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A Agroecologia no contexto atual

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Crise Socioambiental

12 Gaia “Definimos a Terra como Gaia, porque ela se apresenta como uma entidade complexa que abrange a biosfera, a atmosfera, os oceanos e o solo Na sua totalidade, esses elementos constituem um

3.1 A Agroecologia no contexto atual

Agroecologia

3.1 A Agroecologia no contexto atual

Para Leff (2002: 37): “ Agroecologia“ é o caldeirão onde se amalgamam saberes e conhecimentos, ciências, tecnologias e práticas, artes e ofícios no forjamento de um novo paradigma produtivo”. Mas isto não nos impede de pensá-la também como um conhecimento científico. Para Caporal (2006), a Agroecologia é entendida como um enfoque cientifico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis. Altieri (1989) afirma:

“A Agroecologia é uma ciência emergente que estuda os agroecossistemas, integrando os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compressão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo, ainda completa: agroecologia constitui um enfoque teórico e metodológico que, lançando mão de diversas disciplinas científicas, pretende estudar a atividade agrícola sob uma perspectiva ecológica. A Agroecologia se constitui num campo de conhecimentos que reúne várias “reflexões teóricas e avanços científicos, oriundos de distintas disciplinas”.

Para Gliessmann (2011): agroecologia é “A aplicação dos princípios e conceitos da ecologia ao desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis. ” E, de forma mais ampla, Sevilla Guzmán e González de Molina (1996), definem a Agroecologia como “Um campo de estudos que pretende o manejo ecológico dos recursos naturais, para – através de uma ação social coletiva de caráter participativo, de um enfoque holístico e de uma estratégia sistêmica – reconduzir o curso alterado da co-evolução social e ecológica”.

A Agroecologia se caracteriza como formato de agricultura que tece diretas relações sociais entre os agentes produtores e suas localidades. Como compreende Leff (2002) ela precisa ser ampla para dar conta dos inúmeros aspectos da atividade agrícola, de forma que seu conhecimento deva ser criado a

45 partir de um movimento interdisciplinar, que abarque as ciências da natureza e as interpelações do processo de atividade agrícola.

“(...) Convoca a um diálogo de saberes e intercâmbio de experiências; a uma hibridação de ciências e técnicas, para potencializar as capacidades dos agricultores; A uma interdisciplinaridade, para articular os conhecimentos ecológicos e antropológicos, econômicos e tecnológicos, que confluem na dinâmica dos agroecossistemas. ” 14 (LEFF, 2002:41)

Para se desenvolver como matriz tecnologia de produção, a agricultura Ecológica15, busca meios de experimentar, juntamente com os sujeitos da

agricultura familiar, práticas de manejo que se relacionem e se adaptam aos diversos ecossistemas encontrados, garantindo assim, produtividade e qualidade que garantam a soberania e segurança alimentar.16

Por tudo que foi dito, fica evidente que a Agroecologia não pode ser difundida a partir de pacotes, necessita um cuidado qualitativo específico para cada localidade, mesmo que norteada por princípios comuns. Esse cuidado só pode ser realizado em escalas próprias, com relações sociais horizontais entre os sujeitos e os profissionais envolvidos, em que a Terra seja um bem de uso contínuo, geradora de riquezas aos seus moradores.

“Mas esta racionalidade ecotecnológica não se produz nem se pratica como um conjunto de regras gerais que se instrumentam e induzem desde cima – de um laboratório, uma universidade, uma burocracia - sobre as práticas

14 Agroecossistemas: Segundo MONTEIRO (2012:67) in dicionário de educação do campo: Para a ciência da agroecologia, que busca aplicar os princípios da ecologia à agricultura, o conceito de agroecossistema é a unidade básica de análise e intervenção. A agroecologia fornece as bases para desenhar e manejar os Agroecossistemas, a fim de que sejam produtivos e sustentáveis, e garantam, hoje e no futuro, as condições para que a humanidade tenha alimentos, fibras, plantas medicinais, aromáticas e cosméticas, madeira, água, ar puro, solos e paisagens protegidos. (in Dicionário de Educação do Campo)

15 Agricultura ecológica é a forma de se praticar uma agricultura limpa, sem a utilização de agrotóxicos e maquinários pesados, valorizando a utilização de sementes tradicionais e práticas de cultivo culturalmente valorizados. Essa é a pratica de agricultura presente no movimento agroeocológico.

16 Segurança alimentar: Segundo STEDILE e CARVALHO (2012: 716) “É uma política pública aplicada por governos de diversos países que parte do princípio de que todas as pessoas têm o direito à alimentação e que cabe ao Estado o dever de prover os recursos para que as pessoas se alimentem” (in Dicionário em Educação do Campo )

cotidianas dos agricultores e produtores agrícolas. É um "paradigma" pela generalidade de seus novos princípios, mas que se aplica através de saberes pessoais e coletivos, de habilidades individuais e direitos coletivos, de contextos ecológicos específicos e culturas particulares. É isso o que abre um amplo processo de mediações entre a teoria geral e os saberes específicos, uma hibridação de ciências, tecnologias, saberes e práticas; um intercâmbio de experiências - agricultor a agricultor - das quais se enriquecem, se validam e se estendem as práticas da Agroecologia” (LEFF, 2002:41)

Quando se trata da relação justa de trabalho, o que se busca não é reproduzir uma agricultura monocultural em larga escala que acesse mercados iguais aos do agronegócio, mesmo que orgânica. O que se busca é a diversidade de produção e trabalho justo para toda a família, em que os trabalhadores façam parte do processo de forma participativa e adquirindo autonomia no decorrer do tempo. Esta é a diferença da agricultura orgânica para a agricultura agroecológica. Enquanto a primeira, mesmo que praticada sem defensivos e insumos químicos, pode ser de forma monocultural ou com relação de trabalho vertical. Já a Agroecologia, não prescinde de processos culturais, sociais e justos de trabalho e organização.

Mas o que se almeja com o debate Agroecológico na atualidade é explorar outras partes relacionadas à essa temática. Além de se focar e salientar a produção orgânica/ agroecológica, o acesso ao mercado justo e uma relação social mais equilibrada, a Agroecologia pretende abordar questões como gênero, geração, saúde e educação.

“Partindo de um enfoque holístico e de uma abordagem sistêmica, pretende contribuir para que as sociedades possam redirecionar o curso alterado da coevolução social e ecológica, nas suas múltiplas inter-relações e mútua influência” (CAPORAL, 2011:47)

Atualmente, se vê a Agroecologia também como uma prática interdisciplinar, utilizando os estudos das áreas agrarias e ambientais, alinhado aos estudos da geografia, história, ciências sociais e produção cultural, para resgatar saberes e conhecimentos ancestrais, revalorizando os a partir de práticas

47 inovadoras e participativas, alinhando novos saberes e práticas agrícolas que se renovam nas distintas realidades do campo.

Tal interpretação sistêmica é necessária, visto que o conceito ainda não está concretizado como outras ciências produzidas pelas academias. Se o conceito, por si, está em construção, isso demonstra que sua prática, no campo ou na cidade, ainda está em andamento, no que diz respeito a experiências bem- sucedidas de produção e comercialização agroecológica. Desta forma, como resume Leff:

“O objetivo da Agroecologia não é, simplesmente, contribuir para uma produção mais sustentável, dentro dos mecanismos do desenvolvimento limpo, ou para ocupar nichos de mercado de produtos “verdes” dentro das políticas da globalização econômico- ecológica. O saber agroecológico contribui para a construção de um novo paradigma produtivo ao mostrar a possibilidade de produzir “com a natureza”, de gerar um modo de produção fundado no potencial ecológico- tecnológico da natureza e da cultura. ” (2002: 44)

A Agroecologia parte da ideia de que ninguém é dono do conhecimento, parte do pressuposto de que “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, as pessoas se educam entre si através de sua organização coletiva” (FREIRE, 1983:36)

A Agroecologia que está sendo proposta, é uma ciência produzida para além dos muros das universidades, deve conectar o saber empírico e o popular com o saber científico. Para isso, é preciso trabalhar a forma de comunicar os saberes acadêmicos ao povo do campo. O objetivo é, aprimorar as práticas e técnicas já em uso, e não substituílas.

“A Ecologia de Saberes é uma contra epistemologia, pois no momento que vivemos é forçosa uma epistemologia geral da impossibilidade de uma epistemologia geral. O impulso básico que faz emergir esse processo seria a proliferação de diversas alternativas que não se podem rotular como iguais, pois cada uma

tem maneiras de produzir, reconhecer as diferenças, saber, compreender o tempo e representações de escalas distintas. Desses conflitos emerge algo que pode dar consistência epistemológica às interações desses mundos, de forma dinâmica, sustentável e que fomente a tradução entre as partes, contudo sem exigir que cada uma abandone sua autonomia, ou seja, uma Ecologia de Saberes. Desse modo, tal axioma é o responsável por gerar o amálgama epistemológico da Globalização Contra Hegemônica “ (SOUSA SANTOS, 2010:96)

O que se propõe não são outros conhecimentos acadêmicos que vão surgindo para auxiliar o campo, mas uma nova forma de pensar a ciência, em uma Ecologia de Saberes, tomada como interconhecimento (SOUZA SANTOS, 2010),

“Uma contra epistemologia, pois no momento que vivemos é forçosa uma epistemologia geral da impossibilidade de uma epistemologia geral. O impulso básico que faz emergir esse processo seria a proliferação de diversas alternativas que não se podem rotular como iguais, pois cada uma tem maneiras de produzir, reconhecer as diferenças, saber, compreender o tempo e representações de escalas distintas. Desses conflitos emerge algo que pode dar consistência epistemológica às interações desses mundos, de forma dinâmica, sustentável e que fomente a tradução entre as partes, contudo sem exigir que cada uma abandone sua autonomia, ou seja, uma Ecologia de Saberes. Desse modo, tal axioma é o responsável por gerar o amálgama epistemológico da Globalização Contra Hegemônica “ (SOUSA SANTOS, 2010: 96).

A utilização do que é pensado na academia deve ser diretamente alinhado ao que é necessário para a realidade camponesa, ou seja, o processo de construção de conhecimento é diretamente relacionado com determinada realidade. Já as tecnologias aprimoradas em âmbito acadêmico, podem, dependendo do tempo e dos investimentos, serem mais amplamente difundidas, testadas e apropriadas pela população rural, sem acreditar que uma tecnologia criada em um centro universitário é necessariamente melhor que uma tecnologia criada a partir de uma realidade popular

49 O que se busca é uma ciência que se comprometa com as reais necessidades da sociedade. Não há a pretensão de romper com as formas de se fazer ciência, mas ampliar a demanda crítica de que há necessidade de agir e pesquisar sobre a realidade.

“A pluralidade de perspectivas epistemológicas e metodológicas não pretende a supremacia de categorias sociais ou formas de conhecimento, não pretende abolir os especialistas e a ciência rigorosa; nem idealiza o “popular” como fonte de toda a bondade e sabedoria. (AQUINO e ASSIS, 2005: 38 e 39)

Assim, a agroecologia se apresenta como uma ciência multi e interdisciplinar, sistêmica e articulada em rede. Se constitui como um novo paradigma de desenvolvimento rural sustentável, capaz de contribuir com o enfrentamento da crise civilizatória, que a degradação socioambiental agravou.

“Não obstante, antes também é preciso demarcar que a perspectiva agroecológica possui em seus princípios a preocupação e a defesa de uma nova ética ambiental). As terminologias do desenvolvimento sustentável, e a proposta de sustentabilidade na perspectiva da vida da humanidade na Terra devem se alinhar ao debate Agroecológico, visto que a harmonia almejada se dá na relação dos humanos entre si e demais seres, porém com preocupação e zelo pelas futuras gerações da humanidade. (...) significando que a ética ambiental tem que ter uma solidariedade inter e intrageracional. (CAPORAL, 2002: 48)

Acredito que o processo de conscientização dos sujeitos para a prática ética ambiental não se dará naturalmente no momento histórico em que vivemos, onde entre as relações sociais, sobressaem atitudes e comportamentos de desrespeito entre pessoas e entre o meio ambiente em uma organização social sem conduta ética ambiental.

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