem a estar sem esta atividade nos seus quotidianos. Apesar das máquinas não terem sido logo retiradas, poderão ter passado até por um processo de luto, por um objetivo que se perdeu, e esse impacto não foi devidamente avaliado.

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