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ESTADO E ENCARCERAMENTO: OS EFEITOS PERANTE O AGENTE DE

Manifestamente envolvidos em meio às adversidades do ambiente hostil que o encarceramento tem através do descaso e inobservância humanitária, os agentes de segurança penitenciária são escassamente reconhecidos e compreendidos pela função que exercem a sociedade em geral.

Identificada como uma das mais indesejáveis e obscuras ocupações, em virtude do risco físico e psicológico no qual submete o ser humano, a função do agente penitenciário em tempo algum foi devidamente valorizada ou remunerada. Visto pela sociedade como alguém pronto a se corromper e desprovido de sensibilidade, o agente, como se as dificuldades enfrentadas diariamente já não fossem o suficiente, carrega a desonrosa e pesada fama de torturador dos detentos que estão sob a sua responsabilidade.

Neste sentido, Lourenço (2010) realizou pesquisa acerca dos preconceitos sofridos pelos agentes de segurança penitenciária, ao serem questionados quanto ao sofrimento de quaisquer tipos de discriminação em razão da sua função, 61,8% dos entrevistados afirmaram já terem sofrido ao menos tratamentos invulgares. Afirmou, inclusive, que ―Trabalhar na cadeia é diferente, o pessoal não é visto da mesma forma. Aqui mesmo na faculdade tem professor e aluno que têm até medo da gente‖, conforme discorreu um agente ao pesquisador. Segundo Moraes (2005 apud Lourenço 2010), ―a percepção do agente sobre o estigma que a sociedade lhe dirige pode ser compreendida dentro de uma lógica que o transforma em ‗capeta‘ e o condenado em ‗anjo‘‖:

(...) para a sociedade, eles seriam, em primeiro momento, semelhantes aos detentos, e no limite, piores que aqueles. Além de tudo, os agentes não se sentem contemplados e defendidos pelos discursos e políticas de direitos humanos, que, para a maioria deles, continuam sendo ―coisa pra bandido‖. (...) Tudo se passaria como se, no interior do sistema penitenciário, houvesse uma inversão de valores e os bandidos e ―maus‖ passassem para o lugar das vítimas, perseguidas, agora, pelos agentes penitenciários, seus satanizados algozes. Aliás, certa vez falou-nos um agente penitenciário: ―O interno atravessa a cadeia e passa de leão a anjo (...) é a metamorfose do detento‖ (MORAES, 2005, p. 54-55 apud Lourenço 2010).

Frisa-se que, buscar o cumprimento dos direitos, a aplicação da legislação vigente e, consequentemente, a melhora de todo o sistema, jamais poderia ser reduzido ao pejorativo jargão de ―defesa de bandido‖, o que infelizmente ocorre nas falácias populares.

Busca-se o respeito humanitário de todos que ali vivem, independentemente de quem seja, mesmo que determinados sujeitos estejam nesta situação justamente por não ter respeitado outro humano.

Isto é, inexiste o raciocínio de proteção ao transgressor encarcerado, é demasiadamente infundada tal colocação. Todas as situações precárias dos estabelecimentos prisionais, como ambiente insalubre, mal iluminado, pouco ventilado, inóspito, atingem não somente os presos, como também os funcionários ali presentes. Somados estes fatos ao baixo efetivo de profissionais, faz com que os problemas suportados por estes se tornem insustentáveis.

Em concordância com os capítulos anteriores, necessário realçar que diversas são as violações acometidas aos agentes, o que pode resultar em abalo moral, psicológico, bem como comprometimentos da saúde física.

Nesta senda, Campos e Sousa (2011) corroboram com o raciocínio supra, aos destacarem as queixas mais comuns:

Condições de trabalho, carga horária, remuneração, quadro de pessoal baixo, rotatividade, absenteísmo, cobranças, falta de preparo e treinamento, estrutura física inadequada, ameaças e restrições na vida pessoal, estresse, falta de acompanhamento psicológico ao funcionário são apenas alguns pontos.

Lourenço (2010) afirma que, por diversas razões, pode-se classificar a categoria de agente penitenciário como uma ocupação arriscada e estressante. Segundo o autor, o risco e a vulnerabilidade são características inerentes do trabalho no cárcere, podendo causar distúrbios de várias ordens, tanto físicos quanto psicológicos.

Para Varella (2012, p. 31 apud SILVA, 2015): ―o impacto do ambiente prisional provoca transformações irreversíveis na personalidade do agente penitenciário‖.

Várias são as implicações do exercício desta função, tanto nas atividades fora como nas dentro do estabelecimento. As principais dizem respeito ao ambiente de trabalho, ao medo da violência, à sensação de insegurança, à vitimização, às restrições de lazer e, sobretudo, à falta de atuação do Estado. Deste modo, terminados os turnos de trabalho, a influência da prisão nestes profissionais não se esgota, uma vez que as estratégias de superação também transcendem os muros e são incorporadas ao estilo de vida dos agentes, isto é, ainda que longe do ambiente hostil, os efeitos subsistem, perpetuando o medo, insegurança, entre outros problemas, ainda que em lugares ―seguros‖ (LOURENÇO, 2010).

O agente de segurança penitenciária, apesar de não ter sido condenado a uma, sanção penal, acaba ―cumprindo pena‖ junto com o preso, uma vez que, durante os exaustivos plantões, permanecem em ambiente similar ao dos apenados, sendo diretamente prejudicados e, consequentemente, têm seus direitos mitigados diante da catastrófica situação do sistema.

A partir do ingresso do servidor ao trabalho, inicia-se a privação de alguns dos seus direitos, fato este conhecido como processo de prisionização.

Revoltante seria o argumento de que ―o agente tem a liberdade de escolha de trabalhar ali‖. O fato de a função ser de risco eminente não justifica o descaso do Estado perante todos.

Deste modo, percebe-se que os efeitos da prisionização atingem todos os funcionários que compõem a administração dos estabelecimentos prisionais, não apenas os internos. Nas palavras de Thompson (2002, p. 27 apud SILVA, 2015):

Os agentes penitenciários sofrem dos efeitos da prisionização, no sentido de que devem abandonar, mesmo que inconscientemente, os padrões de vida extramuros e adotar os valores vigorantes dentro dessa cultura prisional, caso contrário, ―entrariam em choque com a instituição‖ ou até ―a levariam ao caos‖ ao tentar instituir nela os valores de fora.

Contudo, embora seja necessário abandonar os seus valores e adotar a cultura prisional, o profissional, diversas vezes, não consegue deixá-la para trás com o encerramento das atividades laborais.

Diante disto, os efeitos da prisionização estendem-se as atividades exercidas por eles fora do estabelecimento prisional.

Segundo Campos e Sousa (2011):

Estes funcionários, semelhantemente aos detentos, passam por um processo especial de socialização (prisionalização), absorvendo um pouco da cultura geral do sistema (unidade prisional) que é relativizada por ainda manterem um pouco do contato extra-muros, porém não é suficiente pra abrandar os efeitos nocivos da prisão e quanto à perspectiva de saúde e de vida social, inclusive ao que Chies (apud Silveira, 2009) chama de efeitos dessocializadores.

Na concepção de Moraes (2005, p. 231 apud SILVA, 2015):

A incorporação dessa cultura carcerária à personalidade do agente, acaba, por vezes, tornando ―[...] a vida extra cárcere mais difícil e estressante, ‗ao chegar em casa, no ambiente de família, deixar, sair do trabalho não é fácil‘ [...]‖. O agente acaba levando para casa as gírias, ―o jeito‖ da cadeia. Assim, essas culturas ainda podem ser incorporadas pelas famílias que acabam por conhecer as gírias dos presos e acabam falando como preso.

Bem como, nas palavras de um agente:

A cultura do preso acaba com a gente. A gente começa a falar como preso, daí a pouco, a família também. Família de agente penitenciário conhece todas as palavras, fala igual a preso‖. Isso torna a vida extra-cárcere mais difícil e estressante, como afirmou outro entrevistado: ―Ao chegar em casa, no ambiente de família, deixar, sair do trabalho não é fácil. A gente acaba levando muita coisa pra família: é gíria, é jeito, é tudo. E isto aumenta o estresse (MORAES, 2013).

Assim, o agente banhado pelo efeito da prisionização passa a desenvolver uma série de transtornos de ordem psicológica, como sentimento de inferioridade, perda da sua identidade, empobrecimento psíquico, regressão e infantilização, que acabam por interferir em suas escolhas e tomadas de decisões, havendo, deste modo, a fragilização da identidade e completa vulnerabilidade (MORAES, 2013).

Os agentes necessitam ―pensar como o preso‖, ―trabalhar preso com o preso‖ e isto lhe demanda um enorme custo psíquico e identitário. A prisionalização, num outro momento, torna os agentes passíveis de outro tipo de estigma decorrentes de psicopatologias do trabalho: insônia, nervosismo, depressão, estresse, paranóia, dependência química, burnout, dentre outros (CAMPOS E SOUSA, 2011).

Conforme Rudnicki (2015, p. 4 apud SILVA, 2015), ―a questão de os presídios existirem ‗para se tornarem depósitos de pessoas‘, não se aplica apenas aos apenados, mas também aos agentes penitenciários, uma vez que estes ‗puxam cadeia junto‘ com aqueles‖.

Ao fazer uma rápida análise sobre os tipos de privação às quais os detentos são submetidos, percebe-se que as mesmas privações se aplicam para aqueles que os vigiam, por exemplo: privação da liberdade, de bens e serviços, de autonomia e, principalmente, de segurança.

Quanto à privação da liberdade, que prevalece durante os longos e exaustivos períodos de plantão, o agente fica totalmente isolado do seu convívio social, podendo entrar em contato com a família via telefonema apenas em casos de emergência e por tempo limitado.

No que se refere à privação de bens e serviços, segundo Lourenço (2010), ―algo que provoca certa ‗revolta‘ nos agentes, são os serviços de assistência psicológica e o acesso à educação superior garantida a presos condenados em algumas prisões‖.

O sentimento de ser preterido diante de um condenado é expressado sem rodeios em queixas, como a do agente A (26 anos): ―Eu pago minha faculdade, mas os caras lá [presos], não. Para eles é de graça!‖ A assistência psicológica também não é um serviço do qual os agentes com os quais tive contato usualmente pudessem usufruir, sendo voltada apenas aos internos. A fácil comparação, a percepção de desvantagem e o questionamento pela via da ironia são comuns para qualificar o que consideram privilégios dos presos (LOURENÇO, 2010).

Quanto à autonomia, os afazeres dos agentes de segurança penitenciária são padronizados e a maioria segue uma ordem prescrita, isto é, a rotina institucional não abre a possibilidade de que o agente coloque formalmente suas próprias vontades como alternativas de ação institucional (GOFFMAN, 2005 apud GANEM, 2018).

Os agentes são muito bem vigiados pelos internos, que tiram proveito dos padrões regulares de ações adotadas. ―Eles prestam atenção em tudo, tão sempre de olho. Qualquer vacilo pode ser fatal. No sistema a gente tá sempre no fio da navalha‖, relata R (30 anos). Isso nos conduz a outra dimensão de suas privações: a falta de autonomia. Boa parte dos movimentos dos agentes no cárcere é vigiada (GANEM, 2018).

Diante disto, na percepção dos agentes, as autoridades desconhecem o cotidiano prisional e não valorizam devidamente quem nele trabalha. Afirmam conhecer melhor as chances de sucesso, de efetividade e funcionalidade de certos procedimentos e propostas a serem adotadas, uma vez que vivenciam de perto a cultura da prisão (GANEM, 2018).

Uma queixa usual, sobretudo de quem já está há mais tempo trabalhando no sistema prisional, é que os agentes nunca, ou quase nunca, são ouvidos sobre como a cadeia deveria funcionar, nem sobre o que deveria ser feito para que ela funcionasse melhor. [...] O depoimento da agente G (26 anos), de mais de 10 anos de sistema, deixa isso claro: ―O dia em que eles perceberem a importância do agente, eles iam ouvir mais a gente‖ (GANEM, 2018).

Quanto à segurança, a falta desta é uma das privações mais presentes entre o cotidiano desses profissionais. No cenário atual, é recorrente e de fato notório o número de atentados contra a vida do agente através de ameaças, sequestros, rebeliões, lesões corporais e até homicídio. Para Lourenço (2010),

Não são raros os conflitos entre presos e, nessas ocasiões, é comum que uma equipe especialmente treinada seja acionada para apartar. Embora haja uma série de procedimentos e medidas de segurança, esses confrontos muitas vezes redundam em danos físicos aos agentes. Além disso, há contato diário com indivíduos agressivos, que muitas vezes fabricam armas brancas e têm disposição para atacar, o que torna a salubridade física algo precário.

Pode-se dizer, efetivamente, que para o preso, o agente representa tudo aquilo que o oprime, considerando esses profissionais como um inimigo desprezível com quem, forçosamente, deve conviver e ter contato de forma respeitosa.

O cotidiano de um agente penitenciário envolve situações interacionais peculiares. É constante sua relação com um grupo considerado socialmente como rival: os detentos. É iminente a esta relação a possibilidade de desordens pessoais, grupais e institucionais. Inevitavelmente, estas relações transformam-se em possibilidades de risco à saúde física e mental, até mesmo risco de morte (SCARTAZZINI; BORGES, 2018).

Os agentes penitenciários, que são os representantes mais próximos e visíveis de tudo o que ―oprime o preso‖, acabam por se constituir no ―alvo imediato de sua hostilidade, e a interação entre ambos será frequentemente áspera‖ (Idem, p. 84). Nesse processo, Coelho chama a atenção para o fato de que o agente penitenciário se digladia o tempo inteiro com a identificação e a proximidade com o preso, que, para eles, aumentam os riscos de sua ―contaminação‖ moral pela massa carcerária.

Uma das situações de extrema exposição ao risco provém das rebeliões. Devido à grande facilidade de serem feitos reféns, é comum que os detentos, intensificados pela raiva, pratiquem este tipo de violência contra os agentes. Os presos frequentemente espancam, torturam e os apunhalam com objetos perfurantes, além de os exporem a todos os tipos de humilhação. Segundo relato de um agente penitenciário à pesquisa de Lourenço (2010): ―fui refém duas vezes; cinco dias na primeira e dois na segunda. Não dormia e só paulada‖.

As agressões não param por ai. Além da preocupação que o agente de segurança penitenciária possui dentro do estabelecimento prisional, a incidência de assédio e ameaça na vida cotidiana intramuros é exorbitante. Destaca-se que, em pesquisa realizada por Lourenço (2010), o crime mais sofrido pelos pesquisados foi a ameaça de morte.

De acordo com Lourenço (2010),

Parte dos agentes e demais servidores carcerários tem uma percepção lúcida do tempo que passam na prisão: é provável que muitos condenados, dadas as características de nossa Lei de Execução Penal (LEP), passem menos tempo dentro de uma unidade prisional que qualquer um deles. Hoje, mesmo para crimes hediondos, a progressão de pena pode ser dada tendo-se cumprido menos da metade do tempo de condenação.

Diante disto, o agente passa a temer por sua segurança também fora da prisão, bem como a de sua família, haja vista que recebe diversas ameaças contra seus parentes. Perante todo esse temor, o profissional acaba por adaptar sua rotina e a restringir grande parte de seu tempo livre, selecionando lugares para frequentar, as rotas de volta para casa, como também portando em tempo integral sua arma de fogo.

Vimos que esse temor tem dimensões consideráveis entre os pesquisados, uma vez que 70,4% deles já tiveram alguma dificuldade para dormir por passar a noite pensando em violência; 62,7% já acordaram no meio da noite pensando em situações violentas; e 64,4% tinham procurado evitar pensar no assunto no mês anterior à pesquisa. E muito embora a ameaça de morte seja o crime mais frequente reportado pelo grupo (sobretudo na dimensão intramuros, como relatado por vários deles), ele não foi o único. Esse ator aparece como um alvo em potencial da criminalidade urbana (LOURENÇO, 2010).

Forçoso destacar que o trabalho do agente penitenciário envolve várias atividades que a população em geral desconhece, apesar de ser muito mais rigoroso do que se pensa. Entretanto, pouquíssima capacitação é fornecida a estes profissionais, forçando o agente a aprender via sua própria disposição. Em consonância com Campos e Sousa (2011),

A ausência de conhecimento técnico específico para a função, deficiência nas condições materiais de trabalho, falta de pessoal diante da superlotação contribuem como motivação ao uso de comportamentos violentos dos agentes como mecanismo de defesa e autopreservação na busca de garantia de sua própria segurança e reconhecimento. Essa situação paradoxal para o agente também pode se tornar um fator provável de adoecimento caso ele não consiga separar bem sua posição em momentos diversos.

Mas, como ter um serviço de qualidade quando não há investimento e capacitação? O agente aprende as competências necessárias para desempenhar bem sua função no cotidiano, na convivência direta com os detentos, proporcionando a eles um mínimo de conhecimento sobre os hábitos do profissional. Fator este que implica sensivelmente no desgaste mental e emocional do trabalhador, uma vez que ele é observado continuamente (CAMPOS; SOUSA, 2011).

Vale lembrar que o ambiente precário de trabalho contribui com o desgaste sofrido pelo profissional. A ausência de infraestrutura dos presídios, o déficit de funcionários, o excesso de presos, a falta de higiene, a probabilidade de contraírem doenças e as condições nas quais vivem os agentes prisionais são alguns dos fatores que desencadeiam problemas de saúde nos funcionários públicos, bem como estão completamente distantes de serem ideais para a saúde física e psicológica deles.

Apesar de estar do outro lado das grades, o agente vive, ainda que temporariamente, no mesmo ambiente do detento, sendo o responsável direto por este. Com isso, tem seus direitos tão violados quanto daqueles que estão cumprindo pena.

Conforme citado anteriormente, os riscos decorrentes da profissão, os quais refletem na saúde física e psicológica, bem como na segurança do agente, não podem ser minorados ou ignorados por fazerem parte da função. Os profissionais estão expostos diariamente, além das situações anteriores, às doenças gravemente transmissíveis, ao estresse, à criminalidade, à corrupção, à desconfiança e ao medo. Vivem em ambiente hostil e extremamente precário.

Eles precisam trabalhar em equipe, demonstrar atenção, autocontrole, pró-atividade, iniciativa e capacidade de contornar situações adversas. Esses profissionais mantêm o ambiente de segurança nas prisões e estão frequentemente expostos a diversas

situações geradoras de tensão, como ameaças e agressões. Trabalham sob pressão constante, sujeitos a risco de morte e com pouca visibilidade e reconhecimento social (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016).

Ainda que, de fato, as lesões físicas não sejam tão comuns quanto às ameaças, é de se destacar que o psicológico de uma pessoa pode ser gravemente afetado através disto.

Para Bezerra, Assis e Constantino (2016):

A postura ―sempre alerta e à espera constante‖, gera ansiedade e esse ―aguçamento sensorial necessário‖ leva ao maior desgaste psíquico. Estudos têm descrito que a natureza estressante e perigosa de trabalhar dentro do ambiente prisional pode repercutir na saúde desses profissionais através de doenças físicas, estresse, síndrome de burnout, problemas familiares, ou incapacidade de exercer suas funções, além de vir a comprometer a segurança institucional.

Mediante as pesquisas realizadas por diversos autores da área da psicologia é evidenciado o alto índice de sintomas relacionados às interações violentas com os presos, ao ambiente de trabalho insalubre, à infraestrutura insuficiente, ao preconceito, à insegurança, ao baixo salário, à falta de apoio, à ausência de autonomia e à alta carga horária.

A atividade prática dos agentes penitenciários é realizada num ambiente insalubre, precarizado, perigoso e com grande propensão ao desenvolvimento de vários distúrbios. E influenciado por este contexto, este trabalhador passa um determinado tempo de sua vida, constituindo e desenvolvendo suas dinâmicas individuais (SANTANA; CRUZ, 2012).

Em relação ao baixo salário, em entrevista concedida ao pesquisador Moraes (2013), um agente de segurança penitenciária desabafou:

Com esse salário baixo, alguns se contaminam com o crime e viram pilantras. Só que nunca se sabe quem são. Tem que desconfiar de todos, lamentavelmente‖. E isso, informou um agente penitenciário do Paraná, ―só vem a sobrecarregar essa nossa carga. Você já tem um monte de problemas e tem que tomar cuidado com o que faz, com o que fala. É uma coisa difícil, mas administrável‖. A ideia de que este é um problema administrável está relacionada com a necessidade do convívio: ―Você tem que saber administrar isso aí, porque, se você não for confiar em ninguém, você tá pego; se você for confiar em todo mundo, você tá pego do mesmo jeito. Então, tem que ter um bom senso, tem que chegar a um meio-termo nessa história toda.

Verifica-se que a dificuldade que o agente, em alguns momentos, encontra em separar sua posição diante das atitudes dos detentos que possam fazer-se sentir humilhados, desafiados e mortificados também é uma causa para seu adoecimento, uma vez que despende

muita energia ao tentar se equilibrar entre os dois mundos que vive (SANTANA; CRUZ, 2012).

Em suas pesquisas, Lipp e Guevara (1994, p. 43-49 apud BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016) relatam alguns dos sinais físicos que ocorrem com maior frequência nos agentes de segurança penitenciária:

Aumento da sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da

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