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Sistema prisional e direitos humanos: perspectiva do agente de segurança penitenciária

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Academic year: 2021

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RHAYANA SANTOS MUSTAFÁ

SISTEMA PRISIONAL E DIREITOS HUMANOS:

PERSPECTIVA DO AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA

Tubarão 2019

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RHAYANA SANTOS MUSTAFÁ

SISTEMA PRISIONAL E DIREITOS HUMANOS:

PERSPECTIVA DO AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof. Lauro José Ballock, MSc. em Direito Penal.

Tubarão 2019

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Dedico este trabalho à minha família, ao meu orientador e a todos que eu amo.

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AGRADECIMENTOS

Em especial à minha fonte de motivação e força diária, minha família, por todos os esforços, carinho, apoio, paciência e amor, desde minha infância até os dias atuais, que me tornaram a mulher que sou hoje. Sem eles eu não seria nada.

Ao meu amor, Marcos Rosa, por toda a paciência, parceria e apoio nos momentos de nervosismo. Por ter acredito mais em mim do que eu mesma e, principalmente, por ser minha calma em meio a tanta insegurança.

À Deus, pela presença constante em minha vida, tanto nos momentos de dificuldade quanto nos de alegria. Por me guiar e me dar força em todas as etapas do presente trabalho.

À minha melhor amiga, Iasmin Izidório Elias, que tornou essa caminhada muito mais prazerosa e que sempre esteve ao meu lado, me protegendo e cuidando de mim.

Aos meus amigos que estão comigo desde sempre, em especial Tainah Reis, Edna Vitoreti, Fernanda Pereira, Bruna Aquino, Maria Júlia Oliveira, Alexsander Schmitz e Arthur Freitas, que tornam minha vida mais alegre de se viver.

Aos queridos agentes de segurança penitenciária de Imbituba/SC que me trataram da melhor forma e disponibilizaram seu tempo para que eu pudesse realizar este trabalho.

Ao meu ilustre orientador Lauro José Ballock que, por intermédio de seu grande conhecimento, me auxiliou da melhor maneira a executar esta obra.

A todos aqueles que, de alguma forma, permitiram que eu pudesse crescer e amadurecer como pessoa e profissional.

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―Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir‖ (José Saramago).

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo analisar a atual situação do sistema prisional no que se refere às questões inerentes ao respeito e à eficácia dos direitos humanos dos agentes de segurança penitenciária. A natureza da pesquisa quanto ao nível, foi exploratória e, tocante à abordagem, qualitativa. Os procedimentos utilizados foram o bibliográfico e o documental. O trabalho resultou na exploração dos ambientes em unidades prisionais sob a perspectiva do agente de segurança penitenciária, retratando a realidade das condições precárias de trabalho vividas por estes. Nesta senda, foi abordada a história dos direitos humanos, descrevendo a sua evolução, bem como o ressalto daqueles direitos que são universais e fundamentais ao ser humano. Em sequencia, foi apresentado o sistema prisional com seus aspectos, funções e situação atual, seguido pela explicação da função do agente e sua vida no exercício desta função pública tão importante para a sociedade, bem como foram abordados os efeitos do encarceramento e a ausência de atuação do Estado. Concluiu-se que, diante das omissões causadas pelo descaso do Estado, muitos são os problemas enfrentados pelos agentes de segurança penitenciária, resultando em efeitos trágicos que geram discussões intermináveis no ramo social e jurídico.

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ABSTRACT

This monographic work aims to analyze the current situation of the prison system with regard to issues inherent to the respect and effectiveness of the human rights of prison security officers. The nature of the research in terms of level was exploratory and qualitative in approach. The procedures used were bibliographic and documentary. The work resulted in the exploration of the environments in prisons from the perspective of the penitentiary security officer, portraying the reality of the precarious working conditions experienced by them. In this path, the history of human rights was described, describing its evolution, as well as the highlight of those rights that are universal and fundamental to the human being. In sequence, the prison system was presented with its aspects, functions and current situation, followed by the explanation of the agent's role and his life in the exercise of this public function so important to society, as well as the effects of incarceration and the absence of State action. It was concluded at the end that, given the omissions caused by the State's neglect, there are many problems faced by prison security agents, resulting in tragic effects that generate endless discussions in the social and legal field.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ... 10 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 13 1.3 JUSTIFICATIVA ... 13 1.4 OBJETIVOS ... 15 1.4.1 Geral ... 15 1.4.2 Específicos ... 15 1.5 DELINEAMENTO DE PESQUISA ... 15

1.6 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS... 16

2 DIREITOS HUMANOS UNIVERSAIS ... 17

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ... 17

2.2 DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS ... 22

2.2.1 Direitos Humanos de Primeira Dimensão ... 23

2.2.2 Direitos Humanos de Segunda Dimensão ... 24

2.2.3 Direitos Humanos de Terceira Dimensão ... 24

2.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS ... 25

2.3.1 Historicidade ... 25 2.3.2 Universalidade ... 26 2.3.3 Essencialidade ... 26 2.3.4 Imprescritibilidade ... 26 2.3.5 Inalienabilidade ... 27 2.3.6 Irrenunciabilidade ... 27 2.3.7 Inviolabilidade ... 28 2.3.8 Efetividade ... 28 2.3.9 Complementaridade ... 28 2.3.10 Vedação do Retrocesso... 28

2.4 DIREITOS HUMANOS NO BRASIL ... 29

2.4.1 Constituição de 1824 ... 29

2.4.2 Constituição de 1891 ... 30

2.4.3 Constituição de 1934 ... 30

2.4.4 Constituição de 1937 ... 31

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2.4.6 Constituição de 1967 ... 32

2.4.7 Constituição de 1988 ... 32

2.4.7.1 Dignidade da Pessoa Humana ... 34

3 CONSIDERAÇÃO ACERCA DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ... 36

3.1 ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DO SISTEMA PRISIONAL ... 36

3.2 FUNÇÕES DO SISTEMA PRISIONAL... 38

3.3 SITUAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ... 39

4 OS DIREITOS HUMANOS SOB A PERSPECTIVA DO AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA ... 42

4.1 AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA ... 42

4.2 ESTADO E ENCARCERAMENTO: OS EFEITOS PERANTE O AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA ... 44

5 CONCLUSÃO ... 55

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico abordará especificamente a situação do agente penitenciário no exercício de sua função à luz do prisma humanitário, analisando se as garantias constitucionais do ordenamento brasileiro contemporâneo são respeitadas e, ainda, se estas são suficientes para a proteção, segurança e bem-estar do agente.

No mais, o trabalho buscará demonstrar a (in)eficácia das garantias relativas aos direitos humanos no dia-a-dia destes agentes públicos, apontando, por fim, soluções possíveis para os problemas de acordo com as necessidades dos profissionais de segurança penitenciária.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Os Direitos Humanos têm como base o direito natural e são entendidos como os ―direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra coisa‖ (ONU, 1948). A ideia destes direitos é de proteção à espécie humana, bem como àquilo que a cerca.

Para Zapater (apud LENZA, 2019, p. 1209), ―é possível descrever os Direitos Humanos como um conjunto de normas jurídicas que regem relações entre indivíduos e instituições, e entre os indivíduos em si considerados‖. O que distingue os Direitos Humanos dos demais direitos é que, para ser titular daqueles, basta ter unicamente a condição de ser humano, assim sendo definidos como o conjunto de atributos e prerrogativas mínimas inerentes a toda e qualquer pessoa.

Como dito acima, os Direitos Humanos constituem normas que regem relações jurídicas. Isso significa dizer que cada um dos direitos aqui compreendidos corresponde a obrigações. Segundo Zapater (apud LENZA, 2019, p. 1209), para a positivação dos direitos, é dever do Estado garantir o seu exercício, bem como impedir que outrem os viole.

O artigo 4º, inciso II, da Constituição trata dos princípios norteadores da atuação do Estado Brasileiro em suas relações internacionais, elencando, entre eles, o da prevalência dos direitos humanos (BRASIL, 1988).

Conforme Castilho (2018, p. 128), os direitos considerados protegidos são, entre outros, os seguintes: direito à vida, à integridade pessoal, proibição da escravidão e da servidão, direito à liberdade pessoal, proteção da honra e da dignidade, liberdade de consciência e de religião, liberdade de pensamento e de expressão, liberdade de associação,

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proteção da família, direito ao nome, direitos da criança, direito à nacionalidade, direitos políticos e o direito ao desenvolvimento progressivo.

Além de diversos tratados internacionais, a República Federativa do Brasil, que constitui um Estado Democrático de Direito, estabelece em sua Constituição, mais precisamente em seu artigo 1º, inciso III, o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República, servindo para assegurar os direitos individuais e coletivos (BRASIL, 1988).

Por tratar-se de uma norma fundamental, a dignidade da pessoa humana integra a Constituição Federal com força de princípio de Direito, tendo a pessoa humana como valor primordial que cabe ao direito proteger e seu alcance será por todo o ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, ―cabe em qualquer lugar‖. Conforme Piovesan (2006, p. 27), ―o valor da dignidade da pessoa humana impõe-se como núcleo básico e informador de todo o ordenamento jurídico, como critério e parâmetro de valoração a orientar a interpretação e compreensão do sistema constitucional‖.

Ainda, segundo a mesma autora,

A dignidade da pessoa humana, [...] está erigida como princípio matriz da Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicionando a interpretação das suas normas e revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais, como cânone constitucional que incorpora as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro (PIOVESAN, 2000, p. 54).

Diante de tais direitos, é inadmissível que os direitos humanos, embora garantidos em esfera mundial, não são efetivos na prática prisional, pois, segundo doutrinadores, o sistema penitenciário brasileiro é considerado medieval.

Quando as pessoas pensam em direitos humanos, limitam o pensamento somente aos direitos do preso, embora não devessem resumir apenas a um determinado grupo de pessoas. De acordo com Saldanha (apud CARVALHO, 2013, p. 143), os efeitos da prisionalização, além dos condenados, atingem, todo o seu entorno afetivo, bem como os profissionais que trabalham nas instituições.

Os direitos humanos do agente prisional é tema pouco explorado por pesquisadores. Muito se aborda sobre a violação de direitos humanos de prisioneiros, mas praticamente muito pouco se fala daqueles que estão na linha de frente na atuação diária com essas pessoas presas no interior do cárcere (LIMA JÚNIOR, 2016, p. 01).

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Frequentemente são abordadas pelos pesquisadores as condições desumanas dos cárceres em todo território nacional, como o excesso de presos, a falta de estrutura física e profissional adequada, agressões físicas e psicológicas, bem como a higiene do ambiente. Entretanto, infelizmente, estas abordagens sempre são direcionadas apenas à violação dos direitos humanos dos presos.

Os profissionais que exercem a atividade laboral nas instituições penitenciárias são denominados como agentes de segurança penitenciária, considerados os principais ressocializadores do indivíduo infrator, os quais se sentem, por diversas vezes, reféns da crescente criminalidade e suas organizações criminosas, gerando um abalo psicológico e até mesmo físico.

De acordo com o perfil apresentado pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), pode-se entender claramente a função que o servidor carcerário desempenha:

O agente penitenciário realiza um importante serviço público de alto risco, por salvaguardar a sociedade civil, contribuindo através do tratamento penal, da vigilância e custódia da pessoa presa no sistema prisional, durante a execução da pena de prisão, ou de medida de segurança, conforme determinadas pelos instrumentos legais (DEPEN, 2019).

Entretanto, além das más condições de trabalho, os profissionais sofrem preconceito pela função que exercem, visto que, devido à cultura, são julgados e igualados aos infratores e, ainda, lhes é exigido que tratem os condenados, que a própria sociedade repudia, de forma humana, mesmo que tal humanidade seja desconhecida pelos próprios agentes.

Deve-se elencar que a ausência de infraestrutura dos presídios, o déficit de funcionários, o excesso de presos e as condições nas quais vivem os agentes prisionais, estão completamente distantes de serem ideais para a saúde física e psicológica dos profissionais. O descaso do Poder Público, o qual deveria cumprir os direitos básicos dos presentes naquele local, é repudiável, pois fere todo e qualquer direito à dignidade assegurada a eles.

Na prática, os riscos decorrentes da profissão, os quais refletem na saúde física e psicológica, bem como na segurança do agente, não podem ser minorados ou ignorados porque fazem parte da função. Os profissionais estão expostos diariamente a doenças gravemente transmissíveis, ao estresse, à criminalidade, à corrupção, à desconfiança e ao medo. Vivendo em ambiente hostil e extremamente precário, o Estado não fornece os devidos cuidados quanto à segurança, saúde física e psicológica, impondo uma situação de total vulnerabilidade.

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Conforme Morais (2013, p. 133) ―a prisão torna-se, assim, uma instituição habitada por gente moralmente reprovável, podendo contaminar a todos que ali convivem, sendo que o risco aumenta proporcionalmente ao tempo de permanência em seu interior‖.

Forçoso destacar que a baixa remuneração dos agentes de segurança penitenciária é outro ponto crítico da realidade prisional e, em consequência disso, há poucos profissionais atuando no sistema carcerário, coordenando um número alto de condenados.

O número ideal de agentes prisionais seria de um para cada cinco presos (CNPCP, 2009). Contudo, no Estado de Santa Catarina há cerca de 22.753 (vinte e dois mil setecentos e cinquenta e três) presos sob cuidados de, aproximadamente, 3 (três) mil agentes de segurança penitenciária, já contados com os agentes temporários, ou seja, há em torno de 8 (oito) presos para 1 (um) agente (DEPEN, 2017).

Deste modo, destaca-se que não apenas os direitos do preso são infringidos diariamente pelo sistema prisional brasileiro, mas também os daqueles que possuem contato direto e indireto com o cárcere.

Nesta senda, ainda que a Constituição assegure a todas as pessoas, sem distinção, com caráter obrigatório, o absoluto e irrestrito respeito ao direito da dignidade da pessoa humana, esta dignidade é frequentemente violada pelo Poder Público devido às condições extremamente desumanas e desrespeitosas vividas pelos agentes penitenciários em seu local de trabalho, havendo, então, de maneira explícita, uma grave violação aos direitos dos agentes penitenciários, que também são seres humanos.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Como se define a atual situação humanitária dos agentes de segurança penitenciária no exercício de suas atribuições?

1.3 JUSTIFICATIVA

O contato primário desta pesquisadora com o assunto se deu através de sua própria família, haja vista que seu pai exerce a função de agente de segurança penitenciária e, devido a isto, acompanha diariamente as dificuldades enfrentadas por ele, pelos colegas e até mesmo pelos seus familiares.

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Assim, o contato direto com os efeitos das violações cometidas pelo Estado impulsionou os estudos, que, consequentemente, demonstraram ser de grande relevância social.

Na atualidade tem se falado bastante sobre o aumento do encarceramento, a péssima situação dos estabelecimentos prisionais e as violações dos direitos humanos dos presos, todavia, pouco se discute acerca das condições em que vivem os agentes de segurança penitenciária e as diversas violações cometidas contra eles.

O que pouco é dito é que os agentes penitenciários, também conhecidos como os principais ressocializadores dos presos, são expostos a um cenário degradante diariamente e vivem de forma desumana, isolados, inseguros e privados de conviver de forma saudável com a sociedade.

Segundo Moraes (2013, p. 6), ―a familiarização vivida pelos agentes penitenciários no interior das unidades só lhes indica a necessidade de se manterem em permanente alerta. ‗Somos pagos pra desconfiar‘ me disse um agente penitenciário‖.

Diante do descaso do Poder Público, se faz necessária a inserção de meios para garantir a proteção dos Direitos Humanos, em especial o direito fundamental da dignidade da pessoa humana, garantindo assim o direito à saúde, à segurança, ao trabalho digno e ao mínimo de respeito ao agente penitenciário.

Observou-se então que o tema a ser abordado no presente trabalho científico, apesar da garantia constitucional, até agora pouco vem se enfrentando no meio acadêmico, inclusive nos meios doutrinários, sendo que as doutrinas atuais se referem apenas aos direitos dos encarcerados.

Neste sentido, é que se percebe a relevância social deste estudo, principalmente pela ausência de atos normativos específicos e a falta de estudos relativos à problemática.

Ademais, em concordância com a evolução da sociedade e o ordenamento jurídico, é de suma importância se questionar sobre a análise da atual situação dos agentes de segurança penitenciária em âmbito prisional dentro do Estado de Santa Catarina, especialmente em razão da busca pelo melhor interesse dos agentes, bem como a dignidade da pessoa humana.

É necessário registrar, igualmente, que existem estudos já realizados sobre o sistema prisional, no entanto, distintivamente do estudo abordado, o presente trabalho terá como foco o agente de segurança penitenciária, buscando analisar as violações dos direitos fundamentais garantidos a eles, bem como os efeitos que a ausência destas garantias causa aos profissionais.

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1.4 OBJETIVOS

O presente tópico demonstrará quais os objetivos gerais e específicos deste trabalho monográfico.

1.4.1 Geral

Analisar a atual situação do sistema prisional no que se refere às questões inerentes ao respeito e eficácia dos direitos humanos dos agentes de segurança penitenciária.

1.4.2 Específicos

Explanar brevemente sobre o percurso histórico do ordenamento jurídico acerca dos Direitos Humanos.

Compreender os princípios e objetivos norteadores dos Direitos Humanos. Conceituar o sistema prisional e analisar o cumprimento dos direitos. Identificar os direitos do agente de segurança penitenciária.

Verificar a efetivação dos direitos humanos na prática do agente ressocializador.

1.5 DELINEAMENTO DE PESQUISA

Segundo Gil (2002, p. 49), ―O delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua diagramação quanto a previsão de análise e interpretação dos dados‖.

Quanto ao nível, a presente pesquisa caracteriza-se como exploratória, pois segundo Leonel e Motta (2007, p. 145), ―as pesquisas exploratórias visam a uma familiaridade maior com o tema ou assunto da pesquisa e podem ser elaboradas tendo em vista a busca de subsídios para a formulação mais precisa de problemas ou hipóteses‖.

Em relação à abordagem, por suceder de uma análise indutiva e subjetiva do tema, classifica-se como qualitativa, que, nas palavras de MINAYO (2007, p. 21 apud LEONEL e MARCOMIM, 2015, p. 28):

Ela se ocupa com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha o universo dos significados, dos motivos, aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só

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por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.

Dessa forma, perante a análise da doutrina especializada sobre o tema, de artigos publicados por especialistas, busca-se certificar se a atual situação dos agentes de segurança penitenciária no sistema prisional brasileiro se compatibiliza com o princípio constitucional da dignidade humana e, também, a busca de direitos básicos.

Em relação ao procedimento, a presente pesquisa é considerada como

bibliográfica e documental, haja vista que esta se desenvolveu por meio de meio de leitura e

análise de fontes escritas, tais como legislações, livros jurídicos, periódicos e artigos científicos. Nesse sentido, de acordo com Carvalho (2013, p. 100 apud LEONEL e MARCOMIM, 2015, p. 15): ―a pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas para coletar dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema‖.

1.6 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O primeiro capítulo tratou de apresentar o presente tema definindo sua problemática, justificativa, objetivos gerais e específicos. A sequência do trabalho incorrerá na compreensão básica dos direitos humanos universais, apresentando o seu contexto histórico e a sua evolução, destacando-se o direito fundamental da dignidade da pessoa humana.

A segunda parte, a qual apresenta o terceiro capítulo, busca conceituar e analisar a atual situação do sistema prisional em relação às questões inerentes ao respeito e eficácia dos direitos humanos dos agentes de segurança penitenciária.

A parte final tem como objeto os direitos humanos sob a perspectiva do agente de segurança penitenciária, abordando as condições de trabalho, os efeitos do encarceramento diante da falta de atuação do Estado.

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2 DIREITOS HUMANOS UNIVERSAIS

Este capítulo se concentrará em abordar, de maneira breve, a evolução histórica, as características dos direitos humanos e seus princípios, os direitos humanos no Brasil e, por fim, o princípio da dignidade da pessoa humana.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Conceituar os direitos humanos é, de certa forma, impreciso e variável, uma vez que, ao longo da história, em virtude das culturas e acontecimentos, vários conceitos foram empregados, sendo difícil demonstrar uma definição rígida.

A ideia de Direitos Humanos tem origem no conceito filosófico de direitos naturais, ou seja, possui estrita ligação com a natureza e compreende os direitos inatos, invioláveis, inalienáveis e indisponíveis do homem (MAIA NETO, 2013).

Segundo Passos (2016, p. 2), ―o processo histórico da evolução dos Direitos Humanos deve ser entendido como um processo advindo principalmente de lutas entre poderes e contra poderes‖.

Ao longo dos séculos os direitos humanos foram debatidos por juristas e filósofos. Para uma razoável compreensão acerca destes direitos, necessário se faz um breve retorno histórico. O início desta caminhada se deu através do Código de Hamurabi, criado pelo Rei Hamurabi, no século XVIII a.C, que, devido à necessidade de se estabelecer a cidadania, baseado nos costumes, criou leis a fim de regular a vida em sociedade (PASSOS, 2016).

Para Andrade (2016), ―o Código de Hamurabi possuía o intuito de proteger os mais fracos dos mais fortes, instituindo a justiça como forma de firmar a segurança e a garantia dos direitos e responsabilidades, além de propiciar o bem-estar do povo‖.

Malheiro (2016, p. 4) também, reforça que ―o Código de Hamurabi tinha por objetivo a implantação da justiça na Terra, com a destruição do mal e a prevenção da opressão do fraco pelo forte, propiciando o bem-estar do povo e a iluminação do mundo‖.

Deste modo, iniciou-se o processo de criações de direitos fundamentais com base na justiça, saúde e bem-estar em geral para melhor convívio em sociedade, o qual teve sequência com a Lei das Doze Tábuas, a qual deu origem ao princípio da igualdade.

Um ponto importante em termos de diferença entre o Código de Hamurabi e a Lei das Doze Tábuas é que esta última tratava todos os integrantes da sociedade com igualdade, haja vista que o Código distinguia as pessoas pela classe social.

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A partir disto, pode-se concluir que o princípio da igualdade, preceito de grande relevância para os Direitos Humanos, teve seu surgimento com a constituição da Lei das Doze Tábuas, criada logo após o fim da monarquia e o nascimento da república romana.

De acordo com Malheiro (2016), em 450 a.C., inscrita em 12 tábuas de madeira, a Lei das Doze Tábuas foi promulgada com intuito de estabelecer a igualdade de direitos entre as classes sociais, sendo fixada no fórum romano para que todas as pessoas pudessem lê-las e ter conhecimento de seu conteúdo, surgindo assim o princípio da publicidade das leis.

O seguinte marco importante registado no desenvolvimento dos Direitos Humanos foi a Magna Carta da Inglaterra. Criada em 15 de junho 1215, a Magna Carta, derivada do latim Magna Charta Libertatum, surgiu para colocar fim à contenda existente entre o Rei João Sem Terra e o Papa Inocêncio III, isto é, uma controvérsia entre a monarquia e a igreja (MALHEIRO, 2016).

Após o Rei João Sem Terra infringir uma série de costumes e leis antigas através dos quais a Inglaterra havia sido governada, os barões ingleses o forçaram a assinar o referido documento que tinha por objetivo limitar o poder monárquico, sendo um tratado de direitos, mas também de deveres do Rei para com os seus súditos (MALHEIRO, 2016).

Malheiro (2016, p. 5) explica que em consonância com os termos do instrumento, João deveria abjurar determinados direitos, obedecer a certos procedimentos legais e admitir como verdade que a vontade do imperador estaria submissa à lei.

Com o advento da Magna Carta, já na Idade Moderna, novamente em resposta a uma série de violações da lei pelo Rei da Inglaterra, que desta vez era Carlos I, o Parlamento, em 1628, durante o período que antecedeu a guerra civil inglesa, elaborou a PetitionofRight, traduzida como Petição de Direitos, uma declaração de liberdades civis, que foi um marco registrado no desenvolvimento dos Direitos Humanos.

Segundo Malheiro (2016, p. 5), ―a Petição de Direitos foi baseada em estatutos e cartas anteriores e previa, entre outras coisas, que nenhum imposto poderia ser cobrado sem o consentimento do Parlamento e nenhuma pessoa poderia ser presa sem justa causa‖.

Posteriormente, em 1679, houve um acontecimento de grande relevância para a evolução dos direitos humanos: a elaboração da lei do Habeas Corpus Act. Criada pelo Parlamento da Inglaterra durante o império do Rei Carlos II, tinha por objetivo definir e robustecer a já conhecida garantia do Habeas Corpus como a tutela da liberdade individual contra a prisão ilegal, abusiva ou arbitrária (MALHEIRO, 2016).

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Devido à baixa eficácia do Habeas Corpus como remédio jurídico, haja vista que faltavam regras processuais adequadas, segundo Malheiro (2016, p. 5) ―o Habeas Corpus Act surgiu para solucionar esse problema e disciplinar o instituto‖.

Dez anos depois, em 13 de fevereiro de 1689, na Inglaterra, surgiu a Bill of Rights ou Declaração de Direitos, na qual se verifica a repetição de todos os direitos que estavam protegidos pela Magna Carta e proibindo a aplicação de penas cruéis.

A Bill of Rights trouxe consigo a previsão de independência do Parlamento, que se configurava clara e especificamente como o surgimento do princípio da divisão de poderes. Além disto, garantiu os direitos à liberdade, à vida e à propriedade privada, bem como impedia o Rei de suspender a aplicação de leis e de aumentar os impostos. Apesar dos avanços, a Carta de Direitos não garantia a liberdade religiosa (MALHEIRO, 2016).

Cita-se também a Declaração de Direitos do Povo da Virgínia, elaborada na cidade de Williamsburg, Estados Unidos, em 12 de junho de 1776, a qual estabelece que todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido (MALHEIRO, 2016).

A referida declaração foi de extrema importância, haja vista que garantiu os direitos fundamentais, tais como o direito à vida, à liberdade e à propriedade, além dos princípios da legalidade, do devido processo legal, do juiz natural, da liberdade de imprensa e, também, da liberdade religiosa.

Em consonância com o artigo 1º da Declaração de Direitos do Povo da Virgínia (1776),

Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes, e têm certos direitos inatos, dos quais, quando entram em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de buscar e obter felicidade e segurança.

A partir desse artigo, é possível identificar traços fortes de influência iluminista, bem como a previsão de que todo ser humano é titular de direitos fundamentais, independentemente de raça, cor, sexo e classe social.

No mesmo ano, em 4 de julho, representando o ato inaugural da democracia moderna, foi ratificada a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, que teve como principal articulador Thomas Jefferson. O documento estabeleceu a separação das 13 colônias na América do Norte do Reino Unido (MALHEIRO, 2016).

De acordo com o autor acima citado, forçoso destacar que, além da separação, a declaração teve como tônica principal a limitação do poder estatal, determinando, assim, a

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representação do povo com a restrição do governo, bem como a inalienabilidade dos direitos humanos (MALHEIRO, 2016).

Logo após, em 1789, desencadeou-se a Revolução Francesa. Fatos como desigualdade, miséria e luxo exploratório do clero atormentavam a sociedade naquela época. Ante a situação, inspirados nos ideais filosóficos iluministas, bem como na Revolução Americana, a população se uniu para retirar o governo das mãos da monarquia, representada por Luís XVI, retomando-se, então, o conceito de cidadão, o qual se acha interligado à ideia de limite ao poder absoluto do Rei (PENTEADO FILHO, 2012).

Portanto, é essencial mencionar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Sob as mesmas influências da Revolução Francesa, a Assembleia Nacional Constituinte da França, com objetivo de universalizar os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade (Liberté, Égalité, Fraternité, em francês), elaborou a referida declaração, contendo 17 artigos e um preâmbulo de ideais libertários e liberais, proclamando as liberdades e os direitos fundamentais do homem (MALHEIRO, 2016).

Nas palavras de Malheiro (2016, p. 7), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão ―prega um Estado laico, o direito de associação política, o princípio da reserva legal, da anterioridade e do estado de inocência, além da livre manifestação do pensamento‖.

Igualmente, dispõe que os direitos à liberdade, à propriedade, à segurança e à resistência à opressão são direitos naturais e imprescritíveis do homem, sendo que a conservação destes é a finalidade de toda associação política (PENTEADO FILHO, 2012).

Conforme explica Malheiro (2016, p. 7),

De acordo com o diploma, ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por ela prescritas. Aqueles que solicitarem, expedirem, executarem ou mandarem executar ordens arbitrárias deverão ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.

Em sendo assim, verifica-se que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão consagrou o reconhecimento dos direitos fundamentais, influenciando as Constituições seguintes que passaram a trazê-los de forma expressa.

Já no século XX, surgiram diplomas comprometidos com as causas sociais. Destacam-se a Constituição Mexicana, promulgada em 5 de fevereiro de 1917, que garantia direitos trabalhistas, previdenciários e também direitos relativos à educação, atribuindo a eles a qualidade de direitos fundamentais; e, ainda, a Constituição Alemã, que, após a assinatura

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do Tratado de Versalhes em 28 de junho de 1919, promulgou, em 11 de agosto de 1919, a sua nova Constituição.

Malheiro (2016, p. 9) afirma que

Ela é um marco da afirmação dos direitos humanos de segunda geração (dimensão) e o seu primeiro artigo já estabeleceu que ―o poder emana do povo‖. Nessa toada, a Carta Suprema elevou os direitos trabalhistas e previdenciários ao nível de direitos fundamentais e determinou garantias ao indivíduo, à vida social, à religião, à instrução e à vida econômica.

Necessário se faz destacar que estes diplomas foram elaborados no âmbito da Primeira Guerra Mundial, especificamente no caso da Constituição Alemã, haja vista que, com a assinatura do Tratado de Versalhes (acordo intern acional que prejudicou a Alemanha economicamente, já que ela teve de ressarcir todos os estados vencedores), houve o surgimento, no interior da Alemanha, do ultranacionalismo capitaneado por Hitler, desencadeando um grande prejuízo aos Direitos Humanos.

Infelizmente, as lutas não pararam por aí. Em 1º de setembro de 1939, Aldof Hitler deu início à Segunda Guerra Mundial. Conhecida como o maior conflito da história, a citada guerra deixou em torno de 45 milhões de mortos. Os inúmeros acontecimentos entre 1939 e 1945, ano em que o holocausto findou, destroçaram a proteção aos Direitos Humanos no cenário das relações exteriores (MALHEIRO, 2016).

No entanto, após o término do conflito, surgiram diversos tratados internacionais cuidando do tema. Para Malheiro (2016, p. 9), ―os direitos humanos, tal como compreendidos hoje, surgiram como uma reação ao holocausto e às demais barbáries perpetradas durante a Segunda Grande Guerra‖.

Pode-se dizer que a Primeira e Segunda Guerra Mundial, com todos os seus atos cruéis, desumanos e atrozes, serviram para apresentar ao mundo a gritante necessidade de proteção dos Direitos Humanos na dimensão internacional.

Inegavelmente, foi após a Segunda Guerra Mundial que um grande projeto humanitário, de cunho internacional, atingiu seu ápice. Em fevereiro de 1945, na cidade de São Francisco, Estados Unidos, criou-se a Organização das Nações Unidas (ONU), após diversas conferências de paz realizadas. A Carta das Nações Unidas foi, inicialmente, assinada por 50 países. Hoje ela possui cerca de 193 Estados-membros.

Nas sábias palavras de Malheiro (2016, p. 10), ―a ideia dos direitos humanos tem avançado muito em anos recentes, adquirindo uma espécie de status oficial no discurso

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internacional. Comitês influentes reúnem-se regularmente para debater a fruição e a violação de direitos humanos em diversos países do mundo‖.

Segundo Malheiro (2016, p. 10),

A Organização das Nações Unidas é baseada no princípio da igualdade de todos os seus membros. Os principais objetivos da ONU giram em torno da promoção do pacifismo, da defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento econômico-social dos Estados, sem prejuízo de provocar um impulso na representação daqueles entes mais frágeis no contexto das relações exteriores.

A primeira grande manifestação dessa proteção se deu através da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948. Sob a presidência de Eleanor Roosevelt, a Comissão elaborou o rascunho do documento que, segundo Roosevelt, se converteria na Carta Magna Internacional (MALHEIRO, p. 10).

Em seu preâmbulo, bem como em seu artigo 1º, a Declaração proclama inequivocamente os direitos inerentes a todos os seres humanos:

Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Desta forma, a fim de possibilitar o cumprimento do rol de direitos humanos que, pela primeira vez na história, estavam juntos em um único documento, comprometeram-se os Estados-Membros das Nações Unidas a trabalhar conjuntamente. Consequentemente, muitos destes direitos hoje fazem parte das leis constitucionais das nações democráticas.

2.2 DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS

Necessário se faz mencionar, ainda que brevemente, as dimensões dos Direitos Humanos. Em 1979, fruto de uma Conferência no Instituto Internacional de Direitos Humanos, ocorrida em Estrasburgo, França, Karel Vasak desenvolveu a teoria das três dimensões. Nela, estabeleceu o autor a relação entre os direitos e o lema da revolução francesa, quais sejam: liberte, égalité et fratenité (liberdade, igualdade e fraternidade) (MALHEIRO, 2016, p.37).

Portanto, é possível, através da teoria dimensional de Karel Vasak, distribuir os Direitos Humanos em primeira dimensão (liberdade), segunda dimensão (igualdade) e terceira dimensão (fraternidade), que serão abordados a seguir (MALHEIRO, 2016, p. 37).

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2.2.1 Direitos Humanos de Primeira Dimensão

A primeira dimensão de direitos é a dos direitos de liberdade, civis e políticos. Associada às Revoluções Liberais (Revolução Inglesa, no século XVII; Revolução Americana, em 1776; e Revolução Francesa, em 1789) que, em nome dos direitos do cidadão, eclodiram com o propósito de dar fim aos privilégios da nobreza e do clero, tem como elemento principal a ideia clássica de liberdade individual, implicando, assim, na limitação do poder do Estado (ZAPATER apud LENZA, 2019, p. 1210).

Segundo Zapater (apud LENZA, 2019, p. 1210) ―para discorrer acerca destes direitos, é necessária uma delimitação conceitual: direitos civis são direitos do cidadão, e direitos políticos são os direitos destes de participar da ingerência do poder político sobre suas vidas‖.

Os direitos civis são prerrogativas que protegem a integridade humana, ou seja, protegem a integridade física, psíquica e moral contra o abuso de poder ou qualquer outra forma de intervenção do Estado, limitando, assim, a interferência estatal. A liberdade de expressão, a presunção de inocência, liberdade de locomoção e proteção à vida privada são exemplos claros desses direitos.

Destaca-se, porém, o direito à igualdade, que, de acordo com Zapater (apud LENZA, 2019, p. 1210) ―decorre do dever do Estado de não fazer qualquer distinção entre os cidadãos‖.

E, a partir disto, os direitos políticos garantem a legitimidade do cidadão de escolher qual dentre eles deverá exercer as funções de governo, bem como a se candidatar a ser escolhido. Deste modo, assegura a participação popular na administração do Estado, o direito ao voto, o direito a ser votado, o direito a ocupar cargos ou funções políticas e, por fim, o direito a permanecer nesses cargos (ZAPATER apud LENZA, 2019, p. 1211).

A universalidade distingue os direitos civis dos direitos políticos. O primeiro abrange a todas as pessoas, sem qualquer distinção. Já o segundo é restrito à cidadania e por isso atinge somente os eleitores (ZAPATER apud LENZA, 2019, p. 1211).

Em vista disso, observam-se aqui interesses subjetivos, pois conferem poderes de agir reconhecidos e protegidos pela ordem jurídica a todos os seres humanos.

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2.2.2 Direitos Humanos de Segunda Dimensão

Os direitos de segunda dimensão são conhecidos como os direitos de igualdade. Apesar de serem citados nos direitos de primeira dimensão, aqui se trata da demanda por igualdade material originada por Karl Marx ao contestar as relações de igualdade meramente formais do sistema capitalista industrial liberal (ZAPATER apud LENZA, 2019, p. 1211).

Nascida após a Primeira Guerra Mundial e com a extrema necessidade do Estado em garantir direitos de oportunidade iguais a todos os cidadãos, através de políticas públicas como o acesso básico à saúde, à educação, à habitação e ao lazer, esta dimensão está ligada fortemente ao conceito de igualdade (MALHEIRO, 2016).

A segunda dimensão de direitos humanos, segundo Malheiro (2016, p. 37), ―trata-se dos direitos econômicos, sociais e culturais, que são relativos às relações de produção e trabalho, à previdência, à educação, à cultura, à alimentação, à saúde, à moradia etc.‖.

Outrossim, é importante lembrar que com a Constituição Alemã (1919) os direitos humanos de segunda dimensão ganham ainda mais relevo, pois ela foi o marco do movimento constitucionalista que consagrou direitos sociais e econômicos e reorganizou o Estado em função da sociedade e não mais do indivíduo (MALHEIRO, 2016).

Isto posto, pode-se notar nesta dimensão os direitos de aplicabilidade progressiva, de natureza positiva, que impõem ao Estado o dever de garantir os direitos aqui protegidos.

2.2.3 Direitos Humanos de Terceira Dimensão

Agora, os direitos de terceira dimensão, também denominados direitos de fraternidade ou solidariedade, se constituem por interesses difusos — ou seja, direitos cujos titulares não se pode determinar, nem mensurar o número exato de beneficiários — e coletivos, que possuem um número determinável de titulares, que por sua vez compartilham determinada condição, orientados para o progresso da humanidade (MALHEIRO, 2016).

Acerca dos direitos de terceira dimensão, nas palavras de Zapater (apud LENZA, 2019, p. 1211), ―embora ainda não haja uma doutrina consolidada a seu respeito, há certo consenso em indicar o direito à paz, ao desenvolvimento social, ao meio ambiente sadio, ao patrimônio comum da humanidade, à autodeterminação dos povos e o direito à comunicação.‖

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Conforme Malheiro (2016, p. 37), ―a sua origem remonta o fim da Segunda Guerra Mundial (1 de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945), mas ganhou fôlego com as sucessivas reuniões da ONU e da UNESCO nas décadas subsequentes‖.

Destarte, percebe-se que a terceira dimensão de direitos foi marcada pela fraternidade na certeza de que existem direitos que transcendem a lógica de proteção individualista, cuja tutela interessa a toda a humanidade.

2.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

Importante se faz abordar, mesmo em poucas palavras, as características dos Direitos Humanos, que têm como desígnio estabelecer orientações para a organização da sociedade, assim como evitar a interferência do Estado na esfera privada.

Serão abordadas, se forma sucinta, as seguintes características: historicidade, universalidade, inexauribilidade, essencialidade, imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, efetividade, limitabilidade, complementaridade, concorrência e vedação do retrocesso.

2.3.1 Historicidade

Essa característica é a que fundamenta a ideia das três dimensões dos Direitos Humanos, criada por Karel Vasak, em 1979 (apud MALHEIRO, 2016, p. 41).

Segundo Malheiro (2016, p. 41), ―os direitos humanos evoluem em um processo histórico. Cuida-se de um conjunto de fatores que constituem a história dos interesses fundamentais e que condicionam o seu progresso‖.

Isto significa dizer que os Direitos Humanos não surgiram todos ao mesmo tempo, foram construídos gradativamente ao longo dos tempos, frutos de conquistas e batalhas históricas pela efetivação dessas garantias.

Cabe registrar também que a historicidade dos Direitos Humanos é expansiva, isto é, há sempre uma ampliação da proteção do indivíduo, reconhecendo novos direitos, sendo impedida a supressão (MALHEIRO, 2016).

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2.3.2 Universalidade

A universalidade firma que os Direitos Humanos atingem todos os indivíduos, em qualquer lugar e tempo, sem qualquer discriminação derivada de raça, cor, origem, sexo, estado civil, condições socioeconômicas, culturais ou de outra natureza.

No mesmo sentido, Zapater (apud LENZA, 2019, p. 1213) reforça que ―a universalidade implica que os direitos são de alcance universal e que todos os indivíduos são deles titulares, não importando nacionalidade, etnia, religião, etc.‖.

Ou seja, os Direitos Humanos se impõem de igual modo a todos os países, não sendo possível a eleição de alguns direitos em detrimento de outros.

Logo, entende Malheiro (2016, p. 43) que, ―para a sua defesa, é necessária a flexibilização, pelos Estados, de suas proposições fundamentais, rompendo com a concepção tradicional de soberania, que não deve ser alegada para justificar o descumprimento desses direitos‖.

No entanto, há uma discordância à característica de universalidade dos Direitos Humanos, o relativismo cultural, que nada mais é que a interpretação em contexto da atividade humana individual, nos termos de sua própria cultura, ou seja, é um método que observa a estrutura fundamental de funcionamento de cada cultura em relação às suas expressões, normas, padrões e valores (MALHEIRO, 2016).

2.3.3 Essencialidade

Para Malheiro (2016, p. 41), ―os direitos humanos são essenciais, na medida de constituírem preceitos excepcionais e inerentes ao homem, que protegem interesses fundamentais e indispensáveis para a sua sobrevivência‖.

Ou melhor, significa dizer que os Direitos Humanos são inerentes ao ser humano. São direitos revestidos de imprescindibilidade, cuja tutela é vital para a própria existência da pessoa humana.

2.3.4 Imprescritibilidade

Pode-se afirmar que os Direitos Humanos são exigíveis a qualquer momento, mesmo com o decurso do tempo. No plano internacional, não há que se falar na incidência do

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instituto da prescrição para os estes direitos, uma vez que, a falta de uso pela pessoa humana, não implica o advento deste instituto (OLIVEIRA, 2016).

Vale a pena transcrever a lição deixada por Silva (1992, p. 181):

A prescrição é um instituto jurídico que somente atinge, coarctando, a exigibilidade dos direitos de caráter patrimonial, não a exigibilidade dos direitos personalíssimos, ainda que não individualistas, como é o caso. Se são sempre exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal de não exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela prescrição.

Portanto, de acordo com esta característica, os Direitos Humanos são imprescritíveis, bem como, apesar de serem usados simultaneamente, não implicam no desaparecimento pelo lapso temporal, visto que estão em constante evolução, incorporando novos direitos e expandindo sua incidência.

2.3.5 Inalienabilidade

De acordo com Oliveira (2016, p. 14), ―trata-se da impossibilidade de transacionar ou comercializar direitos (humanos, fundamentais) a outrem, uma vez que não possuem conteúdo econômico. São indisponíveis‖.

Em outras palavras, por não possuírem conteúdo econômico, os Direitos Humanos são intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, limitando, assim, o princípio da autonomia privada.

2.3.6 Irrenunciabilidade

Essa característica estabelece que os direitos humanos são irrenunciáveis, haja vista que não podem ser abdicados ou rejeitados, uma vez que são direitos inerentes à condição humana.

Segundo Malheiro (2016, p. 42), ―qualquer manifestação de vontade de um indivíduo nesse sentido será nula de pleno direito, o que significa dizer que o seu consentimento, abjurando o direito e permitindo sua violação, não tem nenhum valor jurídico, devendo seu transgressor responder pelo mal causado‖.

Em outras palavras, tal característica apresenta que o titular de tais direitos não pode rejeitá-los, uma vez que eles possuem uma eficácia objetiva no sentido que não importa apenas o sujeito ativo, mas sim toda a coletividade.

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2.3.7 Inviolabilidade

Essa caracteriza dispõe que os direitos humanos são invioláveis, uma vez que nenhuma pessoa pode empreender ofensa lidimamente contra eles.

Da mesma forma, para Malheiro (2016, p. 42), ―ninguém pode atribuir a si o poder de emitir juízo acerca de sua vigência, muito menos legiferar contra eles, sob pena de responsabilização civil, administrativa e penal‖.

Deste modo, resta claro o dever do Estado, bem como dos cidadãos, de não violar os Direitos Humanos. No entanto, ocorrendo a violação, o Estado tem o dever de tomar medidas eficazes voltadas a sanar a lesão, bem como adotar maneiras necessárias para que a ofensa não volte a ocorrer.

2.3.8 Efetividade

Significa que os Direitos Humanos são efetivos, pois não basta o singelo reconhecimento abstrato de sua existência pelos Estados.

Segundo Malheiro (2016, p. 41) ―o Poder Público deve responsabilizar-se pela sua aplicação de maneira incontestável, não podendo tais direitos existir apenas no âmbito da subjetividade humana‖.

Conferir efetividade significa colocar em prática os direitos ali previstos, isto é, transformar o ―dever ser‖ em ―ser‖, pois a mera previsão abstrata de direitos de nada adiantaria se o Estado não possuir meios necessários para a sua concretização.

2.3.9 Complementaridade

Indica, nas sábias palavras de Malheiro (2016, p. 40), que ―os direitos humanos não devem jamais ser interpretados isoladamente, mas de maneira conjunta com outros direitos, de modo que a sua presença venha complementar o ordenamento jurídico vigente para a plena proteção da espécie humana‖.

2.3.10 Vedação do Retrocesso

Também chamada de proibição do retrocesso, significa que os Estados estão expressamente proibidos de diminuir sua proteção aos direitos humanos em relação ao estágio em que se encontram.

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A evolução dos direitos humanos deve ser sempre crescente, não admitindo a mitigação na proteção, tampouco a exclusão de algum direito.

Nas palavras de Malheiro (2016, p. 43), ―a vedação ao retrocesso, também chamado de efeito cliquet, constitui uma verdadeira blindagem contra retrocessos e flexibilizações na proteção aos direitos consagrados e assegurados‖.

2.4 DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Para melhor compreensão do processo histórico dos Direitos Humanos no Brasil, necessário se faz discorrer sobre sua evolução no sistema jurídico brasileiro, desde os tempos do Império até o atual ordenamento jurídico constitucional.

Abordar-se-ão as etapas de positivação dos Direitos Humanos nos textos constitucionais brasileiros, de maneira sucinta, como forma de auxiliar na compreensão do tema na Constituição de 1988, também conhecida como ―Constituição Cidadã‖.

2.4.1 Constituição de 1824

A Constituição Política do Império do Brasil, primeira Constituição Brasileira, foi outorgada em 25 de março de 1824 e é conhecida como o marco da independência, após mais de três séculos de domínio português (OLIVEIRA, 2016).

Na concepção de direitos humanos, vislumbram-se na Constituição Imperial os direitos civis e políticos. Relacionados nos 35 incisos do artigo 179, o qual dispunha em seu

caput a garantia da inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, tendo

por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, percebe-se claramente a influência da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (OLIVEIRA, 2016).

Nas palavras do professor e doutrinador Oliveira (2016, p. 304), o qual define que além da influência da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Constituição de 1824 herdou ―a vedação da destituição de magistrados pelo rei (Act of Settlement, 1701), o direito de petição, as imunidades parlamentares, a proibição de penas cruéis (Bill of Rights, 1689) e o direito do homem a julgamento legal (Magna Carta, 1215)‖.

Ademais, propiciou a consolidação do princípio da legalidade, dispondo que ―nenhum cidadão pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei‘ (artigo 179, inciso I), como também previu a irretroatividade das leis (artigo 179, inciso III)‖.

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Conforme Oliveira (2016, p. 304),―apesar das contradições, a Constituição do Império é interpretada como um avanço pelos juristas brasileiros, [...] os quais afirmaram que foi um Código Político dos maiores produzidos na experiência política do século XIX‖.

2.4.2 Constituição de 1891

Após a queda do Império, em 24 de fevereiro de 1891, uma nova forma de governo e de Estado se instaurou: a República Federativa. Fruto do Congresso Constituinte, a Constituição de 1891, sob forte inspiração Americana, retomou a teoria clássica da tripartição dos poderes de Montesquieu, eliminando assim o Poder Moderador (OLIVEIRA, 2016).

No âmbito das garantias, com intuito de remediar qualquer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder, a referida Constituição inseriu em seu texto o instituto jurídico do Habeas Corpus.

Deste modo, nas palavras de Oliveira (2016, p. 307), ―é possível afirmar que a primeira Constituição Republicana contemplou uma sensível compreensão e positivação dos direitos humanos, como então dimensionados‖.

2.4.3 Constituição de 1934

Inspirada na Constituição de Weimar de 1919 e na Constituição da República Espanhola de 1931, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil foi um marco no território constitucional brasileiro (OLIVEIRA, 2016).

Apesar da inclusão de diversos direitos sociais, políticos, econômicos e trabalhistas, o grande avanço se deu com a inclusão de um amplo rol de direitos individuais, como o mandado de segurança e a ação popular (OLIVEIRA, 2016).

O aspecto relevante da Constituição de 1934, segundo Oliveira (2016, p. 310), é a preocupação com a discriminação racial, política, religiosa, entre outras, garantindo a todos os cidadãos o tratamento igualitário, sem distinções.

Portanto, percebe-se a positivação das principais conquistas e concepções dos direitos humanos do período, interligando os direitos civis e políticos com os direitos sociais.

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2.4.4 Constituição de 1937

Não obstante o conteúdo socializante e a amplitude de direitos garantidos pela Constituição de 1934, sua duração foi breve. Em 1937, após a dissolução do Congresso Nacional cometida por Getúlio Vargas, teve-se o início do período denominado como ―Estado Novo‖.

Retrocedendo a proteção dos direitos, a Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, promoveu a supressão de diversos direitos e garantias individuais, como: proíbe os partidos políticos; restabelece a pena de morte para atentados contra o Estado e o Presidente da República; aumenta os poderes de guerra do Presidente; cerceia a liberdade de imprensa; entre outras vedações (OLIVEIRA, 2016).

De acordo com Oliveira (2016, p. 311), ―o término da Segunda Grande Guerra e o recrudescimento das reivindicações democráticas desencadearam o processo de convocação da Assembleia Constituinte, em 1945, com a aprovação de um novo texto constitucional‖.

2.4.5 Constituição de 1946

Após o término da Segunda Guerra Mundial e com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Carta de São Francisco (1945), se iniciou uma nova fase global com intuito de se estabelecer ordem constitucional com ideais democráticos e humanistas (OLIVEIRA, 2016).

Retornando o poder às mãos do povo, a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946 foi promulgada sob o regime representativo, como uma República Federativa. A Magna Carta apresentou 218 artigos, entre eles disposições que restabeleceram o ideário protetivo da Constituição de 1934, prevendo medidas de caráter humanitário (OLIVEIRA, 2016).

Como uma forma de proteção aos Direitos Humanos, garantiu em seu artigo 141, § 4º, o acesso incondicional ao Poder Judiciário, ao afirmar que nenhuma lesão de direito individual poderá ser subtraída de sua apreciação (OLIVEIRA, 2016).

Todavia, mesmo com os avanços inestimáveis dos direitos individuais, sociais, econômicos, políticos e trabalhistas, a Constituição de 1946, infelizmente, teve curta duração devido ao golpe militar ocorrido em 1967.

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2.4.6 Constituição de 1967

Com o golpe militar de 1967, uma nova Constituição foi outorgada. Possuindo disposições que desfiguraram profundamente a ordem democrática que se estabeleceu em 1946, uma vez que os atos insurgentes tinham prevalência sobre os dispositivos da Constituição (OLIVEIRA, 2016).

Na concepção de Horta (apud OLIVERA, 2016, p. 316),

Os atos institucionais, numa cadeia de outorgas sucessivas, sobrepuseram-se à Constituição Federal, desfigurando os fundamentos do regime democrático nele organizado, para alterar a estrutura dos órgãos, dos Poderes e das competências constitucionais e instaurar o regime da insegurança e da negação de direitos políticos, de direitos e garantias individuais.

Desse modo, foram suspensos o curso democrático e os direitos e garantias individuais, os direitos políticos do cidadão, o habeas corpus para crimes políticos, o direito ao voto, entre outras medidas de caráter restritivo.

2.4.7 Constituição de 1988

Infelizmente, a instituição dos Direitos Humanos, na concepção contemporânea, ocorreu tardiamente no Brasil, com a promulgação do ordenamento constitucional de 1988, resultante do processo de abertura democrática (OLIVEIRA, 2016).

Com efeito, na concepção do mesmo autor, o início da luta pelos Direitos Humanos se deu no período da ditadura militar, como se observa:

Foi no curso do regime militar (1964-1985) que se travou as lutas em face das supressões e violações aos direitos individuais, tornando-se nascedouro das diretrizes e práticas para a institucionalização das políticas de direitos humanos no Brasil. Em contraponto aos ditames dos militares, uma geração de ativistas – que incluía religiosos, profissionais liberais, artistas, políticos e entidades, assumiram corajosamente a defesa incondicional dos direitos humanos, em especial para obstar a perseguição política deliberada que ocorreu após a publicação do Ato Institucional 5, em 1968 — um dos atos obscuros da história brasileira recente (OLIVEIRA, 2016).

Com a anistia política em 1979, verificou-se, gradativamente, o fim do regime militar e, consequentemente, a restituição de uma série de direitos e, sobretudo o direito de o povo brasileiro ir às ruas reivindicar eleições diretas para Presidente da República.

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Logo, em 1986, foram retomados os compromissos com o Estado de Direito e a democracia devido à instituição de novas eleições, bem como com a escolha dos integrantes da Assembleia Nacional Constituinte. Do mesmo modo, abriu-se caminho para o reconhecimento das lutas pela proteção e promoção aos direitos humanos, institucionalizando-os na nova Constituição (OLIVEIRA, 2016).

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como dois dos vários princípios fundamentais da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e a prevalência dos Direitos Humanos. Assim, instituiu uma base a todo o sistema normativo brasileiro, tornando sua promulgação um marco para o início do processo de redemocratização do Estado e de institucionalização dos Direitos Humanos (NOVO, 2017).

Concomitantemente, segundo Novo (2017, p. 9), ―desenvolveu-se a ratificação de tratados internacionais dos direitos da pessoa humana, os quais perfazem uma gama de normas diretamente aplicáveis pelo judiciário e que agregam vários novos diretos e garantias àqueles já constantes do ordenamento jurídico brasileiro‖.

Forçoso destacar que os tratados internacionais de Direitos Humanos ratificados pela República Federativa do Brasil têm força de emenda constitucional, tendo aplicação imediata, bem como não podendo perder a eficácia por lei ordinária posterior (BRASIL, 1988).

Destacam-se os principais tratados internacionais ratificados pelo Brasil: Convenção para Prevenção e a Repressão do crime de genocídio (1948); Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966); Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); Convenção Internacional sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (1965); Convenção Internacional sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (1979); Convenção contra a tortura e outros Tratamentos ou Penas cruéis, desumanas ou degradantes (1984); Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989); Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969) – Pacto de San José da Costa Rica; Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos (1979); Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais (1988); Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos referentes à abolição da pena de morte (1990); Convenção Interamericana para prevenir e punir a Tortura (1985); Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a Mulher (1994); Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência (1999).

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2.4.7.1 Dignidade da Pessoa Humana

Conforme visto no tópico anterior, a dignidade da pessoa humana foi estabelecida pela Constituição Federal de 1988 como um princípio fundamental da República Federativa do Brasil.

O artigo 1º, inciso III, da Magna Carta de 1988, dispõe que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988).

A dignidade é inerente à pessoa humana, de modo que todo ser humano tem dignidade pelo simples fato de ser pessoa. A proteção da dignidade da pessoa humana envolve todos os aspectos do indivíduo, não possuindo exceções.

Na visão de Ramos (apud MALHEIRO, 2016),

A dignidade humana consiste na qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, bem como assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. Consiste em atributo que todo indivíduo possui, inerente à sua condição humana, não importando qualquer outra condição referente à nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo etc.

À vista deste conceito, é possível afirmar que uma pessoa merece total e irrestrita proteção à sua dignidade, seja essa tutela em relação à função profissional que desempenha, à sua imagem, à sua intimidade, à sua privacidade, aos seus pensamentos etc.

Acerca deste princípio, Costa (apud MALHEIRO, 2016) reitera que ―a dignidade humana também se identifica com o fato de ser ela um valor absoluto, não possibilitando qualquer questionamento em relação à sua natureza‖.

Vale destacar, segundo o mesmo autor, que é um dever social a aplicação concreta deste princípio, uma vez que ele é o núcleo axiológico do direito contemporâneo nacional, ou seja, ele designa valor às normas jurídicas brasileiras (COSTA apud MALHEIRO, 2016, p. 31).

É, também, o núcleo exegético do ordenamento jurídico brasileiro, pois o raciocínio interpretativo de todas as regras deve se orientar pelo princípio, já que relações jurídicas humanas são fragmentárias e evoluem continuamente.

Igualmente, vale salientar que ele é o núcleo essencial de irradiação dos direitos humanos e o fundamento da República Federativa do Brasil (MALHEIRO, 2016).

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Em resumo, pode-se confirmar que o centro de quaisquer outros direitos fundamentais é, segundo Malheiro (2016, p. 30), ―o princípio da proteção da dignidade da pessoa humana, sendo que todos os demais princípios se desenvolvem como uma espiral, a partir daquele princípio nuclear‖.

Nas palavras de Nunes (apud MALHEIRO, 2016, p. 30), ―é ela, a dignidade, o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional posto e o último arcabouço da guarida dos direitos individuais‖.

Para Malheiro (2016, p. 30), ―esse fundamento não é estático, mas dinâmico, uma vez que proporciona o emprego de condições de vida em conexão com um piso vital mínimo de existência do ser humano‖.

Conforme citado anteriormente, a dignidade da pessoa humana é um princípio constitucional estruturante e se encontra esparsa ao longo do texto da Carta Magna brasileira.

Este princípio torna-se uma restrição ao poder político do Estado, uma vez que, apesar de sua independência e autoridade plena, sua atuação esbarra na condição humana.

Assim, a dignidade da pessoa humana, se apresenta como direito de proteção individual em relação ao Estado e aos demais indivíduos e como dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes (MALHEIRO, 2016).

O respeito à dignidade da pessoa humana observa, precipuamente, o cumprimento dos direitos sociais estabelecidos no artigo 6º da Magna Carta, o qual sabiamente dispõe que ―são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição‖.

Apesar disso, segundo Malheiro (2016, p. 31), ―é relevante recordar que o homem não se confunde com a vida do Estado e não pode ser instrumento para os outros, mas um fim em si mesmo. O Estado apenas existe em virtude e para o ser humano‖.

Todavia, apesar deste princípio expressar um valor absoluto, inalienável, inerente a cada indivíduo, bem como apresenta um conjunto de valores civilizatórios com força vinculante, ainda há diversas violações cotidianas ao seu conteúdo.

Referências

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