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A serpente que não pode mudar de pele perece. Assim também os espíritos aos quais se impede que mudem de opinião, eles deixam de ser espírito. (NIETZSCHE, 2008a, p. 283)

Nietzsche tem claro que a sua crítica à metafísica é a crítica também à linguagem conceitual, pois esta tradicionalmente mantém a pretensão de alcançar a verdade objetiva. Sua abordagem sobre as armadilhas da lógica, vai trilhando caminhos mais ásperos e delicados ao longo dos seus escritos. Um dos grandes desafios é tentar se expressar numa linguagem que afirme a vida sem reduzi-la a um conceito ou uma essência imutável. Para isso, o filósofo recorre à linguagem artística, segundo Machado:

Parto do princípio de que, ao escrever Assim falou Zaratustra, Nietzsche não está propriamente interessado em renovar ou modificar os conceitos da filosofia; seu objetivo principal, do ponto de vista da forma de expressão, é libertar a palavra da universalidade do conceito, construindo um pensamento filosófico através da palavra poética, mais do que, como nas outras obras, através do uso do aforismo, do fragmento ou mesmo do ensaio. (MACHADO, 2011, p. 21)

Uma das obras mais lidas e comentadas de Nietzsche é exatamente Assim falou Zaratustra. Lou Andreas-Salomé chama a essa obra de “poema místico” (SALOMÉ,1992 p. 145). Curt Paul Janz, na sua biografia de Nietzsche não só nomeia o Assim falou Zaratustra como “poema didático” como faz uma comparação detalhada com a forma do livro ao de uma “sinfonia”, expressão usada pelo próprio Nietzsche numa carta ao seu amigo Köselitz. Este responde a Nietzsche: “A que categoria pertence seu novo livro? -- Creio quase que às Escrituras sagradas”. (JANZ, 2016, p. 169).

Machado considera o Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, “sua tentativa mais radical de seguir a via da arte para levar a filosofia além ou aquém da pura razão; sua tentativa mais radical de fazer a forma de expressão artística criar a temática filosófica trágica”. (MACHADO, 2011, p. 18).

Zaratustra viveu dez anos na solidão de uma caverna na montanha. Mas “seu coração mudou” (NIETZSCHE, 2014a, p. 11) e quando ele resolve sair da caverna

faz uma saudação ao sol: “Ó grande astro! Que seria da tua felicidade se não tivesses àqueles a quem iluminas?” (Ibdem). Só depois se dirige aos homens usando de muitas metáforas, numa verdadeira linguagem musical, ora clara, ora enigmática. Zaratustra encontrou muita gente na praça pois um equilibrista iria fazer sua apresentação andando numa corda. Ele então se dirige ao povo: “Eu vos ensino o super-homem”, diz. “O homem é algo que deve ser superado. Que fizeste para superá-lo?” (Ibdem, p. 13). Ao final da sua fala, todos riram de Zaratustra porque o interesse comum era ver o equilibrista e não ouvir um discurso. Aproveitando a ocasião da apresentação do equilibrista Zaratustra usa da comparação:

O homem é uma corda, atada entre o animal e o super-homem – uma corda sobre um abismo. Perigosa travessia, perigoso a- caminho, perigoso olhar-para-trás, perigoso arrepiar-se e parar. O que é grande no homem, é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem é que ele um passar e um sucumbir. Amo aqueles que não sabem viver a não ser como os que sucumbem, pois são os que atravessam. Amo os do grande desprezo, porque são os do grande respeito, e dardos da aspiração para a outra margem. (NIETZSCHE, 2014a, p. 16)

Mas quem é o Zaratustra de Nietzsche? Esta é a pergunta que Heidegger se propõe a responder. “Ele é um falador... O falador de Zaratustra é um ‘porta-voz’ (Fürprecher)” (HEIDEGGER, 2006, p. 87). E continua com a explicação dos três sentidos da expressão “porta-voz” na língua de Nietzsche: aquele que “fala diante de”; “a favor de”; e também o sentido de quem “interpreta” e “esclarece” o que foi dito. Para Heidegger, Zaratustra anuncia o super-homem e o eterno retorno do igual. Diz ele: “Uma coisa devemos observar imediatamente: este pensamento que se põe a pensar a figura de um mestre que ensina o super-homem, diz respeito a nós... não somente hoje, mas sobretudo no amanhã” (HEIDEGGER, 2006, p. 92).

No Prólogo do Ecce Homo, Nietzsche chama a atenção para o equívoco de se interpretar o Zaratustra como um livro de algum “fundador de religião”, e diz que “Aí não fala um fanático, aí não se ‘prega’, aí não se exige fé” (NIETZSCHE, 2013a, p. 17). O que é exigido não é mais do que ouvidos atentos. Diferente do que diria um “sábio”, “santo” ou “salvador”, ao retornar pela primeira vez à sua solidão, ele diz aos discípulos:

Agora prossigo só, meus discípulos! E vós também, ide embora sós! Assim o quero. Afastai-vos de mim e defendei-vos contra Zaratustra!

Melhor: envergonhai-vos dele! Talvez ele vos tenha enganado. O homem do conhecimento deve poder não somente amar seus inimigos, como também odiar seus amigos. Retribui-se mal a um mestre, continuando-se sempre apenas aluno. E por que não quereis arrancar louros da minha coroa? Vós me venerais; mas e se um dia vossa veneração desmoronar? Guardai-vos de que não vos esmague uma estátua! Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra! Sois os meus crentes, mas que importam todos os crentes! Ainda não vos havíeis procurado: então me encontrastes. Assim fazem todos os crentes; por isso valem tão pouco todas as crenças. Agora ordeno que me percais e vos encontreis; e somente quando me tiverdes todos renegado retornarei a vós... (NIETZSCHE, 2013a, p. 17s)

Apesar do exagero metafórico em muitas passagens de Assim falou Zaratustra, em que parodia vários textos bíblicos com o uso de parábolas, Nietzsche enfatiza o caráter pedagógico do verdadeiro mestre que ensina o distanciamento ao discípulo para este buscar o seu próprio pensamento original; repudia a idolatria, causadora da dependência e da acomodação; e ordena o afastamento para a autonomia, a busca do si-mesmo como condição para um novo encontro.

Tratando da temática da unicidade do indivíduo em Nietzsche, Duval afirma que “ a ocorrência do existir é não apenas um enigma mas uma possibilidade única”. (DUVAL, 1981, p. 34). A passagem citada acima, de Assim falou Zaratustra, está retomando a metáfora usada por Nietzsche em Schopenhauer como educador, onde afirma que “ninguém pode construir em teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida – ninguém, exceto tu”. (NIETZSCHE, 2007a, p.140). Duval critica Nietzsche porque conclui que a singularidade expressa na sua filosofia segue em outra direção. “O indivíduo se separa dos outros na medida em que deles se distingue. A separação adquire um significado social: o do excepcional e do gênio”. (DUVAL, 1981, p. 37). De fato, a singularidade em Nietzsche aponta para um individualismo preocupante, mas também provoca uma reflexão sobre a radicalidade desta unicidade que somente a experiência da solidão possibilita compreender. “Longe do mercado e da fama habitaram, desde sempre, os inventores de novos valores”. (NIETZSCHE, 2014a, p. 52).

Em relação à educação, Nietzsche apresenta a personagem Zaratustra em constante mudança, pois a concebe não como um ser estático, mas como um ser que, educado pela vida, vai se tornando o que é. Ele faz a experiência da transformação perene. Na primeira parte do livro, nos deparamos com um primeiro discurso intitulado “Das três metamorfoses”:

Três metamorfoses do espírito menciono para vós: de como o espírito se torna camelo, o camelo se torna leão e o leão, por fim, criança... O que é pesado? – Assim pergunta o espírito resistente, e se ajoelha como um camelo e quer ser bem carregado... Todas essas coisas mais que pesadas o espírito resistente toma sobre si: semelhante ao camelo que ruma carregado para o deserto, assim ruma ele para seu deserto. E aí, naquela extrema solidão, produz-se a segunda metamorfose; o espírito torna-se leão. Entende conquistar a sua liberdade e ser o rei do seu próprio deserto... Quer lutar com o grande dragão, e vencê-lo. Qual é este grande dragão a que o espírito já não quer chamar de senhor, nem Deus? O nome do grande dragão é ‘Tu Deves’. Meus irmãos, para que serve o leão do espírito? Não bastará o animal paciente, resignado e respeitador? Criar valores novos – tampouco o leão pode fazer isto; mas criar a liberdade para a nova criação – isso está no poder do leão. Criar liberdade para si e um sagrado Não também ante o dever: para isso meus irmãos, é necessário o leão. Adquirir o direito a valores novos, é a tarefa mais temível para um espírito paciente e laborioso. Em verdade, é para ele uma rapina e coisa de um animal de rapina... Mas dizei-me, porém, irmãos, que pode fazer a criança, que nem o leão pôde fazer? Para que será preciso que o altivo leão tenha de se mudar em criança? Inocência é a criança, e esquecimento; um novo começo, um jogo, uma roda a girar por si mesma, um primeiro movimento, um sagrado dizer-sim. (NIETZSCHE, 2014, p. 27s)

Nietzsche fala da transformação do espírito em camelo, do camelo em leão e deste em criança. É a dinâmica da negação e afirmação dos valores morais, expressão das vivências do filósofo Nietzsche-Zaratustra que passou por essas etapas na sua existência: fora camelo e carregara o peso da moral cristã; como um solitário, metamorfoseou-se no leão e enfrentou o apocalíptico grande dragão do dever a quem soube dizer seu “sagrado Não”; por fim se transmuta numa criança, que é pura inocência e esquecimento, passa a criar novos valores e pode dizer seu “sagrado Sim”. Aqui temos a metáfora do Super-homem e do Eterno retorno do mesmo.

Baseados nessas três metamorfoses apresentadas por Nietzsche, qual o papel de uma educação para o “tornar-se o que se é”? A figura do camelo pode ser compreendida como símbolo do velho homem submetido aos conceitos da metafísica tradicional, incapaz de questionar a validade dos valores transcendentais e que aceita passivamente as determinações das instituições que lhes impõe toda a carga de heteronomia.

Nas três transmutações encontramos, através do camelo, a aceitação do que foi negado; a quebra de todos os valores estabelecidos, a liberdade e a possibilidade

do querer através do leão e, na criança, a criação de novos valores e de uma nova vontade.

O leão representa, nesse caso, a moral dos senhores, pois ele exprime um apreço pelos seus próprios instintos e deseja que os mesmos o controlem, sendo assim senhor do próprio destino; e o “tu-deves” seria a representação da moral dos escravos, por causa da sua intervenção no “eu quero” do animal, sendo assim, o “tu- deves” seria uma tentativa do espírito de subjugar os instintos (“eu quero”) pela razão.

Nessas transmutações existe o desejo de poder se libertar, de seguir o pathós (princípio dionisíaco, que extravasa suas emoções, o que é extravagante), de se tornar livre daquilo que o sufoca, como o camelo. O camelo leva sempre um fardo nas suas costas e por isso tem o desejo de se livrar dele, mas como fará isto? Em Assim falou Zaratustra, ele vai para o deserto achar sua liberdade, e lá ocorre a segunda transmutação, que é a do leão. O leão quer conquistar, ser senhor e dono do seu próprio deserto (quer seguir seus instintos de conquista), e lá torna-se seu próprio inimigo quando diz que quer lutar contra o grande dragão (a razão, a realidade, o racional). O dragão então começa a dizer que os valores já foram criados, ou seja, é uma “verdade absoluta”, e que o valor de todas as coisas resplandece nele. Para Nietzsche, atribuir valores e sentidos depende exclusivamente da capacidade e da potencialização do homem de interpretar as coisas. Assim continua o dragão falando que não deve haver mais nenhum “Eu quero!”. Com isso o leão renuncia aos seus instintos, se recolhe, e então vem a última transmutação que é a da criança, onde Nietzsche diz que é preciso a inocência e o esquecimento para recomeçarmos, e que a partir daí a pessoa pode ver novamente seus instintos fluírem, e dizer sim à sua própria vontade, dizer sim ao mundo que foi perdido.

Essa metáfora representa a liberdade mais significativa do indivíduo, já que o período da infância é o espaço da diversão, da exploração de novos mundos reais ou imaginários, e do desejo da vontade de liberdade: as crianças desejam brincar até o limite da exaustão.

Mas por que a terceira etapa da metamorfose desemboca na inocência de uma criança? Provavelmente porque a criança simboliza o plena abertura, aquilo que está por tornar-se efetivamente. Na imagem da criança temos a possibilidade das experiências originais que nenhuma tábua de valores condicionou ainda. É

plena abertura para a criação, pois os sentidos falam mais alto na criança. A imaginação, os erros e a reparação, o esquecimento, a transformação constante da roda da vida que não para. A criança, tranquila e inocente, é a única capaz de criar novos valores, não só criar, mas também pode continuar com os valores antigos, atualizando-os. Se o camelo a tudo dizia sim, e o leão a tudo dizia não, a criança pode voltar a dizer sim, porém não um sim que ama e venera, mas um sim que é resultado de um olhar atento e simples. Ela gosta de algumas coisas e não gosta de outras, e ainda não tem vergonha nem medo de expressar sua vontade e seu pensamento sendo coerente consigo mesma. Aqui temos a condição de possibilidade do surgimento do novo com a construção de uma nova singularidade baseada na autonomia e na imaginação criadora.

Como já vimos, a grande preocupação de Nietzsche, em se tratando do processo de formação do ser humano, não é com a capacidade racional, conceitual, cognitiva, mas com a vivência (erlebnis) de cada indivíduo para “tornar-se” nesse “eterno retorno do instante” que é a existência na sua intensidade. Neste sentido, Nietzsche nos provoca com seus questionamentos na Genealogia da moral: “Quanto ao mais da vida, as chamadas ‘vivências’, qual de nós pode levá-las a sério? Ou ter tempo para elas?”. Nossa singularidade está situada num determinado contexto social e nesse convívio com os outros somos impactados constantemente pelas influências em que de certo modo nosso “Eu” corre o risco de desaparecer com as demãos de tintas que, pela educação, vão escondendo o que havia de mais livre e original em nós. Após as doze badaladas que nos fazem acordar atônitos, Nietzsche continua questionando: “‘o que foi que vivenciamos?’, e também ‘quem somos realmente?’”. (NIETZSCHE, 2007b, p. 7) “Tornar-se quem se é” significa de certo modo, despir-se dos códigos culturais impregnados em nós e que nos impedem de identificar com clareza esse “quem somos”. Por sermos também frutos de nosso próprio tempo e das circunstâncias, sempre restará em nós algo que não é exatamente nosso?

No poema Saldo, José Paulo Paes assim se expressa: “A torneira seca

(mas pior: a falta de sede). A luz apagada

(mas pior: o gosto do escuro). A porta fechada

(mas pior: a chave por dentro)”.

Ou seja, a expressão “mas pior”, expressa essa ausência de vontade: “a falta de sede”, “o gosto do escuro” e “a chave por dentro”. Isso é a negação da liberdade, a condição fundamental da existência humana. Por isso, Nietzsche afirma: “Nas experiências presentes, receio, estamos sempre ‘ausentes’: nelas não temos nosso coração - para elas não temos ouvidos. Antes, como alguém que divinamente disperso e imerso em si...”. (NIETZSCHE, 2007b, p. 7)

As vivências provocam em nós lembranças e esquecimentos. O vazio da destruição do sentido da vida com o fim dos valores transcendentes provoca mais insegurança ou as novas tábuas de valores poderão nos servir de âncora no porto seguro? Com a doutrina do eterno retorno do mesmo Nietzsche entende a vida como o jogo circular em que a criança brinca e nos convida a brincar a despeito do medo e da insegurança. Segundo Marton:

Falando em favor da vida, do sofrimento e do círculo, Zaratustra, ‘o porta-voz da vida, o porta-voz do sofrimento, o porta-voz do círculo’, aponta a íntima relação entre a vida enquanto vontade de potência, o sofrimento enquanto parte integrante da existência e o círculo enquanto infinita repetição de todas as coisas. Ao interpelar o pensamento do eterno retorno, ele bem sabe que é aquele que tem conhecimento da morte de Deus, que acolhe sem restrição o sofrimento, que afirma que tudo retorna sem cessar. Noções interdependentes, a vida, o sofrimento e o círculo indicam uma única e mesma direção (MARTON, 2016, p. 37)

O “tornar-se o que se é” só pode ser experienciado na sua unicidade como criação e recriação do artista de si que sabe se reinventar. Ser único, autônomo, verdadeiro “espírito livre”, autor da própria obra que precisa ser recriada e superada. Para Nietzsche, reprimir-se significa abrir mão de quem se é, negar a alegria da vida e colocar a mortificação como meio para alcançar a vida num mundo superior.

Temos que entender que só podemos nos tornar quem somos por meio do acúmulo de nossas vivências que são experiências singulares. Às vezes podemos passar por situações difíceis de lidar, por crises existenciais, por desacertos da vida e é justamente nesses momentos que devemos buscar em nós vontade de potência para mudar, e que devemos julgar o que está acontecendo à nossa volta para nos livramos daquilo que nos afunda e que tenta nos impedir de ser quem somos. Entretanto, poucos têm essa habilidade de conhecer a si próprio, e acabam por dar fim à própria vida porque acham que não há saída para o absurdo da existência.

Quando o indivíduo entra em depressão, sua vida toma um rumo totalmente diferente do que se imaginava. Não há pensamentos felizes, nem a percepção clara do mundo à sua volta. A vida se torna turva. É um abraço dado pela solidão em uma pessoa que não escolheu ser abraçada. Em consequência disso pode vir a ocorrer a tragédia que está sempre no horizonte brutalizado da existência, ou esvaziado de sentido, que é o suicídio.

Permitir-se viver as mais diversas experiências possíveis, antes que seja tarde demais, faz parte do processo de concretização do Super-homem, que é fruto da descoberta da vontade de potência, imanente em cada indivíduo. Qual o papel da educação no fortalecimento ou empoderamento de crianças fragilizadas, numa sociedade em que predominam interesses egoístas e preconceitos?

A educação para o “tornar-se o que se é” precisa trabalhar a vontade de vida, a autoafirmação, para as crianças e os jovens enfrentarem as adversidades com segurança e serenidade. Que os estudantes não cresçam com medo da vida, mas criem suas armas de combate no enfrentamento aos preconceitos de classe, de etnia e de gênero. Que aprendam a viver a autenticidade e evitem viver na mediocridade do que Martin Heidegger chama de mundo do “man”, expressão alemã equivalente à partícula “se” da língua portuguesa, o espaço do inautêntico: vive-se, come-se, bebe-se, transa-se, cheira-se como todos o fazem. É preciso uma educação para a originalidade de ideias, projetos e ações. Em praticamente todos os campus dos Institutos Federais e Universidades Federais há Núcleos de Gênero e Diversidade, assim como os Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, que promovem reflexões e debates sobre a realidade de mulheres, homossexuais, transgêneros, negros, negras e indígenas dentre outros, em diálogo permanente com movimentos sociais e grupos de “Mães pela diversidade”, que estão organizados em muitos municípios brasileiros. Os eventos promovidos pelos membros dos Núcleos, educadores e estudantes, fazem parte do processo formativo que possibilita uma leitura da vida de forma mais crítica. Orienta a pesquisa e o debate sobre os números da violência física e simbólica contra mulheres, indígenas, transexuais, jovens negros e pobres. Ajuda o estudante na sua auto compreensão, na partilha das vivências e dos sofrimentos, conquistas e alegrias. Provoca o sair de si para entender a alteridade com pessoas tão próximas e tão distantes devido aos preconceitos disseminados pelos outros espaços formativos como a religião e os meios de comunicação social. A educação para o “tornar-se o que se é” já está

sendo vivenciada em muitos espaços de educação: nas famílias que acolhem e respeitam as diferenças e a diversidade entre seus membros; nas escolas, institutos e universidades que trabalham na perspectiva da auto formação e da inclusão social possibilitando pesquisas, debates e acolhida das pessoas em situação de fragilidade emocional e social.

3.4 A ARTE E A FORMAÇÃO DO ÜBERMENSCH: O CASO DA EXPERIÊNCIA

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