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CAPÍTULO III – INSERÇÃO E ASCENSÃO DOS AFRO-BRASILEIROS

2. Afro-brasileiros(as) na história da Igreja Metodista Central de Piracicaba entre 1883 a

A dificuldade encontrada para visualizar os afro-brasileiros na historiografia do metodismo em Piracicaba, reflete não só o seu lugar social dentro e fora da comunidade metodista, que reproduz internamente a invisibilidades destes no cenário nacional, como

32 Rodapés do templo, assim como os vitrais nas cores da bandeira do Brasil. Fotos do acervo da Igreja

também advém dos limites impostos pelos critérios de catalogação de dados da época.Em Piracicaba, os modelos dos Livro de rol de membros permanente ou mesmo do colégio piracicabano, não dispunham de campos específico indicando etnia/raça ou qualquer outra explicação que pudesse dar visibilidade aos eventuais membros da igreja local , apesar de que a quantidade de documentos analisada não é suficiente para uma conclusão definitiva tanto da ausência, quanto da presença de afro-brasileiros nessas instituições. Nascimento (1978:74) afirma que apesar dos dados do IBGE entre os anos 1872 a 1930 apresentarem uma crescente diminuição da população negra no país, isso não condizia com a realidade concreta dessa população. Pois, tal distorção fazia parte do projeto de ―embranquecimento‖ do Brasil, política fortemente defendida no período. Essa ideologia que inclusive prognosticava o enbranquecimento total do Brasil até o ano 201233, não apenas tentou esconder os afro- brasileiros na historiografia e pesquisas do IBGE, como afetou significativamente sua relação com a igreja metodista.

2.1 Na membresia da igreja local

Segundo Barbosa (2005:106,) um importante documento produzido pela Comissão Especial para a evangelização eleita em Buenos Aires, em reunião da Igreja Metodista Episcopal em 1889, chamado: ―A evangelização dos índios e dos libertos do Brasil‖, contabilizou naquele ano, ―provavelmente, mais de um milhão e meio de pretos emancipados‖ no Brasil. Todavia, o rol de membros da igreja metodista em Piracicaba não refletia essa realidade.

A Igreja Metodista de Piracicaba foi fundada em 1881 e de acordo com o seu Livro (Anexos 31)34 permanente de membros, no dia 21 de Janeiro 1883, a primeira afro-brasileira, a saber, Flora Maria Blummer de Toledo, foi admitida por pública profissão de fé, conforme registro de número 14. Curiosamente, nesse mesmo dia foram admitidos membros da família de Pedro Blummer, antiga proprietária da irmã Flora. Conforme registros de Zuleika Mesquita e Isis F. Giannetti (Anexo32)35, Flora teria nascido em Porto Feliz em 1833 na Fazenda de Matias Toledo. Teria sido vendida em 19 de Abril de 1875, a um protestante luterano, chamado Pedro Blummer, o qual vendera à missionária Martha Watts que providenciara a sua

33 João Batista de Lacerda, teria predito no 1º Congresso Universal de Raças, acontecido em Londres em 1911

que a raça negra seria extinta do Brasil em 2012.

34 O livro de Rol de membros foi reescrito a partir de 1883. Acervo da Igreja Metodista Central de Piracicaba 35 Acervo do Centro de Memória Martha Watts

alforria, contratando-a como cozinheira no Colégio Piracicabano. A metodista Flora permaneceu na igreja até 1892, quando morreu, causando muita comoção entre o alunato da escola onde era conhecida como tia Flora.

Segundo Jones (1967:286), somente em 1887, o primeiro brasileiro começou a fazer parte da Igreja do Campo. Em Piracicaba, no entanto, teríamos uma afro-brasileira entre os primeiros membros da Igreja, pelo menos é o que Salvador (1982:150) avalia: ―os missionários metodistas em Piracicaba, desde 1883‖ admitiram novos convertidos negros. Talvez esteja se referindo especificamente à Flora Blummer. É interessante que ao considerar a dificuldade de identificar negros na membresia da Igreja Metodista da época, o autor deixa escapar uma perspectiva bem característica do ―mito da democracia racial‖. ―Os róis, via de regra, não especificam a categoria social ou material dos crentes, porque na família de Deus todos são iguais‖.

De fato, recuperar a história de grupos oprimidos é muito difícil. Normalmente os que são da ―família de Deus‖ têm uma história, nomes completos, filiação, uma titulação, ―Cel.‖, ―Senador‖, ―soldado‖, etc. Por exemplo, Ludgero que teria sido admitido pelo Rev.J.l. Kennedy (Anexo 33)36 apenas seu prenome aparece no mesmo rol permanente da Igreja

Metodista de Piracicaba e não consta a data de admissão, apenas a informação de veio a óbito, mas sem data. Conforme Rocha (1967:61-63) a admissão de Ludgero na Igreja por profissão de fé, teria sido em 12 de Outubro de 1884 e sua morte em 1892.

Felizmente, há uma anotação escrita a lápis quase invisível onde se lê: Ludgero Luiz Corrêa de Miranda ao que tudo indica, confere com a informação de Salvador (1982:162) de que em 1885 o Rev. Kennedy o recebera entre outros membros. ―Até 16 de março, Kennedy recebeu três membros por profissão de fé: Miss Jane Van Giesen, Herman Gartner [...] e Manuel Anselmo dos Santos. Por transferência: outro valioso cooperador, Ludgero Luis de Miranda e também [...] Erasmo Fulton Smith [...] e Ella Crowe Ramsom‖. Nas Atas e Documentos do concílio regional central que aconteceu entre os dias 12 a 18 de novembro de 1930, Guaracy Silveira segundo Rocha (1967:109) faz o seguinte relato: "Depois apareceu em Capivari um pastor Ludgero de Miranda. Era moço de cor, de um comportamento exemplar, recebido em casas de costumes rigorosos, e que nele confiavam de modo impressionante".

36 Com uma lupa foi possível identificar o nome completo de Ludgero, escrito a lápis já bem desgastado pelo

No entanto, se for considerado autêntica a informação dada por Harter (1985:75) de que os Confederados escravagistas eram representados pelas famílias dos ―Olivers‖, ―Harises‖, ―Witakers‖, ―Tatchers‖, ―Fergusons‖, ―Millers‖, ―Lands‖, ―Coles‖ e ―Halls‖, mesmo que alguns deles não fizessem questão de serem membros das Igrejas metodistas na época, como foi o caso de Hervey Hall, segundo Jones (1967:246), é mais fácil localizá-los no rol de membros de Piracicaba do que possíveis escravos negros convertidos.

2.2 Como pastores e pastoras da igreja local

Segundo a galeria de pastores metodistas que passaram pela Igreja de Piracicaba, de 1883 a 1930 não houve nenhum pastor afro-brasileiro. Somente a partir de 1896 foi nomeado para a Igreja o primeiro pastor brasileiro, a saber, o Rev. Guilherme José F. da Costa (1896- 1898) (Anexo 34)37. Em nível nacional, Reily (1984:93) aponta o gaúcho João da Costa Corrêa de Jaguarão - RS, como o primeiro pregador metodista brasileiro. Por sua vez, Rocha (1967:61-63, 109) torna possível a constatação de que o primeiro pastor e pregador metodista afro-brasileiro foi o Rev. Ludgero Luiz C. de Miranda. Infelizmente, não será possível aprofundar essa questão aqui. Merecendo, portanto, ser mais bem investigada a posteriori. Contudo, da época dele até 1930, não se tem registro de outros. Parece que a Igreja Metodista no Brasil precisou de tempo para se abrasileirar e de bem mais tempo para se africanizar.

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