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ES proíbe salgados e refrigerantes em cantinas de escolas

ALEX CAVALCANT

Direto do Espírito Santo

Desde ontem, quarta-feira(7), balas, doces, refrigerantes e alimentos pouco nutritivos estão banidos das cantinas das escolas da rede estadual do Espírito Santo. A medida faz parte de um programa de melhoria dos hábitos alimentares dos estudantes e fio implantada nas 600 escolas da rede estadual, que visa substituir salgados fritos, biscoitos e refrigerantes por sucos naturais, sanduíches e

salgados assados, frutas e iogurtes.

De acordo com o secretário estadual de Educação, Haroldo Corrêa Rocha, é preciso cuidar melhor da alimentação dos jovens, que passam em média cinco horas por dia na escola. "Nossas cozinhas já realizam um trabalho supervisionado por nutricionistas e oferecem uma merenda adequada. As cantinas precisam acompanhar isso", afirmou o secretário.

O projeto "Cantina Saudável" deve ser totalmente implentado em até 90 dias. Durante esse tempo, a secretaria de Educação deve publicar portarias regulamentando os tipos de alimentados permitidos e os concessionários das cantinas deverão se adequar. "Refrigerantes, salgadinhos industrializados, chocolates e balas serão proibidos", afirma Haroldo Corrêa Rocha.

A medida, elogiada por nutricionistas e educadores, divide os alunos. A estudante do ensino médio Soraya Santos da Costa, 16 anos, não gostou da idéia e admite que vai ser difícil se adaptar ao novo cardápio. "Eu gosto dos salgados e adoro refrigerante. Acho que ninguém precisa dizer o que

devemos comer ou não. Se não tiver opção, vou ter que comer o que vai ser oferecido, mas vai ser difícil", afirma a adolescente.

No entanto, há também os que aprovam. O estudante Juan Dias Bravin, 17 anos, diz que procura manter uma alimentação saudável e acha ótimo que tenha essa oportunidade na escola. "Eu sempre pratiquei esportes e gosto de me alimentar bem. Na escola era difícil, porque não tinha muita opção.

Agora vai ser ótimo", afirma o jovem, no melhor estilo "geração saúde".

Na tentativa de diminuir a resistência ao novo cardápio, a Secretaria de Educação promoveu um "teste cego" com alunos de uma escola. Eles foram convidados a, com os olhos vendados,

experimentar alguns alimentos. As reações animaram os idealizadores do projeto e surpreenderam aos próprios alunos.

A estudante Aline Sales, de 17 anos, ficou surpresa com a experiência. "Achei muito interessante a adaptação desses lanches. Gostei de tudo que provei. Não sabia que o chuchu poderia ser tão gostoso", observa. Outra aluna que também aprovou a gincana foi Débora de Azeredo, de 15 anos. "Eu não como abóbora em casa porque achei que não fosse gostosa. Mas adorei o bolo que comi aqui. Se o lanche for feito com criatividade acaba conquistando a gente, porque sabemos que é preciso melhorar a alimentação".

Na opinião do secretário Haroldo Rocha, é necessário investir em alimentação saudável, com

opções de lanches que também podem agradar os jovens. "O jovem já tem preferências com relação à alimentação, por isso sabemos que não é um trabalho simples. Temos de mostrar aos estudantes que o suco é bem melhor que o refrigerante e que ele vai ganhar muito mais se trocar o pacote de chips por um sanduíche mais saudável", completa.

Alimentos permitidos

- Pães

- Sanduíches naturais

- Biscoitos tipo cream cracker, amido ou água e sal - Bolos simples

- Cereais integrais em flocos ou barras - Frutas

- Picolé de frutas - Leite integral

- Suco de fruta natural

- Leite fermentado, achocolatado, iogurte de frutas e vitaminas - Água de coco

Alimentos proibidos

- Doces e salgados fritos

- Balas, pirulitos e gomas de mascar

- Chocolates, doces à base de goma, caramelos - Refrigerantes, sucos e refrescos artificiais - Salgadinhos industrializados

- Embutidos (presuntos, mortadelas, salames, linguiças, salsichas) - Alimentos que contenham corantes e antioxidantes artificiais

Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI4369896-EI8266,00-

Nessa análise, queremos pensar sobre a construção discursiva da notícia, analisando os efeitos de sentido dos enunciados utilizados, a fim de evidenciar de que modo o tom persuasivo desse tipo de texto tanto é responsável por construir imagens da escola e suas práticas, quanto por disseminar saberes dos quais os sujeitos possam se apropriar tendo em vista o governamento de suas vidas. Para integrar o conjunto de discursos validados socialmente como verdadeiros, a notícia precisa ser construída através da articulação de jogos de verdade afinados com os valores socioculturais predominantes.

Como já afirmamos, os discursos jornalísticos que narram a escola na atualidade apontam para o surgimento de novas práticas que vêm se consolidando nesse espaço, cuja emergência está relacionada a imperativos que ordenam as relações na sociedade e se refletem em todas as suas instituições. Desse modo, têm sido frequentes as notícias que tratam das novas práticas que têm lugar no espaço escolar e que podem ser compreendidas tendo em vista a relação entre elas e os novos modos de governamento dos sujeitos.

Condizente com a lógica biopolítica, a vida dos sujeitos deve ser alvo, em todas as suas instâncias, de uma série de investimentos para a sua potencialização. Nesse contexto, cabe à escola promover as mais diversas práticas para que os sujeitos possam munir-se de verdades capazes de direcionar ações de autogestão, voltadas para o cuidado de si. Os sujeitos devem aprender a gerenciar os mais diversos aspectos da vida, inclusive a sua alimentação; para isso, as escolas têm lançado mão de ações relacionadas à regulação e ao controle do que se deve ou não ingerir no ambiente escolar. Ancorados em jogos de verdade que determinam o que deve ser feito para que se tenha saúde, os discursos que embasam a emergência dessas práticas têm se consolidado cada vez mais na nossa sociedade, incitando os sujeitos a adotarem atitudes e comportamentos que possam lhe garantir bem estar e qualidade de vida.

A relação entre saúde e alimentação tem se configurado num tema dos mais discutidos na mídia brasileira. É a produtividade desse tema que tem permitido que ele tenha se transformado em assunto de grande interesse pela população, o que justifica o investimento da mídia em estar voltada para uma produção cada vez mais crescente de saberes que são disseminados a todo momento e através das mais variadas maneiras. Em todos os suportes midiáticos, há sempre uma série de notícias tratando dos cuidados que se deve ter para que a alimentação possa tornar-se uma aliada para a conquista da saúde perfeita. Inscrita nesse regime de discursividade, a notícia acima se insere nessa rede de formulações sobre o controle da alimentação escolar que vem ganhando espaço no Brasil.

Há algum tempo, escolas de todo o país têm procurado desenvolver estratégias tendo como alvo a alimentação dos alunos. Para cumprir, efetivamente, a sua função pedagógica, os

discursos sobre a escola atual dizem que ela deve estar preocupada com a formação integral do ser, por isso é necessário ampliar os seus modos de atuação para os diversos aspectos da vida dos sujeitos. É nesse sentido que esses discursos se configuram como condições de possibilidade para a incorporação de práticas escolares, visando ao governamento da alimentação.

Em nosso ponto de vista, essa notícia interessa na medida em que aponta também para as formas de intensificação do controle. Ao lado de outras práticas mais sutis e aparentemente mais democráticas que têm como alvo o governamento da alimentação, como atividades planejadas pelas escolas para promover o incentivo à alimentação mais saudável, emergem ações de um controle mais rigoroso, que demandam estratégias mais incisivas, baseadas na proibição explícita. A notícia em pauta, por exemplo, trata das medidas adotadas pela Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo tendo em vista a proibição da venda de alimentos considerados pouco nutritivos nas cantinas escolares do estado.

De acordo com a notícia, a medida faz parte de um programa de melhoria dos

hábitos alimentares dos estudantes e foi implantada nas 600 escolas da rede estadual, que visa substituir salgados fritos, biscoitos e refrigerantes por sucos naturais, sanduíches e salgados assados, frutas e iogurtes. Como se vê, o governamento da

alimentação dos sujeitos escolares, demanda o planejamento e a execução de ações como o

projeto ―Cantina Saudável‖, o qual necessita de um prazo para ser implantado, período em

que a Secretaria de Educação deve dedicar-se à publicação de portarias regulamentando os tipos de alimentos permitidos.

Como explicitado na notícia, esse projeto faz parte de um programa mais amplo, embasado no argumento citado pelo secretário Haroldo Corrêa Rocha de que “é preciso

cuidar melhor da alimentação dos jovens, que passam em média cinco horas por dia na

escola”. Para isso, as cozinhas das escolas também já foram alvo de investimentos, através da

realização de um trabalho supervisionado por nutricionistas, com o objetivo de oferecer uma merenda adequada. Nesse sentido, na continuidade desse empreendimento, as cantinas precisam se adaptar, por isso os concessionários das cantinas deverão se adequar.

Como se percebe através da leitura da notícia, a implantação dessas práticas mais coercitivas não é aceita sem resistência pelos sujeitos. Ao dar voz aos alunos, a notícia mostra que o conteúdo é polêmico, merecendo por isso ser noticiado. A polêmica confere relevância ao assunto para justificar o seu aparecimento na mídia. Para figurar como imparcial, a notícia traz a voz da estudante Soraya Santos da Costa que não aprovou o projeto quando afirma que

“ninguém precisa dizer o que devemos comer ou não” e que terá dificuldades em se

adaptar ao que vai ser oferecido.

No entanto, são as vozes concordantes com o projeto que predominam na notícia, o que acaba por evidenciar a posição do sujeito jornalista, constituindo-se como marca de subjetividade. No sentido de reafirmar a importância do projeto criado pela Secretaria de Educação do Espírito Santo, o sujeito jornalista descreve de que modo a secretaria busca diminuir as resistências através do planejamento e execução de outras estratégias como foi o caso do teste cego, promovido com alunos de uma escola, que foram convidados a experimentar alguns alimentos com os olhos vendados. A notícia ressalta como foram positivas e animadoras as reações dos alunos, reproduzindo a voz de duas alunas, entusiasmadas com a proposta, o que confere um efeito de reafirmação dos argumentos elencados em favor do respectivo projeto. Assim, a posição discursiva do sujeito jornalista se inscreve no interior de uma formação discursiva em que a prática da proibição da venda de certos alimentos pode ser considerada a partir de uma ótica positiva, tendo em vista os benefícios que ela pode trazer para a vida dos sujeitos.

Percebe-se, desse modo, que os enunciados que compõem o que, à primeira vista, é só a narração de um fato, funcionam na defesa de um ponto de vista favorável à proibição. Ao apresentar as medidas tomadas pela Secretaria de Educação do Espírito Santo, a notícia se inscreve numa cadeia de discursos socialmente aceitos sobre a importância dos cuidados com a saúde, o que lhe confere poder de persuasão. Os argumentos estão ancorados numa memória discursiva composta de já-ditos, infinitamente reiterados sobre o que é considerado saudável. É nesse sentido que se articulam os argumentos expostos numa formulação em que a principal estratégia de convencimento é a recorrência a outras vozes que reafirmam a importância e validade da proibição, como a do secretário de educação quando enuncia que “é preciso

cuidar melhor da alimentação dos jovens” ou reitera: “é necessário investir em

alimentação saudável”. Ao lado dele estão os nutricionistas e educadores, investidos do

poder de definir o que é bom e adequado para os estudantes, cuja crença é endossada na voz dos alunos que aprovam a medida por representarem o estilo ―geração saúde‖ ou por reconhecerem que “sabemos que é preciso melhorar a alimentação”.

Para configurar-se como persuasivo, o discurso da proibição deve estar impregnado de um tom de negociação, como convém para não suscitar maiores resistências, por isso os argumentos usados para encaminhar a conclusão da notícia fazem referência à necessidade de desenvolver mecanismos de convencimento para que a implantação do programa de melhoria dos hábitos alimentares dos estudantes tenha êxito, como sugere a proposta da aluna Débora

Azeredo, introduzida pela partícula condicional se, o que permite inferir que a criatividade é a condição necessária para uma boa aceitação dos alimentos que serão comercializados: “se o

lanche for feito com criatividade acaba conquistando a gente, porque sabemos que é

preciso melhorar a alimentação”. Esse tom é reiterado pela apresentação da opinião do

secretário quando afirma que “é necessário investir em alimentação saudável, com opções

de lanches que também podem agradar os jovens” e reconhece que esse “não é um trabalho simples. Temos de mostrar aos estudantes que o suco é bem melhor que o refrigerante e que ele vai ganhar muito mais se trocar o pacote de chips por um

sanduíche mais saudável”. Através da recorrência à apresentação dessas vozes, o discurso da

proibição reveste-se de um efeito de sentido de negociação, tornando-se mais convincente e eficaz.

Para validar a argumentação desenvolvida em favor do projeto e cumprir com competência o seu propósito informativo, resta à notícia trazer uma lista dos alimentos permitidos e proibidos, apresentando os itens considerados saudáveis ou não, de acordo com os resultados de pesquisas científicas sobre o valor nutricional dos alimentos. A apresentação dessa lista complementa e reitera as informações necessárias para que os sujeitos possam munir-se de saberes adequados em relação às práticas alimentares condizentes com uma vida mais saudável.

Consideramos que o tom persuasivo dessa notícia concorre tanto para construir imagens da escola e de suas práticas, como para reiterar formas de comportamento (ou práticas) que todos (não só os alunos) devem adotar em relação aos cuidados com a alimentação. Esses saberes disseminados na notícia estão ancorados em jogos de verdade consagrados pelos valores socioculturais que sustentam os discursos sobre a saúde no atual momento histórico. Enfatizando a necessidade da incorporação de práticas alimentares mais saudáveis, a construção discursiva da notícia obedece a uma lógica argumentativa em que os enunciados funcionam para convencer os enunciatários (e não apenas os alunos, já que não é somente a eles que a notícia se dirige) a se tornarem mais conscientes em relação aos cuidados e práticas que devem adotar tendo em vista a sua saúde, atuando assim no governo das subjetividades contemporâneas.

Através das notícias que narram a escola na atualidade, podemos constatar que a implantação de muitas das novas práticas que têm como objetivo o governo dos sujeitos alunos demanda a interferência e a atuação de outras instituições, com a finalidade de regulamentar tais práticas. Quando se lê uma notícia como a que segue, é possível perceber que a implantação de certas práticas na escola nem sempre é uma tarefa simples. Vejamos: