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Projeto foi aprovado por unanimidade em Navegantes (SC) Para entrar em vigor, prefeito terá que sancionar lei.

RODRIGO VARGAS

da Agência Folha, em Cuiabá

Mais duas cidades brasileiras --Manaus (AM) e Campo Grande (MS)-- proibiram as chamadas "pulseiras do sexo". Ao todo, já são ao menos cinco municípios que impuseram algum tipo de restrição aos adereços coloridos.

Em Manaus, o Juizado da Infância e da Juventude Cível proibiu hoje a venda e o uso das "pulseiras do sexo" para menores de 18 anos, no Amazonas. Na decisão, o juiz Marcos Santos Maciel justifica que os adereços, aparentemente inofensivos, "trazem um estigma amoral para quem usa, por envolver situações vexatórias e, até mesmo abusos sexuais de toda a natureza".

Na capital do AM, a polícia investiga o caso de uma estudante encontrada morta, no feriado da Páscoa, em um hotel na periferia da cidade. Ela usava seis pulseiras coloridas no braço.

A Secretaria de Educação de Manaus já tinha proibido o uso das pulseiras nas escolas.

Já em Campo Grande, a proibição foi imposta pela Câmara Municipal. Os vereadores aprovaram projeto de lei que prevê multa e até cassação do alvará para escolas públicas e particulares que permitirem o uso das "pulseiras do sexo" por seus alunos.

Aprovado em regime de urgência, o projeto determina que as instituições de ensino proíbam o uso do adereço e ainda promovam palestras e reuniões com pais e alunos para tratar de educação sexual e planejamento familiar.

A escola que não coibir o uso das pulseiras estará sujeita a multa de R$ 500 a R$ 2.000, suspensão do alvará por 30 dias e cassação do alvará.

Feitas em silicone e com cores variadas, as pulseiras são parte de um jogo de conotação sexual em que cada cor equivale a uma prática --a roxa, por exemplo, vale beijo de língua; a preta, sexo. Quem arrebenta uma delas pode solicitar a "recompensa" de quem usa a pulseira.

A polícia dos Estados do Paraná e do Amazonas investiga casos de violência sexual contra adolescentes que utilizavam as pulseiras. Em Maringá (PR) e Navegantes (SC), o uso dos adereços também foi proibido nas escolas. Já Londrina (PR) vetou o uso e a comercialização das pulseiras em toda a cidade. Lá, o caso de um estupro contra uma menina de 13 anos que usava os adereços é investigado pela polícia.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u718750.shtml. Acesso em 20/05/2010.

A notícia, cuja autoria é creditada a dois jornalistas – um da agência de Manaus e outro da de Cuiabá –, informa sobre a proibição das pulseiras na capital do Amazonas e também em Campo Grande (MS) em que essas duas cidades vêm juntar-se a outras na imposição de algum tipo de medida restritiva ao uso dos adereços.

Também recorrendo à apresentação de discursos de autoridade para legitimar a relevância do fato noticiado, a notícia ancora-se em órgãos oficias como fontes de informação, como o Juizado da Infância e da Juventude, a polícia, a Secretaria de Educação e a Câmara Municipal. A presença dessas instituições na notícia credencia as medidas adotadas por cada uma delas em jogos de verdade sobre o assunto em discussão. Essas instituições estão investidas de poder, estão a serviço da normalização e do controle e, por isso podem determinar e impor obediência aos sujeitos.

Como o objetivo da notícia é evidenciar as medidas adotadas pelas instituições em

relação às ―pulseiras do sexo‖, na materialidade textual podemos identificar várias expressões

cujos sentidos remetem ao caráter impositivo e coercitivo das medidas: proíbem, vetam,

impuseram, restrição, já tinha proibido, a proibição foi imposta, prevê multa e até cassação, o projeto determina, coibir. Apesar de denotarem obrigatoriedade e imposição,

não predomina o sentido negativo dessas expressões na notícia, já que estão inseridas num discurso da lei, cuja justificativa é sempre a manutenção da ordem.

Desse modo, podemos perceber como também essa notícia constrói um discurso favorável à adoção dessas práticas de proibição, tendo em vista a configuração argumentativa em que a narração das medidas está associada à justificativa de garantia de segurança e diminuição de riscos; isso porque o discurso da proibição é justificado pelos argumentos apresentados em relação a casos de violência sexual e até assassinatos relacionados ao uso das pulseiras.

O discurso da notícia, dessa forma, endossa como legítimas, necessárias e adequadas as medidas impositivas, quando evidencia a relação entre o uso das pulseiras e suas conseqüências negativas, como reforça a citação do argumento utilizado pelo juiz Marcos Santos Maciel - para justificar sua decisão de proibir a venda e o uso das pulseiras por menores de 18 anos, no Amazonas – e reproduzido literalmente na notícia quando afirma que as pulseiras “trazem um estigma amoral para quem usa, por envolver situações

vexatórias e, até mesmo abusos sexuais de toda a natureza”.

Quando se refere à situação de Campo Grande, a notícia faz alusão a um certo exagero por parte do projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal, ao destacar as sanções impostas às instituições de ensino, como podemos observar através dos fragmentos:

Já em Campo Grande, a proibição foi imposta pela Câmara Municipal. Os vereadores aprovaram projeto de lei que prevê multa e até cassação do alvará para escolas públicas e particulares que permitirem o uso das "pulseiras do sexo" por seus alunos.

Aprovado em regime de urgência, o projeto determina que as instituições de ensino proíbam o uso do adereço e ainda promovam palestras e reuniões com pais e alunos para tratar de educação sexual e planejamento familiar.

A escola que não coibir o uso das pulseiras estará sujeita a multa de R$ 500 a R$ 2.000, suspensão do alvará por 30 dias e cassação do alvará.

Embora possamos perceber um efeito de sentido de crítica ao destacar as obrigações impostas coercitivamente às escolas, ao ressaltar um certo exagero das sanções impostas às escolas (como se pode observar pelo efeito de sentido de realce e intensificação produzido pelo uso das palavras até e ainda), o encadeamento argumentativo usado para concluir o texto volta a corroborar um discurso de oposição às pulseiras ao evidenciar a relação existente entre o uso dos adereços e os casos de violência sexual, reiterando o valor e a importância das proibições, como podemos perceber no excerto:

A polícia dos Estados do Paraná e do Amazonas investiga casos de violência sexual contra adolescentes que utilizavam as pulseiras. Em Maringá (PR) e Navegantes (SC), o uso dos adereços também foi proibido nas escolas. Já Londrina (PR) vetou o uso e a comercialização das pulseiras em toda a cidade. Lá, o caso de um estupro contra uma menina de 13 anos que usava os adereços é investigado pela polícia.

Desse modo, pode-se entender as notícias como práticas discursivas que remetem ao exercício do biopoder, já que discursivizam sobre o controle do corpo do indivíduo e do corpo

da população. Esses discursos ―regulamentam saberes sobre o uso que as pessoas devem fazer de seu corpo, de sua alma, de sua vida‖ (GREGOLIN, 2007, p. 49). Essa circulação incessante

de dizeres possibilita o estabelecimento e a cristalização de certos sentidos sobre o sexo em nossa cultura, relacionados a uma moral cristã que impõe determinados modelos de conduta como corretos e adequados.

Para evitar que nada esteja fora do controle, há, na sociedade contemporânea, uma síntese dos aparelhos de normalização, promovendo uma maior abrangência do exercício do poder. Por isso, outras instituições, como as citadas nas notícias, estão autorizadas a exercerem o seu poder, com o objetivo de assegurar a produção de sujeitos normais.

Quando narram a adoção de práticas de caráter mais coercitivo por parte das escolas, o que essas notícias evidenciam são os modos pelos quais a instituição escolar busca resgatar e fortalecer a função disciplinadora, analisada por Foucault em Vigiar e Punir. Na discursividade dessas notícias há uma ênfase no papel da escola como instituição normalizadora, em que é possível ver resgatado um discurso mais tradicional em que normas, regras e punições devem dar o tom das relações entre os sujeitos nesse ambiente.

O discurso das notícias reflete sistemas de valores em que alguns comportamentos e atitudes são valorizados, estão inscritos em regimes de verdade que devem ser reforçados em detrimento de outros. Para isso, nas notícias analisadas predomina o aparecimento de vozes autorizadas, as quais contribuem para o seu necessário efeito de veracidade e credibilidade. São os discursos autorizados que são atualizados nas notícias, prevalecem as vozes dos especialistas, enquanto há um silenciamento das vozes dos alunos, pois na ordem dos discursos não é qualquer um que pode falar de qualquer coisa.

O discurso jornalístico legitima essas novas práticas coercitivas que emergem no espaço escolar, enfocando-as sob um viés positivo, ressaltando sua necessidade e utilidade diante das atuais configurações sócio-históricas da sociedade contemporânea. O discurso jornalístico está inscrito na ordem das leis que determina o que pode e o que deve ser dito sobre o assunto. Quando olhamos para as notícias sobre a proibição das pulseiras do sexo nas

escolas, fica evidente que há um imperativo agenciando essa produção de dizeres para que constitua um discurso socialmente aceito.

A produção de dizeres sobre o sexo deve ser regulada por uma lógica não-subversiva, em que os sentidos estejam afinados com os valores sociais, para que as notícias cumpram sua função normalizadora. Repetindo, reiterando sentidos estabilizados sobre a conduta sexual, as notícias funcionam também como dispositivos de governamento das subjetividades.

Vejamos mais uma notícia: publicado em 09/04/2010 às 17h22:

Projeto de lei quer proibir "pulseiras