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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Transposição Didática (TD)

O conceito de TD é definido por Chevallard (1991) como

Um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber a ensinar, sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que faz de um objeto de saber a ensinar, um objeto de ensino, é chamado de transposição didática. (CHEVALLARD, 1991, p.39).

O saber científico, na sua forma natural, normalmente apresenta linguagem e formato incompatíveis com o saber a ser ensinado na sala de aula. Assim, este saber científico dever ser adaptado de forma que se torne acessível aos professores e alunos.

Para que esta TD aconteça o professor precisa utilizar metodologias que favoreçam esta transformação do saber sábio (saber científico) ao saber ensinado (saber escolar). Neste processo três diferentes atores estão interrelacionados: o saber, o professor e o aluno. A escola constitui o espaço privilegiado para a transmissão da cultura universal e dos saberes escolhidos como importantes para a inserção na sociedade (COBERN, 1996).

O processo de TD ocorre quando (CARVALHO, 2010):

a) O conteúdo é selecionado ou recortado de acordo com o que o professor considera importante;

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c) O conhecimento é dividido para facilitar a sua compreensão e depois o professor volta a restabelecer a ligação entre aquilo que foi dividido;

d) Distribui-se o conteúdo no tempo para organizar uma sequência, um ordenamento, uma ordem linear ou não linear de relações;

e) Determina-se uma forma de apresentar o conteúdo por meio de textos, gráficos, entre outros recursos.

O professor recebe o conhecimento científico (saber sábio) parcialmente transformado por meio dos livros didáticos que trazem o conhecimento em um formato diferencial cabendo ao professor transpor este conhecimento ao aluno (ALMOULOUD, 2011).

Na visão de Carvalho (2010), para que a TD seja eficiente o professor deve: f) Saber fazer recortes na sua área de especialidade;

g) Saber selecionar os aspectos mais relevantes; h) Dominar o conhecimento em questão;

i) Relacionar o conhecimento com outras áreas; j) Saber contextualizar o conhecimento;

k) Dominar estratégias de ensino eficazes para organizar situações de aprendizagem.

O professor precisa compreender que a TD não visa a alteração do conteúdo, mas

[...] criar um caminho mais curto para o aluno construir seus conhecimentos. O trabalho do professor seria semelhante ao inverso do trabalho do pesquisador. O professor deve construir situações-problema em que o conhecimento apontado seja recontextualizado e repersonalizado em vista de se tornar um conhecimento do aluno, ou seja, uma resposta mais natural às condições indispensáveis para que esse conhecimento tenha um sentido (ALMOULOUD, 2011, p. 195).

O conteúdo de Biologia é considerado, por muitos alunos apenas como um processo de memorização de conceitos que não apresentam interação nem utilidade na sua vida cotidiana. Nascimento (2013) demonstra esta situação utilizando como exemplo o ensino da meiose.

Os alunos têm a impressão mais duradoura a respeito da meiose de que é uma sucessão de quadros com diferentes posições de cromossomos, que culmina com a formação de quatro células que possuem a metade do número de cromossomos da célula mãe. Tal visão é reforçada, inclusive, pela maneira como a meiose é, de forma resumida, definida na maioria dos livros didáticos: tipo de divisão celular em que uma célula dá origem a

quatro células com a metade do número de cromossomos da célula original (NASCIMENTO, 2013, p.18).

Os alunos não fazem a relação do processo de meiose com as aplicações da Genética. Não há compreensão de que o processo de meiose é responsável pela formação de gametas que originarão novos seres vivos.

É importante que o saber a ser ensinado apresente interações com outros saberes tornando a sua aprendizagem facilitada para o aluno. Desta forma, o conhecimento científico passa a ter lugar de destaque na vida do estudante que consegue transpor o conhecimento aprendido na escola para sua vida. Visões empobrecidas e distorcidas da Ciência criam o desinteresse e a rejeição de muitos estudantes e acabam se convertendo em um obstáculo epistemológico (CACHAPUZ

et al., 2011). Bachelard (1996) define que como obstáculo epistemológico todos os

fatores que impedem a transformação do conhecimento não científico em conhecimento científico, como a presença de concepções prévias.

A TD é responsável pela concretização do currículo estabelecido, pois os objetos do conhecimento científico (saber científico) ao se inserirem no contexto escolar se transformam em objetos de ensino, ou seja, um conteúdo em um formato a ser ensinado (MIGLIO e TERÁN, 2001). Selbach (2010) salienta que “aprender é se informar e, dependendo da natureza da informação pode ser transformar” (p.19).

Chevallard (1991) explica que o processo de TD inicia por um grupo invisível pensante, nomeado noosfera, formado por especialistas vinculados à Educação, como universidades, professores, técnicos, especialistas que escolhem qual saber deve ser ensinado e a forma como estes saberes chegam às escolas, neste caso o livro didático.

A Figura 1 apresenta o caminho percorrido pelo saber científico até se tornar um saber a ser ensinado.

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Figura 2 – Esquema da trajetória do Saber na Transposição Didática.

Fonte: Adaptado de Matos Filho et al., 2010, p. 1193.

Ao se analisar a Figura 1 é possível visualizar que os professores a partir de seu contato com o aluno são os grandes canais de comunicação com o mesmo. Cabe ao professor utilizar metodologias adequadas que promovam a aproximação do saber científico com o saber escolar em relação aos temas escolhidos pela noosfera como essenciais para a formação do aluno.

É importante que os conceitos e modelos de TD sejam trabalhados com licenciandos, futuros professores, para que cheguem às escolas compreendendo a importância da busca por metodologias que facilitem a TD e, ao mesmo tempo, levem à formação de uma Aprendizagem Significativa (AUSUBEL, 1980).

Professores em atuação devem procurar se apropriar e compreender o conceitos relacionados às diferentes teorias que dão suporte ao processo de ensino. É necessária a criação de espaços para formação continuada e discussão nos quais estes docentes tenham acesso a conhecimentos teóricos importantes para o ensino de Ciências.