• Nenhum resultado encontrado

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 Alfabetização Científica (AC)

Alfabetização Científica tem como objetivo levar à população as informações decorrentes do avanço e aplicações da Ciência. É a conversão da educação científica para uma educação geral a todos os estudantes (CACHAPUZ e GIL- PÉREZ, 2011). Alfabetizar cientificamente é apresentar a capacidade de ler, compreender e expressar opiniões sobre ciências e tecnologias (KRASILCHICK e MARANDINO, 2004).

Chassot (2003) define AC como “um conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem” (p. 90).

Norris e Phillips (2003) identificaram os seguintes significados para a AC: a) Conhecimento do conteúdo científico e habilidade em distinguir Ciência de

não Ciência;

b) Compreensão da Ciência e suas aplicações; c) Compreensão do que vem a ser Ciência; d) Habilidade para pensar cientificamente;

e) Habilidade de usar o conhecimento científico na solução de problemas; f) Conhecimento necessário para participação inteligente em questões

sociais relativas à Ciência;

g) Conhecimento dos riscos e benefícios da Ciência.

A Genética é uma subárea das Ciências que ganhou destaque nas últimas décadas devido ao desenvolvimento de técnicas utilizadas em diferentes áreas do conhecimento (JUSTINA e FERRARI, 2010). Torna-se necessário que os alunos sejam conhecedores destas tecnologias para que possam opinar e realizar escolhas. Podemos citar como exemplo os alimentos transgênicos comprados, diariamente, nos mercados em que muitas pessoas não têm ideia das tecnologias empregadas para a produção deste tipo de alimento (SASSERON e CARVALHO, 2011). Quando questionadas quanto ao seu posicionamento em relação a este tipo de alimento não apresentam o conhecimento cientifico necessário à argumentação, ou seja, falta- lhes o conhecimento técnico adequado para a tomada de decisão.

Uma pessoa para ser considerada alfabetizada cientificamente precisa

[...] ter conhecimento das relações entre Ciência e Sociedade, saber sobre a ética que monitora os cientistas, conhecer a natureza da Ciência, diferenciar Ciência de Tecnologia, possuir conhecimento sobre conceitos básicos das

38

Ciências e, por fim, perceber e entender as relações entre as Ciências e as humanidades (SASSERON e CARVALHO, 2011, p. 62).

A AC pode ser dividida em cinco estágios (SCODINO e GOÉS, 2013):

a) Nominal: o aluno já ouviu falar no termo específico em questão, mas não sabe defini-lo;

b) Funcional: o aluno sabe definir os termos científicos, mas não conhece o significado;

c) Conceitual: o aluno define o termo, se apropria do significado, mas não estabelece relações destes termos com o cotidiano;

d) Procedimental: o aluno define termos científicos e faz correlações para resolver questões do cotidiano, mas restringe este processo a uma área da Ciência;

e) Multidimensional: é o estágio final da AC. O aluno é capaz de mobilizar conhecimentos de diferentes disciplinas que já domina em nível procedimental para resolver problemas do cotidiano.

O Quadro 1 exemplifica estas cinco fases levando em consideração conteúdos de Genética.

Fase Exemplo

1 Nominal O aluno já escutou a palavra transgênico, mas não compreende o seu significado.

2 Funcional O aluno compreende que transgênicos são organismos que apresentam sequências gênicas de interesse provenientes de outras espécies, porém, não sabe explicar, com suas palavras, o conceito. 3 Conceitual O aluno explica a formação do transgênico, mas não aplica o

conhecimento ao cotidiano. Por exemplo, não compra salgadinho com milho transgênico porque acredita que possa fazer mal à saúde. 4 Procedimental O aluno compreende que o milho transgênico apresenta uma

sequência genética desejada oriunda de outra espécie. Entende que este DNA transgênico não irá afetar nem se misturar com o seu DNA. 5 Multidimensional O aluno entende que os alimentos transgênicos, na maioria, foram

criados com o objetivo de aumentar a produção de alimentos e diminuir o uso de agrotóxicos nas lavouras. Consegue relacionar Biologia, Agricultura, Economia e Saúde.

Quadro 1 – As cinco fases da AC segundo Scodino e Góes (2013) utilizando como exemplo aapropriação do conhecimento do conceito de transgênicos.

Santos e El-Hani (2009) apontam que as discussões sobre o ensino e aprendizagem do conhecimento biológico devem priorizar um caráter interdisciplinar de forma que um mesmo conceito possa ser inserido em diferentes áreas. O modelo de AC deve ter o objetivo de alcançar a Fase Multidimensional. O aluno deve ser

exposto a aulas direcionadas a apresentação de assuntos de interesse no meio científico e tecnológico como DNA, cromossomos, genoma, clonagem, transgênicos e efeito estufa (BRASIL, 2000).

Os alunos encontram em jornais, revistas e on line diferentes textos e notícias relacionadas às aplicações da Genética. Muitas vezes estas informações são sensacionalistas e não apresentam o conhecimento científico de forma adequada podendo levar o aluno a formar uma concepção errônea e distorcida sobre o fato (PAIVA e MARTINS, 2005). O professor é responsável em oferecer ao aluno uma base sólida de conhecimento para que o mesmo compreenda as informações e tenha a capacidade de formar sua opinião sobre os diferentes assuntos relacionados à Genética (BATISTETI et al., 2012). A aprendizagem das diferentes áreas das Ciências deve apresentar função formativa e não o acúmulo de conhecimentos (BRASIL, 1996). A forma descontextualizada como o conteúdo é trabalhado na escola faz com que os conceitos científicos se transformem em palavreados sem sentido repetidos pelos alunos (SANTOS, 2007).

Podemos considerar que o processo de ensino será eficaz na promoção da AC quando o aluno conseguir

Ler e entender as informações contidas em uma bula de remédios; adotar profilaxias básicas para evitar doenças que afetam a saúde pública; exigir que as mercadorias atendam as exigências legais de comercialização, como especificação da data de validade, cuidados técnicos de manuseio e indicação dos componentes ativos; operar produtos eletroeletrônicos e ter a capacidade de discutir problemas relacionados às Ciências. (SANTOS, 2007, p. 480).

Há necessidade do preparo dos professores para que a AC seja contemplada nos currículos escolares. Nos cursos de Licenciatura deve haver a preocupação em formar professores aptos a incluir, nas suas aulas, diferentes temas que promovam a AC dos alunos (FREITAS e SOUZA, 2012). Os alunos não precisam de muita informação, mas de auxílio metodológico para que possam organizar, interpretar e dar sentido a essa informação (POZZO e CRESPO, 2009). Os conteúdos “devem ser selecionados em função da sua importância social, de seu significado direto na vida dos alunos e de sua relevância científica e tecnológica para a evolução da espécie e progresso mundial” (SELBACH, 2010, p. 35).

40

Os alunos não são ensinados como fazer conexões críticas entre os conhecimentos sistematizados pela escola com os assuntos de sua vida. Os educadores deveriam propiciar aos alunos a visão de que a Ciência, como as outras áreas, é parte de seu mundo e não um conteúdo separado, dissociado da sua realidade. As escolas, através de seu corpo docente, precisam elaborar estratégias para que os alunos possam entender e aplicar os conceitos científicos básicos nas situações diárias, desenvolvendo hábitos de uma pessoa cientificamente instruída (LORENZETTI e DELIZOICOV, 2011, p. 7).

O conceito e aplicação da AC deve ser explorado desde o início da escolaridade e nos cursos de formação de professores. A partir da identificação da importância de indivíduos Alfabetizados Cientificamente os professores deverão buscar temas e metodologias que facilitem a apropriação da Ciência e que consigam se relacionar com o contexto diário dos estudantes.