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3 DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE O PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO:

3.12 CIDADANIA, EMANCIPAÇÃO E IMAGINÁRIO SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE

A dissertação de Vanessa Petró, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais – da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no ano de 2009 - é intitulada: Cidadania, emancipação e

imaginário social: um estudo sobre as políticas sociais para a alfabetização de jovens e adultos.Sua finalidade foi de analisar as políticas sociais para a alfabetização de jovens e

adultos, sob o prisma de uma tríade conceitual composta por cidadania, emancipação e imaginário social, que procurou identificar como as políticas para a área são capazes de interferir no acesso à cidadania dos envolvidos, construir uma nova forma de inserção social

ou atuar de maneira a desenvolver mecanismos de invisibilidade da desigualdade e da condição de subcidadãos.

Para atender ao objetivo proposto, a autora partiu da atual política brasileira para a alfabetização de jovens e adultos. Percebendo que essa política é organizada de forma decentralizada em todo o país e com a participação dos estados, dos municípios e das organizações civis, analisou o Programa Brasil Alfabetizado, na tentativa de investigar como se apresentavam as possibilidades de cidadania e de emancipação dos alfabetizandos participantes das políticas sociais para a alfabetização de jovens e adultos. Por ser uma política organizada por diferentes instituições que são conveniadas ao PBA, mas que têm autonomia para desenvolver as ações de acordo com as linhas de atuação, a autora da pesquisa selecionou dois convênios para a realização do estudo: A Prefeitura e a Central Única dos Trabalhadores de Porto Alegre.

Foi identificado, no PBA, que há uma política social que se configura de diversas formas, uma vez que o Programa prevê, em sua estruturação, a participação de diferentes instituições. No convênio com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o PBA integrava ações do Programa de Alfabetização de Adultos – PROAJA, que tinha como componentes o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA, com o objetivo de promover a alfabetização e capacitar os alfabetizadores que eram professores ou educadores populares. A parceria da CUT com o PBA recebeu o nome de “Todas as Letras”, porque abarcava a proposta inserida na formação da CUT, que seria voltada para a realidade dos trabalhadores.

Na referida pesquisa, foi identificado que existem várias ações voltadas para a EJA, porém são alteradas a cada governo e, por mais que existam várias iniciativas, não há uma diversidade de propostas, e os programas são executados, quase sempre, sob uma mesma orientação. Segundo Petró,

[...] a educação de jovens e adultos seguiu duas principais linhas distintas. Em uma direção, encontramos ações educativas que trabalham com princípios que aliam a alfabetização ao movimento popular. Nessa perspectiva o processo educativo é visto como emancipador, promovendo a conscientização política dos setores populares e incentivando a sua organização e autonomia, tudo isso voltado para um projeto de transformação social. Em outra direção, nos deparamos com práticas pedagógicas que têm como foco a transmissão de um conjunto de conhecimentos sistematizados. Sendo assim, o processo educativo na alfabetização de jovens e adultos centra-se na meta de oferecer a

escolarização que não foi atingida na idade considerada apropriada (PETRÓ, 2009, p. 53,).

O modo como se configura o PBA permitiu que a pesquisa identificasse que há um longo caminho a ser percorrido no processo entre a construção e a implementação de uma política social. A descentralização permitida pela configuração do PBA admite ações para o processo de alfabetização, através de cada instituição conveniada, de acordo com as especificidades e os objetivos propostos para cada público com o qual se almejava trabalhar.

Dessa forma, constatou-se que a Prefeitura Municipal de Porto Alegre conduzia suas ações de forma mais ampla, sem aproximar o projeto de um público específico, deixando que a metodologia a ser trabalhada ficasse sob a responsabilidade do educador e atrelando a concepção de cidadania ao acesso à educação. Enquanto a CUT estabelecia um projeto mais específico de acordo com sua área de trabalho, ou seja, o mundo do trabalho, fixava critérios metodológicos bastante claros, e a noção de cidadania estava atrelada à ideia de trabalho.

É interessante ressaltar que, apesar de seu foconão ser a questão da continuidade, a pesquisa identifica sua importância, quando explica:

Outro aspecto observado, visando um maior sucesso nas atividades, é a viabilização da continuidade dos estudos que é um dos objetivos do programa e que o destaca em relação a outras políticas sociais anteriores, mas que ainda não aparece como meta clara nos projetos implementados. Uma das dificuldades enfrentadas para tal é o tipo de relação estabelecida entre o espaço, o alfabetizador e os alfabetizandos (Grifo nossos), pois nesses programas há uma aproximação muito maior entre o educador e os educandos, valorizando laços afetivos e há um respeito maior ao tempo de cada realização das atividades, o que nem sempre ocorre na educação formal e isso também é, muitas vezes, motivo para trocar a escola pelos programas de alfabetização (PETRÒ, 2009, p. 111)

Ao continuar refletindo sobre esse ponto, a autora comenta:

Relacionado a isso, não há uma convergência das ações buscando a continuidade dos estudos por parte dos projetos e, dessa forma, os casos em que isso acontece estão ligados a um esforço individual ou, no máximo, a uma ajuda do educador para que isso ocorra. É muito presente o sentimento de que os alfabetizandos têm de permanecer nas turmas por bastante tempo, portanto há aqui um indicativo claro da necessidade de adequar as ações a tal característica (PETRÒ, 2009, p. 111)

A questão dos vínculos afetivos identificados na “relação estabelecida entre o espaço, o alfabetizador e os alfabetizandos” (PETRÓ)fica bastante evidenciada na fala da autora da pesquisa. Uma dos motivos que levam os educandos a continuarem estudando é a relação afetiva, ou seja, a necessidade de se conviver de forma respeitosae de o professor valorizar a história de vida de cada aluno. A ideia que se tem, a partir da observação da autora, é de que o desejo de continuar os estudos ainda não estivesse tão desperto no aluno, como se ele não tivesse um projeto maior de escolarização. Qual o impacto de uma motivação de fora para dentro? Nesse contexto, lembramo-nos de Pozo(2002), ao referir que a motivação pela aprendizagem não é só um problema dos alunos, mas também dos professores.

Assim, ao concluir sua pesquisa, Petró considera que não houve uma conquista dos direitos de cidadania, apenas a inclusão social advinda da participação no programa, como também o favorecimento de relações contínuas entre os sujeitos integrantes do processo de ensino e aprendizagem. Consideramos a questão de convivência e da afetividade como indispensável para a permanência do educando, no processo de ensino e aprendizagem, em que ganham relevância os aspectos relacionais, interpessoais e o espaço acolhedor.