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3 DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE O PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO:

4.1 ALFABETIZAÇÃO EM EJA NUMA PERSPECTIVA DE CONTINUIDADE

Neste capítulo, discutiremosalgumas considerações acerca do processo de alfabetização e a importância das práticas pedagógicas, considerando a perspectiva de continuidade dos estudos de alunos provenientes do PBA. Para tanto, nortearemos a nossa reflexão com base nos seguintes questionamentos: O que fazer para compreender os motivos extrínsecos e intrínsecos que movem os alunos egressos do PBA a continuarem ou não o processo de escolarização na EJA? Por onde compreender os aspectos que envolvem os alunos dessa modalidade? A análise das falas das alunas egressas do Programa, da Secretária de Educação e das Coordenadoras será também foco desta parte do estudo, para tentarmos compreender aspectos dos limites e das possibilidades de se continuar a escolarização em EJA, tendo como referência o Município de Conde/PB.

Existem diversos motivos presentes no dia a dia de pessoas jovens, adultas e idosas que podem ou não se tornar empecilhos para seu processo de escolarização. Há motivos extrínsecos que envolvem, muitas vezes, aspectos sociais, econômicos, cognitivos e/ou afetivos, por exemplo: condições exaustivas de trabalho, problemas de saúde, condições financeiras e relações pessoais e familiares são razões, muitas vezes, fortes na vida dos alunos da EJA, que limitam uma caminhada no processo de escolarização. Por outro lado, motivos intrínsecos relacionados às necessidades humanas e sociais básicas e aos desejos pessoais podem tornar-se também aspectos fortes para a continuidade da escolarização.Assim, ler e escrever bem para entender a Bíblia, para ensinar a tarefa aos filhos ou aos netos, pegar um ônibus, tirar a habilitação para conduzir veículos de duas ou quatro rodas são exemplos de motivos relacionados à questão subjetiva do aluno, que o induzem a participar de processos de aprendizagens em espaços escolares.

Gestores, coordenadores e professores das escolas ou dos ambientes informais de salas de EJA precisam estar atentos à diversidade que existe em relação às necessidades demandadas por esse público. Por um lado, temos a demanda de jovens e adultos que vivem a idade do mundo do trabalho e, muitas vezes, não dispõem de tempo fixo e suficiente

paraestudar, por isso abandonam várias vezes a escola. Esse distanciamento da escola em relação à vida profissional causa o movimento de idas e voltas dos alunos à escola, razão por que é preciso articular o ensino da EJA ao mundo do trabalho, para que o aluno possa permanecer nos espaços escolares. Por outro lado, temos a demanda de pessoas idosas que estão inseridas na modalidade, mas que vivem demandas e aspectos característicos da faixa etária que, geralmente, não são notados no cotidiano escolar: os saberes da vida,distantes da prática pedagógica e dos motivos que os fazem prosseguircom os estudos. Como, então, rever o processo de ensino-aprendizagem oferecido na escola e nos espaços de alfabetização para garantir que os alunos continuam sua escolarização?

Em relação à continuidade dos estudos, o Parecer CNE/CEB nº 2000menciona:

Dizer que os cursos da EJA e exames supletivos devem habilitar ao

prosseguimento de estudos em caráter regular (art. 38 da LDB) significa

que os estudantes da EJA também devem se equiparar aos que sempre tiveram acesso à escolaridade e nela puderam permanecer. Respeitando-se o princípio de proporcionalidade, a chegada ao patamar igualitário entre os cidadãos se louvaria no tratamento desigual aos desiguais que, nessa medida, mereceriam uma prática política consequente e diferenciada (BRASIL, Parecer CNE/CEB nº 2000).

Esse Parecer, ao tratar dessa modalidade, refere que a EJA, através da LDB, passa a ser uma modalidade da educação básica, que necessita de um tratamento diferenciado, por ter especificidade própria, o que garante o direito à educação igualmente aos demais alunos de outras modalidades de ensino. Além de oportunizar o direito à educação aos que não tiveram acesso a ela, é preciso atender às necessidades dos educandos, para que a aprendizagem formal seja suporte na vida cotidiana e, ao longo de toda a sua trajetória de vida, motiva-os a dar continuidade aos estudos. O Documento da VI CONFINTEA refere-se à política de geração de oportunidades, ao tratar do processo de alfabetização de adultos:

Desenvolver uma oferta de alfabetização relevante e adaptada as necessidade dos educandos e que conduza à obtenção de conhecimentos, capacidades e competências funcionais e sustentáveis pelos participantes, empoderando-os para que continuem a aprender ao longo da vida, tendo seu desempenho reconhecido por meio de métodos e instrumentos de avaliação adequados (CONFINTEA VI, 2010 p. 08)

Ainda há desafios nas políticas educacionais e nas práticas pedagógicas que alcancem processos de alfabetização adequados à realidade e às demandas de vida dos alunos da EJA. Mas o apoio e a assistência dados à EJA ainda não são suficientes para atender às necessidades para o efeito do aumento de matrículas e a permanência dos alunos na escola. Mesmo com tantos desafios que a EJA ainda encontra para alcançar uma educação de qualidade para todos, é importante ressaltar que há importantes movimentos no Brasil, como os Fóruns da EJA29,que vêm lutando com propostas e reflexões para as práticas e as políticas públicas educacionais voltadas para essa modalidade do ensino.

Nesta discussão, lembramos que as ações que garantem o acesso dos jovens e dos adultos ao sistema escolar não devem reduzir a EJA ao universo da escolarização:

Ao contrário, é fundamental que se reconheça que a luta pelo direito à educação implica, além do acesso à escola, a produção do conhecimento que se dá no mundo da cultura e do trabalho e nos diversos espaços de convívio social, em que jovens e adultos seguem constituindo-se como sujeitos (MACHADO, p.18, 2009).

A autora supracitada nos conduz a entender que não basta o acesso à escola. É necessária a construção de novos conhecimentos conectados ao mundo da cultura e do convívio social que os educandos constituem como sujeitos. Nesse sentido, a expansão da alfabetização e das preocupações existentes, para promover o acesso e a permanência dos alunos na escola, está presente no cenário atual das políticas educacionais voltadas para a EJA, no entanto, ainda distante da realidade de muitos dos jovens e adultos sem escolarização. A EJA precisa chegar mais perto do universo desses alunos, pois se trata de pessoas com experiências e saberes heterogêneos provindos das vivências no campo familiar, no social e no mundo do trabalho. Mesmo que as ações de mobilização para que jovens e adultos retornem ao processo de escolarização sejam evidentes, “os esforços feitos nessa última década não conseguiram alcançar nem de longe as metas previstas no Plano Nacional de Educação” (MACHADO, 2009, p. 27).

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Acreditamos que os fóruns da EJA contribuem para a desconstrução de posturas e atitudes centralizadoras, pois se configuram em um movimento social da EJA que estabelece relações mais diretas com diferentes segmentos sociais.