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Ordem do sistema internacional vinte anos após a queda do Muro de Berlim

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TADEU BERNARDES MARQUES FILHO

ORDEM DO SISTEMA INTERNACIONAL VINTE ANOS APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM

Florianópolis 2011

(2)

TADEU BERNARDES MARQUES FILHO

ORDEM DO SISTEMA INTERNACIONAL VINTE ANOS APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Disciplina de TCC2 do Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para a conclusão deste curso.

Orientador: Prof. Rogério Santos da Costa, Dr.

Florianópolis 2011

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TADEU BERNARDES MARQUES FILHO

ORDEM DO SISTEMA INTERNACIONAL VINTE ANOS APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM

Esta Monografia foi julgada e adequada à obtenção do título de Bacharel e aprovada em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 23 de novembro de 2011.

______________________________________________________ Prof.: Rogério Santos da Costa, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Marcio Roberto Voigt, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Letícia Cristina B. Barbosa, Profa.

(4)

RESUMO

As Relações Internacionais ganharam consistência como disciplina no meio acadêmico ao final da primeira guerra mundial. É fundamental para o especialista compreender a lógica do sistema internacional e suas peculiaridades e transformações em diferentes épocas, pois o entendimento da relação do presente com o passado é necessário para a melhor compreensão da nova ordem mundial. O presente trabalho apresenta uma pesquisa descritiva que tem o objetivo de configurar o sistema internacional mundial pós-guerra fria até a primeira década do novo milênio. Foram retratados os eventos que marcaram a primeira década do século XXI e suas consequências até o desencadeamento da crise financeira de 2008. Neste período, foram abordados os principais assuntos que caracterizaram a conformação geopolítica internacional, ora unipolarizada, ora multipolarizada, em um cenário complexo, em que atores velhos, conhecidos, convivem com novos e emergentes, fazendo com que algumas tendências se realizem de modo previsível e outras se apresentem de maneira surpreendente.

(5)

ABSTRACT

International Relations as a discipline gained consistency in academia at the end of the first world war. It is essential for the expert to understand the logic of the international system and its peculiarities and transformations at different times. For the understanding of the relationship between present and past is necessary to better understand the new world order. This paper presents a descriptive research that aims to set up the international system post-Cold War world to the first decade of the new millennium.

Were portrayed events that marked the first decade of this century and its consequences to the outbreak of the financial crisis of 2008. During this period dealt with the main issues that have characterized the conformation international geopolitics sometimes unipolarization othertimes multipolar. In a complex scenario which actors old acquaintances living with new and emerging causing some trends taking place in a predicable and others are present in surprising ways.

(6)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...6

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ...8

1.2 OBJETIVOS ...9 1.2.1 Objetivo geral ...9 1.2.2 Objetivos específicos ...9 1.3 JUSTIFICATIVA ...10 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...11 1.4.1 Caracterização da Pesquisa...11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...12 2.1 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS...12

2.2 OS DIFERENTES MODELOS DE INTERPRETAÇÃO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS...14

2.3 O SISTEMA INTERNACIONAL...16

2.4 HEGEMONIA DO SISTEMA INTERNACIONAL ...18

2.5 ELEMENTOS DA UNIPOLARIDADE, BIPOLARIDADE E MULTIPOLARIDADE NO CENÁRIO INTERNACIONAL...21

2.6 OS BLOCOS DE PODER NA NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL...24

2.7 O ARQUÉTIPO IMPERIAL...25

2.8 O DESMEMBRAMENTO DA UNIÃO SOVIÉTICA ...26

2.9 A GUERRA CONTRA O TERRORISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS ...31

2.10 A CRISE ECONOMICA DE 2008 E SUAS CONSEQUÊNCIAS...33

2.11 A INSERÇÃO DO BRASIL E DEMAIS ECONOMIAS NO NOVO CENÁRIO MUNDIAL ...34

2.12 O PAPEL DA CHINA NO PERÍODO PÓS-GUERRA FRIA...35

3 O SISTEMA INTERNACIONAL 20 ANOS APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM ...38

3.1 AGENDA SOCIAL E SEU IMPACTO INTERNACIONAL ...45

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...48

(7)

1

INTRODUÇÃO

Atualmente observa-se uma contínua mutação dos mercados, fruto de uma dinâmica mundial recentemente aquecida por inúmeros fatores, como por exemplo, o surgimento de novos países no circuito do primeiro mundo e, consequentemente, o aumento da competitividade. Esse quadro reproduz uma atmosfera de possibilidades no âmbito econômico, alterando substancialmente o ordenamento geopolítico global.

Entretanto, essas possibilidades que regem as relações internacionais de sociedades nem sempre existiu. O início do século XX foi caracterizado pela hegemonia unilateral inglesa, que se sobressaia como potência em relação às demais. Após todas as transformações políticas e sociais resultantes da segunda guerra mundial, pode-se afirmar que os Estados Unidos da América (EUA) e a União Soviética (URSS) passaram a ser reconhecidos como os dois grandes pilares, antagônicos, de uma nova forma de organização mundial. Esse antagonismo político influenciava o idealismo da época, que, dividido entre essas duas escolas, se manifestava de modo visível, através de maiores facilidades ou represálias de determinadas escolhas políticas, em função de sua localização geográfica.

No final da década de 80, esse cenário começou a mudar. A porção leste europeia, que continha o muro de Berlim, um dos símbolos da guerra fria, passou por alterações políticas que resultaram na substituição de conhecidas lideranças, como Ceausescu (Romênia) e Honecker (RDA), por novos líderes democráticos, representados pelas figuras de Václav Havel (Tchecoslováquia) e Lech Walesa (Polônia)

Essa transformação vultosa culminou com um conjunto de reivindicações populares ocorridas em 9 de novembro de 1989, histórica data em que milhares de pessoas derrubaram o muro que simbolizava a guerra fria, na cidade de Berlim. Tal fato significou o começo da reestruturação daquele país e um ponto crucial em direção ao final da Guerra Fria. Nas comemorações que ocorreram na virada deste ano, um novo significado de liberdade passou a existir, depois de mais de quatro

(8)

décadas de restrições políticas.1 O sentimento de que um novo mundo surgiria com

a extinção de guerras que bloqueavam a dinâmica das relações internacionais, entretanto, não durou muito. Passou a vigorar nesse contexto um sentimento de insegurança, apesar do término da guerra fria e das ideias anunciadas por Francis Fukuyama que previam uma maior integração dos mercados aliados a uma maior democracia.

Os EUA desde então se firmaram como potência militar. Detentores de uma sólida indústria bélica e estabilizados politicamente, apresentam um produto interno bruto (PIB) avaliado em mais de 14 trilhões de dólares, o que significa pouco menos do que o conjunto do PIB das outras grandes economias do mundo: França, Alemanha, China e Japão. A renda per capita, proporcionalmente, dos EUA é uma das maiores do mundo, estimada em U$ 46.000,00 (excluindo a de alguns países produtores de petróleo e pouco populosos). Os EUA influenciariam todo o resto do mundo, porém o recurso da guerra só seria utilizado em casos extremos. Entretanto, ainda não era o século dos EUA, como se constatou mais tarde, quando a soberania americana predominou, até o início do século XXI, em função principalmente do domínio da tecnologia da informação. Porém, essa supremacia está diretamente relacionada com inúmeros conflitos, como a Guerra do Golfo, a extinção das URRS, guerras civis no continente africano e o estabelecimento de grupos radicais que demonstram seus interesses através do terrorismo.2

Atualmente não se pode mais fazer tal afirmação, pois o início do século XXI tem revelado profundas alterações nos mercados globais. O poderio econômico norte-americano começou a dar sinais de enfraquecimento, agravado com marcantes acontecimentos, como os atentados terroristas que derrubaram as torres gêmeas, a tragédia ocasionada pela força das águas em Nova Orleans somada em grande parte pela negligência do governo, os bilhões de dólares gastos com os conflitos no Iraque e Afeganistão e a crise financeira de 2008. Todas as soluções clássicas parecem não surtir o efeito esperado para se reverter essa situação. Em contrapartida, a ascensão impressionante da gigante China realça a impressão de que a soberania norte-americana está aos poucos se enfraquecendo.

1 LAFER, Celso. Os novos valores do sistema internacional da década de 90. São Paulo: USP,

2008.

2 GUIMARÃES NETO, Samuel Pinheiro. Desafios brasileiros na era dos gigantes. Rio de Janeiro:

(9)

Independentemente de qualquer autocrítica dos EUA, cabe refletir sobre qual seria a nova estruturação geopolítica mundial. Essa ruptura da supremacia norte-americana não é instantânea, mas seu brilho começa a dar sinais de ofuscamento em razão de uma maior complexidade de como são organizados os mercados. Para alguns estudiosos, ainda se encontra uma unilateralidade neste sentido. Entretanto, para outros, o fato de uma maior organização de diversos países que ampliam seus mercados faz com que estes ganhem força e poderio econômico, resultando numa multipolaridade de influências.

Diversas tendências floresceram e encontraram seu fim nos últimos 20 anos. Este trabalho buscou justamente caracterizar este novo cenário. Procurou-se apresentar uma discussão acerca das principais transformações deste período e analisar os rumos que estes processos tomaram, bem como traçar perspectivas para os próximos anos. O objetivo deste trabalho é o de contribuir com um debate qualificado, servindo como uma fonte de estudos sobre algumas das transformações políticas vividas ao longo do período tratado.

1.1

EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

O seguinte estudo tem como tema de pesquisa a configuração do sistema internacional mundial pós-guerra fria, sendo que as delimitações desse tema são: o período pós-guerra fria até a virada do milênio, os eventos que marcaram a primeira década do século XXI e suas consequências; e, por fim, meados da nova era até o desmembramento da crise financeira de 2008.

O estudo possui como problema de pesquisa a nova configuração de poder no sistema internacional mundial desde o final da guerra fria. A pergunta do problema de pesquisa é o seguinte questionamento: que configuração do sistema internacional se vive vinte anos após a queda do muro de Berlim?

(10)

ORDEM DO SISTEMA INTERNACIONAL VINTE ANOS APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM

1.2

OBJETIVOS

A seguir, definir-se-á o objetivo geral e os específicos, a fim de determinar o propósito do trabalho e seus delineamentos.

1.2.1

Objetivo geral

Caracterizar as possibilidades de ordem no sistema internacional nos primeiros vinte anos do pós - Guerra Fria.

1.2.2

Objetivos específicos

Os objetivos específicos da seguinte pesquisa são:

• Descrever o cenário internacional entre o período pós-guerra fria até a virada do novo milênio com seus desdobramentos;

• Contextualizar a influência e reflexos da primeira década do século XXI na construção de uma nova ordem mundial;

• Demonstrar as perspectivas desta nova ordem mundial consolidada pós-crise financeira de 2008.

(11)

1.3

JUSTIFICATIVA

O aumento acelerado das relações entre os Estados e nações - sejam as relações comerciais, financeiras, econômicas, políticas, intelectuais ou sociais -, a expansão dos meios de transporte e comunicação, as desigualdades e aumento da criminalidade e a globalização como um todo alimentam a necessidade a integração entre eles, não só no âmbito das fronteiras territoriais, mas até mesmo as ultrapassando. É de muito valor para o internacionalista compreender a lógica do sistema internacional e a sua realidade em diferentes épocas, uma vez que este tema está sempre presente nos dias atuais, inclusive pela mídia.

Castro3 afirma os critérios que devam ser atendidos para que se justifique

uma pesquisa e, entre eles, cita a sua importância, cuja definição, é “quando [o tema] está, de alguma forma, ligado a uma questão crucial que polariza ou afeta um segmento substancial da sociedade”, o que se apresenta nesta pesquisa em duas formas: a importância acadêmica, que objetiva levar o conteúdo adquirido em sala de aula para o dia a dia; e a importância para a Universidade, que permite a integração do acadêmico com o ambiente, promovendo a construção do conhecimento e do desenvolvimento intelectual.

Logo, a importância da presente pesquisa se justifica, para o internacionalista, na compreensão do sistema internacional e sua atual configuração. Tal trabalho também é pertinente para acadêmicos e profissionais de outras áreas, os quais tenham interesse em melhor compreender o cenário político internacional. Findada a justificativa, segue-se para os procedimentos metodológicos.

3 CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de; FALCÃO, Leonor Peçanha. Ciência política: uma introdução.

(12)

1.4

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A seguir, a caracterização da pesquisa e a teoria utilizada para a obtenção e análise de dados.

1.4.1

Caracterização da Pesquisa

Segundo Cruz e Ribeiro4, “pesquisa é o mesmo que busca ou procura. [...] a finalidade da pesquisa não é a acumulação de fatos (dados), mas sua compreensão [...]”. A presente pesquisa tem, sobretudo, caráter qualitativo, tentando alcançar uma compreensão detalhada do que será aqui apresentado. É, também, descritiva e exploratória, uma vez que pode levar a novos conhecimentos e percepções, além de apoiar ou maturar o modo como se entendem os fatos. As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial, de acordo com Gil5, descrever características de um objeto

de pesquisa já conhecido, no caso, a lógica do sistema internacional, e estabelecer relações entre suas variáveis.

As pesquisas exploratórias têm como objetivo, ainda segundo Gil6, proporcionar maior familiaridade com o problema, a fim a torná-lo mais explícito. O autor diz ainda que estas pesquisas tenham como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Para a produção do trabalho, foi utilizada também a pesquisa bibliográfica, através de livros e endereços eletrônicos.

4 CRUZ, Carla; RIBEIRO, Uirá. Metodologia científica: teoria e prática. 1. ed. Rio de Janeiro: Axcel

Books, 2003.

5 Gil, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 6 Gil, op. cit.

(13)

2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Deste ponto em diante são delineados os contornos que moldarão esta obra, com a apresentação da revisão bibliográfica do conteúdo inerente ao tema apresentado, assim como as correlações e discussões cabíveis.

2.1

AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

As relações internacionais, consideradas como uma disciplina, academicamente falando, têm seus estudos relativamente recentes quando comparados com o de outras disciplinas.

As Relações Internacionais surgem com referências de duas tradicionais disciplinas do meio acadêmico: o Direito Internacional e a História Diplomática, a qual, no século XIX, separou-se da tradicional disciplina da História dos Tratados, ligada que estava ao sistema de Estados europeu da Paz de Westfália. É no século XX que o estudo das causas da História da Diplomacia, tanto no Continente europeu como nos países principalmente saxônicos, atinge grande desempenho, assim demonstrado pelos trabalhos então realizados7.

Sua origem é atribuída à universidade de Gales8, ao fim da primeira guerra mundial. Entretanto, sob um foco mais genérico, considerando-a como uma ciência, pode-se dizer que é resultado das primeiras relações dos homens em suas sociedades remotas, extremamente primitivas. Com o desenvolvimento destas sociedades e consequentemente com a maior solidez de seus valores, como a ética, a moral, os valores no campo político, no campo da cultura e religião, as relações entre as civilizações foram aprofundadas dando maior caráter científico às Relações Internacionais.

7 OLIVEIRA, O. M. de. Relações Internacionais: estudos de introdução. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2004,

p. 35.

(14)

Contudo, segundo Oliveira9, esse relacionamento entre as diversas

sociedades muitas vezes era fortuito e fruto de determinadas circunstâncias, não sistematizando as Relações Internacionais como conceituadas atualmente. Algumas diretrizes - força e poder, por exemplo, assim como as de defesa da sociedade, não eram conhecidas. Tal fato só ocorreu na Idade Média, com o surgimento do Estado, quando um “destacado desenvolvimento projetou-se entre as sociedades, aproximando seus povos”.

A consolidação do Estado impulsionou as Relações Internacionais, pois aconteceram grandes avanços na forma como as pessoas e suas comunidades se relacionavam, com papéis mais específicos e complexos. Nesse contexto, as principais sociedades europeias dos séculos XV e XVI iniciaram as Grandes Navegações, rompendo fronteiras e aumentando a concepção de mundo da época.

Com a Revolução Industrial, países de outros cantos do mundo, principalmente na América do Norte e na Ásia (Estados Unidos da América e Japão) ganharam destaque, representando importantes papéis e propiciando um maior incremento das Relações Internacionais.

Todavia, foi depois da Segunda Guerra Mundial, com o surgimento de importantes entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas, Organização dos Estados Americanos, Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (ONU, OEA e CEPAL, respectivamente), entre outros, que as transações diplomáticas e comerciais se intensificaram, dando mais ênfase às Relações Internacionais. Soma-se a isso o surgimento de outros países, até então colônias, cuja independência política fortaleceu o conceito disciplina das Relações Internacionais.

O grande obstáculo para o pleno desenvolvimento das Relações Internacionais passou a ser representado pela Guerra Fria, uma vez que o modo de produção capitalista, coexistindo e competindo com o socialista, impossibilitava inúmeras possibilidades de interação entre países pertencentes a esses dois polos. No entanto, com o fim da Guerra Fria, simbolizado pela queda do muro de Berlim e a extinção e ruptura da URSS, novos mercados no leste da Europa foram abertos,

(15)

alterando todas as regras até então vigentes e reconfigurando o cenário mundial, alavancando as Relações Internacionais como disciplina.

Por conseguinte, considerando a evolução das Relações Internacionais, Oliveira afirma que:

As Relações Internacionais podem ser entendidas, em sua vertente acadêmica, como o estudo sistemático da ordem mundial, isto é, das relações entre Estados e atores relevantes do sistema internacional, assim como das transformações desse sistema ao longo do tempo.10

2.2

OS DIFERENTES MODELOS DE INTERPRETAÇÃO DAS RELAÇÕES

INTERNACIONAIS

As relações internacionais têm seus estudos baseado nas relações Estado-nações e nas diferentes interpretações dessa complexidade de interesses e valores. Pode-se dizer que diferentes linhas de pesquisa compõem a doutrina, sendo elas representadas pelos modelos idealista, realista, da dependência e o modelo da interdependência11.

O MODELO IDEALISTA - surgiu entre a primeira e segunda guerra mundial. Pode-se dizer que pregava o modelo de uma sociedade perfeita. Um de seus principais representantes foi o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, que, através da Liga das Nações, almejou a pacificação da Ordem Mundial em virtude das calamidades ocorridas no período após a I Guerra Mundial. Este modelo, assim como os outros em que o cientista visualiza, analisa e compreende a ordem mundial, foi fortemente influenciado pela obra “O Contrato Social” de Jean-Jaques Russeau. Pregava a importância de um relacionamento mais aberto, justo e pacífico entre os Estados, consolidando princípios onde a ética possuía papel central, acompanhada de uma maior transparência e democracia no seu escopo. Objetivava, em outras palavras, que um novo conflito mundial ocorresse. E a isto se atribui o

10 OLIVEIRA, op. cit., p. ??. 11 Ibid.

(16)

enfraquecimento dessa escola pela doutrina, uma vez que em 1945 iniciou-se a Segunda Guerra Mundial 12.

O MODELO REALISTA - teve inicio após a segunda grande guerra, influenciado principalmente pelos trabalhos de Nicolau Maquiavel, em que a obra “O Príncipe” teve grande destaque e pelos trabalhos de Thomas Hobbes, representados principalmente pela obra “O Leviatã” (1532 e 1615, respectivamente). Como principais características, observam-se o fato de as Relações Internacionais focarem o poderio de cada Estado. Ocorreu uma maior distinção entre a política interna e externa. O objetivo de alcançar o poder, embutido na política externa, agora não era mais centrado em princípios pacíficos, pois se aceitavam conflitos e o emprego da força para se alcançarem os objetivos. Os valores morais e democráticos eram empregados somente na política interna. Somente é possível ter paz quando existe uma relação harmônica entre os Estados oponentes13, sobretudo considerando o poder de cada um.

Entretanto, esse paradigma não era coerente com a forma global de pensamento da época e resultou no surgimento de uma ramificação que se adequasse ao panorama global vigente, pós-segunda Guerra Mundial. Tal movimento foi conhecido como Neo-Realismo, e teve suas raízes estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial, em 1960. Esse novo modelo de realismo se amparava na importância do papel da segurança nas políticas internacionais.

O MODELO DA DEPENDÊNCIA - nesta forma de análise das Relações Internacionais imperou, sob a ótica econômica, as disparidades existentes entre os países menos e os mais desenvolvidos. Criticava-se, sob influência marxista, a soberania dos mais poderosos em detrimento dos Estados mais enfraquecidos. Os seguidores desta corrente alegavam que, além do Estado, os movimentos de libertação, organizações não governamentais, empresas multinacionais entre outros14. Também tinham um papel preponderante nas Relações Internacionais.

O MODELO DA INTERDEPENDÊNCIA - o modelo da interdependência teve início no final da década de 60 e pregava que, além da economia, outros fatores eram essenciais nas Relações Internacionais, como o papel das empresas

12 OLIVEIRA, op. cit. 13 Ibid.

(17)

multinacionais e o maior desenvolvimento das tecnologias de comunicação em massa. O modelo realista caracterizado pela figura do conflito associado às Relações Internacionais perde espaço em um cenário onde coexistem diversas organizações internacionais. A soberania do Estado diminui e novas tecnologias contribuem para o intercâmbio de informações em nível mundial, fortalecendo relações globalizadas e multilaterais, aumentando a sensação de quebra de barreiras. 15 Esse modelo também é denominado de pluralismo, transnacionalismo ou multicentrismo. É um dos mais influentes até a atualidade, porém, já se observam algumas necessidades que instigam os pesquisadores a construírem novos modelos de estudo das Relações Internacionais.

Atualmente demonstra-se cada vez mais importante considerarmos diversos aspectos relacionados com as relações internacionais, que desencadeiam tomadas de decisões em nível global, pois deste emaranhado de fatores participam programas como: a política ambiental; programas de combate ao crime organizado; defesa dos direitos humanos, entre outros. Isso sugere que deva existir uma abordagem sistêmica e não isolada quando se analisa a interação destes diversos fatores em conjunto com o papel do Estado 16.

2.3

O SISTEMA INTERNACIONAL

Todo o poder de um Estado pode ser explicado pela sua condição de, eficientemente, introduzir novas políticas de cunho econômico e militar, exprimindo seu potencial e sobressaindo-se em um nível global. Embora teoricamente todos os Estados sejam legalmente iguais, as ideias de Relações Internacionais harmoniosas e sem conflitos que marcaram movimentos anteriores foram ultrapassadas. Inclusive após inúmeras discussões entre os organismos envolvidos17.

Os países mais influentes configuram uma relação assimétrica de poder. Desta forma, em uma abordagem mais tradicional, como por exemplo, a presente

15 OLIVEIRA, op. cit.

16 MINGST, Karen A. Princípios de relações internacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 17 LAFER, 2008.

(18)

no realismo, só o Estado participa diretamente do emaranhado de relações que configuram a complexidade geopolítica do mundo. Todavia, observa-se uma vertente mais radical que defende, nos dias de hoje, um Estado cujo poder se dilui ao entrar em ação o papel das grandes multinacionais e das organizações não governamentais (ONGs), contribuindo para uma menor importância das fronteiras. E correntes de pensamento menos radicais alegam que o poder do Estado ainda é soberano, apesar de reconhecerem o papel de outros atores. Pois a ele é atribuído o poder jurídico intransferível e indelegável, permitindo que ocorra negociação com outros Estados e se molde toda a conjectura internacional18.

O realismo é uma teoria sobre a política internacional. É um esforço para explicar tanto o comportamento dos Estados individualmente quanto as características do sistema internacional como um todo. O sentido ontológico do realismo é que os Estados soberanos são componentes constitutivos do sistema internacional. A soberania é uma ordem política fundamentada no controle territorial. O sistema internacional é anárquico. Não existe autoridade superior que possa conter ou canalizar o comportamento dos Estados. Os Estados soberanos são agentes racionais e interesseiros, firmemente, senão exclusivamente, preocupados com seus ganhos relativos, porque devem funcionar em ambientes anárquicos nos quais sua segurança e bem-estar repousem, em última instância, na habilidade que têm de mobilizar os próprios recursos para se protegerem das ameaças externas.19

O caráter assimétrico da nova ordem mundial é observado quando se considera que o sistema internacional é composto por um pequeno grupo que detém aproximadamente 80% das riquezas, expressas em produção, avanços tecnológicos e científicos e transações comerciais. Este núcleo detém grande poderio bélico, manifestado por estrutura militar altamente desenvolvida, inclusive, com armas destruição em massa e grandes reservas materiais de outros armamentos, além de controlarem o Conselho de Segurança das Nações Unidas.20

A complexa composição deste cenário envolve o atrelamento de todo o conjunto das grandes potências e inúmeros estados periféricos. Deste participam grande multinacionais que atuam em variados segmentos, desde o comercial, industrial e o financeiro. Também resultam no estabelecimento de ajustes políticos e

18 GUIMARÃES NETO, 2005.

19 KRASNER, Stephen. In: GRIFFITHS, M. 50 Grandes estrategistas das relações internacionais.

São Paulo: Contexto, 2004, p. 54.

(19)

de âmbito econômico e militar. Estes, de certa forma, traduzem os interesses das grandes potências21.

Algumas tendências podem ser previstas ao abordarmos a complexidade do Sistema Internacional, dentre elas destaca-se um maior avanço no campo das ciências e tecnologias (porém, também é previsto que estes conhecimentos fiquem cada vez mais restritos, contrariando o esperado, por questões estratégicas de caráter empresarial e até mesmo militar). Também é previsto que haja uma reorganização geral em empresas e territórios, integrando os mercados mundiais sem, entretanto, perderem o caráter oligopólico.22 Destaca-se também como tendências, o fato de os poderes relacionados com a economia, política e bélicos serem propensos a migrarem ao centro do sistema internacional; a vinculação jurídica desta concentração de poder assim como um aumento quantitativo dos atores do sistema mundial.

2.4

HEGEMONIA DO SISTEMA INTERNACIONAL

A hegemonia consiste “na capacidade de liderança na definição de regras que ordenarão os aspectos políticos, estratégicos e econômicos da vida internacional” 23 Este conceito pode ser analisado sob duas vertentes: na primeira considera-se o poderio econômico e bélico e na segunda considera-se a possibilidade de influência e aceitação entre os liderados.

Hegemonia no sistema internacional significa, por definição, que existe só uma potência com condições geopolíticas para impor uma concatenação estável da distribuição social do poder. Isto implica um período de "paz", no sentido básico de ausência de luta militar - não de toda luta militar, mas da que envolve grandes potências. Um tal período de hegemonia demanda e ao mesmo tempo gera "legitimidade", se esta palavra é usada para

21 LAFER, Celso. “Comércio internacional, multilateralismo e regionalismo: temas emergentes e novas

direções”. Política Externa, Vol. 5, N. 3, Dezembro 1996, pp. 51-64.

22 HAESBAERT, Rogério. Blocos internacionais de poder. São Paulo: Contexto, 1993.

23 LAMAZIÈRE, Georges. Ordem, hegemonia e transgressão: a Resolução 687 (1991) do Conselho

de Segurança das Nações Unidas, a Comissão Especial das Nações Unidas e o regime internacional de não proliferação de armas de destruição em massa. Brasília: Instituto Rio Branco; FUNAG: Centro de Estudos Estratégicos, 1998, p. 28.

(20)

descrever o sentimento prevalecente nos principais protagonistas políticos (inclusive grupos amorfos como as "populações" dos diversos países) de que a ordem social conta com a sua aprovação ou o mundo ("a história") avança continuamente e com rapidez em direção a um objetivo que eles aprovariam.24

A relação entre modelos de sistema internacional, segundo Lamazière, preconiza que:

A articulação entre os modelos da unipolaridade e da multipolaridade, entre os subsistemas de segurança e econômico, se vem fazendo, no nível concreto, por intermédio da posição especial dos Estados Unidos, país central nos dois contextos e capaz de liderar tanto nas coalizões e mantenedoras da ordem internacional como de participar na promoção de uma ordem econômica global. A escolha das palavras aqui é proposital: os EUA lideram na área de segurança; e co-lideram na área econômica.25

Portanto, o papel dos EUA não confirma a teoria da estabilidade hegemônica, mas demonstra possuir importância, sobretudo após a guerra fria, para que se mantenham as condições de mercado globalizado imprescindíveis para o fluxo de bens e serviços. Independentemente de crises econômicas, ainda se observa que este país detém a capacidade de participar de inúmeros acordos com outros países26.

Os fenômenos sintomáticos de uma fase Kondratieff B normal são: a desaceleração do crescimento da produção e provavelmente uma di-minuição na produção mundial per capita; um aumento nos índices de desemprego do trabalho assalariado; um deslocamento relativo dos lucros, da atividade produtiva para ganhos provenientes de manobras financeiras; um aumento do endividamento público; transferência de indústrias "mais antigas" para regiões com salários mais baixos; aumento dos gastos militares, cuja justificativa não é realmente militar, mas sim a da criação de demanda anticíclica; queda do salário real na economia formal; expansão da economia informal; menor produção de alimentos baratos; crescente "ilegalização" da migração interzonal.27

24 WALLERSTEIN, I. M. Após o liberalismo: em busca da reconstrução do mundo. Tradução:

Ricardo Anibal Rosenbusch. Petrópolis-RJ: Vozes, 2002, p. 34.

25 Ibid., p. 29.

26 VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Os dez anos que abalaram o século 20: a política internacional de 1989 a 1999. Porto Alegre, Novo Século, 1999.

(21)

Nos últimos anos, a excelência do modelo econômico norte americano foi demonstrada através de inúmeros fatores, desde o seu estilo de vida, sua influência política e ideológica ou pelo poderio militar. Previsivelmente esta soberania não é totalmente imune a alguns acontecimentos, já que também é fato que, frequentemente, determinadas ocorrências são capazes de ofuscar e pôr em xeque o monopólio norte-americano. Contribuíram para pôr no centro da crítica mundial fatos históricos como a derrota na guerra do Vietnã, apesar da aparente superioridade de sua infraestrutura militar, assim como a Invasão da República Dominicana em 1965 e as demais conflitos na região, ocorridos na década de 80, envolvendo países como Panamá e Granada. Nestes casos, o fator determinante que pode não ter contribuído de forma positiva para imagem dos EUA foi o fato de se tratar de países cuja extensão territorial é relativamente pequena e, portanto, não proverem de grande expressividade mundial.

A supremacia americana faz com que seja fundamental a este país atuar simultaneamente em diferentes situações, afinal, acredita-se que este seja um dos preços a se pagar para se manter no topo do poder. São vistos como representantes da democracia, submetendo-se frequentemente ao crivo da opinião pública. Em suma, essa posição pode explicar em parte o porquê da intervenção norte-americana em questões que envolvam, aparentemente, outros países e seus interesses mútuos. 28

Entretanto, na guerra contra o Iraque, evidenciaram-se indícios de vulnerabilidade, uma vez que houve necessidade de fortalecimento econômico, político e militar advindo de outros países. 29

28 COSTA, Rogério Santos da. “Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN: histórico, características, objetivos, funcionamento e influência na Segurança Coletiva”. In: Relações

Internacionais no Mundo Atual, n. 6, pp.129 - 151, 2006.

29 VIZENTINI, Paulo G. F. (org.). A grande crise. A nova (des) ordem mundial. Petrópolis: Vozes,

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2.5

ELEMENTOS

DA

UNIPOLARIDADE,

BIPOLARIDADE

E

MULTIPOLARIDADE NO CENÁRIO INTERNACIONAL

Com o término da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente na segunda metade do século XX, a organização do sistema internacional observou uma sólida divisão entre os países do ocidente, representados pelos EUA, e os do oriente, representados pela União Soviética. A nova conjectura mundial pós-guerra fria e descolonizada fez surgir diversos países subdesenvolvidos, gerando oportunidades para que estas nações consolidassem sua recente presença no cenário mundial.O aspecto econômico reflete a imagem de um país em relação a outro, pois nele está envolvido todo o fluxo entre investimentos, financiamentos, tecnologia e produtos.30

A consolidação de um mercado mundial propriamente dito pode ter ocorrido após a segunda guerra mundial. Neste sentido, desempenharam um papel fundamental a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), aliados ao avanço das comunicações e dos transportes.

O boom de desenvolvimento econômico ocorrido na Ásia também teve forte influência, indicando a transitoriedade da economia e sua potencial mobilidade entre oceano atlântico e pacífico. O desgaste da segunda revolução industrial também contribuiu para que novos moldes de uma terceira revolução industrial, tendo como centro o Japão, começasse a ser moldado.

No final dos anos 80 e início dos 90, diversos acontecimentos contribuíram para que novos rumos fossem estabelecidos: a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha; o desmembramento das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a reorganização dos países do leste europeu. Tornou-se inviável a permanência da OTAN e do Tratado de Varsóvia. No final do ano de 1990, uma importante reunião envolveu, em Paris, a presença de presidentes e primeiros-ministros europeus, canadenses e norte-americanos que planejavam os alicerces de uma Europa pacificada. É interessante notar que a União Soviética, prevendo uma possível exclusão, permitiu a presença norte-americana no evento.

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Os EUA, estrategistas, mantiveram-se presentes nas relações com os países europeus, fato que possibilitou aos países ocidentais deste continente consolidar a paz e a democracia na região. As economias mais fortes da Europa, na ocasião, apoiaram a estruturação do sistema atlântico, possivelmente reconhecendo ser este vantajoso para o desenvolvimento de seus países. Com isso, os EUA permaneceram estabelecendo os rumos do seu desenvolvimento.

Toda a atenção no período pós-guerra fria, portanto, eram voltadas para os EUA e o predomínio de sua influência. Nas Relações Internacionais, sobressaíam os seus interesses, caracterizando a “Nova Ordem Mundial”. Analisando-se alguns aspectos relacionados com a Guerra do Golfo, ocorrida no início da década de 90, pode-se constatar essa onipresença mundial dos EUA, demonstrada através do seu poder de influência, quando, pela primeira vez, todos os membros da Organização das Nações Unidas o apoiaram no conflito que objetivava combater os avanços de Saddan Hussein.31

Entretanto, uma possível tomada de decisão mais democrática entre as nações, com a participação central da ONU, não ocorreu, conforme previram alguns especialistas. A OTAN ganhou destaque como centro das decisões, como se pode constatar pela sua atuação intervindo diretamente em conflitos ocorridos como a antiga-Iugoslávia, por exemplo.

O neoliberalismo ditava a nova ordem mundial, no período pós-guerra fria. Seus princípios regeram o denominado “Consenso de Washington”. O capital especulativo de fluxo instantâneo, em nível global, e o enorme poder exercido pelos grandes grupos econômicos contribuíram para diminuir o poder do Estado, principalmente para os mais frágeis e menos desenvolvidos.

Mesmo caracterizado pela unipolaridade acima descrita, gradativamente cresciam novas reflexões sobre temas de relevância mundial, inseridas na agenda internacional. Ocorreram conferências sobre os direitos humanos e questões ambientais, como ocorrido em Viena (1993) e no Rio de Janeiro (1992), respectivamente, além da discussão de aspectos relacionados com segurança e desenvolvimento, destacando-se a presença da ONU. No entanto, em decorrência

31 PATRIOTA, Antonio de Aguiar. O Conselho de Segurança após a Guerra do Golfo: a articulação de um novo paradigma de segurança coletiva. 2. ed. Brasília: Fundação Alexandre de

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da unilateralidade característica deste período, evidenciou-se a importância de alguns ajustes da nova ordem mundial, objetivando que os interesses de todos os seus membros fossem mais democraticamente discutidos.

A persistência dos EUA no centro do poder, envolvidos nos principais decisões de relevância mundial, passou a gerar sinais de desgaste no cenário mundial. Inúmeras nações, descontentes com essa hegemonia, podem ter sido o berço de vertentes ideológicas contrárias a sua atuação e sua política, representadas por grupos radicais que expressam todo seu descontentamento muitas vezes através de atos radicais e violentos, culminando em catástrofes como a ocorrida em 11 de setembro de 2001, quando aviões dominados por sequestradores chocaram-se com as torres gêmeas em Nova Iorque, um dos símbolos do imperialismo norte-americano, tornando-se um dos episódios mais conhecidos da história recente mundial. Este acontecimento foi o estopim para que, naquele momento, o governo do então presidente norte-americano George W. Bush declarasse a chamada “Guerra contra o terrorismo”.

Entretanto, a crítica internacional contestou a principal motivação norte-americana, alegada na época, de que o Iraque era detentor de armamentos de destruição em massa, fato nunca comprovado, e desencadeou mais uma guerra em solo iraquiano. Desta vez, no entanto, não ocorreu o amparo da ONU que, através de seus diversos especialistas, não apoiou a decisão norte-americana. Os EUA, após desprezarem o caráter recente multilateral do mundo globalizado e gozarem do status de superpotência militar, no entanto, não eram mais considerados isoladamente como possuidores de um papel único do cerne das decisões internacionais. A nova estruturação da economia internacional, repleta de novos atores representados por países em franco desenvolvimento, contribui para o caráter multifacetado na nova ordem mundial. Economias que, no passado, eram inexpressivas emergiram e fortaleceram-se. Países como a China e Índia, na Ásia, despontaram no cenário internacional e conquistaram maior poder de barganha. Os países da União Europeia adotaram uma postura mais crítica ante as investidas dos EUA, configurando novos delineamentos das Relações Internacionais. Entretanto, não se pode observar uma homogeneidade nas economias presentes neste bloco, periodicamente vindo à tona crises na economia de alguns de seus integrantes. No continente sul-americano, foram depostos diversos governos fortemente

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influenciados pelas políticas neoliberais americanos, desestruturando todas as iniciativas objetivadas pela ALCA32.

O autor Huntington caracteriza o cenário internacional conforme abaixo:

A lógica do poder mundial pode ser caracterizada como um cenário de “unimultipolaridade”, em que há um poder hegemônico, que são os Estados Unidos, mas esses não logram conferir unilateralmente o direito de agir segundo sua própria vontade, haja vista que porquanto não têm podido impor continuadamente o que desejam, sem reconhecerem a relevância da multipolaridade do cenário internacional33.

Verifica-se que, apesar de o conceito defendido por Huntington (unimultipolaridade) não possuir viés acadêmico, na prática tem sido usado entre especialistas norte-americanos e da Europa. A consolidação deste conceito, no entanto, permitirá uma análise mais concreta no decorrer de determinado tempo. Porém, é um consenso reconhecermos que o conceito de mundo unilateral pode ser considerado ultrapassado no atual cenário internacional.34

2.6

OS BLOCOS DE PODER NA NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL

A nova estruturação mundial amparada em economias menos heterogêneas e multilaterais está relacionada com as mudanças na economia capitalista e sua característica cíclica da qual fazem parte momentos de acúmulo de produção alternados com instabilidades acentuadas.35

O significado de blocos de poder considera as características de economia, política, cultura e ideologia das diversas sociedades, levando em conta os inúmeros

32 ALMEIDA, Paulo Roberto de; BARBOSA, Rubens Antonio (Orgs.). Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências. São Paulo: Saraiva, 2006f.

33 HUNTINGTON, Samuel P. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. São

Paulo: Objetiva, 1996.

34 VIZENTINI, Paulo G. Fagundes; WIESEBRON, Mariane (Orgs.). Neohegemonia americana ou multipolaridade? Pólos de poder e sistema internacional. Vol. I. Porto Alegre: UFRGS, 2006. 35 WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histórico e civilização capitalista. Rio de Janeiro:

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elos entre grupos e classes sociais que as compõem, e entre estes e sua localização territorial. O conceito de bloco de poder é fluido, apresentando uma plasticidade que, no entanto, não desconsidera as peculiaridades presentes em cada situação geográfica. No mundo hodierno, há indícios de seu franco fortalecimento evidenciado através da existência de inúmeras organizações e acordos internacionais 36. Os movimentos que fortalecem a união de mercados em determinadas regiões têm crescido em todo o mundo.

Uma maior solidez e fortalecimento dos blocos de poder são uma tendência observada atualmente. No continente europeu predomina o objetivo de se conquistar uma maior autonomia ante os EUA e o Oriente Médio. Observa-se maior integração das grandes potências com os países do leste, ampliando as oportunidades comerciais através da conquistas de novos mercados, significando possibilidade de aquisição de matéria-prima e energia e dando mais autonomia às suas economias37.

2.7

O ARQUÉTIPO IMPERIAL

Os impérios representam um conjunto de características que lhes confere status único de detentores do poder máximo que uma civilização pode usufruir. Acompanhados do luxo, da forte influência política, cultural e de diversos outros fatores que acompanham este complexo conceito, também se encontra a força bruta, a violência e a sordidez. Historicamente possuíam elementos de cunho ideológico que ambicionavam, por exemplo, a expansão religiosa e o combate a comportamentos considerados selvagens, sempre impondo seus métodos como superiores. Os impérios simbolizam imponência, respeitados pelo seu tamanho e suas dimensões em alta escala. Na Europa, teve-se no país francês um exemplo de um império selado pelo teor revolucionário, embutido de missão considerada “civilizatória”, enquanto o britânico, marcou-se pela capacidade de negociação e

36 HAESBAERT, Rogério. Blocos internacionais de poder. São Paulo: Contexto, 1993.

37 OLIVEIRA, Odete Maria de. União Européia: processo de integração e mutação. Curitiba: Juruá,

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altas doses de carvão queimado, que serviam de fonte energética para os navios à vapor.

Na síntese de Wallerstein, sobressai a ideia de declínio da hegemonia norte-americana.

As opções dos Estados Unidos parecem extremamente limitadas e não há dúvida de que continuarão a declinar como força decisiva nos assuntos mundiais na próxima década. A verdadeira questão não é se a hegemonia americana está a decair, mas se os EUA podem encontrar uma maneira de declinar graciosamente, com danos mínimos para o mundo e para si próprios.38

Analisando-se a história americana, pode-se concluir que os EUA em nenhum momento pretenderam seguir o paradigma de império tradicional, com posses de colônias vinculadas à metrópole. No entanto, importantes acontecimentos caracterizaram-no como tal, como no caso do fim do comunismo na União Soviética, pejorativamente difundida pelos norte-americanos como sendo representante do “Império do mal”, elevando, dessa maneira, os EUA, então presidido pelo presidente Ronald Reagan, à posição de “Império do Bem”.39

2.8

O DESMEMBRAMENTO DA UNIÃO SOVIÉTICA

Após a segunda Grande Guerra, a Alemanha permaneceu, durante quase 4 décadas, dividida entre dois Estados: a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, reconhecida pela República Federal Alemã (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA), respectivamente.

Enquanto na RFA (ou Alemanha Ocidental) se instalou um regime democrático liberal, na RDA (ou Alemanha Oriental), estabeleceu-se um regime socialista associado à União Soviética.

38 WALLERSTEIN, 2001, p. 55.

39 DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo Império Perecerá. Teoria das Relações Internacionais.

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Com intensos protestos populares, o episódio denominado como a queda do muro de Berlim ficou historicamente conhecido, resultando, um ano mais tarde, em 1990, na Reunificação Alemã. Porém, esse acontecimento histórico não significou mudanças apenas para os alemães e sim para toda a organização geopolítica vigente instalada durante a guerra fria, que se fundamentava na divisão do mundo em dois sistemas.

A União Soviética, também conhecida como União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), existiu durante aproximadamente 70 anos, até o início da década de 90. Organizava-se sob uma federação de Estados Independentes, tendo em comum a política exterior e de segurança. Possuía, no entanto, um governo centralizado, instalado na cidade de Moscou, de onde saíam todas as diretrizes impostas pelo Partido Comunista da União Soviética. Tornou-se o símbolo da principal rival dos EUA após a Segunda Guerra Mundial, quando já possuía um respeitável e temido poderio bélico. Ao complexo conjunto de objetivos antagônicos entre os EUA e a URSS e seus respectivos seguidores denominou-se o que se pode entender por “Guerra Fria”. Um dos ápices deste capítulo na história ocorreu em Cuba, em 1962, quando a União Soviética pretendeu implantar armas atômicas no arquipélago caribenho, desencadeando um clima de pânico internacional perante a perspectiva de uma nova guerra mundial.40

Na União Soviética, iniciou-se um movimento que defendia a coexistência pacífica entre os dois modos de produção: capitalista e socialista, que deveriam evitar qualquer tipo de conflitos militares. Nas décadas de 60 e 70, diversos acordos foram firmados objetivando inibir a produção de armas nucleares.

Apesar do combate aos movimentos reformistas em Praga, na Tchecoslováquia, em 1968, Brejnev, mesmo com a política de distensão41 em

40 PLATE, Katja Christina. O mundo 20 anos após a queda do muro. Rio de Janeiro: Fundação

Konrad Adenauer, 2009.

41 O período da distensão seguiu-se à Crise dos Mísseis, por ela quase ter levado as duas

superpotências a um embate nuclear. Os EUA e a URSS decidiram, então, realizar acordos para evitar uma catástrofe mundial. Nesta época, vários tratados foram assinados entre os dois lados. Tratado de Moscou (1963) - Os dois países regularam a pesquisa de novas tecnologias nucleares e concordaram em não ocupar a Antártida. TPN (Tratado de Não Proliferação Nuclear) (1968) - Os países signatários (EUA, URSS, China, França e Reino Unido) se comprometiam a não transmitir tecnologia nuclear a outros e a se desarmarem de arsenais nucleares. SALT I (Strategic Arms Limitation Talks - Acordo de Limitação de Armamentos Estratégicos) (1972) - Previa o congelamento de arsenais nucleares dos Estados Unidos e da União Soviética. SALT II (1979) - Prorrogação das negociações do SALT I. Os dois países tinham seus motivos particulares para buscar acordos militares e políticos. A URSS estava com problemas nos relacionamentos com a China, e viu este

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relação ao ocidente, manteve-se firmemente no poder. O período compreendido entre 1964 e 1982, além de ter sido marcado pela Era Brejnev e sua política de distensão em relação ao ocidente, também se configurou por um quadro político constituído por representantes de idade avançada e conservadores. Em 1980, a maior parte dos integrantes do politburo42 possuía mais de 70 anos de idade. Os

governos de Yuri Andropov e Konstantin Tchernenkov, que vieram após o de Brejenev, não resultaram em mudanças nesse quesito.

Com a vitória de Mikhail Serguéievitch Gorbachev como líder do Partido Comunista, em 1985, é que a União Soviética, através de reformas decisivas e radicais, tentou reagir à desfavorecida situação econômica estabelecida na ocasião.

A centralização da economia foi caracterizada pela sua deficiência. A economia russa não resistiu às quantias exorbitantes desprendidas na indústria bélica, agravadas especialmente na guerra no Afeganistão, assim como a competição militar com os EUA. A União Soviética entrou em crise, e o enfraquecimento da economia e os frequentes episódios envolvendo a corrupção no governo tornaram-na um país em desenvolvimento. A corrupção em diversos escalões do poder minou os planos de desenvolvimento em áreas como a saúde, assistência social e educação. A indústria tornou-se inexpressiva, sem competitividade. A economia global da época, em que aspectos como a comunicação eficiente se fazem fundamentais, não encontrou solo fértil no governo russo, em razão da deficiência geral de serviços e do autoisolamento gerado pela escassez de informações. Em suma, todas as áreas, inclusive no campo científico e na agricultura, não faziam frente ao desenvolvimento ocorrido no resto do mundo43.

O governo do então presidente Mikhail Gorbachev foi marcado, de início, com suas ações imediatas que visavam renovar o desgastado quadro político,

país se desalinhar do socialismo monopolista de Moscou. Isso criou a prática da diplomacia triangular, entre Washington, Moscou e Pequim. Também estavam com dificuldades agrícolas e econômicas. E os Estados Unidos haviam entrado numa guerra contra o Vietnã, e na década de 1970 entrariam em uma grave crise econômica. A Distensão, apesar de garantir o não confronto militar, acirrou a rivalidade política e ideológica, culminando em algumas revoltas sociais e apoios a revoltas e revoluções na Europa e no Terceiro Mundo.

42 Politburo, contração do russo Politicheske Byuro (Gabinete de Política), designa um órgão

executivo do Estado/Partido Comunista na URSS e outros países comunistas constituído por facções de orientação comunista, de controle severo. A partir da Revolução bolchevique de outubro de 1917, o Partido Comunista tornou-se o único no poder, seguindo a prática do Partido de representar a face e a vontade do povo nos Estados marxistas-leninistas.

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promovendo a substituição de antigos governantes, cuja imagem desgastada agravou-se após sucessivos anos de poder e estagnação. Tolerou-se neste período, uma maior liberdade de expressão e opinião por parte da imprensa, resultado das novas diretrizes impostas pelas reformas políticas. Neste contexto, caberia à

Glasnost44 promover as condições de implantação da Perestroika45. A primeira tinha

como objetivos principais criar condições de desenvolvimento da segunda, através de discussões a respeito da crise. E à segunda, caberia moldar o socialismo vigente, permitindo-lhe a implantação de eleições livres, independência dos poderes, incentivo à maior abertura da Economia e construção de um Estado de direito. No entanto, era imprescindível que o Partido Comunista da União Soviética (PCUS) permanecesse estável e fortalecido.

Objetivando oferecer mais segurança à própria população, o governo de Gorbachev diminuiu significativamente todo o aparato militar empregado em prol de movimentos comunista, presentes no continente africano e alguns países da América Latina. O exército russo evadiu-se do Afeganistão em 1989. Entendeu-se que a competição militar entre as duas superpotências, EUA e URSS deveria ser descontinuada conforme pregava a política de distensão. Fato tal que propiciou condições para que novas discussões fossem estabelecidas em favor do desarmamento nuclear entre os dois países.

Tais reformas, no entanto, surtiram efeitos negativos na economia estagnada que decaiu, tendo seu PIB reduzido em 17% em 1991. A inflação neste período atingiu 140% desencadeando na escassez de diversos produtos, de roupas a alimentos. As dívidas relativas ao comércio exterior acumularam-se, gerando um superavit significativo. E o clima perante a opinião pública agravou-se com o aumento das insatisfações, pois como as reformas da Glasnost permitiram uma

44 A Glasnost, de 1988, foi uma medida política implementada juntamente com a Perestroika, na

URSS, durante o governo de Mikhail Gorbachev. A Glasnost deu novas liberdades à população, como uma maior liberdade do discurso, uma modificação radical, visto que o controle dos discursos e a supressão da crítica ao Governo tinham sido anteriormente uma parte central do sistema soviético. Houve também um maior grau da liberdade dentro dos meios de comunicação.

45 A Perestroika foi, em conjunto com a Glasnost, uma das políticas introduzidas na União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas por Mikhail Gorbachev, em 1985. A palavra Perestroika, que literalmente significa reconstrução, recebeu a conotação de reestruturação (abertura) econômica. Uma chave principal da Perestroika era reduzir a quantidade de dinheiro gasto em defesa e, para fazer isso, Gorbachev sentiu que a União Soviética deveria: desocupar o Afeganistão, negociar com os Estados Unidos da América a redução de armamento (os acordos de Yalta) e não interferir em outros países comunistas (A Doutrina Sinatra).

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maior troca de informações, aumentaram as reivindicações populares com o atual governo.

A Rússia, por sua vez, não desapareceu do jogo internacional, como muitos crêem, apesar de seu refluxo, da desmoralização e do perigoso caos social e político em uma potência nuclear. Moscou tem repassado para a China, o Irã, a Índia e outras potências médias armas modernas e tecnologia espacial, nuclear e de mísseis, e o país deverá ressurgir gradualmente no cenário mundial, embora não esteja claro com que projeto. Além dos pe-rigos contidos no êxodo de cientistas, no contrabando ilegal de armas e plutônio, Boris Ieltsin tem perdido o controle da fragmentada vida política do país: em outubro de 1993 bombardeou e assaltou o parlamento que lhe fazia oposição e em dezembro de 1994 atacou, com grandes dificuldades militares, a república separatista da Chechênia. Um ano depois, o Partido Comunista vencia as eleições legislativas e iniciava sua preparação para as eleições presidenciais.46

Todo o poderio representado pela União Soviética nos países do leste europeu, depois da segunda grande guerra, já não tinha o mesmo significado. Diversas manifestações espalharam-se por toda esta porção da Europa, caracterizadas em grande parte pelo não uso da violência. Era o fim da Guerra Fria. No dia 3 de outubro de 1993 realizou-se a reunificação Alemã. A União Soviética foi fragmentada em 15 Estados independentes. Algumas Repúblicas Soviéticas tiveram seu futuro caracterizado de modo contrário ao desmembramento pacífico predominante no fim das URSS47.

O problema em jogo diz respeito ao tipo de ordem mundial que venha a se constituir, depois de o colapso de União Soviética ter dado um fim ao precedente regime bipolar que regulava o mundo. O mundo presentemente se defronta com duas possibilidades alternativas de regulação internacional; a consolidação e universalização da Pax Americana ou a consolidação e universalização de um sistema multipolar, sob a égide das Nações Unidas. Esses dois modelos de ordem mundial se confrontam presentemente. A elite de poder americana manejando a "Aliança Atlântica" nas condições posteriores à implosão da União Soviética, dela fez um dos principais instrumentos de sua hegemonia mundial. O corrente processo de globalização favorece, economicamente, essa hegemonia. O projeto Alca, se prevalecer, a consolidará decisivamente no hemisfério ocidental.48

46 VIZENTINI, P. G. F. A Nova ordem global: relações internacionais do século 20. Quarta parte.

Porto Alegre: UFRGS, 1996, 95p.

47 PLATE, 2009.

48 GUIMARÃES, S. P. Quinhentos anos de periferia: uma contribuição ao estudo da política

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Em praticamente todos os países da Europa Oriental incentivou-se a implantação de medidas para a democratização e descentralização da economia, embasadas nos princípios da Glasnost e Perestroika, principalmente depois de a União Soviética abdicar da doutrina de Brejnev. Entretanto, após a queda do muro de Berlim, os atos da URSS não seriam caracterizados pela violência empregada na Primavera de Praga.

2.9

A GUERRA CONTRA O TERRORISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

O presidente eleito nos EUA George W. Bush teve grande influência no cenário mundial do início do século XXI. Avaliado por especialistas como sendo o século norte-americano, o governo Bush demonstrou uma postura negativa, contrária à multipolaridade esperada, observada através de atos como o boicote ao Protocolo de Kyoto, que tratava do aquecimento global. Além disso, passou a ignorar uma relação harmônica com organismos internacionais, como a ONU, por exemplo, em oposição ao governo anterior e que, de certa forma, o governo que o sucedeu tenta recuperar. O apoio de líderes norte-americanos nos organismos multilaterais enfraqueceu-se, contrariando, inclusive, alguns membros da OTAN.

Nestas circunstâncias ocorreu um dos maiores atentados terroristas de toda a história, demonstrando a desconhecida vulnerabilidade de um território que, no momento, empregava esforços para construção de um escudo antimíssil. O dia 11 de setembro de 2001 entrou para a história com a derrubada dos maiores representantes mundiais da imponência e do modo de produção capitalista, representante do império financeiro e militar daquele país. Os ataques foram atribuídos à organização Al Qaeda, presente no Afeganistão e cujo líder, Osama Bin Laden, era o principal representante. Com o sequestro e o direcionamento de aviões civis americanos ao pentágono e às torres gêmeas de Nova Iorque, ocasionando a tragédia causada pela destruição parcial do primeiro e total da segunda, este episódio marcou o início do terceiro milênio. A obra de Samuel Huntington o “Choque de civilizações” teve grande influência ao representar um sentimento

(33)

coletivo de conflitos entre o mundo ocidental e oriental, reforçado com o início da Guerra do Iraque em 2003.

Segundo Emmanuel Todd comentou na véspera da guerra do Iraque:

Não haverá império americano. O mundo é demasiado vasto, diverso e dinâmico para aceitar a predominância de uma única potência. O exame das forças demográficas e culturais, industriais e monetárias, ideológicas e militares que transformam o planeta não confirmam a atual visão banal de uma América invulnerável. Um quadro realista [mostra] uma grande nação cuja potência foi incontestável, mas que o declínio relativo parece irreversível. Os Estados Unidos eram indispensáveis ao equilíbrio do mundo; eles não podem hoje manter seu nível de vida sem os subsídios do mundo. A América, pelo seu ativismo militar de teatro, dirigido contra Estados insignificantes, tenta mascarar seu refluxo. A luta contra o terrorismo, o Iraque e o “eixo do mal” não são mais do que pretextos. Porque ela não tem mais a força para controlar os atores que são a Europa e a Rússia, o Japão e a China, a América perderá esta última partida pelo domínio do mundo. Ela se tornará uma grande potência entre outras49. Após o 11 de setembro, foi traçado o destino dos Estados-bandidos.

Henry Kissinger, em 7 de novembro, disse que os Estados Unidos buscarão a destruição do Estado que servir de base ao terrorismo. E que se os terroristas controlam parte de um país, como tem acontecido no Afeganistão e na Colômbia, poderão ser caçados em operações militares. Por isso, a chave da estratégia anti-terrorismo é eliminar os paraísos do terror. O cri-tério para o enquadramento de um país como Estado-bandido não é claro: trata-se de uma decisão classificatória, que depende do livre arbítrio do Departamento de Estado, ou emanará de uma nova ordem internacional? Kissinger, como construtor institucional, prognostica que a guerra ao terrorismo não se limita a caçar os criminosos: ela é, acima de tudo, uma oportunidade extraordinária para remodelar o sistema internacional.50

Estudiosos, a partir de então, começam a sugerir que as relações de uma economia globalizada passam a sofrer consequências por causa das políticas militares empregadas pelos EUA, sobretudo com os excessivos gastos com segurança. Essa postura centralizada de âmbito político e militar caracterizado pelo governo Bush, adotando posturas unilaterais, demonstravam que o século XXI seria novamente caracterizado pela hegemonia norte-americana51.

49 TODD, Emmanuel. Depois do Império: ensaio sobre o declínio americano. Rio de Janeiro: Record,

2003.

50 LESSA, C.; COSTA, D.; EARP, F. S. A crise internacional e o Brasil depois do atentado:

notícias da guerra assimétrica. Rio de Janeiro: Garamond, 2002, p. 117.

(34)

No entanto, essa postura americana pode ser entendida como uma tentativa de inibir a consolidação de um sistema multilateral mais hegemônico, constituído pelos próprios EUA em conjunto com a União Europeia, Rússia, Japão e outros atores constituídos pelos países do Tigre Asiático, Índia, China, África do Sul e Brasil.

2.10

A CRISE ECONOMICA DE 2008 E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Alguns números indicam que a crise financeira de 2008 pode ser a pior crise pela qual os Estados Unidos passam, desde a crise de 1929. Reconhecida como A Grande Recessão, estima-se que a taxa de desemprego esteja em torno de 9% na média do país, atingindo 15% em diversas regiões metropolitanas. Os 10% mais abonados recebem quase 50% de toda a renda do país, fato que corrobora com a comparação com a Grande Depressão.

A reconhecida possibilidade de conquista de bens materiais suficientes para manter a autoestima a qualquer trabalhador honesto, famosa na América, não é mais a mesma. Este quadro é agravado com a ascensão da China e o reconhecimento de seu potencial, superior ao americano em diversas áreas. A China tem formado mais mão de obra qualificada, por meio de pós-graduados nas áreas científica e de engenharia do que os EUA.

O país do presidente Hu Jintao possui o Tianhe-1A, o computador mais rápido já construído e que pertence à China. Estima-se que o país asiático estaria para os EUA, atualmente, como a Alemanha Imperial esteve para o país britânico no início do século passado. Pesquisas revelam que 41% dos americanos acreditam que seu país é menos importante do que na década passada. O fim da hegemonia americana já tem previsão calculada. Essa data fatídica foi estimada, pela Goldman Sachs, em 2027, quando a economia norte-americana seria ultrapassada pela chinesa.

Todas essas evidências de transformações estão envolvidas com as causas da crise financeira. A abertura dos mercados americanos além das fronteiras

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