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De modo similar a outros tipos de exercícios (PEDERSEN; HOFFMAN-GOETZ, 2000), o exercício excêntrico pode causar diversas alterações sistêmicas transitórias, incluindo: aumento no tráfego de leucócitos no sangue (leucocitose), elevação nas concentrações plasmáticas de proteínas da inflamação e ativação de neutrófilos e monócitos circulantes (PIZZA et al., 1996; SAXTON et al., 2003; PAULSEN et al., 2005).

Vários dos mediadores liberados na circulação após o exercício excêntrico podem atuar no controle da inflamação local e na restrição da inflamação sistêmica por meio, por exemplo, da regulação na síntese de citocinas pró-inflamatórias e do estímulo à produção de proteínas anti- inflamatórias ou, ainda, da modulação na adesão e migração de células fagocitárias (PYNE, 1994; PEAKE et al., 2004; PAULSEN et al., 2005). Portanto, é importante considerar que as alterações inflamatórias sistêmicas, verificadas no pós-esforço excêntrico, podem não refletir claramente a natureza e a intensidade das respostas inflamatórias locais (NOSAKA; SUZUKI, PEAKE, 2005; PEAKE et al. 2006), embora possam estar associadas a esses fatores (PAULSEN et al., 2005).

A leucocitose após o exercício excêntrico reflete principalmente o aumento no número de neutrófilos, seguido de monócitos e de alguns subtipos de linfócitos (PIZZA et al., 1995; MALM et al., 2004). Um aspecto da leucocitose observado com frequência é o padrão bifásico de resposta, com uma segunda e sustentada elevação no número de neutrófilos e de monócitos, que geralmente se inicia dentro de 1-3 h pós- exercício (McCARTHY et al., 1992; SAXTON et al., 2003; PAULSEN et al., 2005).

A leucocitose imediata ao exercício decorre principalmente da demarginação de neutrófilos segmentados (maduros) e de monócitos aderidos ao endotélio vascular, mediada pelo estresse hemodinâmico e por catecolaminas (McCARTHY et al., 1992; WALSH et al., 2011). O aumento no número de linfócitos circulantes pode ser também observado nessa situação (MALM et al., 2004). A leucocitose secundária (tardia) resulta primariamente da liberação de neutrófilos em bastão da medula óssea (SUZUKI et al., 1999a; YAMADA et al., 2002), e sua ocorrência tem sido relacionada ao aumento na concentração plasmática de fatores humorais (i.e. cortisol, IL-6, IL-8, G-CSF e componente do complemento C5a) (McCARTHY et al., 1992; YAMADA et al., 2002; PAULSEN et al., 2005). O retorno da concentração de neutrófilos aos valores basais tem sido frequentemente observado dentro de 24 h após o exercício excêntrico (PIZZA et al., 1995; PIZZA; BAYLIES; MITCHELL, 2001; PAULSEN et al., 2005; PEAKE et al., 2006). No entanto, elevações adicionais foram verificadas entre 24, 48 e 96 h pós-esforço (PIZZA et al., 1996; MILIAS et al., 2005). A neutrofilia tardia após sessão de exercício excêntrico parece ser atenuada com a repetição do esforço em dias subsequentes (PIZZA et al., 1996), o que sugere que este tipo de resposta esteja em parte associada à magnitude do dano muscular (PALSEN et al., 2005).

A elevação no potencial para adesão e respostas efetoras de neutrófilos e monócitos no sangue tem sido observada no período de 24- 96 h pós-exercício excêntrico (CAMUS et al., 1992; PIZZA et al., 1996), sugerindo o recrutamento e a ativação dessas células para atuarem nos processos de inflamação e reparação de dano muscular. No entanto, em estudo de Saxton et al. (2003), a verificação de aumento na intensidade da fagocitose e do burst oxidativo por neutrófilos e monócitos circulantes, não acompanhados de mudanças em marcadores sanguíneos de dano muscular, levou à proposta de que as respostas funcionais de leucócitos após o exercício excêntrico sejam influenciadas pelo estresse sistêmico (i.e. demanda cardiovascular e metabólica) imposto pelo esforço, mas não por dano muscular.

Mudanças na expressão da integrina β2 na superfície de neutrófilos e de monócitos circulantes foram observadas no pós- exercício excêntrico (MALM; LENKEI; SJÖDIN, 1999; PIZZA et al., 1996). A expressão de CD11b em neutrófilos aumentou 24-96 h após ações musculares excêntricas intensas. Em monócitos, essa alteração ocorreu somente 24 h pós-esforço, ao passo que a expressão de CD18 elevou-se 72 e 96 h depois do exercício (PIZZA et al., 1996). Em conjunto, esses resultados sugerem que, além da Mac-1, outras integrinas β2 (i.e. CD11a, CD11c e CD11d/CD18) são recrutadas em fagócitos após o esforço excêntrico. Contudo, a ausência de alterações na expressão da integrina β2 relatada em outros estudos (PEAKE et al., 2005a; SAXTON et al., 2003) indica que as respostas de neutrófilos e monócitos ao exercício podem ser influenciadas pelo protocolo do esforço empregado.

As associações entre as respostas sistêmicas de citocinas pró e anti-inflamatórias e o dano muscular excêntrico nem sempre se manifestam claramente e parecem, também, depender do tipo do esforço, além do nível de treinamento individual e do momento da coleta sanguínea (SMITH et al., 2000; HIROSE et al., 2004; PEAKE et al., 2005b; 2006). Além do músculo danificado, liberação de citocinas por outras fontes (i.e. fígado e linfonodos) e/ou a sua remoção do plasma (i.e. clearance renal e retenção em linfonodos) podem influenciar o pool circulante de citocinas durante a recuperação (CANNON et al., 1991; PYNE, 1994; SMITH et al., 2000).

Nas primeiras horas subsequentes ao exercício excêntrico, os padrões de resposta de IL-1β, TNF-α e IL-6, por exemplo, têm variado entre os estudos, o que dificulta a interpretação dos achados (HIROSE et al., 2004; MICHAILIDIS et al., 2013). Contudo, no período de 24-96 h pós-esforço, os relatos de aumento nas concentrações circulante de IL- 1β, TNF-α e/ou IL-6 (SMITH et al., 2000; SILVA et al., 2010; MICHAILIDIS, et al., 2013) parecem estar em conformidade com o envolvimento destas citocinas coma degradação protéica e regeneração muscular (CANNON et al., 1991; FIELDING et al., 1993; LI et al., 2003). Por outro lado, a diminuição ou não alteração nas concentrações circulantes de IL-1β e TNF-α, 24-96 h pós-exercício, concomitante ao aumento de IL-6 e IL-10 (SMITH et al., 2000; MICHAILIDIS, et al., 2013), podem ser em parte associados ao efeito anti-inflamatório mediado pela IL-6 (PEDERSEN; PEDERSEN, 2006).

O aumento na concentração circulante de proteínas de fase aguda, tal como a proteína C-reativa, após o exercício excêntrico (PAULSEN et

al., 2005; MICHAILIDIS, et al., 2013), sugere sua participação no controle da inflamação induzida pelo dano muscular (PAULSEN et al., 2005). A PCR exerce efeitos pró-inflamatórios e anti-inflamatórios (para revisão: BLACK; KUSHNER; SAMOLS, 2004), como, por exemplo, estimular a liberação de IL-1β, bem como de IL-1ra por células monucleares circulantes (TILG et al., 1993).