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O estabelecimento prisional, com toda a sua organização, característica e peculiaridades citadas no capítulo anterior, tem por objetivo principal manter em cárcere, ao mesmo tempo em que deve garantir a dignidade e segurança daqueles que violaram (ou supostamente violaram, no caso dos presos preventivos ou provisórios) as principais regras de convivência sociais, sendo a maioria delas de cunho penal.

O exercício da vigília, do zelo ao pleno funcionamento da unidade prisional, conjuntamente com a segurança e dignidade dos indivíduos criminosos é praticado por profissional público ―anteriormente preparado‖ especificamente para esta função, o qual é o agente penitenciário.

Classificado de forma popular como carrasco, carcereiro, guarda prisional e, presentemente, como agente de segurança penitenciária, a história desta profissão, para LOPES (2002), ―sempre esteve ligada, no imaginário social, às situações de tortura, agressão, vigilância, fiscalização e outros métodos disciplinadores utilizados apenas para aplicar castigo, punir e manter uma determinada ordem social‖.

Sabe-se que a definição acima não mais trata (ou nunca tratou) a realidade do agente, o qual, além de direitos, possui também deveres em relação àqueles sobre os quais exerce vigilância.

Isto é, apesar da injusta imagem, a tarefa principal do agente de segurança penitenciária é salvaguardar a sociedade civil, pelo que, apesar de ser considerada uma função de alto risco, contribui diretamente para a execução de um tratamento penal adequado, deste modo desenvolvendo um importante serviço em prol da sociedade.

O agente penitenciário é funcionário público, o que impõe ao Estado a responsabilidade em respeito à segurança, saúde e bem estar deste, observando-se que,

conforme a Organização Internacional do Trabalho – OIT, a função deste trabalhador é considerada como a segunda mais perigosa do mundo (OLIVEIRA, 2010).

Conforme já mencionado neste trabalho, segundo o perfil apresentado pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), pode-se entender claramente que o servidor carcerário desempenha uma função de alto risco, resguardando a sociedade através de ―treinamentos‖ e estratégias para ressocializar o preso:

O agente penitenciário realiza um importante serviço público de alto risco, por salvaguardar a sociedade civil, contribuindo através do tratamento penal, da vigilância e custódia da pessoa presa no sistema prisional, durante a execução da pena de prisão, ou de medida de segurança, conforme determinadas pelos instrumentos legais.

Desta sorte, existe a necessidade de que os Agentes Penitenciários apresentem um perfil adequado para o efetivo exercício da função, requer, pois um engajamento e um compromisso para com a instituição a que pertençam. Devem ter atitudes estratégicas e criteriosas, para corroborar com mudanças no trato do homem preso, e realizá-las em um espírito de legalidade e ética. Ter a humildade de reconhecer a incapacidade a respeito dos meios capazes de transformar criminosos em não criminosos, visto que determinados condicionantes tendem a impedir essa metamorfose, parecendo provável que algumas delas favoreçam o aumento do grau de criminalidade das pessoas.

É necessário, finalmente, aos Agentes Penitenciários reconhecerem as contradições inerentes à própria função; as possíveis orientações que variam conforme os pressupostos ideológicos de cada administração, pois, devem transcender a estas questões a fim de contribuir para a promoção da cidadania e assumir definitivamente como protagonista de seu papel de ordenador social, de funcionário público honrado (DEPEN, 2019).

O exercício desta função se trata de uma necessidade inadiável da comunidade que, se não atendida, coloca em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população, bem como garante a ordem pública e incolumidade das pessoas prevista no artigo 144 da Constituição Federal de 1988c/c o artigo 3º, inciso IV da Lei Federal nº 11.473/2007, que dispõe:

Art. 3º. Consideram-se atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, para os fins desta Lei: [...];

IV - a guarda, a vigilância e a custódia de presos; [...] (BRASIL, 2007).

Fica então evidenciado que a função exercida pelo agente de segurança penitenciária, nestes ambientes hostis e de extremos riscos para o próprio servidor, através da guarda e vigilância, é indispensável à garantia e ordem da sustentação e desenvolvimento da sociedade em geral, cumprindo, assim, com o que busca aplicar a Constituição à sua população em termos de segurança.

Deste modo, pode-se afirmar que o agente de segurança penitenciária é o elo entre o preso e a sociedade, ou seja, o agente é ao mesmo tempo o intermediador entre a sociedade que isola e o preso que está isolado. Dentre tantas tarefas de responsabilidade do profissional, as quais devem priorizar o tratamento penal, pode-se classificá-la em três tipos principais: atividades práticas ou rotineiras, atividades de vigilância ou investigação e atividades humanas ou sociais.

Para que o cidadão possa se tornar um agente de segurança penitenciária, deve este obter aprovação em concurso público, superando todas as etapas, tais quais as de conhecimento geral e específico, aptidão física e análise psicológica e investigações sociais, por exemplo, conforme edital do ano de 2019 do Estado de Santa Catarina.

Sabe-se que no ambiente prisional existem demais pessoas que ali exercem suas atividades laborais, como, por exemplo, os advogados, faxineiros, profissionais de trabalhos não eventuais (psicólogos, professores, instaladores de câmeras de segurança etc.). Contudo, é o agente que regula e auxilia para o controle social, é quem está em constante contato com os apenados, sendo exposto diariamente a testes de autocontrole físico e mental.

Consequentemente, o agente de segurança penitenciária se torna o responsável pelo controle de pessoas que a sociedade e o Estado marginalizam, cabendo a eles administrarem os conflitos resultantes dos mais diversificados problemas que a administração pública não conseguiu gerenciar, e faz isto com uma carga de cobrança elevada, devendo desempenhar da melhor maneira possível a sua função.

Apesar da elevada importância de suas atribuições, sendo considerado o alicerce do sistema prisional, o mediador de conflitos entre a sociedade e os que ali estão detidos, os agentes de segurança penitenciária acabam por ser negligenciados. Diferentemente da grande maioria das pesquisas cujo objeto é o preso, o profissional ressocializador não mereceu, até os dias atuais, muita atenção nos estudos acadêmicos.

4.2 ESTADO E ENCARCERAMENTO: OS EFEITOS PERANTE O AGENTE DE

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