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Agravo Regimental no Agravo de Instrumento

No documento rdj105 (páginas 69-77)

2014002012329-8 (0012417-28.2014.8.07.0000) Relator - Des. José Divino Sexta Turma Cível

ementa

Processo civil. Agravo regimental. Negativa de seguimento. Agravo de instrumento. Exame de DNA. Restos mortais. Transporte. Validação de ossada.

I - Os argumentos em prol da tese de que o Juízo prolator da decisão agravada não imputou aos Correios a incumbência de transportar o material destinado ao exame de DNA, máxime porque os restos mortais não são passíveis de serem remetidos por correspondência, e também por se tratar de meio que viola a dignidade humana e o respeito aos mortos, e de que o procedimento de validação da ossada é indispensável e deve preceder ao exame genético, tema que estaria coberto pela preclusão, foram rechaçados com a devida fundamentação.

II - Quanto ao transporte do material, a Lei nº 6.538/78 não alude especificamente ao tema, de forma a vedar que seja efetivada pelos correios.

III - A Resolução ANVISA nº 68, que dispõe sobre o Controle e Fiscalização Sanitária em Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegários, do Translado de Restos Mortais Humanos em Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegários, estabelece em seu art. 25 que estão excluídos “do disposto neste Regulamento, os casos sob custódia dos Institutos Médicos Legais e o transporte de células, tecidos e órgãos humanos destinados para fins terapêuticos (transplantes e implantes) e de pesquisa, que deverão atender regulamento técnico pertinente para este fim.”

IV - À míngua de qualquer outra argumentação hábil a ilidir os fundamentos expendidos na decisão ora agravada, não se vislumbram razões para alterar o posicionamento.

V - Negou-se provimento ao recurso.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, José Divino - Relator, Ana Cantarino - 1º Vogal, Jair Soares - 2º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Jair Soares, em proferir a seguinte decisão: conhecido. Desprovido. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 18 de junho de 2014.

relatório

L. E. M. DE M. F. interpôs agravo de instrumento contra decisão proferida pelo Juízo da 7ª Vara de Família de Brasília e o recurso teve o seguimento negado.

Daí o regimental.

O agravante alega que o Juízo prolator da decisão agravada não imputou aos Correios a incumbência de transportar o material destinado ao exame de DNA, máxime porque os restos mortais não são passíveis de serem remetidos por correspondência, e também por se tratar de meio que viola a dignidade humana e o respeito aos mortos. Depois, o procedimento de validação da ossada é indispensável e deve preceder ao exame genético, tema que está coberto pela preclusão. Pede a reforma da decisão impugnada para que o agravo de instrumento seja processado.

É o relatório.

votos

Des. José Divino (Relator) - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Trata-se de agravo regimental interposto por L. E. M. DE M. F. impugnando decisão que negou seguimento ao agravo de instrumento.

“Os artigos 527, I, e 557, do Código de Processo Civil autorizam o Relator a negar seguimento liminar quando o recurso for manifestamente inadmis- sível, improcedente, prejudicado ou em contradição com súmula ou com ju- risprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou Tribunal Superior.

V. H. DE C. A. ajuizou ação de investigação de paternidade em face dos herd- eiros de L. E. M., tendo o magistrado determinado a adoção de providências para viabilizar a exumação dos restos mortais do suposto genitor do autor para colheita de material para a realização do exame de DNA.

O recorrente alega que interpôs embargos de declaração em face da de- cisão, mas não houve manifestação acerca de pontos fundamentais acerca da realização da diligência, como o transporte do material do investigado de Salvador/BA para Brasília; a custódia do material; validação da ossada e preclusão, caso em que a decisão seria nula.

Eis o teor da decisão impugnada:

“De outro lado, para atender à diretriz do TJDFT (medidas para viabilizar o exame pericial - fl. 2544/2546 e f. 2582/2584, à captação de meio de prova solicitada pela douta Promotoria de Justiça (fl. 2509), é de se deferir os pedi- dos de fl. 2.509 (MP) e de f. 2663 e f. 2739/2740 (requerente), partindo-se da premissa de que se encontra preclusa a questão da exumação dos restos mortais (fl. 1232/1235), mediante as seguintes diligências:

I) Expeça-se carta precatória à 12ª Vara Cível, comarca de Salvador - BA, com cópia da resposta do IML (fl. 2.659) e com perito já nomeado no juízo dep- recado (Dr. RAUL BRANDÃOD - IML - f. 1664) para a exumação de cadáver e para a extração de material e devido encaminhamento ao IML - IPDNA de Brasília, na forma especificada às f. 2659, solicitando-se ao douto juízo dep- recado, na presença de eventual parente do falecido (para fins de eventual validação da ossada), a lavratura da ata nos termos solicitados às f. 2659; I.a) Na hipótese de o perito nomeado não puder efetivar a exumação, que seja nomeado outro a cargo do juízo deprecado para o mesmo objetivo;

I.b) Caso o (s) requerido (s) compareça (m) ao ato, que se efetive a validação da ossada; na hipótese de os requeridos - agora intimados àquele fim - ou quaisquer outros parentes não comparecerem ao ato de exumação e de ext- ração de material e/ou não quiserem validar nesse momento (por qualquer motivo) a ossada (o que pode se dar ulteriormente, a validação), que ainda assim se proceda a exumação e extração de material, agora na presença de duas testemunhas idôneas, para ulterior remessa ao DF, na forma do item I, registrando-se tudo em ata;

II) Encaminhado o material ao IML - IPDNA de Brasília, que se proceda ao exame na forma solicitada às f. 2740 (estudo comparativo), devendo, o IML-IPDNA co- municar a este juízo o (s) perito (s) designado (s) para o respectivo exame; III) Com a juntada do laudo do IPDNA, intimem-se as partes para se manife- starem em dez dias (prazo independente e sucessivo e, no caso dos requeri- dos (prazo conjunto), quando então complementarão, se quiserem, os termos das alegações finais já apresentadas acerca da prova subjetiva, após o que venham os autos conclusos para sentença.”

É pacífico o entendimento de que o juiz, tendo encontrado motivação sufici- ente, não está obriga a rebater todos os argumentos suscitados pela parte. Nesse sentido:

“PROCESSUAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. ERRO DE JULGAMENTO. RECURSO PRÓPRIO.

1. Inexistente a alegada violação do art. 535 do CPC. Nos termos de juris- prudência pacífica do STJ, “o magistrado não é obrigado a responder todas as alegações das partes se já tiver encontrado motivo suficiente para fun- damentar a decisão, nem é obrigado a ater-se aos fundamentos por elas in- dicados”

(REsp 684.311/RS, Rel. Min. Castro Meira, DJ 18.4.2006), como ocorreu na hipótese ora em apreço.

2. A eventual alegação de erro de julgamento considerado pela parte inter- essada deve ser levantada em recurso próprio, e não em sede de embargos de declaração, quando ausentes as hipóteses específicas do art. 535 do CPC. Agravo regimental improvido.”1

TRANSPORTE DO MATERIAL GENÉTICO EXTRAÍDO DO INVESTIGADO PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME DE DNA O recorrente alega que não foi esclarecida a forma pela qual deverá ocorrer o transporte do material genético da ci- dade de Salvador/BA para o Distrito Federal, tampouco o responsável por sua custódia.

Acerca do ponto, observa-se que o magistrado determinou a expedição de “carta precatória à 12ª Vara Cível, comarca de Salvador - BA, com cópia da resposta do IML (fl. 2.659) e com perito já nomeado no juízo deprecado (Dr. RAUL BRANDÃOD - IML - f. 1664) para a exumação de cadáver e para a ext- ração de material e devido encaminhamento ao IML - IPDNA de Brasília, na forma especificada às f. 2659 (...)”

A forma a que se refere a decisão impugnada (of. de fl. 2659) é aquela tra- çada pelo Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil do Distrito Federal, assim delineada no ofício de fl. 53:

“O material coletado deverá ser acondicionado em envelope de papel es- pesso que deverá ser lacrado e conter, no lacre, assinaturas de todos os pre- sentes (Médico-Legista ou Perito nomeado pelo Juízo, representante do Juízo e familiar do falecido), para serem conferidas no ato do recebimento. O en- velope contendo o material coletado deverá ser acondicionado em caixa de papelão apropriada (por exemplo: caixa dos Correios).

A remessa do material coletado deverá Sr acompanhada de Cópia da Ata de Exumação e de Ofício de encaminhamento do material para IPDNA - INSTI- TUTO DE PESQUISA DE DNA FORENSE - SPO- LOTE 23, Conjunto E - Ed. Do DNA, Complexo da PCDF-Brasília/DF CEP: 70610-907.”

1 AgRg no Ag 1304102/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 26/04/2011.

Ou seja, o material a ser entregue ao Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Policia Civil do Distrito Federal deverá ser acondicionado em envelope de papel espesso lacrado e acondicionado em caixa de papelão apropriada e remetido via correio, cujo órgão, pois, será o responsável pela custódia. Não se trata, pois, de procedimento que ofende a dignidade e o respeito aos mortos, máxime porque é a providência capaz de viabilizar o direito do agra- vado de conhecer a paternidade, diante da recusa dos descendentes em se submeterem ao exame genético de DNA.

VALIDAÇÃO DA OSSADA - PRECLUSÃO - INAPTIDÃO DO INSTITUTO DE PES- QUISA DE DNA FORENSE PARA REALIZAR A PROVA TÉCNICA

Segundo o recorrente, não ficou esclarecida a forma pela qual será realizada a validação da ossada e o responsável técnico, bem como não houve mani- festação sobre a preclusão quanto ao momento de efetivação, uma vez que já teria sido decidido que deveria anteceder à exumação. Depois, o Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil não poderia ter sido designado para realizar a perícia, pois confessadamente não possui aptidão técnica para validar a ossada.

A validação da ossada será efetivada no momento do ato de exumação, sob a responsabilidade do perito já nomeado pelo Juízo deprecado - Dr. Raul Brandão - ou, na impossibilidade, de outro que vier a ser nomeado, na presença eventual de algum dos réus ou demais parentes do falecido, ou, na sua falta, duas testemunhas idôneas, lavrando-se a respectiva ata. Caso os réus ou algum parente não compareçam ao ato, ou não queiram vali- dar a ossada, o material mesmo assim deverá ser colhido, mas na presença de duas testemunhas idôneas, registrando-se em ata.

Confira-se o trecho pertinente da decisão agravada:

I) Expeça-se carta precatória à 12ª Vara Cível, comarca de Salvador - BA, com cópia da resposta do IML (fl. 2.659) e com perito já nomeado no juízo dep- recado (Dr. RAUL BRANDÃOD - IML - f. 1664) para a exumação de cadáver e para a extração de material e devido encaminhamento ao IML - IPDNA de Brasília, na forma especificada às f. 2659, solicitando-se ao douto juízo dep-

recado, na presença de eventual parente do falecido (para fins de eventual validação da ossada), a lavratura da ata nos termos solicitados às f. 2659; I.a) Na hipótese de o perito nomeado não puder efetivar a exumação, que seja nomeado outro a cargo do juízo deprecado para o mesmo objetivo; I.b) Caso o (s) requerido (s) compareça (m) ao ato, que se efetive a validação da ossada; na hipótese de os requeridos - agora intimados àquele fim - ou quaisquer outros parentes não comparecerem ao ato de exumação e de ext- ração de material e/ou não quiserem validar nesse momento (por qualquer motivo) a ossada (o que pode se dar ulteriormente, a validação), que ainda assim se proceda a exumação e extração de material, agora na presença de duas testemunhas idôneas, para ulterior remessa ao DF, na forma do item I, registrando-se tudo em ata”.

A preclusão tem como efeito impedir que o juiz se pronuncie novamente a respeito de questão já decidida, relativa à mesma lide.

A impossibilidade de inversão do procedimento - extração do material e depois efetivar a validação -, não é questão já dirimida pela decisão de fl. 65/67, mas apenas o registro pelo magistrado da manifestação técnica do perito antes designado para realizar a perícia.

O Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil não consigna no ofí- cio de fl. 54 a necessidade de exame técnico específico de validação da ossa- da, como alega o recorrente, tendo o magistrado determinado a adoção das providências requeridas pelo referido órgão técnico, quais sejam, a valida- ção da ossada na presença dos réus ou de algum parente, caso compareçam ao ato de exumação. E se não o quiserem, ou não comparecerem, que a ext- ração do material seja efetivada na presença de duas testemunhas idôneas. Enfim, todas as objeções lançadas pelo recorrente encontram respostas na decisão impugnada, caso em que se verifica que os embargos foram interp- ostos apenas com o propósito de rediscutir os seus termos.

Na verdade, o agravante manifesta mero inconformismo com a forma pela qual será realizada a perícia, aduzindo que pode comprometer a realização da prova técnica e também porque não traria segurança jurídica acerca de seu resultado. Assim sendo, o agravo é manifestamente improcedente.

Ante o exposto, com fundamento nos art. 527, I, e 557, do Código de Processo Civil, NEGO SEGUIMENTO ao recurso.”

No regimental, o recorrente apenas reedita os argumentos que foram rechaçados, como visto acima, em prol da tese de que o Juízo prolator da decisão agravada não imputou aos Correios a incumbência de transportar o material destinado ao exame de DNA, máxime porque os restos mortais não são passíveis de serem remetidos por correspondência, e também por se tratar de meio que viola a dignidade humana e o respeito aos mortos, e de que o procedimento de validação da ossada é indispensável e deve preceder ao exame genético, tema que estaria coberto pela preclusão.

Cabe acrescentar apenas no tópico relativo ao transporte do material, que a Lei nº 6.538/78 não alude especificamente ao tema, de forma a vedar que seja efetivada pelos correios.

Depois, a Resolução ANVISA nº 68, que dispõe sobre o Controle e Fiscalização Sanitária em Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegários, do Translado de Restos Mortais Humanos em Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegários, estabelece em seu art. 25 que estão excluídos “do disposto neste Regulamento, os casos sob custódia dos Institutos Médicos Legais e o transporte de células, tecidos e órgãos humanos destinados para fins terapêuticos (transplantes e implantes) e de pesquisa, que deverão atender regulamento técnico pertinente para este fim.”

Cumpre acentuar, por fim, que não houve a violação a nenhum dos dispositivos legais apontados pelo agravante.

À míngua de qualquer outra argumentação hábil a ilidir os fundamentos expendidos na decisão ora agravada, não se vislumbram razões para alterar o posicionamento. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

É como voto.

Desa. Ana Cantarino (Vogal) - Com o Relator. Des. Jair Soares (Vogal) - Com o Relator.

decisão

No documento rdj105 (páginas 69-77)