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AGENDA SOCIAL E SEU IMPACTO INTERNACIONAL

3 O SISTEMA INTERNACIONAL 20 ANOS APÓS A QUEDA DO MURO DE

3.1 AGENDA SOCIAL E SEU IMPACTO INTERNACIONAL

O início do século induz a questionamentos como: quais serão as novas tendências internacionais? A paz poderia ser a previsão mais coerente, no entanto, sucederam-se diversos conflitos sangrentos que resultaram em conflitos civis, guerras e outras modalidades de violência. A prosperidade aguardada e igualitária não ocorreu, já que aumentou a concentração da riqueza e consequentemente as desigualdades. Crises e recessões internacionais complicam mais o panorama mundial. Apesar de a maior parte dos países adotar regimes democráticos, o fenômeno de desinteresse político dos eleitores é cada vez mais observado, aliado ao crescimento de políticas populistas e ao aumento nas abstenções de voto onde este não é obrigatório.

No entanto, não se pode afirmar que seja o fim da globalização, que tem origens históricas com objetivos bem consolidados. E sim o enfraquecimento de uma de suas diversas formas de regulação, amparada no neoliberalismo. A aceleração do processo de globalização parece perder a sintonia com a proposta neoliberal, uma vez que, mesmo em lugares ou períodos em que ocorre crescimento econômico, as taxas de desemprego tendem a aumentar, já que a maior parte dos novos postos de trabalho é gerada onde há tecnologia de ponta, portanto, restringindo grande parte da população. A concentração das riquezas é cada vez mais evidente. De acordo com o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -, em 1990 os 20% mais ricos possuíam 85% da renda mundial. Já os 20% mais pobres detinham apenas 1,4% da renda mundial. A falta de novos postos de trabalho ou a instabilidade destes empregos gerou uma significativa exclusão social, em que milhares de pessoas têm dificuldade de conquistar um papel formal dentro da economia. Além de reduzir o mercado, esse fenômeno origina reações perigosas, pois contribui para o processo de fragmentação da sociedade, percebido tanto sob ponto de vista interno, com o isolamento das elites, quanto sob o ponto de vista externo, com o maior rigor das políticas internacionais que restringem a entrada de imigrantes vindos da periferia. Após 500 anos em que predominavam o fluxo de pessoas no sentido norte-sul, pode-se observar, desde 1970, o fluxo contrário deste fenômeno. O norte contém nos dias de hoje uma

população estimada em pouco menos de um bilhão de pessoas, enquanto o sul conta com uma população de quase cinco vezes este número. O crescimento da população de países de terceiro mundo é muito maior, uma vez que aproximadamente 90% ocorrem em países subdesenvolvidos. Os processos de exclusão social nestas proporções geram impasses econômicos, além de intensas instabilidades sociais.64

A globalização aliada à Revolução Científico-Tecnológica (RCT) vem gerando uma modernidade restrita, não condizente com o real sentido da palavra, uma vez que gera conflitos de natureza social inerentes à forma de estruturação existente. Para que essa modernidade englobe a resolução da necessidade de criação de novos postos de trabalho, menos excludentes, são necessários que se criem novas políticas dessa natureza, assim como se internacionalizem todos os direitos sociais envolvidos.65

Podem-se correlacionar as mudanças ocorridas no mundo moderno com as ocorridas nos séculos XVIII e XIX com a Revolução Industrial. Naquela ocasião, o modo de produção capitalista era imaturo, estava se estabelecendo e se ajustando, de modo que este processo demorou cerca de um século para equilibrar-se e permitir que um quadro de estabilidade social fosse implantado, principalmente a partir da segunda guerra mundial. No período pré-segunda guerra mundial, milhares de pessoas que viviam no continente europeu evadiram-se ou foram dizimadas. Estima-se que estas reduções no número de habitantes representariam meio bilhão a mais de pessoas em toda a Europa caso o curso da história tivesse sido diferente. No entanto, o mundo hoje não detém espaços vazios como antigamente e ocorre a impossibilidade de o norte receber imigrantes em grande escala.66

Podemos fazer uma analogia entre o momento atual e a Idade Média, defendendo a hipótese de que se vive em uma nova idade média: “de repente, tudo se inverte: espaços imensos voltam ao estado de natureza; as máfias não parecem mais um arcaísmo em vias de extinção, e sim, uma forma social em plena expansão;

64 VIZENTINI, Fagundes Paulo. De Berlim a Nova Yorque: 1989-2009: a queda do muro socialista e

do muro financeiro (Walt Street). Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 46, p. 51-71, jul./dez. 2009 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos>. Acesso em jul. 2011.

65 VIZENTINI, Fagundes Paulo. A vida após a morte: breve história mundial do presente pós-“fim da

história”. Tempo, Vol. 8, Nº. 16, 2004, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil. Disponível em: <http://www.redalyc.org/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=167017772003)>. Acesso em jul. 2011.

uma parte das cidades escapa à autoridade do Estado e mergulha numa inquietante extraterritorialidade; milhões de cidadãos, no coração das cidades mais ricas e mais sofisticadas, cambaleiam na sombra e na exclusão; novos bandos armados, novos saqueadores, novas terras incógnitas”.

Em virtude do atual grau de desenvolvimento da globalização e dos rumos de seu funcionamento, grandes desafios são observados. Não foi só o aspecto produtivo que rompeu fronteiras, mas os conflitos políticos, antagonismos sociais e organizações criminosas. Estas transformações abrem um espaço que, uma vez não ocupado pelo Estado ou pela sociedade civil organizada, pode servir de campo fértil para a proliferação de movimentos dotados de fundamentalismo religioso, movimentos separatistas, conflitos de origem étnica, reações atávicas, líderes populistas ou individualismos alienantes. Além disso, os índices de alfabetização estão crescendo, em detrimento do número de filhos /mulher que está diminuindo, até mesmo no universo muçulmano e árabe.

No mundo hodierno, surpreende a existência de movimentos cujas formas atávicas se manifestam pelo fundamentalismo. Gerações que herdam a ideologia dos seus ancestrais, mas que, no processo de transição de gerações, são assoladas e desestruturadas psicologicamente, manifestam-se através da violência e do radicalismo. Contudo, este fenômeno pode ser relativamente curto. Como no caso do Irã, que vive um período de transformações demográficas e culturais e redução de sua taxa de fecundidade pela metade, após 30 anos de introdução do fundamentalismo khomeinista. O decréscimo da taxa de fecundidade permite concluir sobre diversas características daquela sociedade, assim como o papel desempenhado pela mulher.

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