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Afinal, o que é um círculo vicioso?

No documento Abordagem em Grupo e Mútua Ajuda (páginas 143-147)

143Aula 29 – Círculo vicioso

29.1 Afinal, o que é um círculo vicioso?

Segundo especialistas, círculo vicioso está relacionado a atividades que não se tem controle sozinho e envolve sentimentos, comportamento, atitudes que afetam o indivíduo e as pessoas a sua volta. A figura 29.1 representa claramente este círculo

A imensidão de informações que a ciência disponibiliza sobre os mecanismos neurofisiológicos, fica mais evidente a incidência de fatores biológicos, psi- cológicos e socioambientais sobre determinados vícios.

Alguns autores caracterizam o vício como o não controle ao impulso, e a pessoa passa a repetir comportamentos, que a levam a perder a possibilida- de de escolhas e a comprometer seu comportamento.

Apontam ainda que os fatores socioambientais, biológicos e psicológicos interferem no fator dependência. E finalmente apontam que pode haver dependência mesmo sem o uso de droga.

Vício

é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Dicionário Aurélio on line.

Acesse o site: http://bit. ly/1v0ZMIi e encontre outras figuras ilustrativas sobre o círculo vicioso e a ação de outras drogas no organismo humano.

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Figura 29.1: Círculo vicioso

Fonte: http://bit.ly/RCNKVW

Veremos agora alguns trechos da entrevista, realizado pela Folha de São Paulo, disponibilizada na íntegra no link Saiba mais.

Sobre a relação o vício e as células humanas:

Os mecanismos que levam ao vício puderam ser mais bem entendidos nos últimos dez anos com os avanços da neurociência. Adaptação celu- lar, tolerância, explicações para a abstinência: o ciclo vicioso pode estar dentro de nossas células e ter um componente hereditário. Mas fatores psicológicos não são descartados.

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Ou seja, as questões relativas ao vício, área de estudo da neurociência é re- cente, apenas 10 anos. O círculo vicioso pode depender de um componente hereditário, apesar de não descartar o fator psicológico.

Sobre a origem do bem-estar provocada pela dependência:

Quem usa a droga se sente bem. Tanto o álcool quanto a maconha vão bombardear o sistema dopaminérgico. Quando bombardeiam o sistema dopaminérgico, liberamos dopamina e ficamos alegrinhos. O álcool tem os dois efeitos: você fica tranquilo, que é o efeito ansiolítico, e ao mesmo tempo tem um efeito euforizante.

Está relacionada ao sistema dopaminérgico, a liberação da dopamina que leva ao corpo todo a sensação de bem estar.

Em relação ao avanços da ciência:

Hoje nós sabemos os efeitos no nível molecular. Hoje nós sabemos muito mais desses efeitos das drogas. Estamos descobrindo os circuitos da adição (dependência) com o advento da neuroimagem, da neuroci- ência e da biologia celular, que trouxeram a possibilidade de se verificar a ação das drogas no sistema nervoso central. Há uns dez anos isso não era possível. Por que os circuitos da adição? Uma vez que se sabe onde as drogas atuam, sabemos onde poderão dar futuramente pro- blemas. Antes isso não era possível de se estudar e nem de ser obser- vado. Hoje, com uma análise de biologia molecular, estudamos esses fenômenos em nível celular, de como as drogas chegam às células e como ativam os receptores. Também verificamos o efeito visualizando o cérebro, como ele reage a essas drogas. De dez anos para cá houve uma verdadeira revolução.

Houve uma evolução nos últimos dez anos, hoje a ciência sabe mapear no organismo humano que áreas são afetadas a partir da ingestão de algumas drogas.

Sobre a adaptação celular, por exemplo, por que um indivíduo desenvolve o vício? Qual é o mecanismo da adição?

Vamos pegar como exemplo o caso do álcool, mas isso é aplicado de uma certa forma para todas as drogas. O indivíduo usa o álcool para

Assista ao vídeo onde Fábio Assunção, ator, fala sobre o processo de dependência e a busca por ajuda. Acesso: https://www.youtube.com/

watch?v=HenJsd8Pr7E

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se sentir tranquilo. Chega em casa toma um vinhozinho, um uísque. Isso vai aumentar os efeitos das células de inibição do sistema nervoso central. Aumenta o poder ansiolítico. Acontece que bombardeando o sistema nervoso central com álcool, a célula começa a desenvolver uma adaptação, ela começa a reduzir os efeitos de inibição do sistema gabaérgico. É o que chamamos de adaptação homóloga. Adaptação homóloga porque vai ser específica para o álcool e quando o álcool bater na célula ele não vai ter o mesmo efeito ansiolítico. Qual é a re- percussão disso? O indivíduo precisa beber mais para manter o mesmo efeito. A célula cria uma defesa contra o álcool. Quando bombardea- da, aquilo acelera a inibição, que potencializa o efeito ansiolítico, mas a célula começa a se defender. De tal sorte que será preciso, com o tempo, de mais álcool para ter o mesmo efeito que se tinha lá atrás.

É o que chamamos de adaptação homóloga, onde a célula cria uma defesa contra o álcool. Ou seja, o indivíduo fica mais resistente e cada vez mais precisa de uma dose maior para chegar a sensação de prazer.

A citação abaixo aborda uma questão bem controversa relacionada à he- rança genética do vício. Ou seja, possibilidade de herdarmos dos familiares tendências a desenvolverem a dependência.

Cada indivíduo tem a sua biologia particular. Toda essa parte biológica é gerenciada pelo que nós herdamos, pelos genes, que vão orquestrar todo o funcionamento do sistema de RNA e de funcionamento da cé- lula. Então as pessoas têm vulnerabilidades diferentes para desenvolver mecanismos de adaptação. Algumas pessoas podem até não desenvol- ver os mecanismos de adição. Mas nós sabemos que tem um grupo mais vulnerável que desenvolve essa resposta celular, em geral 10% da população. O que quer dizer isso? Esses 10% vão ter o mecanismo ativado com o tempo e serão aqueles que irão precisar de muita droga para ter o mesmo efeito que tinham no início. Então começa-se a in- gerir quantidades tóxicas, seja de álcool ou de cocaína. Esse é o vício.

Está relacionada a biologia individual que é gerenciada pelo que nós herda- mos, pelos genes, que vão orquestrar todo o funcionamento do sistema de RNA e funcionamento da célula.

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Uma vez viciado, sempre viciado:

Uma vez desenvolvido o mecanismo de defesa celular, nós não sabemos como desativá-lo. Por isso que uma pessoa que desenvolve o vício per- manece com o vício. A comparação que eu faço é com a transamazôni- ca. Uma vez que se abriu aquele caminho, aquele caminho está aberto. Quando entrar cocaína, vai passar por ali. Porque a estrada, bem ou mal, está aberta. O indivíduo que desenvolve a adição nunca mais vai usar a droga como usava antes. Aquilo fica guardado na célula, fica na memória celular.

Está relacionada ao fato de que uma pessoa que passou pela experiência da dependência irá permanecer para sempre com esta memória em sua célula.

Pode-se concluir que para entender o termo ‘círculo vicioso’ é preciso enten- der um pouco do que ciência traz, os avanços na busca de tentar entender a dependência e está sendo considerada uma combinação de fatores biológi- cos, psicológicos e culturais.

Resumo

Nesta aula vimos que o efeito da dependência não traz apenas aspectos ne- gativos para as pessoas dependentes, acaba que as drogas ajudam as pessoas a quebrar barreiras de defesa, como a timidez e assim por diante.

Atividades de aprendizagem

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