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Os materiais escritos presentes nas quatro salas de aula estavam relacionados diretamente às atividades desenvolvidas. Em especial, a sala da professora Estela, eles revelavam a sucessão das atividades ocorridas.

Podemos assinalar que a forma como essa professora atentava para disposição dos materiais escritos como forma de textualização da sala se apresentava como uma forma primeira de acesso e contato da criança com os variados gêneros textuais, utilizados na rotina pedagógica e nas situações didáticas por ela propostas.

É importante ressaltar que, em assim procedendo, a professora permitia o estabelecimento de um ambiente alfabetizador, no qual as crianças podiam descobrir que a escrita é um objeto interessante, funcional, e que merece ser conhecido porque tem uma significação viva.

Foi possível perceber um investimento de todas as professoras (umas mais e outras menos) na organização e ambientação das salas de aula. Provavelmente, isso pode ter associação com o fato de o GAD, durante o período de intervenções e ações de formação desenvolvidas na escola, ter investido fortemente em diversos aspectos da prática pedagógica das professoras, tais como: melhor organização da sala, planejamentos, estabelecimento de uma rotina fixa, cantinhos de atividades, formas de agrupamentos.

Rememoramos ao leitor o fato de que, além das ações de estudos e formação promovidas pelo GAD a todas as professoras dessa escola, temos ainda o fato de que as quatro professoras participantes deste estudo, em particular, foram acompanhadas

147 diretamente por pesquisadoras do projeto GAD. Nesse sentido, a prática pedagógica dessas professoras passou por algumas transformações em relação à gestão do ensino e da sala de aula.

Assim, podemos inferir que a organização e ambientação das salas de aula, quando em nossa entrada para este estudo, já se apresentavam com diferenciações no cenário comumente encontrado nas escolas da rede pública de Fortaleza. Essa organização do espaço e a ambientação dessas salas vêm antecipadamente representar a forma como as professoras implementam o trabalho alfabetizador, em particular, qual a materialidade do trabalho com gênero que pode ser captado com base na observação desse espaço.

Como ressaltam alguns autores (FORNEIRO, 1998; ZABALZA, 1998; FERRAZ e FLORES, 1999), a forma de organização dos espaços pode ser reflexo da concepção das professoras sobre educação, criança, processos de ensino-aprendizagem, sua própria prática etc., ou seja, denota a materialidade que os espaços expressam. Eles são, na maioria das vezes, a expressão dos objetivos e prioridades das ações das quais são palcos.

Como diz Freire (2002), “há uma natureza testemunhal; [...] há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço”. (P.49-50).

Outros aspectos relacionados à prática pedagógica, como, por exemplo, a rotina e o trabalho com os gêneros textuais, serão igualmente ressaltados ao longo da escrita a seguir.

6.2 Os gêneros textuais na rotina pedagógica da sala de aula

A rotina é um conjunto de atividades estruturadas desenvolvidas sistematicamente no cotidiano da sala de aula, que visa a uma organização do tempo e das especificidades dessas atividades numa sequência de acontecimentos. Nesse sentido, ajuda a obter os resultados esperados, já que possibilita a orientação do professor e dos alunos acerca do que vai ser desenvolvido.

Um dos aspectos importantes desse recurso de sistematização é o fato de que, à medida que essa sequência de atividades vai sendo vivenciada, a criança passa a assimilar a rotina proposta pelo professor e, dessa forma, pode participar do planejamento do dia-a-dia e se orientar de acordo com o momento de cada atividade.

148 Desse modo, a rotina tem a função de orientar as ações do professor e dos alunos e possibilita o bom andamento da aula.

Em geral, ela é organizada por tempos e as atividades são nomeadas para o conhecimento de todos. Apesar das diferentes nomenclaturas das atividades encontradas na rotina pedagógica, elas, muitas vezes, são chamadas de: rodinha53, hora da história, atividade de linguagem, hora da brincadeira...

Na prática pedagógica de todas as professoras participantes deste estudo, pudemos perceber que o trabalho desenvolvido seguia uma rotina pré-estabelecida, visto que havia uma sistematização dos tempos das atividades. Ressaltamos este aspecto como significativo, pois denotava a organização pedagógica das atividades estruturadas pelas professoras e pelas possibilidades de aprendizagem oportunizadas na implementação da rotina.

Das quatro rotinas observadas, no entanto, somente uma se apresentava de forma rígida e repetitiva. Explicitamos que, embora compreendamos que a rotina deve ser pré- estabelecida, ela não deve ser inflexível e enfadonha aos alunos.

É importante esclarecer ainda que havia diferenciações na rotina das turmas54 da educação infantil e do ensino fundamental que se apresentavam nos tipos e na quantidade de atividades desenvolvidas.

No que diz respeito à rotina (programação das atividades) da educação infantil, em geral, ela contemplava os momentos/atividades a seguir: hora do brinquedo (as crianças retiravam brinquedos de caixas e brincavam em suas cadeiras), rodinha, lanche, atividade relativa a uma área do conhecimento (Linguagem e Matemática, áreas privilegiadas pelas professoras), recreio, repouso, hora da história, hora da brincadeira e entrega da tarefa de casa.

Já nas duas turmas do ensino fundamental, a sequenciação da rotina assim se estruturava: rodinha, duas atividades ligadas aos componentes curriculares, lanche55, recreio, escrita da agenda, outra atividade e tarefa de casa.

Entre as atividades observadas dessas rotinas, nos interessamos, particularmente, por aquelas desenvolvidas com os gêneros textuais, objeto deste estudo, porém, como procedemos a “recortes” dessas atividades para análise nessa seção, julgamos

53 Rodinha é uma atividade muito utilizada, principalmente na educação infantil, onde professor(a) e

crianças sentam ao chão em círculo para conversar, cantar, brincar etc

54 Lembramos ao leitor que observamos duas salas de educação infantil e duas do ensino fundamental. 55 Não havia um horário específico do lanche. As professoras sabiam apenas a ordem da ida das turmas ao

refeitório. Uma funcionária da cozinha vinha até a sala de aula informar o momento em que poderiam ir lanchar.

149 importante e necessário informar ao leitor, ainda que brevemente, o conjunto de ações da professora no momento da aula, como forma de dar conhecimento acerca do contexto no qual estas atividades foram realizadas.

É oportuno esclarecer que esses gêneros serão abordados neste trabalho, não por que foram elencados a priori, pois eles emergiram da observação da prática pedagógica das professoras participantes deste estudo. Informamos ainda que esses gêneros não apareceram simultaneamente na prática pedagógica das quatro professoras durante o período de nossa observação. Por isso, nesta seção, no debate do trabalho realizado com cada gênero, não será necessariamente discutida a prática pedagógica de todas as professoras deste estudo, e sim apenas daquelas que na ocasião desenvolviam um trabalho didático com o gênero em foco.

Na organização escrita dessa seção, optamos por apresentar as situações didáticas com os gêneros textuais indo da maior a menor utilização desse gênero pelas professoras. Assim, pudemos perceber a representatividade dos diferentes gêneros textuais, sua frequência de proposição, bem como sua exploração didática pelas professoras.

A seguir, portanto, nos debruçaremos na apresentação e análise do trabalho didático dos seguintes gêneros: quadro de rotina, agenda escolar, calendário, conto, poema, lista, jogos de regras, receita, bilhete e parlenda.

6.2.1 Quadro de rotina e a agenda escolar

O quadro de rotina e a agenda escolar são gêneros que servem como mediadores de interação social, ou seja, constroem um cronograma de trabalho para planejar melhor o uso do tempo no contexto escolar, com fins de distribuir as atividades de execução e divulgá-las para um grupo de pessoas. Assim, “a função de organização se mantém, mas se propõe a de interagir com outras pessoas, causando o efeito de orientar como elas naquele contexto devem ’agir’”. (LEAL e ALBUQUERQUE, 2005, P. 66).

Esses gêneros se apresentam como registros escritos, geralmente em estilo objetivo e são organizados em frases curtas (COSTA, 2008). Têm disposição gráfica na forma vertical, em formato de lista, ou seja, com um elemento em cada linha e abaixo do título.

150 A pertinência da utilização desses dois gêneros caracteriza-se por possibilitar a organização do dia-a-dia, por mediar a interação social e por promover diferentes capacidade e conhecimentos em seus usuários, já que a forma e a configuração gráfica desses textos influenciam nas estratégias de leitura utilizadas (pois são textos que não requerem uma leitura linear, mas sim de consulta).

A divulgação da rotina pedagógica ao aluno possibilita o conhecimento de quantas e quais atividades serão desenvolvidas no decorrer do dia, implicando-o, dessa forma, no planejamento da aula; ao mesmo tempo em que trabalha a leitura e a escrita do que será realizado em cada dia, propicia momentos de familiarização com esses gêneros, além de inserir a importância desse tipo de registro para guardar uma memória do que foi feito em sala e aula (LEAL e ALBUQUERQUE, 2005). Além disso, permite que o aluno monitore o tempo com base nas atividades desenvolvidas e utilize tais textos como instrumento e checagem de tarefas.

Por isso, é fundamental que o professor socialize com o seu grupo as tarefas a serem desempenhadas, para que seus alunos não fiquem na dependência das orientações do professor, propiciando maior responsabilidade nos alunos, à medida que se apropriavam da rotina.

Nas salas de aulas observadas, um aspecto positivo da prática pedagógica das quatro professoras era que a apresentação da rotina pedagógica era feita por escrito, aos alunos, por meio de dois gêneros textuais: o quadro de rotina utilizado pela professora Anita e a agenda escolar pelas professoras Isaura, Terezinha e Estela.

Na sala da professora Anita, por exemplo, a rotina pedagógica era apresentada pelo gênero textual quadro de rotina, afixado permanentemente na lousa. A foto a seguir apresenta este gênero e sua disposição na sala de aula desta professora:

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