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6.3 EFEITOS DO CHÁ MATE EM MARCADORES SANGUÍNEOS

6.3.1 Status de glutationa

O estado redox do sistema glutationa no sangue foi favoravelmente influenciado pelo consumo de chá mate antes e durante a recuperação do dano muscular (efeito do tratamento P = 0,027; Figura 16). A suplementação teve um tamanho do efeito médio sobre a razão GSH/GSSG antes (d = 0,61) e em 24 h (d = 0,62) e 72 h (d = 0,68) pós- dano. Esses resultados parecem ter sido particularmente associados aos

tamanhos do efeitos grandes do chá mate na concentração sanguínea de GSH, antes (d = 1,08) e após o dano (d = 0,91 e d = 1,13, em 48 e 72 h, respectivamente), uma vez que os valores relativos e absolutos de GSSG não foram diferentes entre os grupos ao longo do tempo.

Juntos, esses achados concordam com os potenciais benefícios do consumo de chá mate na expressão/atividade de componentes enzimáticos do sistema glutationa (MATSUMOTO et al., 2009; JI et al., 2013), o que pode, portanto, ter favorecido, a conversão muscular de GSSG à GSH (LEEUWENBURGH; JI, 1995). Além disto, a redução de peróxidos lipídicos mediada por constituintes antioxidantes do chá mate (SILVA et al., 2008; MATSUMOTO et al., 2009) pode ter resultado em efeito poupador de GSH (BURKITT; DUNCAN, 2000; JI et al., 2013). Ademais, o consumo de chá mate pode ter favorecido a produção hepática de GSH. Em estudo com animais, o ácido 5-cafeoilquínico reverteu a diminuição no conteúdo de GSH bem como na expressão/atividade hepática da glutationa redutase e da glutamato- cisteína ligase — enzimas chaves na síntese de novo da GSH —, em situação de severo dano tecidual (JI et al., 2013). Vale lembrar que o ácido 5-cafeoilquínico foi o ácido fenólico da família do ácido clorogênico quantitativamente mais importante no chá mate consumido pelos participantes do estudo (Tabela 1).

Apesar da razão GSH/GSSG não ter sido alterada significativamente durante o período de recuperação, o consumo de chá mate preveniu a variação negativa de 6,4% na concentração de GSH em 72 h, em relação ao pré-dano (P = 0,016) (Apêndice H19). Embora as evidências de desequilíbrios redox possam ser encontradas no sangue por vários dias após o dano muscular excêntrico (PASCHALIS et al., 2007; GOLDFARB et al., 2011; MICHAILIDIS et al., 2013), poucos são os relatos quanto ao efeito do consumo de alimentos ricos em fitoquímicos no status de glutationa sanguínea pós-dano excêntrico (GOLDFARB et al., 2011). De forma semelhante ao presente estudo, Goldfarb et al. (2011) relataram que a suplementação com concentrado de vegetais e frutas vermelhas preveniu a elevação significativa na razão GSSG/GSH total em 6 h após o dano muscular excêntrico.

Ainda que as variações significativas no estado antioxidante do sangue possam não necessariamente refletir as alterações redox nos tecidos (ARGÜELLE et al., 2004; GOLDFARB et al., 2011), no presente estudo, correlações significativas foram observadas entre a força muscular e a concentração de GSH ou da razão GSH/GSSG no sangue, em ambos os grupos (Quadros 3-5). Portanto, é razoável pensar que, nos indivíduos estudados, o status de glutationa sanguínea tenha

influenciado a dinâmica redox no músculo esquelético ou vice-versa (JI; FU, 1992; LEEUWENBURGH; JI, 1995).

Em apoio a essa hipótese, por exemplo, observou-se que, no grupo chá mate, após a recuperação significativa no pico de torque isométrico no período 0-24 h pós-dano (P < 0,001), o tamanho do efeito do tratamento sobre a concentração sanguínea de GSH diminuiu consideravelmente em 24 h (d = 0,36), em comparação ao pré-dano (d = 1,08) (Apêndice H18), sugerindo, assim, um efetivo consumo muscular de tiol circulante (JI; FU, 1992; LEEUWENBURGH; JI, 1995; NIKOLAIDIS et al., 2007). Nesse contexto, vale salientar ainda que, em 24 h após o dano muscular, os valores absolutos da força isométrica foram inversamente associada à concentração de GSH, no grupo chá mate (r = -0,50; P = 0,035). Nos indivíduos do grupo controle, de modo similar, uma associação inversa foi observada entre os valores da força concêntrica e a concentração de GSH no sangue em 24 h (r = -0,51; P = 0,037) (Quadro 4). Portanto, em conjunto, esses resultados sugerem que, independente do tratamento, a recuperação na força muscular no primeiro dia após o dano muscular excêntrico foi associada à efetiva utilização de GSH no sangue (NIKOLAIDIS et al., 2007; PASCHALIS et al., 2007).

Importa lembrar ainda que, no grupo chá mate, associações inversas foram observadas entre os valores absolutos das forças isométrica, concêntrica e excêntrica em 0 h e a concentração de GSH em 24 h pós-dano (r = -0,54; P = 0,022; r = -0,71; P = 0,001 e r = -0,55; P = 0,019, respectivamente). Além disso, neste grupo, os valores da força excêntrica em 0 h foram também associada com a concentração de GSH em 48 h (r = -0,50; P = 0,033) e em 72 h (r = -0,76; P < 0,001) pós- esforço. Juntas, essas associações indicam resposta positiva na concentração de GSH no sangue (LEEUWENBURGH; JI, 1995) ao longo da recuperação proporcionalmente à magnitude do dano muscular inicial. De forma semelhante, no grupo controle, uma associação inversa ocorreu entre os valores absolutos da força concêntrica em 0 h e a concentração de GSH em 24 h (r = -0,67; P = 0,033). No entanto, Nikolaidis et al. (2007) relataram correlação direta entre o percentual de redução no pico de torque isométrico nos músculos flexores do joelho imediatamente após cinco séries de 15 ações musculares excêntricas máximas e o percentual de diminuição na concentração de GSH no sangue em 72 h em relação ao pré-esforço (r = 0,61; P < 0,05). Portanto, com base nas observações de Nikolaidis et al., (2007), é possível que, no presente estudo, as associações entre a força muscular logo após o dano e a concentração de GSH no sangue além de 24 h pós-dano, nos

indivíduos do grupo controle, tenham refletido consumo de tiol sanguíneo. Isso concordaria com a observação de que, nesse grupo, em 72 h após o dano, a concentração sanguínea de GSH diminuiu significativamente, em relação a 24 h (P = 0,022) (Figura 16 e Apêndice H18).

Em conjunto, nossos resultados sugerem uma resposta positiva na concentração de GSH no sangue (LEEUWENBURGH; JI, 1995) após o dano muscular excêntrico, na proporção da magnitude do dano inicial; resposta esta que parece ter sido mais eficientemente sustentada ao longo da recuperação somente com o consumo de chá mate.

Importa salientar também que, nos participantes que consumiram chá mate, apenas uma única e forte associação foi observada entre a recuperação da força muscular (excêntrica) e a variação na razão GSH/GSSG (período 48-72 h pós-dano; r = -0,73; P < 0,001) (Quadro 5). Isto sugere que o potencial redox do sangue, desses indivíduos, não foi consideravelmente influenciado pela recuperação na força até 48 h pós-dano, apesar das associações inversas entre a força muscular e a concentração de GSH no sangue, em especial no primeiro dia após o dano (Quadros 3-5). Não obstante, nesse grupo, os valores de GSH e da razão GSH/GSSG não se alteraram significativamente até o terceiro dia (Figuras 16 e 18 e Apêndices H18 e H24).

Portanto, conclui-se que as associações entre a força muscular e as concentrações de GSH no sangue e fenóis totais no plasma, observadas neste estudo, indicam que o consumo de chá mate influenciou positivamente as relações entre as alterações na função muscular e as respostas de antioxidantes (endógenos e dietéticos) na circulação induzidas pelo dano muscular excêntrico.

6.3.2 Hidroperóxidos lipídicos e carbonilas protéicas no plasma