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A produção de laranja está inserida entre as principais atividades do agronegócio brasileiro (NEVES et al. 2006). Originalmente chamado de agrobusiness, o agronegócio constitui-se em uma das atividades mais importantes da nossa economia. Dados mundiais apontam que em 1999, a participação desse segmento foi de U$ 6,6 trilhões, 22 % do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em 2003 movimentou cerca de U$ 7,3 trilhões e as projeções para 2028 apontam para o valor de U$ 10, 2 trilhões, como crescimento anual de 1,46 % ao ano (ARAÚJO, 2009).

Os conceitos de agronegócio evoluíram ao longo do tempo derivando da necessidade de ampliação de abrangência do significado histórico da palavra agricultura (EMBRAPA, 2003). Este termo agricultura foi utilizado até bem recentemente para entender a produção agropecuária em toda sua extensão e se mostrou insuficiente para acompanhar o desenvolvimento de atividades que extrapolaram as porteiras das fazendas e passaram a contemplar outros componentes como necessidade de máquinas, insumos, armazéns, agroindústrias, mercados e outros, formando uma cadeia mais ampla (ARAÚJO, 2009). Esta cadeia mais ampla denominada agronegócio, traduzida da palavra inglesa agrobusiness, chegou ao Brasil em meados de 1990, trazendo consigo a dimensão tecnológica como palavra de ordem para a competitividade (EMBRAPA, 2003).

A Embrapa (2003) destaca que os elementos componentes do agronegócio são os fornecedores de bens e serviços à agricultura, os produtores agropecuários empresariais e familiares, os processadores, transformadores e distribuidores de produtos agropecuários até o consumidor final. Afirma ainda que outros atores como operadores logísticos, mercados, entidades financeiras e até o governo estão dentre os componentes do sistema.

Para Neves et al. (2006) as cadeias de agronegócio são compostas de empresas fornecedoras de insumos para as fazendas, dos próprios produtores, indústrias processadoras, indústrias de embalagens, aditivos, distribuidores e prestadores de serviço (transportadoras, bancos, financeiras, operadores logísticos).

Os elementos do agronegócio destacados anteriormente pelos autores são classificados por Araújo (2009) em três segmentos: antes, dentro e após a porteira. Antes da porteira estão os fornecedores como os de máquinas, implementos, defensivos, semente, tecnologia e financiamento. Dentro da porteira a produção agropecuária propriamente dita e após a porteira as atividades de industrialização, armazenamento, comercialização e distribuição (ARAÚJO, 2009).

No Brasil, os números do agronegócio acompanham a tendência representativa mundial, pois desde 2003 já se registram percentuais importantes como 30% a 35% de representatividade no PIB e 42% da pauta de exportações brasileiras, trazendo como destaque as exportações de cana de açúcar, de citrus, que inclui a laranja, objeto deste trabalho, com ênfase no suco, e também de café (NEVES et al. 2006). Outros produtos como trigo, soja e milho também são destaque no rol de exportações brasileiras (MAPA, 2014).

Estudos mais atuais apresentados pelo CEPEA (2014) demonstram que em 2012 e 2013 o agronegócio representou 22,24% e 22,54% do PIB nacional, percentuais um pouco abaixo dos registrados há 10 anos. Mas segundo o MAPA (2014) esta atividade também foi responsável por 39,5% e 41,28% da pauta de exportações brasileiras nos mesmos períodos, percentuais que ainda comprovam a grande representatividade do setor em nosso país.

Projeções realizadas para 2050, considerando aumento e envelhecimento populacional e aumento da demanda por alimentos, colocam o Brasil como principal fornecedor mundial de proteína animal e grãos (NEVES et al., 2006).

Partindo para o enfoque do produto, que é o objeto de estudo desse trabalho, a laranja, Neves et al. (2006) demonstram que a importância da citricultura para o Brasil é indiscutível, citando que um estudo do Centro de Inteligência do Pensa (Centro de Conhecimento em Agronegócios), da Universidade de São Paulo – USP demonstrou que o segmento movimenta R$ 10 bilhões por ano, emprega 400 mil pessoas e responde por 1,4

bilhões de dólares em exportações.

Neste sentido, maior atenção deve ser dada à citricultura, pois ela se destaca como uma das mais importantes atividades do agronegócio brasileiro. Em 2011 os estados de São Paulo, Bahia e Sergipe ocupavam as primeiras posições em relação à produção nacional, com uma área plantada de cerca de 1 milhão de hectares e a produção de frutas superando os 19 milhões de toneladas. A maior no mundo há alguns anos. O país é o maior exportador de suco de laranja concentrado e congelado cujo valor das exportações, juntamente com as de outros subprodutos, gerou em 2011 cerca de 1,5 bilhão de dólares (DINIZ et al., 2011).

A participação do Brasil no fornecimento de suco de laranja representa 80% do comércio mundial desse produto, em contraposição ao da fruta in natura, que é de 0,7%. A Espanha e os Estados Unidos são os principais exportadores da fruta in natura, respectivamente, 38% e 18% (CEPEA, 2015)

Em relação ao futuro, considerando perspectivas para 2023/2024, a produção de laranja deverá passar de 16,3 milhões de toneladas na safra 2013/2014 para 17,5 milhões de toneladas em 2023/2024. Essa variação corresponde a uma taxa anual de crescimento de 0,7%. Em relação à área plantada deverá sofrer uma redução nos próximos anos, passando dos atuais 717,0 mil hectares para 627 mil. Isso indica uma redução anual da taxa de crescimento da ordem de 1,3% ao ano, e deve ocorrer principalmente pela redução da atividade em São Paulo. O Brasil deve exportar 2,6 milhões de toneladas de suco de laranja no final do período das projeções. Mas esse número poderá chegar, em seu limite superior, a 3,2 milhões de toneladas de suco. Restrições comerciais na forma de barreiras ao comércio são o principal fator limitante da expansão do suco de laranja (MAPA, 2014).

Figura 2: Projeção de Produção de laranja e exportação de suco para 2023/2024.

De acordo com Cuenca e Silva (2002) a laranja começou a ser produzida em Sergipe por volta dos anos 20, começando como atividade agrícola no município de Boquim, e enfrentando barreiras para sua expansão, visto que o escoamento da produção era bastante dificultado pela inexistência de transporte e estradas transitáveis.

A primeira espécie plantada em Boquim foi a laranja de umbigo, trazida por tropeiros do município de Tomar do Geru. A partir da década 40 a produção de citros de Boquim assumiu posição considerável respondendo a incentivos como a implantação do Posto Agropecuário de Boquim, criado pelo Ministério da Agricultura com a finalidade de expandir a produção. Nessa mesma época a laranja produzida no estado da Bahia foi vítima de uma praga em seus pomares, deixando a cidade de Salvador, até então grande pólo produtor do fruto, em situação de escassez, sendo suprida pela produção de Boquim, que experimentou preços altos e incentivou produtores da região a expandir os negócios (SANTANA, 2013).

Cuenca e Silva (2002) interpretando dados do IBGE afirmam que a produção de laranja em Sergipe apresentou maior expansão nas décadas de 70 e 80, e chegou a seu auge na década de 90, quando ocupou a segunda posição nacional, tendo à frente apenas o estado de São Paulo, que até os dias atuais é o estado líder na produção do fruto (IBGE, 2015).

A cultura do citros, com destaque para a laranja, apresenta-se como um dos principais produtos agrícolas de Sergipe, girando em torno de 3,0% do PIB, sendo o suco o principal produto exportado. Os pomares estão concentrados em aproximadamente 11.000 estabelecimentos agropecuários. A maioria é de base familiar e são localizados predominantemente no Sul do estado, na região dos Tabuleiros Costeiros, ocupando uma área de 5,4 mil Km2, compreendendo os municípios de Arauá, Boquim, Cristinápolis, Estância, Indiaroba, Itaporanga D’Ajuda, Itabaianinha (atualmente principal produtor), Lagarto, Pedrinhas, Riachão do Dantas, Salgado, Tomar do Geru, Umbaúba e Santa Luzia do Itanhy (MARTINS et al., 2015). Os municípios com maior potencial de expansão no Estado estão localizados em outros extremos, mais ao norte, são eles: Areia Branca, Capela, Nossa Senhora das Dores, Japoatã e Neópolis (SEAGRI, 2015).

A área próxima da região Norte da Bahia e o pólo citrícola do Sul de Sergipe constitui possivelmente a maior área cultivada de toda a citricultura tropical do mundo. Dentre as propriedades citrícolas de Sergipe, mais de 80% possuem área inferior a 10 hectares e o vínculo de pessoas trabalhando, aproximadamente 100 mil, direta e indiretamente no setor, dimensiona a importância socioeconômica da atividade como importante fonte de renda (DINIZ et al., 2011; MARTINS et al., 2015).

representam 80% dos pomares, enquanto as laranjas do tipo Bahia e Baianinha perfazem 10% dos cultivos. Nos pomares sergipanos também são encontradas as variedades Natal e Valência (SEAGRI, 2015).

O mercado consumidor da laranja produzida na região Sul de Sergipe é composto por praticamente toda região Nordeste, com destaque para os estados de Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e áreas adjacentes do Norte da Bahia. A maioria dos citricultores comercializa suas frutas via atravessadores e intermediários (algumas são pequenas empresas beneficiadoras), seguidos da indústria de suco, composta por grandes empresas, sediadas nas cidades de Boquim e Estância, e venda direta em mercados e feiras livres. Destaca-se que o suco concentrado de laranja tem na Holanda seu maior consumidor, outros países como Irlanda, Reino Unido, Turquia e Polônia também fazem parte desse mercado (MARTINS et al., 2015).

Em 2011 a produção de citros no Estado de Sergipe era superada apenas pelos Estados de São Paulo e Bahia. Os frutos produzidos em São Paulo são mais ácidos e o suco é preferido para exportação. A laranja sergipana é menos ácida e preferida para o consumo in natura (DINIZ et al., 2011). Mas essa posição vem decaindo. Em 2012 o estado passou a ser o quarto produtor nacional e em 2013 ocupou apenas a quinta colocação (IBGE, 2015).

As causas para essa queda de produção estão relacionadas a dificuldades enfrentadas principalmente com pragas e doenças, afetando os custos de produção, produtores pequenos também alegam baixo preço praticado e falta de investimento (DINIZ et al., 2011). Saturação de mercado, períodos de seca, déficit tecnológico também são fatores que explicam a queda de produção (MARTINS et al., 2015).

Barbosa (2012), em seu estudo que avaliou uma suposta crise no setor em Sergipe, apresenta outros aspectos negativos como dificuldades de comercialização causada pela desorganização de produtores e por cartel de indústrias do estado, falta de apoio institucional, justificado pela deficiência de contribuição de órgãos estaduais que atuam no setor. A autora afirma que o produtor é o elo mais fraco da cadeia, necessitando de mais incentivos relativos à profissionalização para encarar a citricultura como um negócio.

Diante desse quadro e considerando a representatividade econômica e social que os citros representam para o Estado, Diniz (2011) afirma que é de suma importância a revitalização das áreas produtoras existentes e o fomento ao crescimento e a instalação de novos pomares, já que o ambiente é favorável a produção de citros.

Barbosa (2012) concorda com a revitalização, e sugere que o pequeno produtor invista na produção para o consumo de mesa, ou seja, laranja in natura, diversificando a

produção e livrando-se dos atravessadores e da submissão aos preços impostos pelas indústrias. Para isso é necessário organizar-se em associações e cooperativas com a finalidade de melhorar o escoamento da produção e, assim, maximizar os lucros.

No capítulo 3 são apresentados os aspectos metodológicos que guiaram esta pesquisa em busca de resposta à questão de pesquisa proposta.