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Depois, as professoras solicitavam que seus alunos escrevessem em suas agendas o texto produzido. Nesse caso específico, a cópia desse gênero tornava-se uma atividade significativa e produtiva, pois a criança se deparava com o fato de organizar o texto de acordo com a sua estrutura, bem como utilizando as convenções da escrita e a organização da página, tendo assim que atentar para as margens da folha, para a direção da escrita (escrever de cima para baixo, da esquerda para direita); conhecimentos estes necessários de elaboração por parte das crianças, em virtude de elas estarem em processo de apropriação da linguagem escrita.

É interessante que o professor, durante a mediação de atividades que envolvam cópia, notadamente nas primeiras experiências com atividades dessa natureza, leve em consideração o fato de que seus alunos ainda não têm determinados conhecimentos, portanto, deve orientar para o espaçamento da folha, margens, tamanho da letra etc.

Uma estratégia que beneficia a criança em fase inicial de apropriação da linguagem escrita é o professor escrever “linha a linha” do texto, aguardando que todos copiem o que ele escreveu. Nesse momento, o professor deve fazer a mediação dessas convenções da escrita com a qual lidamos na distribuição espacial e na organização da página escrita. Para isso, se fazem necessários o acompanhamento e a observação de todas as escritas realizadas pelas crianças, atendendo individualmente segundo as necessidades que perceber. Esse procedimento deve ser realizado aluno a aluno e não no

153 coletivo, como se faz presente em algumas práticas pedagógicas, em que não atentam para a devida intervenção pedagógica nesse momento.

Sobre esses gêneros, um dado que nos chama atenção: as professoras não reconhecem esses textos como gênero textual, pois nenhuma delas no momento das entrevistas, quando perguntamos sobre os textos trabalhados em sala de aula, trouxeram o quadro de rotina e a agenda escolar como exemplos; no entanto, fazem um investimento sistemático em sua prática pedagógica.

Somente na nossa observação constatamos sua utilização. Ressaltamos que isso só foi possível pelo fato de este estudo articular diretamente o gênero textual e sua utilização na prática pedagógica.

6.2.2 Calendário

Referido gênero textual tem uma organização espacial bastante peculiar, em que apresenta o ano civil ou religioso, povos ou instituições antigos ou modernos56.

“Calendário é, pois, um sistema que apresenta o ano resultado da formação de determinados números de dias, semanas e meses, conforme as regras estabelecidas por cada povo ou nação ou instituição”. (COSTA, 2008). Sua função social é indicar e orientar os sujeitos em relação aos dias, semanas e meses do ano.

No uso escolar, a utilização desse gênero permite a consulta para o acompanhamento de atividades diversas do dia-a-dia, além de possibilitar o monitoramento do tempo para atividades previstas.

Além do uso dos gêneros agenda escolar e quadro de rotina, descritos na seção anterior, o calendário também era um gênero textual sistematicamente empregado pelas quatro professoras deste estudo. Todas as professoras faziam o uso cotidiano desse gênero textual, variando apenas sua forma de apresentação material, ou seja, o suporte, e o tipo de intervenção utilizado pela professora.

Destacamos, a seguir, um exemplo ilustrativo dessa utilização, pela professora Anita, em uma de nossas observações, quando ela estava na condução da atividade com o calendário.

56 Há vários calendários nomeados conforme o povo, na ação ou instituição: egípcio, romano,

muçulmano, hebreu ou israelita ou judeu, grego, gregoriano, eclesiástico, republicano (Revolução Francesa); Ou conforme a referência astronômica: lunar, solar, lunisolar. (COSTA, 2008, P. 49).

154 No momento da rodinha, a professora chama a atenção das crianças para o calendário do mês e pergunta: O que é isso? Uma criança diz que é um quadro e os demais alunos ficam em silêncio. A professora lê os dias da semana e diz que hoje é terça-feira, 6 de novembro. A professora prossegue, comentando para as crianças que naquele dia havia uma nova pessoa na sala [referência à pesquisadora] e mostra no calendário quantos dias essa pessoa iria permanecer com a turma.

(DIÁRIO DE CAMPO) A análise dessa atividade apresentada requer que façamos algumas considerações quanto aos aspectos pedagógicos que precisam ser envolvidos na mediação do gênero textual calendário: uso, identificação, função social e intervenção pedagógica.

Inicialmente, ressaltamos como relevantes dois aspectos em particular na condução do trabalho desenvolvido com o calendário pela professora do exemplo citado: o uso sistemático desse gênero textual em suas aulas e nessa situação apresentada, o uso que ela fez do calendário na ocasião da nossa apresentação para as crianças, quando demonstra a quantidade de dias que passaríamos em sala de aula. Assim procedendo, a professora se utiliza dessa circunstância, e materializa a utilização desse gênero textual em sua funcionalidade.

Quanto à forma de utilização do calendário no contexto da sala de aula, este era preenchido dia-a-dia pela professora, juntamente com o grupo de alunos. Em todas as aulas observadas, a professora Anita chamava a atenção da turma para a visualização do calendário, apontando os dias da semana, informando o dia do mês em que se encontravam para, em seguida, escrever no espaço correspondente.

Observamos que, na mediação promovida pela professora, ela já apresentava aos seus alunos as informações (o dia correspondente do mês, da semana etc), que deveriam ser problematizadas coletivamente a priori com o grupo, a fim de construir os conhecimentos da lógica de feitura do calendário, sua função social por meio da reflexão dos alunos, desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático e da noção de tempo.

A leitura dos dias da semana e do mês é um procedimento importante para que os sujeitos se situem no calendário em relação ao tempo social, todavia, da forma em que foi conduzido em todas as aulas das quais participamos, não favorecia a promoção de conflitos cognitivos nos alunos, nem a apropriação das especificidades desse gênero textual. Em nenhum dos momentos observados, a professora em questão possibilitou reflexões que pudessem produzir dúvidas, questionamentos e hipóteses entre os alunos

155 acerca das informações contidas nesse texto. Dessa forma, perdia sistematicamente a possibilidade de potencializar a interação dos alunos com o calendário na exploração da apresentação gráfica, organização e distribuição sequencial dos dias, como noções mais abstratas de ideia de tempo e localização.

Assinalamos como relevante o investimento da professora na classificação do gênero, explicitado na interrogação feita à turma sobre a nomenclatura do texto apresentado. Assinalamos, todavia, as lacunas em seu procedimento de não considerar a resposta de um aluno e o silenciamento da maioria do grupo, dando continuidade à sua exposição, sem explorar as características pertinentes a um trabalho didático com o gênero trabalhado. Assim procedendo, referida professora diminuía a possibilidade das crianças adquirirem conhecimentos acerca desse gênero textual, bem como demais elaborações de natureza conceitual.

Consideramos que a nossa presença pode ter interferido na condução da atividade da professora, mas, convém destacar, esses procedimentos se repetiram da mesma forma durante todas as aulas observadas, o que nos faz pensar que essa é uma prática comum na utilização desse gênero.

Mediações importantes de realizar para favorecer o trabalho com esse gênero situam-se em torno da reflexão acerca das especificidades desse texto quanto à forma, ao conteúdo e à função social. Para tanto, é preciso garantir um trabalho pedagógico que vise ao desenvolvimento de estratégias de leitura para localização da informação desejada (relação do dia do mês com o dia da semana, sequenciação dos numerais, dos dias da semana e dos meses, quantidade de dias de cada mês etc.). Além de tais situações didáticas, o professor pode fazer o levantamento dos dias que faltam para a realização de determinadas atividades e/ou eventos, relacionar ocorrências e fatos passados, presentes e futuros, formular noções de tempo, como ontem, hoje e amanhã.

Um procedimento comum na prática das professoras Isaura e Terezinha era solicitar o preenchimento diário do calendário por uma criança da turma. Elas sempre iniciavam esta atividade perguntando qual era o dia do mês, da semana, fazendo a indicação no cartaz que apresentava graficamente esse gênero.

Com tal atitude, as professoras atendiam a um princípio de base ao processo de ensino e de aprendizagem, que é o de implicar os alunos na atividade, buscando elaborações mais significativas com o uso do calendário.

156 Costumeiramente, as professoras desse exemplo finalizavam esse momento, cantando uma canção cuja temática fazia alusão aos dias da semana. A foto a seguir mostra os calendários utilizados pela Professora Terezinha em sua sala de aula:

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