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de fevereiro, o governo provisório tinha reconhecido o direito ao trabalho; parecia prometer uma profunda reforma, quando tudo o que

se pretendia era o tradicional expediente das oficinas de caridade para os desempregados, proporcionando trabalho manual de baixa remuneração. Chamadas de Oficinas Nacionais, estabeleceram-se em Paris e na maioria, dos outros centros urbanos. O estabelecimento da Comissão de Luxembur­ go - composta por representantes do governo, empregadores e trabalhado­ res para investigar as condições de trabalho e propor reformas - reforçou a crença de que grandes mudanças eram iminentes. Na prática, a principal preocupação do governo era promover a recuperação econômica por meio do restabelecimento da confiança comercial, que exigia a preservação da ordem pública e a fuga de medidas “socialistas”.yDentre esses objetivos, o primeiro, juntame.nte com a ameaça de uma intervenção estrangeira para fazer cumprir as disposições do acordo de paz de 1815, fez que o regime voltasse a depender do Exército,'Os protestos generalizados dos campo­ neses contra a ameaça capitalista às práticas agrícolas habituais tiveram o mesmo efeito. As esperanças restantes dos camponeses por uma ação solidária do governo logo foram destruídas pela introdução de adicionais 45% ao imposto de terra, projetado para ajudar a equilibrar o orçamento e pagar as Oficinas Nacionais. O governo isolava-se cada vez mais do po­ tencial apoio das massas e reforçava sua dependência das elites sociais, as quais, independentemente de convicções políticas anteriores, estavam agora unidas pelo desejo de evitar a reforma social.

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Para os radicais, a introdução do sufrágio “universal” (masculino), que, . em um só golpe, aumentou o tamanho do eleitorado de 250 mil para 10 mi­

lhões, foi a realização de um sonho.'/tím sentimento gigantesco - e irrea­ lizável - de expectativa acumulava-se. Pela primeira vez na história, toda

a população masculina, em um grande Estado, poderia votar e, indicando uma crescente maturidade política, 84% das pessoas exerceriam esse direi­ to em abril de 1848. As mulheres continuavam marginalizadas. Em 1848 e de forma limitada, algumas incursões feministas na política iriam, na verdade, despertar muitas preocupações. Esse envolvimento contrariava os ideais de vida caseira e da crença de inferioridade intelectual das mulheres, compartilhada por homens de todas as convicções políticas e até mesmo por muitas mulheres. Os republicanos também estavam preocupados, e pro­ vavelmente com razão, que o voto feminino - bem como sua influência informal - aumentaria a influência do clero. Em qualquer caso, para os con­ servadores, a extensão do direito do voto era vista como um pesadelo, o pri­ meiro passo para uma possível revolução completa da sociedade.

Na prática, no entanto, as aspirações democráticas causariam desapon­ tamento. Na ausência de partidos organizados, a escolha dos candidatos, na maioria das áreas e especialmente nas circunscrições rurais, ainda depen­ dia das atividades de pequenos grupos de notáveis politicamente expe­ rientes. Alarmados pela ameaça que a democracia representava para suas próprias “liberdades”, os conservadores deixaram de lado suas divisões temporariamente e conseguiram aproveitar-se dos recursos organizacio­ nais e experiência superior para mobilizar apoio. Confrontados com uma infinidade de candidatos, muitos eleitores voltaram-se para aqueles cuja riqueza, educação ou funções lhes ofereciam status na comunidade local,

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incluindo o clero/C ertamente, um dos resultados da introdução do sufrá­ gio masculino foi o estabelecimento de uma correlação clara entre p com­ promisso religioso e o conservadorismo político, em oposição ao que era representado como um desafio para os valores eternos da religião, bem como para a ordem social. Sempre que a influência fosse insuficiente, havia a possibilidade do uso da intimidação. Os pobres precisavam ser prudentes. Os republicanos tinham pouco tempo para opor-se a isso antes da votação no dia 23 de abril. A maioria dos candidatos eram conservadores e anti­ gos monarquistas, mesmo que, refletindo a continuidade da crise de con­ fiança, eles adotassem o rótulo de republicano&yka verdade, ao reunirem-se para a Assembleia Constituinte, eles elegeram uma Comissão Executiva

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composta essencialmente pelos membros mais moderados do governo provisório anterior.,.

Inevitavelmente, os resultados da eleição causaram grande insatisfação entre os radicais. A gigantesca manifestação, ocorrida em Paris no dia 15 de maio, culminou na caótica invasão da assembleia pela multidão e na pro­ posta de estabelecimento de um Comitê de Segurança Pública para criar um imposto de riqueza para financiar a criação imediata de cooperativas de produtores e, além disso, reforçou a determinação conservadora em restaurar a ordem, As Oficinas Nacionais simbolizavam, para os radicais, a esperança de um mundo melhor, mas, para seus adversários, representa­ vam cada vez mais uma ameaça revolucionária: “80 mil trabalhadores são pagos pelo Estado para aprender sobre revoltas na ociosidade dos cabarés” foi a descrição utilizada por um dos jornais de Paris./Em 22 de junho, foi anunciado o fechamento das Oficinas. Nenhum esforço foi feito para tran­ quilizar as dezenas de milhares de desempregados sobre o fornecimento de benefícios sociais. Com efeito, a ameaça do governo em recorrer à força enfatizou a desilusão generalizada com os processos políticos legais e a crença de que com um regime tão indiferente não havia outra alternativa senão recommencer la révolution, isto é, recomeçar a revolução. Em 23 de junho, inspiradas pelo lema “Liberdade ou morte!”, foram construídas bar­ ricadas ao longo dos bairros pobres da região Leste da cidade. p s rebeldes não tinham um plano global, não surgiu nenhuma liderança coletiva e o levante degenerou rapidamente na luta desesperada dos bairros isolados

As estimativas dos números envolvidos variam, mas um número con­ siderável de homens e mulheres (talvez 20 a 30 mil) ficou tão desapontado com o resultado da revolução que eles chegaram a arriscar suas vidas na tentativa de estabelecer um regime mais sensível às suas necessidades. Acre­ ditavam que lutavam por justiça/tontra eles, enfileiravam-se as forças da “ordem”, a saber, a Guarda Nacional dos bairros mais ricos da zona oeste, cerca de um quinto deles eram trabalhadores; a Guarda Móvel, recrutada dentre os operários desempregados, jovens e ainda não integrados no ofí­ cio e nas solidariedades dos bairros, que se mantiveram leais aos colegas e ao governo, que paga a eles; e o Exército, que viria a se tornar, aos olhos das classes proprietárias, o “Salvador da civilização”; No geral, o comando es­ tava nas mãos do ministro da Defesa, general Cavaignac, que além disso, a pedido da Assembleia Constituinte, tornou-se chefe de governo. Desejando evitar a repetição de fevereiro, quando grupos dispersos de soldados tinham sido derrotados, ele concentrou as suas forças, uma tática que, inicialmente,

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permitiu que a revolta se espalhasse; após ter concentrado suas forças, ele esmagou a insurreição com três dias de combates viciosos de rua.40 ar­ tista Ernest Meissonier “viu defensores mortos a tiros, arremessados pelas janelas, o chão repleto de cadáveres, a terra vermelha de sangue”. Cerca de 4 mil combatentes foram mortos. Aesquerda parisiense seria decapi­ tada por uma geração.-Qualquer que seja o caráter sociológico preciso do conflito e apesar de os operários terem lutado em ambos os lados, os con­ temporâneos viam-no como uma luta entre bourgeois e peuple, entre bur­ guês e povo, uma forma de luta de classes. De acordo com Tocqueville, a insurreição foi uma

tentativa brutal e cega, mas poderosa dos trabalhadores para conseguirem escapar das necessidades de sua condição, que tinha sido descrita para eles como uma opressão ilegítima... Foi esta mistura de cobiça e teorias falsas que tornou a insurreição tão formidável... As pessoas receberam a garantia de que o bem-estar dos ricos baseava-se de certa forma no roubo aos pobres.

A imprensa conservadora retratou os acontecimentos como um surto de selvageria sem sentido, como uma luta pela “pilhagem e estupro”. Seu grito inicial de triunfo na “vitória adquirida pela ordem, pela família, pela humanidade, pela civilização” misturou-se, no entanto, ao medo e, a isso, seguiram-se as demandas por uma repressão mais firme.' À atividade po- : lítica foi severamente restringida. A nova Constituição, promulgada em 4 de novembro de 1848, garantiu que um presidente com forte autoridade executiva fosse eleito.

O candidato vencedor das eleições de 10 de dezembro foi Luís Napo- leão Bonaparte, com 74% dos votos, Cavignac recebeu 19%. Autor de duas tentativas patéticas de tentar derrubar a Monarquia de Julho e de panfletos bem conhecidos com “ideias napoleônicas” e meios extremamente vagos de assegurar a “extinção da pobreza”, o sobrinho do imperador foi capaz de Tirar proveito do culto messiânico ao grande soldado e líder político, criado pela efusão de livros, panfletos, litografias e objetos de devoção ao longo dos últimos 30 anos./

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Bonaparte, ao nomear um ministério composto principalmente por figuras associadas à monarquia orleanista, parecia confirmar seu com- ' promisso com o chamado “partido da ordem”. Os membros da Assembleia Constituinte, que estavam cientes de seu crescente isolamento político e sujeitos à pressão do novo governo, votaram a favor de sua própria disso­ lução em 29 de janeiro. As eleições seguintes, em 13 de maio, estavam, espe­ cialmente nas províncias, muito mais politizadas do que o pleito de abril

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imagem26. Junho de 1848: barricada na rua Saint-Antoine. Litografia por E. de Beaumont e E. Ciceri.

© RMN-Grand Palais/Agence Bulloz.

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de 1848. Surgiu uma clara divisão entre direita e esquerda, entre um conser­ vadorismo reacionário e um republicanismo radical com o centro, os repu­ blicanos moderados, espremido no meio.. 0 movimento social-democrata ou montagnard - montanhista - que pode ser visto como a primeira ten­ tativa de criar um partido nacional moderno -, incorporou democratas e socialistas determinados a defender a República e trabalhar por uma re­ forma social genuína. Uns 200 montanhistas foram eleitos, e embora esse ainda fosse um número baixo em comparação com 500 conservadores, estes ficaram alarmados por esse sucesso inesperado dos radicais. Além de as áreas da classe trabalhadora de Paris e de Lyon terem apoiado os “ver­ melhos”, os eleitores de algumas partes da supostamente “incorruptível” e conservadora zona rural também o fizeram. O que isso causaria? Houve o início de uma perspectiva apocalíptica em relação à eventual vitória elei­ toral socialista e a ameaça à propriedade privada, à fé religiosa e à família começou a se desenvolver. Além disso, apesar da constante repressão, em algumas áreas, a organização e as propagandas social-democratas em for­ ma de jornais, panfletos, almanaques, gravuras e canções conseguiram sobreviver. Elas apresentavam um programa social com base em alguns

slogans simples que ligavam os problemas diários das pessoas aos objeti­

vos políticos da esquerda. A política era feita para parecer relevante para as massas. Foram denunciadas a tributação, a exploração pelos ricos e a tirania do capitalismo em geral e da usura em particularTEm um período de contínua depressãqeconômica, o estabelecimento de uma République

../démocratique et sociale - que forneceria crédito barato para satisfazer a

fome camponesa por terras e protegeria aqueles que se sentiam ameaça­ dos pela expropriação por dívidas - tinha bastante apelo. Também pos­ suía a promessa de educação gratuita, a garantia do direito ao trabalho e o apoio do Estado para a criação de cooperativas de produtores e consumi­ dores. Esse deveria ser o caminho da liberdade para o proletariado. Essas medidas deveriam ser pagas por meio de maior tributação dos ricos e por intermédio da nacionalização de setores-chave da economia, a saber, as fer­ rovias, canais, minas e companhias de seguros. O ideal dos sans-culottes de 1793, ou seja, uma sociedade de pequenos produtores independentes, de­ veria, assim, ser reco,nciliado com o desenvolvimento de uma economia capitalista moderna/

Em resposta, os deputados conservadores buscavam, mais uma vez, mudar as regras do jogo político. Um funcionário judicial disse que era intolerável que fosse oferecido “aos comunistas a possibilidade de um dia se

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tornarem reis por meio da votação. A sociedade não deve cometer suicídio”. Uma nova lei eleitoral impôs qualificações residenciais de elegibilidade mais rigorosas; assim, cerca de um terço dos eleitores mais pobres foram excluídos da votação. Além disso, ações cada vez mais intensas eram dirigi- , das contra a sobrevivência dos jornais e organizações de esquerda, fazendo que muitos fossem obrigados à clandestinidade./Em um esforço para ga­ rantir o futuro, uma lei relativa/ao ensino primário (Loi Falloux) reforçou a mensagem religiosa e socialmente conservadora imposta às escolas, bem como os poderes de supervisão do clero, A Igreja estava intimamente asso­ ciada às forças políticas “reacionárias”, mas o clero continuava insatisfeito, pois desejava o controle total da educação de jovens. Nem mesmo essas medidas conseguiram diminuir a histeria conservadora^As eleições legis­ lativas e presidenciais de 1852 se aproximavam. Junto, surgiam rumores de conspirações e golpes socialistas que punham Luís Napoleão, o presidente em exercício, em uma posição cada vez mais forte.F.mbora a Constitui­ ção impedisse um segundo mandato, as facções conservadoras não con­ seguiam encontrar uma alternativa. Além disso, o próprio Bonaparte não desejava_entregar o poder antes de realizar aquilo que ele acreditava ser sua missão histórica - a regeneração da França;''

Sendo chefe do Executivo, ele estava em uma boa posição para organi­ zar um golpe de Estado; foi o que ele fez em 2 de dezembro de 1851. Embora fosse dirigido tanto contra os grupos monarquistas representados na As­ sembleia Nacional quanto aos republicanos radicais, o fato de que apenas este último grupo tenha oferecido resistência fez que o golpe ganhasse um caráter essencialmente antirrepublicano. O golpe pode ser visto como o cume de um longo período de repressão contra a esquerda^fem Paris, a resistência foi pequena, reflexo das prisões preventivas e da óírvia prontidão militar. Poucos trabalhadores desejavam arriscar uma repetição da insurreição de junho para defender os direitos de uma assembleia monarquista contra um presidente que prometia restaurar o sufrágio masculino^Da mesma forma, ocorreram apenas manifestações de curta duração em outras cidades. Em cerca de 900 comunas rurais e pequenas vilas, no entanto, principalmente no Sudeste, houve resistência de aproximadamente 100 mil. Eles vieram de regiões onde a agricultura era predominantemente artesanal, locais em que as dificuldades causadas pela crescente pressão populacional sobre a terra tinham sido intensificadas pelos problemas persistentes das ativida­ des orientadas para o mercado, como o cultivo da vinha e da seda, a silvi­ cultura e a indústria rural em geral. Mais importante foi a sobrevivência

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de organizações social-democratas clandestinas, pelas quais eles foram mobilizados para defender a Républiqüe démocratique et sociale e a nova era de segurança e felicidade prometida para 1852. A ingenuidade de suas crenças não deveria desvirtuar sua verdadeira fé em andamento e o triunfo da democracia^Ápós a segurança de suas guarnições urbanas estarem as­ seguradas, as colunas de soldados movimentaram-se para a zona rural e conseguiram sufocar facilmente os movimentos que ali ocorriam. Depois, dando pouca atenção ao Estado de direito, foi realizado um ajuste de contas com a esquerda, com mais de 26 mil prisões em toda a França^Õs conser­ vadores estavam muito assustados por causà dos relatos grosseiramente exagerados sobre as atrocidades dos “vermelhos”. Agora eles agradeciam a Deus por sua libertação: a salvação parece ter sido oferecida pelo estado de polícia. Em 20 de dezembro, foi realizado um plebiscito para sancionar a extensão da autoridade do príncipe-presidente. Luís Napoleão desejava garantir uma grande maioria. Foi deixado claro para todos os funcionários que a continuidade de seus empregos dependia de uma campanha entusias­ mada; O tema básico era a escolha entre “civilização e barbárie, sociedade e caos”. No lugar da era de desordem, inaugurada em 1848, prometia-se ' um novo período de ordem, paz e prosperidade. O resultado era previsível: 7,5 milhões votaram “Sim”, 640 mil “Não”, e a abstenção foi de 1,5 milhão; a oposição estava concentrada nas principais cidades. Em promessa simbó- . lica de acontecimentos futuros, a imagem da República dos selos e moedas foi substituída pela imagem de Son Altesse Impériale Monseigneur le Prince-

-Président (Sua Alteza Imperial Monsenhor príncipe-presidente),. Em Io de

janeiro de 1852, em um serviço solene na Notre Dame, o arcebispo de Paris cantava o Domine salvumfac ludivicum Napoleonem como se o império já existisse e, em 12 de maio, novas bandeiras com a águia imperial foram dis­ tribuídas para o Exército. Em 1852, aliviadas de seu terror, as classes altas comemoravam o carnaval com grande entusiasmo,

,/Qual o significado alongo prazo da crise de meados do século que durou de 1846 até 1852? Certamente, a crise despertou o temor da revolução social e demonstrou a vontade das elites sociais de recorrerem à repressão vio­ lenta para proteger seus privilégios/Contudo, ela também constituiu uma etapa importante da politização das massas. A introdução do sufrágio mas­ culino encorajou a mobilização política em apoio à esquerda e à direita. Apesar da repressão posterior, foi durante esses anos que a ideia de Repú­ blica ganhou precisão e apoio do povo. Ainda que continuassem existindo diferenças profundas entre moderados e radicais, eles ainda compartilha-

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vam os ideais universalistas de 1789 a 1794. Mesmo tendo muito em co­ mum com as tradições “primitivas” de protesto popular, a resistência ao golpe de 1851, no entanto, tinha a ideologia política por inspiração. Com algum sucesso, La Bonne, la République démocratique et sociale havia sido apresen­ tada como o meio para a criação de uma sociedade mais igualitária e justa. O golpe destruiu essas esperanças. Pela segunda vez, apoiado pelo Exér­ cito, um Bonaparte destruiu uijíia República/Em um ano, após outra cam­ panha cuidadosamente orquestrada, um segundo plebiscito (em 21 e 22 de novembro de 1852) aprovou o restabelecimento do império hereditário, proclamado no dia 2 de dezembro, no aniversário de Austerlitz. Sua cons­ tituição baseava-se muito na do primeiro império, atribuindo uma imensa autoridade ao chefe de Estado.

O S

egundo

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mpério

As intenções do novo imperador, Napoleão III, foram objeto de muitos debates. A reputação desse homem estranho, inspirado pela crença em seu próprio destino, sofreu irremediavelmente com o desastre militar de 1870. Não há como simplesmente descartá-lo, como o fez Victor Hugo ao chamá-lo de Napoléon, le petitySeus objetivos eram claros: despolitizar o governo pela criação de um poder Executivo forte e estável, capaz de promover a moderni­ zação econômica e social e, por esse meio, “acabar com o período revolucio­ nário ao satisfazer as necessidades legítimas das pessoas” (2 de dezembro de 1853),; O período de maior poder pessoal do imperador ocorreu durante ãprlmeíra década. Os ministros eram convocados uma vez por semana para discutir ufhâ agenda preparada por ele. Eles forneciam informações. Ele tomava as decisões. A tradição da responsabilidade ministerial ao Parla­ mento gradualmente acumulada desde 1814 foi efetivamente anulada e o

Corps législatif, o Legislativo, em grande parte, permaneceu dormente/'Nes-

ses anos, a contínua repressão política e a estreita cooperação com as forças reacionárias e clericais caracterizavam o regime jNessa época, as eleições eram cuidadosamente gerenciadas mediante o apoio dado aos candidatos “oficiais”. Mesmo nesse período, no entanto, a implementação da política de governo seria obstruída por uma complicada rede de grupos de interesse, muitas vezes conflitantes, bem como pelas dificuldades práticas de controle administrativo, financeiro e vacilo por parte do próprio chefe de Estado. Na prática, o novo regime dependia inevitavelmente dos servidores aristocra­ tas e da alta burguesia dos governos anteriores. A maioria dos ministros eram ex-orleanistas conservadores (Pierre Magne, Achille Fould, Eugène

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Rouher, Jules Baroche). Notadamente, poucos eram bonapartistas genuí­ nos. Assim como o ex-primeiro-ministro orleanista Guizot salientou,

uma insurreição pode ser reprimida com soldados; uma eleição ganha com os camponeses. Mas o apoio de soldados e camponeses não é suficiente para governar. É essencial que haja cooperação das classes altas que são governan­ tes naturais.

Napoleão parece ter acreditado que os notáveis uniram-se em torno de seu

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