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o alemão era ensinado nas escolas em

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imagem30. Incêndio de Paris, um esforço para im pedir o avanço das tropas governamentais na cidade, maio de 1871. Entre os edifícios destruídos estão 0 Palácio das Tulherias e 0 Hôtel-de-Ville. Museu Car­ navalet. Foto: Museu da Cidade de Paris © SPADEM.

As características do novo regime ainda não estavam assentadas. Nele, teria continuidade a luta entre 0 “partido da ordem” - comprometido com uma sociedade hierárquica, com a descentralização do governo, com 0 reg im e monárquico e determinado com a résistance (resistência) à mudan­ ça - e os partidários do mouvement (movimento), a favor de um governo representativo e “maior justiça social”. Assim que a ameaça da extrema-es­ querda foi dissipada, pelo menos momentaneamente, os republicanos mo­ derados conseguiram distanciar-se mais uma vez dos monarquistas, seus aliados temporários. Mais uma vez, os grandes mitos de 1789 voltaram a ser pontos essenciais de referência e base de duas culturas políticas opostas.

'/ks eleições realizadas em fevereiro de 1871 resultaram em uma assembleia

cuja maioria (cerca de 400 dos 645) favorecia o estabelecimento de um tipo de monarquia constitucional. Eles fizeram alguns progressos. Assim, em maio de 1873, Thièrs - cujo governo sufocou a comuna, garantiu a retirada das forças de ocupação alemãs mediante 0 pagamento de uma indeniza­ ção de 5 bilhões de francos e iniciou a tarefa urgente de reorganização do Exército - foi substituído por monarquistas mais comprometidos, assim

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o marechal MacMahon passou a ser o presidente e o duque de Broglie, o primeiro-ministro. O erro de Thiers foi mostrar-se cada vez mais solidá­ rio com a noção de uma República conservadora como “o regime que nos divide menos”. Mais uma vez, porém, como em 1850, os monarquistas des­ perdiçaram a oportunidade e não conseguiram realizar uma restauração; O candidato óbvio para o trono, o neto de Carlos X, conde de Cham- bord, estava exilado na Áustria e não tinha qualquer contato com os eventos na França, mas continuava insistindo na substituição da bandeira trico­ lor, “emblema da revolução”, pela bandeira branca com a flor de lis da antiga monarquia. Ele era apoiado por cerca de 100 deputados legalistas da Assem­ bleia Nacional; a oposição vinha das duas centenas de orleanistas que, sem dúvida, aceitavam uma política conservadora, mas sentiam-se desconfortá- veis com as formas mais extremas de devoção legalista ao trono e ao altar. Perante essa intransigência, os líderes monarquistas foram forçados a adiar o arranjo constitucional e decidiram esperar até a morte de Chambord, que não possuía filhos. A sucessão seria, em seguida, passada legitimamente para a casa de Orléans, assegurando, esperava-se, a fusão natural dos grupos mo­ narquistas beligerantes. Nesse meio-tempo, com a assistência da Igreja, eles estavam resolvidos a estabelecer um regime dedicado a restabelecer a ordem moral. A França precisava expiar os pecados que fizeram que Deus infli­ gisse a derrota militar de seus exércitos.p renjscimento religioso - simb<> lizado pela construção de uma basílica dedicada ao Sacré Coeur (Sagrado ; Coração) que dominava o horizonte parisiense - era também um modo de (persuadir as pessoas a aceitarem suas posições na sociedade, pois estas ha- viam sido ordenadas por Deus. Durante esses primeiros anos da Terceira República, mais do que o monarquismo, foi a defesa da religião gue ofereceu coesão e um sentimento de propósito para os conservadores./

'Em contraste, para muitos dos 150 republicanos eleitos em 1871, o an- ticlericalismo, juntamente com a determinação fundamental em defender a República, oferecia um sentimento de unidade. Significativamente, não houve retorno à atividade clandestina, mesmo nas circunstâncias repres­ sivas do início dos anos 1870. Apesar de interrompida pela comuna, con­ tinuava também a institucionalização do protesto político. Os porta-vozes dos republicanos insistiam em seu próprio compromisso com a atividade política jurídica e esforçavam-se para dissociar a República da revolução. Além disso, afirmaram que os conservadores ameaçaram a ordem social, planejando não somente a restauração da monarquia, mas também o res­ tabelecimento dos privilégios da nobreza e o dízimo A legava-se também

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que os monarquistas conduziriam a França para outra guerra desastrosa, projetada para restaurar o poder temporal do papa. Desse modo, para eles, os verdadeiros defensores da ordem social eram os republicanos. Até mesmo os radicais minimizaram a questão da reforma socialms circunstâncias mais prósperas da década de 1870 os encorajaram a substituir a conclamação an­ terior aos Petits (pequenos) contraos Gros (grandes) e preocuparem-se com os interesses daqueles que Gambetta agora rotulava de couches nouvelles (nova camada social): a classe média baixa de proprietários e os campone­ ses. Essas políticas teriam um crescente sucesso eleitoral. A composição da assembleia mudaria rapidamente por meio das eleições intercalares. Já em julho de 1871, quando as eleições foram realizadas em 114 zonas eleitorais, mais 100 republicanos foram eleitos; isso indicava as circunstâncias pecu­ liares da eleição de fevereiro e também o apelo real causado pela República conservadora de Thiers que, afinal de contas, conseguiu sufocar a Comuna de Paris. Em janeiro de 1875, o conservador católico Henri Wallon conseguiu apoio suficiente para uma emenda constitucional em favor do estabeleci­ mento definitivo da República.;

f/A Constituição daquele ano tentou evitar o erro de 1848, garantindo

que o presidente fosse eleito pelo Parlamento e não por voto popular. No rescaldo da comuna, ele receberia um poder Executivo considerável, mas na prática a Câmara dos Deputados, cada vez mais dominada pelos republi­ canos, persistiria em sua própria supremacia./O principal cargo do governo seria o président du conseil (primeiro-ministro), o qual estaria subordi­ nado ao Parlamento. As eleições gerais de 1876 levaram 340 republicanos para a Câmara dos Deputados, eleitos especialmente no Leste e Sudeste, ao lado de 155 monarquistas das zonas rurais do Oeste e Noroeste. Cerca de metade deles era bonapartista, eleita principalmente pelo Sudoeste; eles representavam um renascimento iniciado em .1873, que somente acabaria com a morte fútil do príncipe imperial, em 1879, enquanto lutava com o Exército britânico na Guerra Anglo-Zulu. Nessas circunstâncias, não havia mais como adiar o confronto final entre os deputados republicanos que estavam cada vez mais confiantes e o presidente monarquista da República. Em maio de 1877, após receber um voto de desconfiança, MacMahon dis­ solveu a câmara. Em outubro, apesar do retorno a um regime bonapartista de pressão administrativa, o eleitorado elegeu 321 deputados republicanos e apenas 208 monarquistas. MacMahon foi obrigado a convidar Jules Du- faure, um republicano moderado, para formar o governo. Mas a coabitação foi um fracasso e quando os delegados das comunas, em janeiro de 1879,

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elegeram uma maioria republicana para o Senado, MacMahon finalmente aceitou que sua posição era insustentável.-

%ão há como explicar a triunfante vitória republicana em termos so­ ciológicos simples. Havia divisões ideológicas dentro das divisões de classe. .Certamente, elas pareciam indicar o fim dos notáveis - “lafin des notábles” (D. Halévy) -, a derrota da elite social tradicional, que era composta princi­ palmente por nobres e não nobres proprietários de terras, mas que também incluía muitos comerciantes e profissionais ricos, bem como aqueles com in­ teresses mistos, tais como o duque Elie Decazes, envolvido em finanças e exploração de minas, ou o duque de Bro^lie, presidente da empresa Saint-

-Gobain de vidros e produtos químicosTNo entanto, uma grande parte das elites econômicas passou a favorecer a República conservadora, incluindo financistas como Henri Germain ou proprietários de siderurgias, tais como Jacques Dorian e Pierre Magnin, deputados do Loire e de Côte d’Or, respecti­ vamente. A mesma opinião tinha muitos outros negociantes e profissionais com influência local e em contato relativamente estreito com um grande eleitorado (a nova camada social conclamada por Gambetta, em 1872, em um discurso feito em Auxerre), que já tinha atingido um nível significativo de consciência política e que, cada vez mais, acreditava que suas aspirações materiais e sociais seriam mais bem servidas por uma República.;

Ápós a resignação de MacMahon houve um longo período de governo republicano conservador até 1898JÉmbora as rápidas mudanças de alian­ ças parlamentares.e as repetidas crises ministeriais dessa época refletissem i a fragmentação da autoridade, elas não devem obscurecer essa realidade básica. No início, introduziu-se um programa concebido para estabelecer firmemente um sistema político democrático e liberal que representasse, independentemente de suas deficiências, a grande afirmação da liberda­ de individual. Na ausência da organização moderna de partidos, a unidade e o sentimento de finalidade dos republicanos moderados circulavam por meio de redes informais, comissões eleitorais e jornais que apresentavam uma ideologia simples, associando a República ao progresso ilimitado da liberdade e do bem-estar material. As restrições sobre a imprensa, reuniões públicas e ao direito de criar associações, incluindo sindicatos, diminuí­ ram (Leis de 29 de janeiro e 30 de junho de 1881 e 28 de março de 1884, respectivamente) e havia menos políticas repressivas em relação às greves. ./Assim como seus antecessores, uma vez no poder, os republicanos abando­

naram os planos de descentralização governamental, e, com efeito, a admi­ nistração foi purgada de figuras politicamente suspeitas que pudessem

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obstruir a aplicação das leis republicanas. Várias medidas anticlericais foram introduzidas, incluindo a revogação da proibição de trabalho aos do­ mingos de 1814 e o restabelecimento do divórcio. Apesar disso, o estatuto de religião oficial da Igreja Católica Romana não foi ameaçado. A Concordata tinha suas vantagens.,j

Ò estabelecimento de um sistema de educação secular era muito im­ portante para os republicanos, pois era uma forma de combater o “obscu­ rantismo” clericai, garantindo a emancipação do indivíduo e a salvaguarda dos princípios de 1789, 'Segundo Juíes Ferry, a Lei de 28 de março de 1882, por meio da qual ele estabeleceu o ensino primário gratuito e obrigatório e retirou a instrução religiosa do currículo, foi “a maior reforma social e... a reforma política mais duradoura”. Ele notou que a educação era uma importante fonte de poder. Q estabelecimento da educação laica oferecia meios para proteger a República burguesa contra seus inimigos clericais e monarquistas da direita e contra a ameaça de revolução social da esquerda. Ela oferecia uma forma para inculcar noções fundamentais de responsa­ bilidade cívica, patriotismo e respeito à lei, à propriedade e à ordem social estabelecida. Em 1886, outras leis previam a substituição gradual dos cléri­ gos por pessoal laico em todas as escolas públicas/

t/k nova República também se mostrou muito ativa na esfera econômica.

Tentou conciliar diversos grupos de interesse, reconhecendo suas reais difi­ culdades, após o início da depressão econômica no final da década de 1870. ; Assim,^m 1878 Charles Freycinet introduziu um programa anticíclico de obras públicas, destinadoa melhorar as comunicações por meio da cons­ trução de ramais ferroviários e estradas locais. Apesar de criticado por seu custo, ò^rograma mostrou-se bastante atraente para os eleitores rurais e pequenas cidades. A reintrodução de tarifas aduaneiras protecionistas por jules Méline entre .1881 e 1892 consolidou de forma similar o apoio a um regime que prometia progrès (progresso) e bonheur (boa sorte)/Sua políti­ ca representava um compromisso filosófico em preservar a “eterna” França rural contra o impacto corruptor do capitalismo e da urbanização. Embo­ ra estivesse afiada a um ataque populista aos poderes monopolistas dos ban­ cos e das empresas ferroviárias, na prática, a política do governo previa a máxima proteção possível aos direitos e interesses dos proprietários de imóveis, combinada com uma atitude de laissez-faire para as reformas so­ ciais. Muito pouco foi feito, por exemplo, para melhorar as péssimas con­ dições de habitação.

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Os republicanos moderados executavam uma forma de política de con­ senso que protegia o estatuto social adquirido, enquanto ampliava as opor­ tunidades individuais de progresso. Juntamente com o papel reforçado do governo como provedor de serviços, esses fatos incentivaram um interesse crescente pela política. Claramente, mais do que nunca, esperava-se que os deputados fizessem o máximo para cultivar ministros e obter favores para seus eleitores/Apesar da criaçãc/de um sistema político estável, as críticas, no entanto, aumentavam. Isso reflete, em parte, um grande realinhamento político, pois muitos republicanos conservadoras e de classe média, tendo deposto as elites tradicionais, consideravam ter alcançado os seus objeti­ vos políticos essenciais e agora lutavam para defender suas próprias po­ sições privilegiadas contra os grupos mais radicais/ Já em 1887, Maurice Rouvier, intimamente associado aos grandes negócios, procurou estabe­ lecer uma maioria parlamentar de centro-direita. Embora tenha fracassa­ do, por causa de diferenças sobre questões religiosas, isso deixou evidente o novo interesse de muitos republicanos moderados em formar uma ampla aliança conservadora para defender a ordem social. O sucesso eleitoral dos

opportunistes (oportunistas) em 1893 permitiu que eles se separassem dos re-

publicânos à esquerda e procurassem por aliados mais favoráveis à direita. Homens mais jovens, tais como Raymond Poincaré, Louis Barthou e Théo- phile Delcassé, possuíam menos ligações emocionais com o passado e es­ tavam mais perturbados com a ascensão do socialismo do que com a luta contra o clero/Uma onda de atentados anarquistas na década de 1890, que incluiu o assassinato do presidente Carnot, dava maior incentivo a essa perspectiva. Naquele momento, o tão esperado realinhamento não ocorreu/ Por um lado, a perda do apoio eleitoral nas eleições legislativas de 1898 sugeria que muitos eleitores rejeitariam a guinada para a direita. Existiam ainda as contínuas desconfianças mútuas entre republicanos conservadores e os mais à direita sobre as questões religiosas. Esse fato foi intensificado pelo caso Dreyfus, e também pela ameaça à República decorrente do na­ cionalismo cada vez mais fanático da extrema-direita. Esse comportamento pode ser exemplificado pela tentativa burlesca, em fevereiro de 1899, que Paul Déroulède tentou persuadir os soldados a participar de um golpe de Estado; e pela multidão hostil que, em junho, insultou o Presidente da Repú­ blica, Emile Loubet, no hipódromo de Auteuil7/Juntamente com a moderação -evidente de muitos dentre os radicais, esses eventos acabaram promoven­

do, na verdade, um realinhamento de centro-esquerda e em defesa da Re­ pública, fazendo que a formação do bloc des gaúches (bloco das esquerdas)

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das eleições de 1902 reunisse conservadores republicanos, como Poincaré e Pierre Waldeck-Rousseau, juntamente com radicais e reformistas e até mesmo socialistas como Alexandre Millerand,

A evolução dos radicais precisa ser examinada. Inicialmente, agiam como protagonistas dos Petits (pequenos) contra os Gros (grandes), procla­ mando sua fidelidade a Gambetta e a seu programa Belleville de 1869; além disso, exigiam uma reforma constitucional para abolir as instituições re­ manescentes da monarquia, tais como a Presidência e o Senado. Os radi­ cais propunham a descentralização administrativa; a eleição dos juízes; a separação entre Igreja e Estado; e reforma social, que incluísse um dia de trabalho mais curto, aposentadoria pam os idosos e pensão para os doentes, financiada por um imposto de renda/Éles haviam condenado os opportu­

nisms por suas políticas religiosas cautelosas e suas relações estreitas com

,as grandes empresas. Na prática, no entanto, a ausência de partidos legais fazia que a lealdade primária do deputado recaísse sobre seus eleitores. Sua principal responsabilidade era conseguir um quinhão das novas estradas, escolas e postos de trabalho. Este também era o meio de garantir a reelei­ ção. As linhas entre os “partidos” eram sempre fluidas; a instabilidade m i­ nisterial era a consequência inevitável/Ém tais circunstâncias e talvez de forma mais perceptível no rescaldo das eleições de 1885, quando os radicais realmente mantinham o equilíbrio político, suas próprias divisões inter­ nas e indisciplina os impediram de fazer uso efetivo da oportunidade. Além disso, durante os períodos de crise do regime republicano como em 1889, precipitado pela agitação neobonapartista e ligado ao general Boulanger em 1889, ou após a primeira votação das eleições de 1895, quando a possí­ vel vitória dos conservadores clericais fez que os radicais se dispusessem a cooperar com os republicanos mais conservadores e a respeitar a disciplina republicana. Em circunstâncias semelhantes, eles participaram do governo da defesa republicana de Waldeck-Rousseau, em junho de 1899.0 papel dos radicais foi, portanto, essencialmente secundário, de apoio, exceto na for­ mação do governo de Léon Bourgeois, em outubro de 1895 - ele perdeu o apoio parlamentar logo em abril como resultado de suas propostas bastan­ te modestas de imposto de renda; a maioria dos deputados temia que o im­ posto criaria um precedente perigoso. Esses sucessos limitados sugerem, no entanto, que os radicais poderiam ter bons lucros políticos se melhorassem sua organização a tempo para as eleições de 1902.

O Partido Radical, ao invés de ser um partido de massa, manteve-se como um partido de quadros, com base em agrupamentos informais de políticos.

im a g e m 3 2 . A m á q u in a d e d e b u lh a r: a m á q u in a m a is c o m u m , in tr o d u z id a n a s fa z e n d a s fr a n c e sa s n o s é c u lo X IX . P in tu ra d e R. R ig o lo t. M u se u d e B e la s- A rt e s, R o u e n . F o to : G ir a u d o n /T h e B ri d g e m a n A rt L ib ra ry .

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profissionais e notáveis locais, que criavam bases de poder autônomo por meio do patronagem em suas comunidades. Seus deputados parlamentares mantinham-se resistentes ao controle ministerial. No entanto, algo seme­ lhante a uma organização eleitoral de partidos modernos foi criado na rua de Valois, em Paris. Esse foi um fator que contribui para a eleição dos 233 de­ putados radicais em 1902, uma vitória que inaugurou o grande período da administração radical, em aliança com os 43 socialistas e dos republicanos de esquerda - na verdade, moderados que se recusavam a aceitar a lógica da posição progressista de Méline, a; saber, que a defesa da ordem social re­ quer uma aliança com a direita: O período durou até 1909, com governos liderados sucessivamente por Emile Combes, Ferdinand Sarrien e Georges Clemenceauvfe testemunhou as primeiras tímidas tentativas da introdu­ ção da aposentadoria por velhice, mas acima de tudo, caracterizou-se por um ataque ainda mais forte à Igreja, em grande parte em resposta ao caso Dreyfus e pela nova ameaça da extrema-direita à República.

/ O caso teve início com a corte marcial de um oficial do Exército judeu, acusado de espionagem. Tornou-se uma causa célebre em 1898, quando o grande romancista Emile Zola desafiou o veredito em uma carta aberta ao Presidente da República; Zola foi então considerado culpado por difamar o Exército. As provas contra Dreyfus sempre foram dúbias, mas, para os conservadores, a manutenção da sentença passou a ser sinônimo de defesa da honra do Exército, a instituição que, para eles, representava a autoridade e a ordem dentro do país e o esforço patriótico no exterior. Considerando-se os únicos patriotas verdadeiros, eles hostilizavam os franceses “ruins” que questionavam seu chauvinismo e, em particular, condenavam os socialistas, sindicalistas, judeus e radicais, tais como Joseph Caillaux, que apoiava as terríveis propostas parq a criação de um imposto sobre a renda para finan­ ciar a reforma social/Os líderes intelectuais da extrema-direita, Paul Dé- roulède, Maurice Barrès e, especialmente, Charles Maurras rejeitavam r por. meio do jornal (e do movimento político) UAction Française (A Ação Fran­

cesa) - os valores igualitários da República e defendiam um catolicismo

místico, uma monarquia autoritária e um antissemitismo visceral, com a glorificação da violência e da guerra. O culto a Joana d’Arc passou a sim­ bolizar a união espiritual da religião e da pátria. A diréita apropriou-se também de antigos símbolos da República revolucionária, tais como a Mar- selhesa, a bandeira tricolor e, claro, o Exército. Incorporando o pessoal e os ideais do conservadorismo tradicional, a nova direita criou uma força po­ lítica mais potente do-que a que existiu na década de 1870 - ela era fun-

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U N DI N ER EN FA MI LIE

— Niirinat î r.e ptrion« fj» J« frlhirc Dffjiut

imagem33. “Jantar em famOia”. Desenho de Caran d ’Ache, ilustrando as disputas furiosas engendradas pelo caso Dreyfus. Biblioteca Nacional, Salão de Gravuras.

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damentalmente antidemocrática e antiparlamentar, demandava por um poder Executivo forte para acabar com o “faccionalismo” político e social.,

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