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No entanto, no caso dos autos, percebe-se, pelas provas juntadas aos au tos, que a apelante tinha pleno conhecimento de que o de cujus era casado

No documento rdj105 (páginas 169-181)

Apelação Cível

DO APELO DA AUTORA

6. No entanto, no caso dos autos, percebe-se, pelas provas juntadas aos au tos, que a apelante tinha pleno conhecimento de que o de cujus era casado

e convivia com sua família, motivo pelo qual não há como se reconhecer a

figura da união estável putativa, única capaz de possibilitar a excepcional simultaneidade de núcleos familiares.

7. Não há que falar em ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, porque o princípio da monogamia, que rege o Direito de Família, em nada ofende a dignidade da pessoa humana da concubina.

8. De igual forma, não há que se falar em ofensa ao princípio da isonomia, posto que a legislação brasileira proíbe a dupla e paralela convivência, não admitindo possa alguém viver ao mesmo tempo uma relação matrimonial e outra de união estável, em uniões concomitantes, conforme se denota do disposto no art. 1.723, § 1º, c/c art. 1.521, VI, ambos do Código Civil. 9. (...).

10. Recurso conhecido e improvido.

(Acórdão n.703372, 20110610144715APC, Relator: ALFEU MACHADO, Revi- sor: LEILA ARLANCH, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 14/08/2013, Pub- licado no DJE: 19/08/2013. Pág.: 62) (g.n.).

Assim, não há que se falar em união estável, como pretende a apelada/autora, ante a existência de impedimento para a sua configuração. Logo, deve ser reformada a r. sentença, para que a ação seja julgada improcedente.

Ante o exposto, CONHEÇO DO RECURSO e a ele DOU PROVIMENTO para reformar a r. sentença integralmente e julgar improcedente o pedido inicial. Inverto o ônus da sucumbência que será imputado à apelada/ré suspensa a cobrança em razão da gratuidade da justiça (fl. 13).

É como voto.

Desa. Gislene Pinheiro (Revisora) - Com o Relator. Des. Angelo Passareli (Vogal) - Com o Relator.

decisão

Apelação Cível

2009071006259-2 (0000948-37.2009.8.07.0007) Relator - Des. Alfeu Machado Primeira Turma Cível

ementa

Civil. Processual civil. Ação reparatória de danos materiais, morais e estéticos. Aci- dente de trânsito. Atropelamento. Lesões corporais e psicológicas. Incapacidade laborativa total e permanente. Responsabilidade civil. Pressupostos presentes. Matéria incontroversa. Danos morais e estéticos configurados. Quantum. Princí- pios da proporcionalidade e da razoabilidade. Adstrição à normativa da efetiva extensão do dano. Pensionamento devido. Patamar arbitrado com razoabilidade. Não incidência sobre férias e 13º salário. Recurso, em parte, provido.

1. Ante a ausência de impugnação recursal, incontroversa a responsabilidade civil do réu pela prática de ato ilícito, consistente no atropelamento do autor quando este atravessava na faixa de pedestre, o que resultou em trauma crânioencefálico, com déficit motor importante, de caráter permanente e irreversível, além de distúr- bios psicológicos extremamente graves, ensejadores de incapacidade laborativa. 1.1. O dano decorrente do acidente de trânsito ultrapassa a esfera do mero dis- sabor, sendo capaz de ensejar abalo a atributos da personalidade humana (CF, art. 5º, V e X), para fins de dano moral, haja vista a gravidade das lesões físicas experimentadas pela vítima e a necessidade de auxílio de terceiros para exercer atividades diárias (v.g. higiene pessoal, alimentação e vestuário), sobretudo por- que estava em pleno momento de preparação profissional e crescimento pessoal no ramo da jardinagem.

1.2. Patente, também, a presença de abalo estético, porquanto houve mudança, em função do atropelamento, no estado físico e na harmonia das formas da vítima, que passou a ter dificuldades de locomoção, necessitando do uso de bengala, ten- do em vista a paralisia parcial de um lado do corpo (hemiparesia).

2. O quantum dos prejuízos morais e estéticos, perfeitamente acumuláveis (Sú- mula n. 387/STJ), deve obedecer a critérios de razoabilidade e proporcionalidade, levando-se em conta, além da necessidade de reparação dos danos sofridos, as circunstâncias do caso, a gravidade do prejuízo, a situação do ofensor, a condição do ofendido e a prevenção de comportamentos futuros análogos. O valor pecuniá- rio não pode ser fonte de obtenção de vantagem indevida, mas também não pode ser irrisório, para não fomentar comportamentos irresponsáveis (CC, art. 944). In casu, os valores arbitrados, de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), a título de dano estético, e de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), a título de danos morais, aten- dem aos aludidos parâmetros.

3. Caso a ofensa resulte defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou que lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas de tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que sofreu (CC, arts. 949 e 950).

3.1. Tendo sido comprovada a incapacidade total e permanente da vítima para qualquer atividade laboral, em razão das graves

sequelas advindas do acidente de trânsito, cabível o pagamento de pensão, como forma de compensação, cujo patamar de 1,5 salários-mínimos atende com razoa- bilidade às particularidades do caso concreto.

3.2.O pensionamento não incide sobre férias e 13º salário, pois a vítima, à época do acidente, não exercia trabalho assalariado.

Precedentes TJDFT e STJ.

4. Recurso conhecido e, em parte, provido apenas para aclarar a sentença e afastar do cálculo do pensionamento os valores alusivos ao 13º salário e férias, mantidos os demais fundamentos, inclusive no que toca aos ônus sucumbenciais.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 1ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Alfeu Machado - Relator, Leila Arlanch - 1º Vogal, Teófilo Caetano - 2º Vogal, sob a presidência da Senhora Desembargadora Simone

Lucindo, em proferir a seguinte decisão: conhecer e dar parcial provimento, unâni- me, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 28 de maio de 2014.

relatório

De início, adoto o relatório constante da r. sentença de fls. 326-338, in verbis: Vistos etc.

Trata-se de Ação de Indenização ajuizada por J. de S.S. em desfavor de J.S.L.,

narrando o autor que, em virtude de atropelamento causado pelo requerido na faixa de pedestres situada na QNL 30 Avenida Helio Prates, Taguatinga, sofreu lesões físicas e seqüelas, carecendo de tratamento fisioterápico, além de ter interrompido suas atividades laborais e de ter perdido Bolsa de Estudo perante o SENAI em razão da qual percebia, mensalmente, R$ 600,00. Relatou o autor, ainda, que, em razão da necessidade de cuidar do filho, sua mãe deixou de receber remuneração mensal de R$ 700,00. Diante de tais fa- tos, requereu a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de R$ 350.000,00, bem como indenização em compen- sação por danos materiais e estéticos no valor de R$ 150.000,00.

A petição inicial veio acompanhada dos documentos de folhas 10/49. Às folhas 85/88, foi deferido parcialmente o pedido de antecipação da tu- tela para que o réu depositasse, mensalmente, quantia correspondente a um salário-mínimo em favor do autor.

Realizada audiência de conciliação, restou infrutífera a tentativa de acor- do (fl. 171), motivo pelo qual o requerido apresentou contestação (fls. 105/119), acompanhada dos documentos de folhas 120/170.

Em sua defesa, o requerido pleiteou a conversão do procedimento em or- dinário, dada a alegada necessidade de produção de prova pericial. No mérito, alegou que o acidente decorreu de sua dificuldade em visualizar o re- querente na travessia da faixa de pedestre, além de que não estava em velo-

cidade excessiva na condução de seu veículo. Defendeu que a visibilidade na via no momento do acidente era ruim em razão da pouca luminosidade, além de que uma camionete impedia que o requerido visse o pedestre. Relatou ter efetivado vários depósitos bancários em favor do requerente, e alegou que os documentos apresentados com a petição inicial foram produzidos de for- ma unilateral, não servindo de prova sobre os valores requeridos a título de ressarcimento material. No que tange ao documento emitido pelo Hospital Santa Lúcia, alegou haver registro de que todos os gastos foram custeados pela Secretaria de Estado de Saúde, inexistindo prejuízo do autor a reparar. Quanto aos lucros cessantes, aduziu que, à época do acidente, o requerente não mais recebia a bolsa de estudos perante o SENAI. Impugnou o pedido referente à pensão vitalícia, alegando inexistir invalidez do autor. Por fim, insurgiu-se contra o pedido de indenização pelos danos morais, alegando não ter havido violação à dignidade e honra do autor.

O autor apresentou réplica às folhas 173/189, em que manifestou a super- veniente desnecessidade de que a indenização por danos materiais abranja as consultas com ortopedista e neurologista, as quais passaram a ser forne- cidas no Hospital Sarah Kubitscheck, juntando Relatório Médico fornecido pela Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.

Deferida a produção de provas orais e pericial (fl. 206), produziu-se a prova nos termos do Relatório Médico Pericial de folhas 301/309.

Intimadas as partes para se manifestarem sobre o laudo pericial (fl. 311), apenas o requerido apresentou sua impugnação (fls. 316/317).

Após, vieram os autos conclusos para sentença a esta Juíza de Direito Substi- tuta, nos termos da Portaria Conjunta nº 80/2013 deste Tribunal de Justiça. (fls. 326-327) (grifos no original)

Acrescento que, em Primeira Instância, os pedidos formulados na petição inicial foram julgados parcialmente procedentes para condenar o réu ao pagamento de: a) R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), a título de danos morais, devidamente corrigido pelo INPC, desde o arbitramento (Súmula n. 362/STJ), e com juros de mora de 1% (um por cento) ao mês (CC, art. 406 c/c art. 161, parágrafo único, do CTN), desde o evento danoso (7/11/2008, Súmula n. 54/STJ); b) R$ 18.000,00

(dezoito mil reais), a título de danos estéticos, corrigido pelo INPC, desde o arbitra- mento (Súmula n. 362/STJ), e com juros de mora de 1% (um por cento) ao mês (CC, art. 406 c/c art. 161, parágrafo único, do CTN), desde o evento danoso (7/11/2008, Súmula n. 54/STJ); c) pensão alimentícia mensal retroativa à data do evento dano- so (7/11/2008) até a convalescência do autor, no importe de 1,5 salários-mínimos vigente em cada época, devendo os valores já vencidos serem corrigidos moneta- riamente pelo INPC, desde cada mês devido, e acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, desde o evento danoso, e devendo, ainda, ser abatido da quantia já vencida o valor de R$ 6.880,00 (seis mil oitocentos e oitenta reais), já pagos ao autor, corrigidos monetariamente pelo INPC desde cada pagamento (fls. 161, 166, 163, 164-170).

Considerando que o pagamento do pensionamento será realizado mediante des- conto direito na remuneração do réu, foi dispensada a constituição de capital, con- forme art. 475-Q, § 2º, do CPC.

Em razão da sucumbência mínima do autor, correspondente apenas ao modo de pagamento dos danos materiais, o requerido foi condenado ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados estes em 10% (dez por cento) do valor da condenação, conforme art. 20, § 3º, do CPC. A exigibi- lidade dessas verbas quedou suspensa, tendo em vista o deferimento da gratui- dade de justiça à fl. 206.

Inconformado, o réu, J.S.L., interpôs o recurso de apelação de fls. 342-353. Na oportunidade, pugnou pela redução do valor dos danos morais e estéticos arbitra- dos em 1º grau (CC, art. 944), considerando a situação da parte obrigada (servidor aposentado, idoso, com 7 filhos, a guarda de 3 netos e esposa, portador de pro- blemas de saúde, residente em local humilde e dono de veículo com mais de 23 anos de uso) e as condições em que ocorreu o atropelamento (por volta das 22h, em local mal iluminado, estando o pedestre, por ocasião da travessia, na frente de uma caminhonete que bloqueou todo campo de visão). Além disso, no que toca ao pensionamento arbitrado, asseverou que o autor não recebia bolsa do SENAI, além de ter embasado esse pedido apenas na necessidade de custeio do seu tratamento, cujos custos não quedaram comprovados, motivo pelo qual tal condenação, estabelecida no importe de 1,5 salários-mínimos, não poderia sub- sistir (CPC, art. 333, I). Secundariamente, postulou a redução do valor da pensão

para meio salário-mínimo, sem incidir sobre férias e 13º salário. Nesses termos, requereu o conhecimento e provimento do apelo para reformar a r. sentença, com a consequente inversão dos ônus sucumbenciais.

Preparo dispensado, em razão da gratuidade de justiça (fl. 206). Contrarrazões às fls. 358-361, pelo desprovimento do recurso. É o relatório.

votos

Des. Alfeu Machado (Relator) - Conheço do recurso de apelação, porque presen- tes os pressupostos de sua admissibilidade. É tempestivo (fls. 339-340 e 342), subscrito por advogado devidamente constituído (fl. 100) e dispensado o preparo, em razão da gratuidade de justiça (fl. 206).

A matéria do recurso de apelação do réu se restringe à regularidade do valor das indenizações por danos morais e estéticos, ao direito do autor ao percebimento de pensão e, secundariamente, ao montante estabelecido em Primeira Instância a esse título, bem assim acerca de sua incidência sobre férias e 13º salário.

Ou seja, não se controverte acerca da responsabilidade do réu em razão da prática de ato ilícito, em 7/11/2008, consistente no atropelamento do autor quando este atravessava na faixa de segurança da QNL 30, Avenida Hélio Prates, Taguatinga/ DF, do qual resultou trauma crânioencefálico, passando a depender da ajuda de terceiros, em virtude de déficit motor importante, de caráter permanente e irre- versível, além de distúrbios psicológicos extremamente graves, ensejadores de in- capacidade laborativa, conforme Ocorrência Policial de fls. 14-18 e laudo pericial acostado às fls. 300-309.

O dano moral e o prejuízo estético, ante a ausência de impugnação recursal, tam- bém se encontram presentes.

Ainda que o autor tenha recebido atendimento médico, certo é que o dano decor- rente do acidente de trânsito ultrapassa a esfera do mero dissabor, sendo capaz de ensejar abalo a atributos da personalidade humana (CF, artigo 5º, incisos V e

X), haja vista a gravidade das lesões físicas experimentadas e a necessidade de auxílio de terceiros para exercer atividades diárias, como higiene pessoal, alimen- tação e vestuário, sobretudo porque estava em pleno momento de preparação profissional e crescimento pessoal no ramo da jardinagem. Demais disso, a vítima passou a sofrer com insônia e alterações comportamentais (irritabilidade, ansieda- de, retraimento social e conflitos familiares - fl. 184).

O prejuízo estético, por seu turno, é evidenciado pelo defeito físico permanente, com dificuldade de locomoção, necessitando do uso de bengala (fl. 185), e da paralisia parcial de um lado do corpo (hemiparesia), condições essas que trazem à vítima, pessoa jovem, desgosto/complexo de inferioridade. Patente, assim, a pre- sença de abalo estético, porquanto houve mudança, em função do atropelamento, no estado físico e na harmonia das formas do autor.

Pois bem. No que concerne ao quantum indenizatório, à míngua de parâmetro legislativo e dado o repúdio à tarifação dos prejuízos morais e estéticos, perfei- tamente acumuláveis (Súmula n. 387/STJ), este deve ser fixado segundo o pru- dente arbítrio do juiz, balizado pelos postulados da proporcionalidade e da ra- zoabilidade, levando-se em conta, além da necessidade de reparação dos danos sofridos, as circunstâncias do caso, a gravidade do prejuízo, a situação da parte autora da lesão, a condição do pólo ofendido e a prevenção de comportamentos futuros análogos.

O valor pecuniário a ser fixado não pode ser fonte de obtenção de vantagem inde- vida (CC, art. 884), mas também não pode ser irrisório, para não fomentar compor- tamentos irresponsáveis. Inteligência do artigo 944 do Código Civil, que trata da normativa da efetiva extensão do dano.

Nesse panorama, em que pese o réu tenha destacado a prejudicialidade da visi- bilidade no momento da colisão, ocorrida às 22h, como bem salientado na sen- tença, não há prova, sequer alegação, da impossibilidade de visualização dos demais veículos que se encontravam parados na respectiva faixa de pedestre. Assim, mesmo ciente do estado dos demais veículos, ao optar em dar continui- dade ao seu percurso, atuou o réu com imprudência e assumiu o risco de atro- pelar eventual pedestre, não havendo como minimizar sua culpa pelo evento danoso causado ao autor.

É de ser relevado que, em razão do acidente, que lhe ocasionou limitações per- manentes e irreversíveis, o autor não detém mais condição física e psíquica para exercer a jardinagem, atividade para a qual estava se profissionalizando (fl. 36), vindo inclusive, a receber medalha de ouro na ocupação Jardinagem e Paisagismo, quando da participação na Olimpíada do Conhecimento 2008 (fl. 38), com expec- tativas de participação em Torneio Internacional de Formação Profissional (fl. 36). Também há de se considerar a situação econômica do réu, cuja renda é de cerca de R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos reais), conforme extrato bancário de fl. 159, além do fato de que sua esposa é do lar (fl. 133) e que, embora seja pai de 7 filhos (fls. 126-132), 6 deles são maiores e capazes. Conquanto alegue possuir a guarda de 3 netos (fl. 133), todos atualmente são maiores.

Diante disso, os valores de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), a título de dano moral, e de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), a título de dano estético, atendem aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, conforme as peculiaridades do caso concreto e as finalidades acima delineadas, não merecendo reparos a r. sentença nesse ponto.

Lado outro, tratando-se de caso de lesão ou ofensa à saúde, especificamente, o ofensor deverá indenizar a vítima das despesas de tratamento e dos lucros cessan- tes até o fim da convalescença, incluindo pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Inteligência dos artigos 949 e 950 do CC.

In casu, a autor apresentou sequelas decorrentes do acidente de trânsito so- frido (atropelamento), sendo certa sua incapacidade total e permanente para qualquer atividade laborativa, conforme aspecto conclusivo da perícia técnica acostada às fls. 300-309.

A incapacidade para o trabalho, por óbvio, constitui causa geradora do dever de pagar pensão, como forma de compensação da perda laborativa em razão do ilícito.

Nesse norte, considerando que há nos autos prova de que o autor, quando da participação em curso de Jardinagem e Paisagismo no Centro de Formação Pro- fissional de Taguatinga - CFP/T, no período de 3/9/2007 a 31/8/2008, percebia

bolsa de estudos de R$ 600,00 (seiscentos reais), conforme documento de fl. 36, valor que, à época, correspondia a 1,5 salários-mínimos, escorreita a adoção desse patamar na fixação da pensão.

Mesmo que o acidente de trânsito tenha ocorrido apenas em 7/11/2008, ou seja, quando já findo o aludido curso de Jardinagem e Paisagismo, tal peculiaridade não isenta o réu do pagamento de pensão ao autor em decorrência do atropelamento. Afinal, como forma de compensação da incapacidade, essa pretensão decorre”de um lado, do direito-dever, inerente a todo homem, de prover à sua subsistência no nível das suas possibilidades, e, de outro lado, da expectativa normal de que para tanto todos estão capacitados”.(RIZZARDO, Arnaldo. A reparação nos acidentes de trânsito: Lei 9.503, de 23.09.1997, 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013,p. 169).

Assim, independente de não haver prova do exercício de atividade remunerada à data do acidente, é devido o pensionamento em favor do autor até a sua convales- cência, pois as lesões sofridas causaram-lhe incapacidade laboral permanente e irreversível para todo e qualquer trabalho, ainda no início de sua vida profissional, mostrando-se razoável a adoção de 1,5 salários-mínimos mensais, em analogia ao que ele vinha percebendo pecuniariamente 3 (três) meses antes do incidente. Por fim,ad argumentandum tantum, não obstante a omissão da r. sentença impug- nada, registre-se que o aludido pensionamento não incide sobre férias e 13º sa- lário, uma vez que a vítima, à época do acidente, não exercia trabalho assalariado.

Precedentes STJ1e TJDFT.2 1 CIVIL E PROCESSUAL. ACÓRDÃO ESTADUAL. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CONTAMINAÇÃO POR ASBESTO. ÓBITO. NEXO CAUSAL IDENTIFICADO. PROVA. SUFICIÊNCIA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PENSÃO. CÁLCULO. MOTORISTA AUTÔNOMO. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. EXCLUSÃO DO 13º SALÁRIO E GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS. JUROS COMPOSTOS. ILÍCITO DE NATUREZA CIVIL. EXCLUSÃO. SÚMULAS N. 7 E 186-STJ. I. Não padece de nulidade o acórdão estadual que enfrenta as questões essenciais ao deslinde da controvérsia, apenas que desfavoravelmente ao interesse da parte inconformada. II. Incidência da Súmula n. 7 do STJ, a obstar a apreciação dos temas alusivos à suficiência da prova, à configuração do nexo causal entre a contaminação por asbesto do de cujus, a atividade da ré e a doença que o vitimou. III. Exclusão do cálculo do pensionamento dos valores alusivos

ao décimo-terceiro salário e gratificação de férias, por se cuidar de motorista autônomo que não as percebia à época do sinistro. Precedentes. IV. Indevidos juros compostos, porquanto a espécie dos autos

é de ilícito de natureza eminentemente civil. V. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido. (REsp 507.521/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 29/06/2009) (g.n.). 2 CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATROPELAMENTO. AMPUTAÇÃO E DEFORMIDADE DOS MEMBROS INFERIORES. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO. TERCEIRO NÃO USUÁRIO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. APLICABILIDADE. CULPA EXCLUSIVA OU CONCORRENTE DA VÍTIMA. INOCORRÊNCIA. LAUDO TÉCNICO PARTICULAR E UNILATERAL EM CONFRONTO À PERÍCIA OFICIAL. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO. INADMISSIBILIDADE DA PROVA.

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tjdft • Revista de Doutrina e Jurisprudência nº 105 • mai – ago • 2014

Isso posto, CONHEÇO do recurso de apelação e a ele DOU PARCIAL PROVIMENTO, tão somente para, aclarando o dispositivo da r. sentença, afastar do cálculo do pensionamento os valores alusivos ao 13º salário e férias, posto que inexistente trabalho assalariado à época do acidente. Mantenho os demais fundamentos, in- clusive no que toca à distribuição dos ônus sucumbenciais.

É como voto.

Desa. Leila Arlanch (Vogal) - Com o Relator.

No documento rdj105 (páginas 169-181)