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2.5. Como Conservar a Natureza em Estabelecimentos Rurais?

2.5.4. Agricultura sustentável

Em oposição à agricultura chamada convencional, surgiram na década de 20, quase que simultaneamente, quatro vertentes contrárias à adubação química e que valorizavam as práticas culturais favoráveis aos processos biológicos, como as Agriculturas Biodinâmica, Orgânica e Biológica na Europa, e, no Japão, a Agricultura Natural (EHLERS, 1999).

Ehlers (1999) lembra que existem outras designações conhecidas para essa agricultura alternativa, como a agricultura ecológica, a regenerativa, macrobiótica, dentre outras, mas que são variantes das quatro primeiras, ou denominações recentes de uso muito restrito.

O autor também faz uma diferenciação entre esses quatro movimentos principais. Segundo ele, o Movimento Biodinâmico, que teve início em 1924, tem como principal meta a difusão da idéia de que a propriedade agrícola deve ser entendida como um organismo. As propriedades orientadas por este sistema adotam as seguintes práticas: (a) interação entre as produções animal e vegetal; (b) respeito ao calendário biodinâmico, que indica as melhores fases astrológicas para as atividades agrícolas; (c) utilização de preparos biodinâmicos, compostos líquidos elaborados a partir de substâncias minerais, para reativar as forças vitais da natureza, e, (d) práticas relativas a campos e paisagens, como cercas-vivas, adubação verde, cultivo de ervas para forragem, culturas de bordadura e vizinhança, dentre outras (EHLERS, 1999).

Já a Agricultura Orgânica pode ser considerada um sistema de produção que evita ou exclui amplamente o uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal, cuja composição é sintética. Tanto quanto possível, esse sistema é baseado na rotação de culturas, adubação verde, lixo orgânico vindo de fora da unidade produtiva, cultivo mecânico, minerais naturais e controle natural de pragas.

Diferenciando-se das anteriores, surge a Agricultura Biológica que, diferente da Orgânica, não restringe a associação com a pecuária para fornecimento de matéria orgânica e, em oposição à idéia de autonomia completa da unidade agrícola, como preconiza a Biodinâmica, sugere-se a incorporação de rocha moídas ao solo e a integração com as demais propriedade agrícolas a nível regional.

Também se contrapondo a agricultura convencional, mas, de certo modo, em oposição à Orgânica e Biodinâmica, surge a Agricultura Natural, com o método do “não-fazer”. Assim, o agricultor não deve arar a terra, aplicar inseticidas e fertilizantes e, nem mesmo, utilizar-se dos compostos. Deve-se aproveitar ao máximo os processos da natureza, sem esforços desnecessários e desperdício de energia.

As práticas agrícolas mais recomendadas pela Agricultura Natural são a rotação de culturas, uso de adubos verdes, emprego de compostos e uso de cobertura morta (vegetal) sobre o solo. Para o controle de pragas recomenda-se a manutenção das características naturais do ambiente, a melhoria das condições do solo e, portanto, do estado nutricional dos vegetais, o emprego de inimigos naturais de pragas e, em último caso, a utilização de produtos naturais não-poluentes.

Para Hoffmann et al. (2002), as maiores vantagens da agricultura orgânica estão na conservação dos recursos naturais, no baixo custo de produção, no alto valor nutricional dos alimentos e na valorização das práticas como a diversificação e o consórcio entre as culturas, que ajudam a manter a fertilidade do solo e a controlar doenças nas plantações. Além disso, eles acreditam que propriedades que diversificam as culturas aumentam a variedade de produtos para o comércio, aumentando as alternativas de venda ao produtor nos momentos de queda do valor em determinado produto.

Relacionada a todos esses movimentos rebeldes está a teoria da trofobiose, que se baseia na teoria de que parte dos casos de proliferação de pragas estão relacionados a desequilíbrios tróficos e nutricionais das plantas, provocados pela utilização de

biocidas, além de adubações excessivas de nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio. Assim, mais importante que combater as pragas é “tratar” as plantas malnutridas e doentes (EHLERS, 1999).

Todavia, passa a ser empregada a partir dos anos 80 uma nova prática agrícola, que passou a ser chamada de Agroecologia, e cujo princípio básico é a adaptação da atividade agrícola ao meio, e não o contrário: surgem os agroecossistemas (EHLERS, 1999).

Para Gliessman (2001), a agroecologia pode ser definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis, valorizando o conhecimento local e empírico dos agricultores, a socialização desse conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade.

Ehlers (1999) acredita que o que há de comum a todas estas escolas, propostas e vertentes alternativas é o objetivo de desenvolver uma agricultura equilibrada, socialmente justa e economicamente viável. Para ele, um dos princípios básicos da agricultura alternativa é a diminuição dos biocidas e a valorização dos processos biológicos e vegetativos nos sistemas produtivos. Quanto às práticas agrícolas, todas defendem a revalorização da adubação orgânica, seja ela de origem animal ou vegetal, do plantio consorciado, da rotação de culturas e do controle biológico de pragas.

Uma agricultura sustentável, em contrapartida, deve ser pautada na conciliação de princípios e práticas das agriculturas alternativa e convencional, assim como os novos conhecimentos dos agricultores e da pesquisa agroecológica, nunca se constituindo em um conjunto de práticas bem definidas, pois cada agroecossistema pode exigir soluções diferenciadas.

Todavia, alguns aspectos podem ser citados, como a substituição dos sistemas produtivos simplificados ou monoculturais por sistemas rotacionais diversificados, a reorientação da pesquisa agropecuária para um enfoque mais sistêmico e a adoção de políticas públicas que promovam o fortalecimento e a expansão da agricultura familiar (EHLERS, 1999).

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