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6.1 EFEITOS DO CHÁ MATE EM MARCADORES DO DANO

6.1.2 Aldolase sérica

O consumo de chá mate afetou positivamente a atividade da aldolase no soro antes e após o dano muscular excêntrico. No momento pré-dano, a atividade da enzima foi significativamente menor (P < 0,001) nos indivíduos do grupo chá mate, comparado ao controle, e o tamanho desse efeito foi forte (δ = -0,57). Além disto, a eficiência do chá mate em prevenir o aumento na atividade da aldolase em 24 h após o dano foi significativa (P < 0,001) e o tamanho desse efeito foi forte (δ = -0,71). Após o primeiro dia de recuperação, a eficácia do chá mate na atividade da aldolase foi atenuada, contudo, o tamanho do efeito da suplementação permaneceu médio (δ = -0,39 e δ = -0,36, em 48 e 72 h, respectivamente). Vale ressaltar que o chá mate não impediu mudança significativa na atividade sérica da aldolase após o dano, porém, parece ter postergado essa resposta de 24 h para 48 h pós-esforço (Tabela 9 e Apêndice H13). Em conjunto, esses resultados indicam que o consumo de chá mate influenciou a magnitude e o decurso da resposta da aldolase associada ao dano muscular excêntrico.

Estas são as primeiras evidências de que a ingestão regular de chá mate pode diminuir a atividade sérica de proteína citosólica, em repouso e sob a condição de dano muscular excêntrico, o que concorda parcialmente com os achados de Oliveira et al. (2014). Nesse estudo, o consumo de chá mate (5 g em 400 mL por dia), 1 h antes de um teste incremental em esteira até a exaustão, preveniu o aumento na

concentração da AST e diminuiu o ∆ ALT na circulação após o exercício, em atletas de futebol. Os relatos quanto ao potencial da erva mate em modular as respostas ao exercício de marcadores sanguíneos do dano muscular são ainda escassos. Não obstante, os benefícios observados neste estudo, bem como no de De Oliveira et al. (2014), estão de acordo com outras pesquisas que suplementaram bebidas/extratos ricos em fitoquímicos em associação ao exercício (PANZA et al., 2008; FUNES et al., 2011). Por exemplo, o consumo de chá verde (2 g de folhas em 200 mL, 3x/dia, por sete dias) atenuou o aumento na atividade sérica da AST em 1 e 15 min após um protocolo de exercício contrarresistência. Os valores da enzima no pré-exercício foram também diminuídos com a suplementação (PANZA et al., 2008).

Em seres humanos, a aldolase é expressa em três isoformas, A, B e C, que ocorrem predominantemente no músculo esquelético, no fígado e no cérebro, respectivamente (LEBHERZ; RUTTER, 1969; ASAKA; ALPERT, 1983). Infelizmente, o método empregado para a determinação da aldolase neste estudo, não possibilitou a identificação de isoformas da enzima nas amostras analisadas. Contudo, ressalta-se que o músculo parece ser a principal fonte contribuinte na resposta sérica da aldolase ao exercício (NOAKES, 1987), o que, portanto, sugere que os benefícios do chá mate, após o exercício excêntrico, ocorreram principalmente nos músculos que sofreram o dano. Além disso, o consumo de chá mate diminuiu a atividade sérica da aldolase independentemente do dano muscular (i.e. no momento PRÉ), o que não descarta a ideia de que membranas de outros tipos celulares, além da fibra muscular, possam ter sido beneficiadas com o consumo de chá mate.

No músculo esquelético, a aldolase é encontrada na banda-I do sarcômero, onde está, em considerável proporção, fortemente ligada a filamentos que contém actina (i.e. filamentos de actina F— tropomiosina—troponina) (ARNOLD; PETTE CLARKE, 1968; MASTERS, 1975; WALSH et al., 1980). A existência na aldolase de vários sítios de ligação reversível para proteínas estruturais permite a formação de ligações cruzadas entre os filamentos contendo actina, levando à formação de feixes altamente ordenados na ultraestrutura sarcomérica (STEWART; MORTON; CLARKE et al., 1980). Apesar da estreita relação da aldolase com proteínas miofibrilares, atualmente, a atividade sérica dessa enzima não é amplamente utilizada como marcador do dano muscular induzido pelo exercício (BRANCACCIO et al. 2010), sobretudo quando comparada à creatina quinase. Entretanto, Kanda et al. (2014) propuseram que atividade sérica da aldolase, e não

somente a da creatina quinase, pode representar um indicador do dano muscular induzido pelo exercício mais confiável do que outras enzimas citosólicas comumente estudadas. Os autores observaram que a atividade da aldolase no soro foi fortemente associada (r = 0,78; P < 0,050) com a sensibilidade muscular — um indicador de dano muscular – 72 h pós-exercício excêntrico (10 séries de 40 repetições com os músculos extensores do tornozelo), quando a atividade da aldolase havia se tornado significativamente maior que no pré-esforço.

Concordando com as observações de Kanda et al. (2014), nossos resultados sugeriram que mudanças na atividade sérica da aldolase podem refletir, ao menos em parte, alterações na função muscular após o dano muscular excêntrico. Neste sentido, destaca-se que, em ambos os grupos, associações inversas moderadas ocorreram entre a recuperação da força muscular e a variação na atividade sérica da aldolase em períodos no pós-dano nos quais a resposta da enzima foi significativa, isto é, período PRÉ-48 h, nos indivíduos do grupo chá mate, e PRÉ-24 h, nos indivíduos do grupo controle (Tabela 9 e Quadros 3-5). Por exemplo, no grupo chá mate, o déficit imediato na força isométrica foi associado com a variação na atividade sérica da aldolase entre PRÉ-48 h (r = -0,47; P = 0,048). No grupo controle, associação foi observada entre o déficit imediato na força excêntrica e a variação na atividade sérica da aldolase entre PRÉ-24 h (r = -0,64; P = 0,005).

É interessante notar que, nos indivíduos do grupo controle, a variação na atividade sérica da aldolase no período PRÉ-24 h foi moderadamente associada com a recuperação na força concêntrica nos períodos PRÉ-24 h (r = -0,54; P = 0,019) e 0-24 h (r = -0,56; P = 0,016) pós-dano. Vale lembrar que, nesses indivíduos, o pico de torque concêntrico entre 0-24 h pós-dano teve uma nova queda de, aproximadamente, 10% (Figura 13B e Apêndice H7). Juntos, esses resultados reforçam a ideia de que a resposta sérica da aldolase, nesse período, estaria em parte associada à ocorrência de danos secundários (FAULKNER; BROOKS; OPITECK, 1993), o que poderia indicar que um efeito favorável do chá mate na permeabilidade da membrana celular no primeiro dia após o dano muscular (PAULSEN et al., 2005) foi alinhado com os benefícios da suplementação na recuperação da força muscular.

Embora tenha mostrado variações significativas, em ambos os grupos, a resposta sérica da aldolase ao dano muscular excêntrico apresentou um decurso diverso do observado em outros estudos, onde aumentos significativos na atividade sérica da aldolase ocorreram principalmente entre 72 a 96 h após o dano (NOSAKA; CLARKSON,

1996; RA et al., 2013; KANDA et al., 2014). Contudo, as diferenças no padrão das respostas da aldolase após o exercício podem estar relacionadas a diferentes fatores, incluindo variabilidade individual (CANTONE; CERRETELLI, 1960; NOAKES, 1987; NOSAKA; CLARKSON, 1996).

Nosaka e Clarkson (1996) relataram que, nos indivíduos mais responsivos, as atividades das enzimas aldolase, creatina quinase, AST e lactato desidrogenase após o exercício excêntrico (24 ações musculares máximas com os músculos flexores do cotovelo) mostraram similares decursos nas mudanças no soro, com atividades máximas entre 72-96 h pós-esforço. Segundo os autores, a atividade da aldolase, nesses indivíduos, alcançou valores 20 vezes maiores em relação ao pré- exercício, enquanto para a creatina quinase este aumento foi de 100 vezes. No presente estudo, os valores mais elevados da aldolase após o dano muscular ocorreram em dois indivíduos do grupo controle e variaram de 8,5 a 14 vezes, comparado ao pré-dano. Nos demais 18 participantes, os valores da enzima no pós-dano foram três vezes menores que no pré-dano. Portanto, esses resultados sugerem que, em nosso estudo, os indivíduos foram pouco responsivos quanto à atividade da aldolase, o que poderia em parte explicar a variabilidade interindividual, assim como a observação de diferentes respostas da enzima entre este e outros estudos (NOSAKA; CLARKSON, 1996; RA et al., 2013; KANDA et al., 2014).

Não obstante, na pesquisa de Kanda et al. (2014) mencionada anteriormente, ao contrário da creatina quinase, a variabilidade interindividual na resposta da atividade da aldolase no soro após o exercício excêntrico mostrou ser menor, em comparação às enzimas creatina quinase, lactato desidrogenase, AST e ALT. Em concordância com esses achados, no presente estudo, a variabilidade interindividual na atividade aldolase foi menor, em ambos os grupos de tratamento (CVs = 39,4—75,5% e 60,1—108,7%, no chá mate e controle, respectivamente), em comparação à creatina quinase. Portanto, em conjunto, nossos achados parecem apoiar a ideia de que a medida da atividade sérica da aldolase pode ser um bom indicador sanguíneo do dano muscular (KANDA et al., 2014), o que, aparentemente, foi mais evidenciado com o consumo de chá mate.